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CAPITULO II: Orçamento Participativo Como Nova Experiência Democrática

2.4. Potencialidades e Limites do OP

É importante referir nesta fase quais são as grandes potencialidades e limitações do OP no aprofundamento da democracia, sendo que qualquer uma dessas resulta incontornavelmente da criação ou não das condições apresentadas no ponto anterior, ou seja, quantas mais condições conseguirem reunir na implementação do OP, mais potencialidades esses poderá gerar na construção de uma democracia mais participativa a nível local.

As principais potencialidades do OP (Dias, 2008b; Cabannes, 2009)

Institucionalização da participação, permite criar o compromisso com os cidadãos relativamente ao seu envolvimento no cerne da ação, ou seja, na definição das prioridades de investimento.

Equilíbrio de poderes e criação de um espaço de comunicação e cooperação direta

entre eleitos e eleitores, que permite que haja um equilíbrio entre os eleitos e os

eleitores. “A institucionalidade democrática criada para implementar sistema de representação política não forjou os mecanismos de participação que permitem uma interação cooperativa entre os eleitos e os eleitores” (Dias, 2008b:208), remetendo os primeiros para o papel de decisores e os segundos para a situação de assistidos. O OP permite um maior equilíbrio de poderes por via de um espaço de comunicação que procura integrar o conhecimento técnico com as necessidades sentidas pela população, sem que um se sobreponha ao outro.

Inversão de prioridade de investimento, que permite uma melhor reorganização dos investimentos feitos pelo município, pois fica a conhecer melhor as necessidades reais da população e canalizar os investimentos nessa direção.

Promoção de uma identificação da população com os destinos do seu município. A implicação dos cidadãos no processo de identificação dos problemas e na decisão sobre as prioridades de investimento cria um compromisso cívico e uma identificação com os destinos do desenvolvimento do município.

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Maior vigilância e maior transparência da ação governativa. O OP obriga o executivo a prestar contas do seu exercício, assim como da situação financeira do município à população, este processo aprofunda o nível de conhecimento e de informação dos cidadãos sobre o exercício governativo, assim como demonstra a limitação que o executivo sente para dar resposta a todas os pedidos. Este último aspeto só favorece as relações entre os eleitos e os eleitores, diminuindo assim a contestação muito habitual em democracia (Dias,2008b; Cabannes, 2009).

Criação de uma dinâmica educativa e formativa de promoção da cidadania. Provavelmente a maior potencialidade do OP, visto que todo o processo se reveste de uma elevada carga educativa, o que permite a todos os envolvidos a realização de um conjunto de aprendizagens que favorecem a alterações de habituais relações de poder que se estabeleçam entre os eleitos e os munícipes. Implicando assim que o potencial educativo seja pedagogicamente bem conduzido através de metodologias mais vantajosas aos processos participativos. A pedagogia da participação é apontada como condição de sustentabilidade do OP, é fundamental para que todos os atores “adquiram eficácia e potência de ação no exercício da democracia, da cidadania ativa, na vitalização das esferas públicas e na construção de uma nova cultura política” (Pontual, 2000:267 apud Dias, 2008b:209). O OP amplia o processo de construção de cidadania dos cidadãos, o que leva a uma participação dos mesmos de forma mais informada e responsável na vida dos territórios.

As principais limitações do OP (Dias, 2008b; Cabannes, 2009)

Processo muito centrado na resolução de problemas mais imediatos, o que impede um

planeamento mais estratégico em relação ao desenvolvimento do município, ou seja,

trata-se de uma limitação porque hoje em dia se pede, cada vez mais, aos municípios para elaborarem uma estratégia a médio e longo prazo, integrando as diferentes variáveis influentes no desenvolvimento do território. Isto pode levar à inviabilização do processo participativo, visto que o OP é muito centrado no imediatismo das necessidades sentidas pelas pessoas. Uma possível saída deste impasse é a conjugação de planeamento estratégico entre a Agenda 21 e o OP. O primeiro ajuda a situar as grandes prioridades estratégicas de um território e o segundo a afetação financeira aos investimentos que permitem dar seguimento à estratégia definida. Ambos são

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fundamentais do ponto de vista do planeamento, sendo o primeiro de ordem estratégica e o segundo de carácter mais operacional (Dias, 2008b).

Processo muito centrado sobre os investimentos, isto é, sobre as despesas de capital, sem discutir de forma direta outras despesas, como as de funcionamento. É natural que as propostas apresentadas pelas pessoas sejam incluídas na componente de investimento público, contudo estas também têm despesas de funcionamento, como é o caso das escolas, creche, jardim-de-infância, posto de saúde, parques infantis. Significa assim que o OP deveria abrir um campo de participação sobre ambas as componentes orçamentais.

Existem outras limitações, estas não são especificamente do OP, mas de base estrutural da ação governativa (Dias, 2008b; Cabannes, 2009).

A reduzida capacidade financeira dos municípios dificulta a resolução dos múltiplos problemas que afetam os territórios. Esta questão estrutural tem como consequência a canalização de uma verba muito reduzida destinada à participação da população. A incapacidade dos municípios de fazerem face a uma verba satisfatória de investimento propostos pelos participantes pode contribuir para a perda de credibilidade do processo, e para a perda de dinâmica participativa (Cabannes, 2009).

A dimensão localista do OP obriga a que o processo participativo se restrinja no espaço e aos recursos neles existentes, não permite a articulação com outros municípios vizinhos ou mesmo a nível nacional. Tal iria permitir ultrapassar este localismo da participação e encontrar novas formas de governação dos territórios (Dias, 2008b).