• Nenhum resultado encontrado

69Pouco se conhece sobre o aspecto medicinal que as plantas as-

No documento LIVRO Plantas Medicinais 3ed RI (páginas 70-78)

sumem nos rituais afro-baianos, bem como a forma de prepará-las e usá-las. Alguns livros abordam a importância das ervas para os rituais de origem africana. Outras publicações científicas em etnobotânica e etno- farmacologia apresentam inúmeros levantamentos de espécies vege- tais de uso em medicina popular (estudos apoiados inclusive nas orien- tações do Comitê de Medicinas Tradicionais da OMS). Entretanto, falta a união dessas duas temáticas tão complexas. Sugere-se que a dificuldade está centrada no caráter multidisciplinar do assunto e no aspecto confi- dencial, “proibido” que esta questão assume dentro das “comunidades- -terreiros”. É considerada dessa forma, por representar um “ÉWÓ” (misté- rio). O conhecimento dos poderes das plantas é retido pelos Baba Orixá (pai de santo), Yá Orixá (mãe de santo) ou pelos Baba Ossaniim que seria o “pai das folhas”. Esses ocupam os mais altos cargos na hierarquia das chamadas “casas de santo”. A transmissão do conhecimento para os ini- ciados é parcial, gradual, lenta e sempre oral.

A proposta de documentar a cura do corpo e da alma, originou- -se de nossas experiências em trabalho de campo, em comunidades ci- vis, religiosas e comércio de plantas medicinais em áreas rurais e urba- nas. Ficou clara a relação do homem com a busca de caminhos místicos para a sua própria cura, evidenciando que o uso de plantas nas portas, como guardiãs, na fabricação de pequenos amuletos, no preparo de banhos, incensos e chás, revela a mais transparente das formas que a comunidade utiliza para curar o corpo e a alma de forma quase sempre instintiva, unindo o mágico com as propriedades medicinais efetivas.

As 16 plantas, a seguir descritas, foram escolhidas por serem uti- lizadas em rituais afro-brasileiros e também por estarem descritas na li- teratura científica. Os resultados que validam o uso terapêutico das mes- mas em muitas situações respaldam a indicação em medicina popular.

70

Dentro da ótica ritualística, as plantas selecionadas foram orga- nizadas de acordo com os elementos Água, Fogo, Terra e Ar e os respec- tivos orixás correspondentes a esses elementos. Associaram-se as ervas e suas funções mágicas nos momentos de rituais, aos orixás aos quais as plantas são destinadas. Em muitas ocasiões, as plantas descritas têm relação com os arquétipos dos deuses e a cura de doenças a estes miti- camente relacionadas.

Sendo assim, optou-se pelos quatro elementos e quatro plantas que fossem representativas dos mesmos resultando em 16 monografias em consonância com os 16 Orixás que respondem aos jogos de búzios (Oxalá, Yemanjá, Logum, Obá, Oxum, Iansã, Xangô, Oxóssi, Ogum, Exú, Nanã, Ibêji, Obaluaê, Ossâim, Oxumaré e Ewe). Muitas explicações lógi- cas foram procuradas para esta escolha, porém, acreditou-se que muito além dos conhecimentos científicos estão os deuses. Dentre eles, Iansã, relacionada com o número quatro, com o movimento, com os quatro cantos do mundo, as quatro estações do ano. Por fim, ainda reafirmando as simbologias do número quatro, cita-se a Aláfia, nome dado quando os quatro búzios caem abertos no jogo de Exú, significando “tudo positi- vo”, “sem possibilidade de acontecer algo contrário”. Dessa forma, pode- ria-se tentar um “sem número” de explicações para satisfazer o raciocínio cartesiano. Objetivamente, essas são simplesmente as 16 primeiras mo- nografias de uma lista que continua em elaboração, com embasamento científico, e com o propósito de posterior publicação.

71

Referências

ALARCÓN DE LA LASTRA, C. Antiulcerogenicity of the flavonoid fraction from

Bidens aurea: Comparison with ranitidine and omeprazole. J. Ethnopharm,

v. 3, p. 16-18, 1994.

ALMEIDA, M. Z. et al. Projeto raízes da terra: relatório geral. Salvador : Pró- Reitoria de Extensão da UFBA, 2000. Programa Farmácia da Terra da UFBA em Campo II.

ALMEIDA, M. Z.; BATTHACHARYA, J. Isolation of the constituents of the root- barks of Guettarda platypoda. J. Nat. Prod., v. 48, n.1, p. 43-44, 1982. ALMEIDA, M. Z.; BRITO, A. R. M. S.; PRATA, E. M. R. Ação antiespasmódica de amburana cearensis, A.C. Smith. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PLANTAS MEDICINAIS, 13., 1992, Curitiba. Anais... Curitiba: [s.n.], 1992.

ALMEIDA, M. Z.; KAPLAN, M. A. C. Inventário etnomédico: plantas indicadas para o sistema respiratório. In: SIMPÓSIO DE PLANTAS MEDICINAIS DO BRASIL, 13., 1994. Anais... Fortaleza, 1994.

ALMEIDA, M. Z.; NAIKE, S.; BATTHACHARYA, J. Atividade antiinflamatória da

Guettarda platypod. In: REUNIÃO DA SBPC, 34., [S.1.], 1982. Anais... [S.1.: s.n.],

1982. Seção 26.G.1.7.

ALMEIDA, R. N.; AGRA, M. F. Levantamento da flora medicinal de uso no tratamento de diabetes e alguns resultados experimentais. Rev. Bras. Farm., v. 67, n. 4, p. 105-110, 1986.

ALMEIDA, R. N. Avaliação pré-clinica e antimicrobiana dos extratos e constituintes químicos isolados de amburana cearensis (Fr.All.), A. C. Smith. In: REUNIÃO ANUAL SOBRE EVOLUÇÃO SISTEMÁTICA E ECOLOGIA MICROMOLECULAR, 11., 1989, Manaus. Anais... Manaus: [s.n.], 1989. ________. Inventário etnomédico: plantas indicadas para o sistema genito- urinário. In: SIMPÓSIO DE PLANTAS MEDICINAIS DO BRASIL, 14., 1996. Anais... Florianópolis, 1996.

72

AL-SALEH, F. S.; ALI, H. H.; MIRZA, M. Chemical constituents of some medicinal plants growing in Bahrain. Fitoterapia, v. 64, n. 3, p. 251-253, 1993.

ALVAREZ, L. Bioactive polyacetylenes from Bidens pilosa. Planta Medica, v. 62, n. 4, p. 355-357, 1996.

BARROSO, G. M. Sistemática de angiospermas do Brasil. São Paulo: Livros Técnicos e Científicos; Editora da EDUSP, 1978. v. 1

BARROSO, G. M. Sistemática de angiospermas do Brasil. Viçosa: Universidade de Viçosa, 1984.

________. ________. Viçosa : Universidade de Viçosa, 1986.

BRASIL EM NÚMEROS, Rio de Janeiro, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, v. 4, 1995/ 1996.

BRASIL. Ministério da Saúde. Central de Medicamentos. Primeiros resultados. Brasília, 1989.

BRUNETON, J. Elementos de fitoquimica y de farmacognosia. Zaragoza: Acribia, 1991.

CACERES, A. et. al. Plants used in Guatemala for the treatment of

gastrointestinal disorders. 1 Screening of 84 plants against Enterobacteria. J.

Ethnopharm., v. 30, p. 55-73, 1990.

CARVALHO, J. C. T., TEIXEIRA, J. R. M., SARTI, S. J. Preliminary studies of

analgesic and anti-inflammatory properties of Caesalpinia ferrea crude extract.

J. Ethnopharm., v. 53, p. 175-178, 1996.

COSTA, J. R. Candomblé de Angola: nação Kassanje. 2.ed. Rio de Janeiro: Pallas, 1991.

DAHLGREN, R. M. T. A. Revised system of classification of the angiosperms. Bot.

J. Linn. Soc., v. 80, n. 4, p. 91-124, 1980.

EKUNDAYO, O. Composition of the leaf volatile oil of Cymbopogon citratus.

Fitoterapia, v. 56, n. 6, p. 339-341, 1985.

EMERENCIANO, V. P.; KAPLAN, M. A. C.; GOTTLIEB, O. R; BONFANTI, M. R. D. M.; FERREIRA, Z.S. ; COMEGNO, M. A. Evolution of sesquiterpene lactones in Asteraceae. Biochem. Syst. Ecol., v. 14, n. 6, p. 585-589, 1986.

73

FIGUEIREDO, M. R.; KAPLAN, M. A. C. Pyrrolizidine alkaloids: a word of caution,.

Ciênc. Cult., v. 49, p. 54-58, 1997.

HASLAM, E.; LILLEY, T.H. ; CAI, Y. ; MARTIN, R. ; MAGNOLATO, D. Traditional herbal medicines: the role of polyphenols. Planta Medica, v.55, p. 8-12, 1989. JIE, L. Pharmacology of oleanolic acid and ursolic acid. J. Ethnopharm., v. 49, p. 57-68, 1995.

LEMOS, T.L.G.; MATOS, F.J.A.; ALENCAR, J.W.; CRAVEIRO, A.A.; CLARK, A. M. ; Mcchesney, J.D. Antimicrobial activity of essential oils of Brazilian plants.

Phytotherapy Research, v. 4, n. 2, p. 82-84, 1990.

LUTTERODT, G.D. Inhibition of gastrointestinal release of acetycholine by quercetin as a possible mode of action of Psidium guajava leaf extracts in the treatment of acute diarrhoeal disease. J. Ethnopharm., v. 25, p. 235-247, 1989. MARTINS, D.T.O.; RAO, V.S.N. ; FONTELES, M.C. Alguns efeitos farmacológicos e antiinflamatórios promovidos pelo extrato hidroalcoólico de Kalanchoe

brasiliensis Kamb. Oreades, v. 8, n 6, p.412-419, 1982. Trabalho apresentado no

VII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil

________. Inibição de colinesterase pelo extrato hidroalcoólico de Kalanchoe

brasiliensis Kamb. Oreades, v. 8, n 6, p. 420-426, 1982. Trabalho apresentado

no VII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil

MENEZES, M.M. Contribuição a farmacologia de Fagara base alcalóide

aporfínico quaternário de tinguaciba, Fagara tingoassuiba (St.Hill.) Hoehne. 1985. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Farmacologia e

Terapêutica, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

NOORMAN, N.H.; DAVID, M.M.; JEFFREY, B.H. Distribution and taxonomic significance of flavonoids in the genus Eugenia (Myrtaceae). Biochem. System.

Ecol., v. 20, n. 3, p.266-268, 1992.

OLIVEIRA, F. Pharmacognostic characterization of crude and fluid extract of guaco, sete sangrias: Mikania smilacina D.C. Rev. Farm. Bioq. Univ. São

Paulo, v. 21, n. 1, p. 1-13, 1985.

OLIVEIRA SIMÕES, C. M. et. al. Farmacognosia da Planta ao Medicamento. 2ª ed. Editora da Universidade UFSC, 1999.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Manual of the international statistical

74

Health Organization ; [Albany, N.Y.: obtainable from WHO Publications Centre], 1977-1978.

PANIZZA, S. Emprego medicinal de plantas importadas e sucedâneas que ocorrem no Brasil. Rev. Cienc. Farm. São Paulo, v. 4, p. 27-38, 1982.

PEREIRA, N.A.; JACCOUD, R.J.S.; MORS, B.W. Triaga Brasilica: renewed interest in a seventeenth-century panacea. Toxicon, v. 34, n. 5, p. 511-516, 1996.

PORTUGAl, F. Yorubá a língua dos orixás. 4. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 1992. REHAH, H.M.S.; MAJUMDAR, D.K.; SINGH, S. Evaluation of antiinflammatory potential of fixed oil of Ocimum sanctum (Holybasil) and its possible mechanism of action. J. Ethnopharm., v. 54, p. 19-26, 1996.

SOUZA, M.L.M. Resposta imune e antiinflamatória de Kalanchoe brasiliensis

Kamb. 1995. Dissertação (Mestrado) - Núcleo de Pesquisas de Produtos

Naturais, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

SULTANA, S.; PERUAIZ, S.; IQVAL, M.; ATHAR, M. Crude extracts of

hepatoprotective plants, Solanum nigrum e Chicorium intybus, inhibit free radical-mediated DNA damage. J. Ethnopharm., v. 45, n. 3, p. 189-192, 1995. TREASE, G.E.; EVANS, W.C. Farmacognosia. 13. ed. México: Interamericana, 1991.

TYLER, V.E. Medicinal plant research: 1953-1987. Planta Medica, v. 54, n. 2, p. 95-100, 1988.

TYLER, W. et. al. Farmacognosia e Biotecnologia. 1ª ed. Baltimore: Ed. Premier, 1997

VILLAR, A.; PAYA, M.; TERENCIO, M.C. Plants with anti-hipertensive action.

Fitoterapia, v. 57, n. 3, p. 131-145, 1986.

WAGNER, H.; NÖRR, H.; WINTERHOFF, H. Plant Adaptogens. Phytomedicine, v. p. 63-76, 1994.

77

No documento LIVRO Plantas Medicinais 3ed RI (páginas 70-78)