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Composição do Produto Bruto Agropecuário 0%

5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

7. Produto Bruto Agropecuário Total (PB Total em R$): Soma do PB Animal e PB Cultivo.

5.1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS AO CAMPESINATO EM PALMARES

Antes mesmo de apresentar os elementos referidos às três questões balizadoras de nossa análise a partir de agora, vale destacar que diante da concepção sócio-econômica adotada na análise, deve-se ressaltar que um estabelecimento agropecuário familiar camponês tem como objetivo de sua produção a reprodução rural, ou seja, o mesmo lança mão na maioria das vezes da combinação de diferentes atividades produtivas, sejam elas, atividades extrativistas, agrícolas e não-agrícolas. A ênfase está na reprodução da família como um todo e não no lucro, o que grosso modo, a diferencia da unidade de produção capitalista e orientam suas estratégias e decisões internas, inclusive as decisões sobre alocação de trabalho, do patrimônio acumulado e dos recursos naturais disponíveis.

Conforme exaustivamente debatido na literatura acadêmica por diversos autores, isso não exclui uma relação com a sociedade envolvente, inclusive relações de mercado, troca e planejamento, porém lhe reserva uma possibilidade de certo grau de autonomia relativa. Ao mesmo tempo, isso lhe confere uma série de contradições, pois a tendência hegemônica da economia capitalista é de “destruição” do estabelecimento familiar camponês através do processo de centralização e concentração de capitais ou ainda de subordinação desta à sua racionalidade e ao seu processo de acumulação.

Por conta disso, a capacidade de permanência das famílias assentadas na unidade de produção agropecuária familiar depende de sua capacidade interna de gerar renda, monetária e/ou na forma de produtos para auto-consumo, que permita sua reprodução social e econômica. Ao mesmo tempo, a composição desta renda reflete estratégias diferenciadas que cada família adota num determinado período de tempo, em função de diferentes formas de utilização de seu trabalho disponível (estratégias mais intensivas ou extensivas em termos de trabalho) e/ou de seus recursos naturais (estratégias mais intensivas ou extensivas em uso da terra e outros recursos naturais).

Os efeitos da renda tem duas dimensões: uma imediata e outra mediata. O efeito imediato da renda é garantir a reprodução da família no curto prazo, ou seja, permitir uma remuneração por trabalhador que garanta sua reprodução. O efeito mediato reflete-se na acumulação de capital, ou seja, uma vez garantida a reprodução imediata, parte da renda pode ser acumulada na forma de capital produtivo. Diferentemente da unidade de produção capitalista, cuja acumulação de capital é um fim em si mesmo, na unidade camponesa ela é um meio para melhorar a eficiência futura da capacidade da família se reproduzir com menos esforço.

Por isso Chayanov (1974), colocou uma questão central: uma vez que as necessidades reprodutivas não são parâmetros fixos e naturais, mas sociais, como uma família determina quanto de sua renda será destinada ao auto-consumo familiar e quanto será convertido para a formação/reprodução de capital? Essa indagação nos leva a justificar a exaustiva análise iniciada pelo tamanho dos estabelecimentos e tempo de permanência nos mesmos, passando pelo uso da terra e pela formação do Produto Bruto Agropecuário Total. Com certeza lacunas restam, mas acreditamos termos apresentado elementos que balizam essas estratégias e possibilitam o estabelecimento de relações internas e externas ao assentamento.

Ao que nos parece os dados apresentados em Palmares II reforçam essas perspectivas e denunciam não se tratar apenas de uma agricultura em pequena escala para o auto-consumo, mesmo porque há um grau importante de diversidade e intensidade de uso do solo, levando-se em consideração o tamanho dos estabelecimentos agropecuários e as diferentes condições iniciais ecológicas onde cada agricultor foi assentado nas diferentes sub-amostras pesquisadas.

É importante ressaltar que a capacidade reprodutiva da família não reflete apenas sua situação econômica interna, mas também externa. Por isso, estudar as formas econômicas de relação da unidade camponesa com a sociedade mais geral é importante. As formas de apropriação de parte da renda dos camponeses pelo capital mercantil (no momento da comercialização), do capital industrial (nas relações entre preços dos produtos camponeses e dos produtos industrializados, mais ou menos determinados em função dos sistemas técnicos adotados) e do capital financeiro (através do crédito) muitas vezes inviabilizam certas eficiências produtivas internas, obrigando a outras estratégias menos eficientes do ponto de vista do uso do trabalho e dos recursos naturais ou ainda criando-lhes crises de reprodução. Essas questões não foram aprofundadas na primeira parte da análise,

porém deverão ser trazidas ao menos pistas que possam permitir uma leitura mais completa dessas relações estabelecidas mobilizando dados do crédito produtivo acessado pelos agricultores em Palmares II, dos produtos e da produção comercializada na Feira do Produtor Rural do município de Parauapebas e do “Programa Patrulha Mecanizada” para preparo de solo.

Por fim, compreendemos que a capacidade de reprodução da família não pode ser vista apenas como resultado de suas ações econômicas, mas também políticas, sociais e culturais. Em seu trabalho Velho (1980), já chamava a atenção para a capacidade política demonstrada pelo campesinato da frente de expansão maranhense-paraense reverter certas tendências de destruição (crises de reprodução) observadas no plano estritamente econômico, o que foi evidenciado pela permanência segundo o próprio autor conclui para área de estudo em São Domingos do Araguaia. O protagonismo político, a capacidade de se adaptar às reações e revezes climáticos, a formação de redes sociais, enfim, fica claro que a reprodução não está somente centrada no campo da produção.

Ainda tratando da preocupação da reprodução sócio-econômica camponesa, Costa (2000), chama a atenção da conquista do crédito subsidiado (FNO-Especial e PRONAF “A” principalmente) como as expressões mais claras dessa capacidade de recriação num período mais recente. Sendo assim, tentaremos trazer elementos que possam estar possibilitando a permanência e a reprodução sócio-econômica do campesinato em Palmares II, para além do nível de funcionamento do estabelecimento agropecuário familiar camponês em sua parcela produtiva e que podem estar permitindo certa estabilidade ao campesinato em Palmares II.

Por fim, outro elemento importante são as redes e canais de comercialização estabelecidos com o meio envolvente, ao que nos parece as possibilidades da criação de canais diretos de comercialização rompem com certa marginalidade atribuída à produção familiar evidenciando socialmente a relevância e a diversidade de possibilidade de produtos e produção, além do mais, casos como o da Feira do Produtor Rural de Parauapebas podem ser um contraponto á ação de especuladores e da própria ação do capital usurário mercantil, o qual muitos agricultores, sejam por falta de organização da produção, seja por distâncias longas e isolamento acabam por ficarem reféns da ação desses. Destarte, espera-se que

esse conjunto de ações possam estar colaborando para o que Velho (1980) atribuiu como desmarginalização do campesinato na fronteira.

5.2 CRÉDITO PRODUTIVO, MECANIZAÇÃO E FEIRA DO PRODUTOR RURAL DE