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A N-acetilcistina (NAC) é usada principalmente como agente mucolítico e antídoto em casos de intoxicação pelo paracetamol (acetominofeno), reduzindo o grau de lesão hepática e sendo bastante efetiva quando administrada previamente dentro de 8 a 10 horas após a intoxicação. A proteção hepática mediada por NAC provavelmente ocorre pela manutenção ou restauração dos níveis de GSH ou que NAC deve atuar como um substrato alternativo por conjugação com as ROS para detoxifica-las (DAWSON et al., 1989; JONES, 1998).

A NAC é um fármaco amplamente usado e seguro. Além disso, pode ser benéfico na malaria grave, tais como malária cerebral e pulmonar, através do sequestro de ROS, diminuindo o estrese oxidativo e reduzindo a expressão de receptores endoteliais (CHARUNWATTHANA et al., 2009).

Em relação às propriedades farmacocinéticas, a NAC é rapidamente absorvida após a administração via oral, tanto em humanos quanto em animais. A máxima concentração plasmática é atingida em 2 a 3 horas após a administração e a meia-vida plasmática é de 5 a 6 horas em adultos e 11 horas em neonatos. No entanto, sofre extensivo metabolismo hepático, resultando em baixa biodisponibilidade (DEKHUIJZEN, 2004).

NAC é uma molécula doadora de grupo sulfidrila com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias (MAJANO et al., 2004). Assim, NAC exibe propriedades antioxidantes diretas e indiretas. O gupo tiol livre de NAC é capaz de interagir com os grupos eletrófilos de ROS do metabolismo respiratório e da resposta imune, levando a formação de substâncias menos reativas, sendo NAC dissulfeto o maior produto. Além disso, NAC exerce um efeito antioxidante indireto relacionado ao seu papel como precursor da glutationa (GSH). Em situações de estresse oxidativo, os níveis de GSH podem decair drasticamente. No entanto, a administração de NAC demonstrou reestabelecer a ressíntese de GSH via desacetilação intracelular da NAC fornecendo cisteína, o principal aminoácido da molécula de GSH. Dados de estudos in vivo e in vitro também mostram que NAC protege o pulmão de agentes tóxicos pelo aumento dos mecanismos de defesa pulmonar através de suas propridades antioxidantes diretas e indiretas, como precursor da síntese da GSH (DEKHUIJZEN, 2004).

A perda da deformidade de hemácias parasitadas e não parasitadas pelo Plasmodium é conhecida durante a infecção e a NAC é considerada efetiva para reverter este processo. Além disso, pode inibir a liberação de TNF- e é um potente varredor de ROS, produzidos em resposta ao TNF- (MOHANTY et al., 2006).

Apesar de alguns estudos sugerirem que a administração de NAC é segura como tratamento adjuvante com o uso de artesunato, existem outros que mostram que NAC pode antagonizar parcialmente a ação antimalárica do artesunato

in vitro (TREEPRASERTSUK et al., 2003; ARREESRISOM et al., 2007). De fato,

Charunwatthana et al. (2009) estudaram a eficácia e segurança de NAC parenteral como um tratamento adjuvante na malária grave causada por P. falciparum em pacientes tratados com artesunato e mostraram que apesar do nível de estresse oxidativo esteja aumentado na malária grave, não foram observados efeitos benéficos do uso de NAC nesses pacientes.

A utilização da NAC no tratamento adjuvante da malária falciparum, associada à terapia antimalárica, deve ser cuidadosamente avaliada, pois o mecanismo de ação de alguns antimaláricos, tais como a artemisina e artesunato, baseiam-se no estresse oxidativo ao parasita, tendo o NAC um efeito antagonista a esse tipo de antimalárico e levando a efeitos adversos (ARREESRISOM et al., 2007; CHARUNWATTHANA et al., 2009).

Majano et al. (2004) estudaram os efeitos de NAC na indução da síntese de NO em hepatócitos humanos em resposta à citocinas pro-inflamatórias. Os resultados mostraram que NAC modulou a indução da síntese de NO, a liberação de nitritos e a formação de complexos de ligação ao fator nuclear kappa B (NF- B) em hepatócitos tratados com citocinas. Estes dados sugeriram que a exposição de hepatócitos a NAC resultou em modulação da expressão de NO sintetase e atividade de NF- B, a resposta chave dos hepatócitos à citocinas pro-inflamatórias. Estes dados constituem evidências preliminares de que NAC pode ter ação hepatoprotetora de relevância potencial em doenças hepáticas inflamatórias, mediada, parcialmente, através da modulação da síntese de NO.

2.5- POTENCIAL ANTIOXIDANTE E MEDICINAL DO COGUMELO Agaricus

sylvaticus

O cogumelo descrito como Agaricus sylvaticus foi identificado por Heinemann como Agaricus blazei Murril em 1993. Anos mais tarde, Wasser et al.

(2002) em um estudo morfológico comparativo minucioso, demonstraram que A. blazei Murril trata-se da mesma espécie denominada pelos autores de Agaricus brasiliensis. Assim, à luz deste conhecimento, o nome Agaricus brasiliensis

substituiria as denominações anteriores usadas para esta importante espécie de cogumelo, no entanto, alguns autores acreditam que a denominação mais adequada seria Agaricus sylvaticus. Nesse sentido, qualquer das denominações seguintes referem-se à Agaricus sylvaticus.

O Agaricus blazei Murril (Agaricaceae), uma espécie nativa do Brasil, popularmente conhecida como “cogumelo do sol” (ou “Himematsutake” no Japão) têm sido foco de estudo devido aos seus possíveis propriedades farmacológicas (BARBISAN et al., 2002; FIRENZUOLI et al., 2008), sendo amplamente cultivado no Japão para uso medicinal, tanto que é hoje considerado uma das mais importantes espécies comestíveis com propriedades medicinais.

Tradicionalmente, este cogumelo tem sido utilizado no tratamento de muitas doenças, tais como bacterianas e parasitárias (MIZUNO et al., 1995; WASSER e WEIS, 1999), estresse físico e emocional, estimulante do sistema imune, bem como para a melhoria da qualidade de vida de diabéticos, redução do

colesterol, prevenção de osteoporose e úlcera péptica, dermatites, hepatite, doenças cardíacas, além do tratamento de problemas digestivos, circulatórios, combate ao câncer (MIZUNO et al., 1995; FIRENZUOLI et al., 2008; KASAI et al., 2004; YUMINAMOCHI, 2007) e tratamento da AIDS (HUANG e MAU, 2006). A figura 8 mostra os corpos de frutificação de Agaricus sylvaticus em dois estágios de maturidade.

Figura 8: Corpo de frutificação (basidiocarpos) de Agaricus sylvaticus em dois estágios de maturidade: jovem (YB) e maduro (MB; SOARES et al., 2009).

Nesse sentido, Barros et al. (2008) estudaram a atividade antioxidante de cinco fungos do gênero Agaricus através de técnicas químicas, bioquímicas e eletroquímicas, encontrando que todas as espécies fornecem uma atividade antioxidante, sendo que o Agaricus sylvaticus foi a espécie que apresentou a maior atividade.

Posteriormente, Percário et al. (2009) pesquisaram o potencial antioxidante in vitro de diferentes apresentações de Agaricus sylvaticus, empregando a avaliação da curva dose-resposta do estado antioxidante total para os radicais 2,2’-azinobis-3-etilbenzotiazolina-ácido-6-sulfônico-diamônio (ABTS+) e 1,1-difenil-2-picrilidrazila (DPPH). Além disso, o teor de fenóis totais, -glucanas e flavonóides totais foram testados nas apresentações de suspensão líquida e comprimidos do A. sylvaticus. Os autores verificaram que todas as amostras testadas apresentaram alta capacidade antioxidante proporcional à concentração e

uma inibição de 100% da produção de ROS com valores extremamente baixos de massa do fungo.

Segundo Nagata et al. (2001) as -glucanas são polissacarídeos amplamente conhecidos como modificadores da resposta biológica, apresentando funções farmacológica-imunes atribuídas a estimulação da imunidade mediada por células. Desse modo, avaliaram a expressão de NO e IL-1 de macrófagos peritoneais de ratos não-tratados com -glucanas extraídas de Agaricus blazei Murril na estimulação com compostos que podem ser usados farmacologicamente para aumentar a resposta imune. Os resultados mostraram que Agaricus blazei induziu a produção de NO dose-dependente e produção de IL-1 apenas em altas concentrações, sugerindo a ativação de macrófagos e células B.

Sorimachi et al. (2001) examinaram componentes fracionados de

Agaricus blazei com etanol para determinar se induzem a secreção de NO e

citocinas por macrófagos in vitro e verificaram aumento na produção de TNF- , IL-8 e NO por macrófagos, concluindo que o Agaricus blazei Murril contém componentes que ativam macrófagos, contribuindo para o sistema immune in vitro. De fato, Kasai

et al. (2004) comprovaram que Agaricus blazei possui também um potencial para

ativar macrófagos imaturos e promover uma resposta Th1 nos tecidos.

Kuo et al. (2002) avaliaram a ação imunomoduladora do Agaricus blazei Murill usando células mononucleares do sangue periférico (PBMC), incluindo linfócitos T. Avaliaram-se os efeitos das frações ativas de Agaricus sylvaticus na proliferação de PBMC, produção de NO, expressão de genes de citocinas e progressão do ciclo celular. Os resultados mostraram um aumento na produção de mRNA de iNOS e produção de NO em PBMC por estimulação da fitohemaglutinina.

Diversos estudos abordam o uso de antioxidantes para melhorar a resposta do hospedeiro durante a infecção pelo Plasmodium, no entanto, a literatura não dispõe de artigos sobre envolvimento do Agaricus sylvaticus na terapia adjuvante da malária. De todo modo, por todos esses aspectos aqui discutidos em relação às ações antioxidantes e antimicrobianas desse cogumelo, bem como das suas ações como modulador da resposta imune, é possível que as substâncias antioxidantes nele contidas possam restabelecer o equilíbrio redox e, desse modo, interferir na internalização do Plasmodium nos eritrócitos tanto em modelos experimentais como em humanos, dificultando o estabelecimento da doença ou diminuindo sua gravidade.

3- OBJETIVOS

3.1 – OBJETIVO GERAL

Investigar os efeitos da suplementação com antioxidantes sobre as alterações oxidativas em modelo experimental de malária causada pelo Plasmodium

berghei.

3.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Verificar as alterações do estado redox (ROS e antioxidantes) a nível cerebral e pulmonar, induzidas na infecção causada pelo Plasmodium berghei;

- Estimar o potencial benefício da suplementação com antioxidantes sobre as alterações oxidativas;

- Comparar os efeitos antioxidantes da N-acetilcisteina e do Agaricus sylvaticus na evolução da doença;

- Avaliar a existência de correlação entre estresse oxidativo, defesa antioxidante total e parasitemia dos animais no tecido cerebral e pulmonar;

- Comparar o comportamento oxidativo e da defesa antioxidante cerebral com a pulmonar.

4- METODOLOGIA

Neste estudo, foram utilizados 200 camundongos machos da espécie Mus

musculus (swiss), adultos jovens, procedentes do Instituto Evandro Chagas (IEC) –

Belém-PA. Os animais foram divididos randomicamente em 20 grupos e, ao final do estudo, amostras de tecido pulmonar, cerebral e sangue foram coletadas para avaliação dos marcadores do estresse oxidativo, da defesa antioxidante e grau de parasitemia, como segue:

Grupos I-V (Controles Positivos): (N=10 cada), os animais foram

inoculados com eritrócitos infectados com P. berghei e receberam simultaneamente solução salina fisiológica (0,85%; 0,4 mL/Kg peso corporal; gavagem), e foram submetidos à eutanásia, de acordo com o período de estudo.

Grupos VI-X (Controles Negativos): (N=10 cada), correspondem aos

animais que não foram inoculados com eritócitos infectados com P. berghei, no entanto, receberam solução salina fisiológica (0,85%; 0,4 mL/Kg peso corporal; Intraperitoneal) antes do período de estudo.

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