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Capítulo 4. A visão Internacional sobre as Medidas a Adotar

4.1. Golfo da Guiné: Importância geoeconómica e geoestratégica

4.1.1. Potencial do Golfo da Guiné no Mercado Global

Ao longo dos últimos anos tem crescido um interesse global pela região, principalmente ligado à indústria petrolífera devido não só à abundância de hidrocarbonetos, nomeadamente petróleo e gás natural, e também às vantagens inerentes

106 à sua produção.

Em primeira instância, a produção de petróleo nesta região é mais barata do que a proveniente do Médio Oriente. A sua qualidade é também um fator diferenciador, enquadrando-se nos padrões ambientais definidos pelos EUA devido ao baixo teor de enxofre. Por fim, a posição geográfica da região próxima de dois dos maiores consumidores de energia, a América do Norte e a Europa Ocidental, torna o transporte de bens mais simples e rápido, resultando na redução dos custos de transporte por comparação com as exportações vindas do Golfo Pérsico. Ao mesmo tempo, esta é uma área de utilização mais segura, pois a navegação das embarcações não passa por áreas marítimas estreitas com grande concentração de navios e consequentemente mais suscetíveis a ataques como acontece no Estreito de Malaca ou no Canal de Suez. (Smith- Windsor e Pavia, 2)

O interesse económico por esta região tem aumentado, não só devido aos recursos, aos custos ou à sua localização favorável, como também devido ao tipo predominante de exploração. Mais de 60% efetua-se em offshore (alto mar), comparado, por exemplo, com o Médio Oriente, onde maioritariamente o petróleo é produzido em onshore (terra). Os cenários de instabilidade política tornam-se assim menos preocupantes à segurança energética, uma vez que o risco de ataques diretos ou sabotagens às instalações são mais reduzidos (Barros 2013, 132).

Importa ainda, para terminar, mencionar outra vantagem que torna a região atrativa ao investimento estrangeiro, e que decorre da quantidade de reservas de petróleo ainda por explorar. As suas reservas petrolíferas estão calculadas em 5.9 mil milhões de barris (2011) e produz diariamente cerca de 5 milhões de barris (2011), que corresponde a quase 4% da produção mundial de petróleo (Barros 2013, 132). A maior parte dos países produtores de petróleo da África subsaariana encontram-se no Golfo da Guiné,

107 nomeadamente, a Nigéria (2.3 milhões de bpd), Angola (1.8 milhões bpd), Guiné- Equatorial (289 mil bpd), Congo (277 mil bpd), Gabão (233 mil bpd), Chade (78 mil bpd)29. (BP 2016, 8)

Gráfico 8 - Reservas de petróleo dos principais produtores do GdG (1995-2015) Fonte: Adaptado (BP 2016, 6)

Numa visão mais alargada, a vinte anos, refletida no gráfico 9, verificamos que a produção apresenta, no geral, uma tendência crescente, particularmente no caso de Angola, em que contrariamente à Nigéria não parece ter tido uma estabilização mais marcada a partir de 2005.

O Golfo da Guiné tem-se tornado numa das principais fontes de petróleo tanto da Europa (1 milhão bpd), como dos E.U.A (1.5 milhões bpd), China (850 mil bpd) e Índia (330 mil bpd), sendo a Nigéria e Angola os principais produtores da região. (ICG 2012, 2-3). O petróleo da região representa cerca de 29% das importações petrolíferas dos EUA

29 Valores referentes a 2015 3,1 9 12,7 20,8 36,2 37,1

Até 1995 Até 2005 Até 2015

Mil mi lhões de ba rr is Angola Nigéria

108 e quase 40% da Europa, especificamente da União Europeia. (Barros 2013, 132)

Gráfico 9 - Produção petrolífera dos principais produtores do GdG (2005-1015) Fonte: Adaptado (BP 2016, 8)

Em suma, o gráfico 8 permite-nos tirar a conclusão de que, nos últimos dez anos, e apesar de todas as questões ligadas à comercialização de petróleo e à crise internacional, a produção dos dois maiores produtores da região têm-se mantido sem alterações significativas.

A região tem sido alvo do interesse crescente por parte das potências ocidentais, nomeadamente os EUA, Reino Unido e França, e também de algumas potências emergentes, como, o Brasil, China, África do Sul ou a Índia. Todavia, o interesse não está somente ligado ao seu potencial energético, mas também nos regimes fiscais praticados pelos Estados produtores de petróleo, conseguindo assim maximizar os seus lucros e atrair investimentos estrangeiros, nomeadamente, das companhias petrolíferas

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Angola 1,2 1,4 1,6 1,9 1,8 1,8 1,7 1,7 1,7 1,7 1,8 Nigéria 2,5 2,4 2,3 2,1 2,2 2,5 2,4 2,4 2,3 2,3 2,3 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 Mil hõe s de ba rr is/ dia Angola Nigéria

109 multinacionais30 (Barros 2013, 131).

Contudo, na última década a região tornou-se numa das áreas mais perigosas do mundo, sobretudo devido ao aumento da pirataria marítima e dos assaltos à mão armada contra navios. O que é refletido no gráfico seguinte, em que se verifica uma quebra significativa da produção em 2010, altura em que, como vimos no segundo capítulo, a pirataria começou a aumentar na região. Desde aí, a produção tem vindo a baixar até 2014, em que atingiu um volume correspondente apenas ao de 2007. A tendência mais recente, todavia, é de regresso ao crescimento. O que faz salientar a situação de segurança em Angola, praticamente excluída dos atos de pirataria, país cuja produção tem vindo, por isso, a crescer permanentemente nos últimos dez anos, como notado anteriormente. O que nos incita a estudar, com atenção, as medidas propostas ou adotadas pelas várias instâncias internacionais e locais que se debruçaram sobre a pirataria no Golfo, para que possamos, no final, retirar conclusões ponderadas face às diversas abordagens efetuadas. Começaremos pelos atores internacionais com destaque para as Nações Unidas, cuja ação relativa à pirataria tem sido conduzida através de Convenções Internacionais, de que resultou a Lei do Mar, das suas agências especializadas como a Organização Marítima Internacional, ou através das Resoluções do Conselho de Segurança, cujo conteúdo analisámos. Passaremos então à União Europeia, e nomeadamente à sua estratégia para o Golfo. Passando a África, iremos analisar o entendimento da União Africana com impacto sobre o Golfo, bem como as respetivas organizações regionais africanas. E finalmente procuramos trazer à análise a opinião da sociedade civil de que serão destacadas duas instituições, a Crisis Group e a Chatham House.

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Gráfico 10 - Produção petrolífera do Golfo da Guiné (2005-1015)31 Fonte: Adaptado (BP 2016, 8)