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com “ poucos blocos ”, onde “ não tinha a escola ” e onde “ existiam poucas estradas ”, mas

existiam muitas árvores

” que tiveram de cortadas para “

construírem mais blocos

” (Sombra,

2010).

Ainda numa perspectiva de comparação com o passado, as crianças confrontam a

atitude de vandalização e destruição do Bairro com o “antigamente”, em que “

as pessoas não

sujavam o bairro

” (Barbie, 2010). Criticam a sujidade generalizada que se verifica neste território,

nomeadamente o lixo espalhado pelo chão, que resulta num apontar do dedo acusador aos

próprios moradores do Bairro, que consideram serem os principais responsáveis por este estado

Fig. 11

Aqui são os meninos a brincarem e a molharem-se” (Sombra, 9 anos, 2010)

Aos moradores do Bairro, a quem são apontadas duras críticas, juntam-se-lhes os

colegas da escola, que consideram igualmente perpetuantes da referida vandalização:

“Sombra – Ó professora, agora é melhor ver uma coisa que eu não acho bem. Aquela torneirinha (a apontar).

MJ – Porquê?

Sombra – Porque põem isto a rodar, arrancam e já está. Começa a deitar água que, por exemplo, arrancam a torneira e a água começa a jorrar” (Sombra, 9 anos, 2010).

Assumindo, novamente, uma perspectiva crítica perante os outros, as crianças não se

limitam a copiar ou assumir o que observam no exterior (Almeida, 2009), participando

activamente num processo com vista à mudança, nomeadamente num mundo de adultos. Aos

poucos foram apontando o dedo ao que não concordavam e foram apresentando propostas de

alteração, na esperança de serem ouvidas e levadas a sério.

Ao longo do período em que decorreu esta investigação foram chamando a atenção para

todo o tipo de vandalização, nomeadamente dos equipamentos como sinais de trânsito, bancos

de jardim, entre tantos outros. A estes juntam-se-lhes as paredes dos blocos, frequentemente

classificadas de sujas, riscadas, estragadas e pintadas. Apesar de este estado ser uma constante,

não conduz ao desinteresse ou indiferença por parte deste grupo de crianças, muito pelo

contrário, já que continuam a ser um alvo constante de duras críticas.

“As pessoas gostam de estragar, não têm arte. (…) Estragaram tudo, queimaram tudo, aqui tinha coisas. Acho que tinha aqui mesas, onde as

pessoas vinham para aqui e estragaram (a propósito de um pequeno largo no Bairro)” (Barbie, 10 anos, Junho 2010).

Fig. 12

“Isto é o bloco oito, que é as traseiras do campo de futebol. Aquilo é o bloco sete, aquele ali. Isto é à beira do meu bloco, tem lá um jardim. É só relva e tem lá uma cabine” (Batman, 10 anos, 2010)

No Bairro, o campo de futebol assume um lugar de especial destaque. O

ringue

, como é conhecido entre as crianças, situa-se no centro do Lagarteiro e faz paredes-meias com a escola.

Apesar de se encontrar em mau estado – tem apenas duas balizas sem redes e o piso em terra

batida e algum cascalho –, quando as aulas terminam é ocupado pelos mais novos, que ali se

reúnem para jogar futebol ou para, simplesmente, brincar.

Trata-se de um local estratégico e ponto de encontro para a maioria das crianças do

Bairro, tendo sido eleito como um dos lugares preferidos no Bairro. Neste momento, é o único

local onde os mais novos dispõem de um espaço físico de lazer.

“Barbie – Qual é o sítio que tu gostas mais aqui no Bairro? Batman – É o campo de futebol.

Barbie – Porquê?

Fig. 13

”O campo é onde os miúdos jogam lá à bola. Há lá muitos meninos a brincarem à acaçada, também os do ATL, que ficam lá a brincar” (Joana, 12 anos e Benji, 11 anos, 2010)

Outro lugar de eleição, para este grupo de crianças, é o Parque Oriental. Este espaço, da

autoria do arquitecto Sidónio Pais, contempla um total de 55 hectares, sendo que 10 já foram

inaugurados e disponibilizados ao grande público. Aquando da realização deste trabalho o Parque

Oriental havia sido recentemente inaugurado:

“O espaço, idêntico ao parque da cidade do Porto, tem uma zona verde com aproveitamento dos cursos de água, muito vegetação e caminhos pedonais, mas fica perto do problemático bairro do Lagarteiro. O presidente da autarquia do Porto espera que isso não seja um problema em termos de segurança, até porque a polícia municipal está a vigiar o local. Contudo, admite tomar novas medidas, caso se revele necessário” (Nunes, TSF:n.d.).

Fig. 14

O Parque Oriental é o local de eleição para brincadeiras. Quando lá vão, as crianças que

participaram neste estudo, ficam verdadeiramente entusiasmadas, sobretudo devido à sensação

de liberdade que lhes provoca. É um espaço onde brincam, andam de bicicleta, passeiam… No

Parque puxam pela imaginação e criatividade, fazendo de tudo o que encontram, o mote para a

brincadeira.

“Joana – Aqui é onde eu brinco com a minha casa. Tem aqui o meu plasma, sento-me aqui no meu sofá.

Barbie – Aqui é… saia de cima da televisão! Aqui é o sofá, ali são as camas, uma cama para cada um e o plasma.

Joana – Agora já podemos ir embora.

Barbie – Aquilo não tem nada, stora, mas está bem (risos sobre a casa imaginada)” (2010).

A ideia da criação de um espaço semelhante ao Parque Oriental, no centro do Bairro, foi

levantada por este grupo, com alguma frequência. As crianças gostariam de ter, no centro do

Bairro, uma área idêntica ao Parque Oriental, na qual não poderia faltar um lago. No entanto,

alertaram para a necessidade de construir portões de acesso a esta área, por questões de

segurança.

“No Parque podia ter portões… podia ter, sei lá, podia ter…” (Gadget, 10 anos, 2010).

As representações do Parque Oriental surgem associadas a elementos, sobretudo da

Natureza, como a cascata, o lago, o rio, o musgo, as flores, as árvores e as pedras. A propósito

destes elementos reforçam a questão da pureza dos mesmos, nomeadamente através da

referência à “água limpa” e à “relva limpa”. A par destes acrescentam as estradas, os caixotes

do lixo e as obras.

Para este grupo de crianças, o factor limpeza, no Parque Oriental, revela-se uma questão

bastante importante e atractiva:

“E, aqui, como podem ver é a cascata. Tem água limpa, que vem do Douro, limpinha” (Barbie, 10 anos, 2010).

Apesar de não fazer parte do Bairro, já que se encontra nas suas imediações, a maioria

das crianças encaram o Parque Oriental como parte integrante do território que habitam. Esta

apropriação é quase uma necessidade de que aquele lugar, de que gostam tanto, faça parte do

Bairro do Lagarteiro.

Ao longo deste estudo foi possível perceber que este grupo de crianças tem uma forte

tendência para se apropriar de espaços exteriores ao Bairro (assim como de serviços, comércio e

outros) sempre que consideram tratarem-se de locais de eleição.

Esta apropriação espacial resulta do uso dos espaços e da consequente relação que a

criança cria os mesmos, nomeadamente quando sente uma identificação positiva. A apropriação

é entendida como a possibilidade que os seus usuários têm de se “

mover, possuir e agir

” (Cassab, 2009:60).

A apropriação de um determinado espaço significa vivê-lo como se fosse seu, mas

também uma participação activa na sua construção (Lefebvre, 1968). Não obstante, apropriar não

significa possuir, como este autor refere:

“O direito à cidade manifesta-se como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitá-la e a morar. O direito à obra (à actividade participante) e o direito à apropriação (bem distinto do direito à propriedade) estão implícitos se no direito à cidade” (Lefebvre, 1968:2).

O Parque Oriental é um espaço bastante querido para este grupo de crianças, em parte,

devido à Natureza que oferece. A existência de mais espaços verdes no Bairro é sentida como

uma forte necessidade, devido à escassez dos mesmos neste território.

A ausência de zonas verdes em geral, nomeadamente de árvores, preocupa as crianças,

que as consideram fontes de oxigénio. Nas suas representações do Bairro, através de desenhos,

as árvores ocuparam um importante lugar, tendo sido um dos aspectos da Natureza que assumiu

maior destaque:

“(…) Antes tinha mais árvores (em Gouveia), aqui tenho menos (no Bairro), já estava habituado ao ar de lá, depois tive de me habituar ao ar de cá… (…) depois não tínhamos oxigénio, enquanto existirem algumas

(árvores) é bom, quando existirem nenhumas é que é mau” (Sombra, 9 anos, 2010).

Outros aspectos da Natureza também foram representados através do sol, das nuvens e

do arco-íris. Nos seus desenhos sobre o Bairro, algumas das crianças não os representaram

mas, quando se aperceberem da sua ausência, pediram-nos se os poderiam acrescentar.

O Sombra sentiu necessidade de adicionar as nuvens e o céu, mas não o sol:

Fig. 15

“A maior parte dos dias (o sol) está tapado pelos bloquinhos. E a maior parte das horas” (Sombra, 9 anos, 2010)

Uma das propostas apresentada por estas crianças, para tentar colmatar a escassez de

espaços verdes no Bairro do Lagarteiro, foi a criação de um quintal (jardim/horta) para cada

bloco. Estes quintais funcionariam como um espaço de convívio para os moradores, mas

também como locais onde pudessem plantar as suas próprias hortas e pomares.

“Barbie – Um quintal para todos e lá em cima, também, um quintal para todos.

MJ – Um quintal para todas as casas?

Barbie – Não, um quintal grande para toda a gente. Cada semana ia para lá uma pessoa sozinha, assim, e depois, na outra semana. No primeiro dia faz-de-conta que ia eu, no segundo dia ia uma amiga minha…

Barbie – Sei lá. Levávamos lanches, fazíamos alguma coisa lá. Podiam construir um parque, davam dinheiro para a Câmara.

Sombra – Também podiam fazer um quintal, mas é mais ou menos quintal, onde se semeasse flores, nabos… (2010).

Para as crianças, a falta de espaços verdes é, por vezes, compensada pela vegetação

que circunda determinadas áreas do Bairro. Recorde-se que o Bairro do Lagarteiro se encontra

localizado numa região bastante rural e, nas suas imediações, existem alguns espaços com pasto

de animais e campos de plantio.

Não obstante a vizinhança com alguma ruralidade, a maioria destas crianças não encara

o Bairro como um lugar rural, muito pelo contrário:

“(…) no campo tem muitas couves e no Bairro não tem não (…) e não andasse muito de carro, há mais carroças. Há muita agricultura”

(Batman, 10 anos, 2010).

Os espaços verdes existentes nos limites do Bairro são frequentemente utilizados, pelas

crianças que participaram neste estudo, como local de brincadeiras. No entanto, estas áreas são

igualmente frequentadas por toxicodependentes.

Foto nº 16

Espaço frequentado pelas crianças e por toxicodependentes (Sombra, 9 anos 2010)

O Bairro do Lagarteiro, à semelhança de tantos outros espaços urbanos, resulta da

que, como actor social que conhece bem o espaço em que se move, inevitavelmente acaba por

fazer parte deste processo (ainda que à posteriori) (Nascimento, 2007).

Aos poucos vai-se apropriando do espaço que a envolve, transformando-o à sua medida,

com o objectivo de que o que se lhe apresenta se adeque, da melhor forma, ao objectivo que

pretende alcançar.

“(…) os espaços podem ser (re)criados, (re)desenhados, (re)ocupados e transformados a todo o momento, a não ser necessário seguir uma racionalidade lateral dos espaços, ele pode ter múltiplas funções. (…) A criança com sua inventividade e ludicidade próprias das culturas de infância nos mostra outras cidades possíveis num ato de criação de inúmeras possibilidades de construir e desconstruir os espaços urbanos” (Nascimento, 2007:1,2).

A construção e desconstrução dos espaços urbanos (Nascimento, 2007), idealizados pelos

adultos, são substituídos e transformados naqueles que as crianças idealizam e aspiram. À

medida que este processo se desenrola, os territórios do Bairro vão sendo ocupados, pelas

crianças, em jeito de apropriação.

Conhecem os recantos do Bairro, como ninguém, e ali se movem com grande destreza e

à-vontade. O sentimento de adopção e identificação positiva com este território resultam numa

apropriação do espaço que tomam como seu.

De certa forma, as crianças tentam transformar os espaços do Bairro, numa obra que

também lhes pertence, apesar de ter sido projectada e implementada por adultos (Nascimento,

2.1. A Escola

ou

o Epicentro do Bairro?

Fig. 16

“É o portão, os muros e a entrada da escola” (Constança, 11 anos, 2010)

No âmbito do capítulo sobre os espaços do Bairro, a categoria escola surge quase como

a representação máxima deste território, marcando presença nos desenhos e registos

fotográficos das crianças, assim como nas entrevistas.

A EB1/JI do Lagarteiro faz parte do quotidiano deste grupo de crianças, sendo que quase

tudo gira à sua volta. Quando não há aulas, pouco ou nada resta para fazer…

“MJ – Gostas de viver num bairro? Joana – Gosto.

MJ – Porquê?

Joana – Porque tem a escola onde os meninos aprendem a ler e a escreverem, o recreio para brincarmos, tem muitas coisas divertidas…”

(Joana, 12 anos, 2010).

Geograficamente situada no núcleo do Bairro, a EB1/JI do Lagarteiro fica a apenas

Fig. 17

“É os blocos à frente da escola” (Joana, 12 anos, 2010)

No seu redor, os 13 blocos cercam-na e observam-na. De grande parte das janelas

consegue ver-se a escola, motivo pelo qual é frequente alvo dos olhares apoiados nas janelas, de

familiares ou afins, que se debruçam para matar o tempo e a curiosidade sobre o que ali se

passa.

Outros optam por se deslocar até ao portão da escola, durante os períodos de intervalo

lectivo, pendurando-se nas grades que isolam a EB1/JI do Lagarteiro do resto do Bairro, mas

que tudo deixam ver e ali ficam a observar as movimentações de miúdos e graúdos.

Muitas vezes, esses olhares resultam em situações de conflito, despoletadas pelo

observar de algo que supostamente envolva o filho (a) e desagrade quem observa. Desta forma

se têm iniciado muitos dos processos conflituosos que envolvem pais, ou familiares de alunos, e

a própria escola, ou seja, os seus funcionários, professores, entre outros.

Foto nº 17

Para estas crianças, o Bairro do Lagarteiro não faria sentido sem a existência de uma

escola. A EB1/JI do Lagarteiro como espaço físico (portão, muros, salas e telhados) é muito

referenciada, assim como todos os que dela fazem parte, designadamente os professores e

funcionários. Todas estas personagens e materiais são comummente mencionados como

pequenas peças de um todo menor, a escola, que se encaixam no enorme puzzle que é o Bairro.

Para o grupo que participou nesta investigação, a escola também é sinónimo de ser

criança. Na sua opinião, as crianças gostam e frequentam a escola, ainda que existam algumas

que se queiram apressar a crescer para dela sair:

“Eu gosto de ser criança pr’a ter mais amigos, pr’a andar na escola… (…) Um adulto quando é criança, como nós, quer sair mais rápido da escola (…)” (Joana, 12 anos, 2010).

O espaço do recreio surge como um lugar privilegiado, para as crianças, sinónimo de

brincadeiras e de diversão, os mesmos adjectivos utilizados para definir o próprio Bairro. O

recreio, assim como os meninos e meninas que ali brincam, são bastante referenciados pelas

crianças que participaram neste estudo. Considerado um local de eleição para brincar, em tempo

de aulas, foi um dos locais mais mencionados nas entrevistas, nos registos fotográficos e nos

desenhos.

Foto nº 18

“Acho giro. Pode-se ver o campo e esta parte da escola… e os meninos a brincar” (Sombra, 9 anos, 2009)

“MJ – Achas o recreio importante?

Diana – Acho. Brincam, jogam à bola neste lugar… podia ter mais cenas para eles brincarem. Porque caem e doem. Isto é pedra e doem. Eu já caí. (…) Acho importante o recreio.

MJ – Porquê?

Diana – Para nós brincarmos, para haverem muitas brincadeiras” (Diana, 15 anos, 2010).

Foto nº 19

“É a comida que nós comemos na escola” (Joana, 11 anos, 2010)

Durante o processo de recolha de elementos para investigação, várias crianças fizeram

questão de registar fotograficamente a cantina da escola, nomeadamente a comida que ali

habitualmente comem. O registo fotográfico por elas captado sugeriu que as crianças consideram

a comida uma parte integrante e importante do seu dia, ainda que algumas se recusem a comer.

“Joana – Na cantina, na escola.

MJ – Porque quiseste tirar uma fotografia à comida?

Joana – Porque era a comida que eu ia comer. E eu achei tirar. MJ – Gostas de comer essa comida?

Joana – Sim.

MJ – Foi por isso que a tiraste?

Joana – Aceno afirmativo” (Joana, 12 anos, 2010).

A grande maioria deste grupo de crianças tem hábitos alimentares que não incluem

sopa, legumes, saladas ou fruta, motivo pelo qual se recusam a comer estes alimentos na

“Acordo, venho para a escola, às vezes trabalho, outras vezes não, às vezes falamos… vou para o recreio, fico na sala a brincar com elas… vamos almoçar à cantina e vomitamos… (risos) … a professora deixa ir para a sala brincar…” (Constança, 11 anos, 2010).

Outros, por oposição, comem tudo o que se lhes é apresentado e até repetem. É de

referir a generalização dos maus hábitos alimentares e, pontualmente, de casos de crianças que

passam por algumas privações em casa.

“ (…) é bom termos um camião que é para nos servirem a comida. (…) Porque senão perdemos toda a energia, vimos cá para fora, não nos apetece brincar. (…)” (Sombra, 9 anos, 2010).

A escola assume uma extrema importância da vida destas crianças, pois é ali que passam

a maior parte dos seus dias, mesmo fora do tempo de aulas. É frequente vê-las saltar os muros

e/ou os portões da EB1/JI do Lagarteiro, para se dirigirem ao espaço de recreio, somente para

brincarem. Apesar de ali disporem apenas de um campo em terra batida com duas balizas, sem

rede, fazem daquele local um espaço de eleição para brincadeiras.

Foto nº 20

“Tirei à paisagem e aos meninos aqui da escola a brincarem” (Benji, 11 anos, 2009)

Este panorama era uma realidade até ao encerramento deste estudo. Entretanto, perante

a realização de obras na EB1/JI, que terminaram no final do mês de Abril de 2011, não

A ausência de espaços lúdicos no Bairro do Lagarteiro, leva a que as crianças procurem

e explorem outros, numa tentativa de os substituir. A escola preenche, em grande parte, esta

lacuna ao proporcionar uma área de recreio onde as crianças se reúnem para usufruírem de

momentos de lazer.

Apropriam-se do espaço escola, que exploram de um modo único e singular, diferente

das apropriações e ocupações próprias dos adultos. A este propósito, Almeida (2007) remete

para um estudo realizado em França (1999), em oito escolas com características espaciais

similares, em que as práticas sociais se sobrepuseram à concepção física do espaço.

Alunos, professores e funcionários utilizavam o espaço escolar de formas distintas, ou

seja, a sua utilização variava em função dos actores, sendo que os alunos viriam a revelar uma

maior mobilidade. Tendo em conta este estudo, Almeida alerta para a “

importância do significado

da utilização do espaço em “situação”, bem como a apropriação e competência que os alunos

revelam no seu uso

” (Almeida, 2009:125).

As crianças apropriam-se dos espaços e incutem-nos de significados graças à

competência das crianças na apropriação significativa do espaço dinâmico que as rodeia

”,

(Almeida, 2009:127).

2.2. O meu Bairro em Grafites

Foto nº 21

“Achei que ficava bonito” (Gadget, 10 anos, 2010)

No Bairro do Lagarteiro, um pouco por todo o lado, as grafites vão marcando uma forte

qual são, tantas vezes, referenciadas pelas crianças no decorrer das entrevistas e através das

fotografias e vídeos capturados pelo grupo.

Apontadas, na sua maioria, como um elemento positivo e embelezador do Bairro, a sua

presença e permanência não causa estranheza. Aliás, muito pelo contrário, já que as consideram

parte integrante da simbologia do próprio território.

Não obstante o apreço por esta forma de arte, este grupo de crianças propôs a criação

de paredes específicas para grafites, com vista a preservar e manter libertas as paredes dos

blocos.

“Barbie – Este está muito giro. Eles até podiam grafitar, os senhores da Câmara podiam fazer aqui umas coisas, que eles podiam fazer umas paredes só para grafites, só para ficar giro. Se ninguém chegasse lá e estragasse as coisas.

Sombra – Por exemplo, aqui, já está estragado. Este também. Pintaram isto tudo... e não são grafites. Este aqui é. (…)” (2010).

Se, por um lado, as grafites são encaradas com agrado, por outro, há um

descontentamento generalizado com uma outra forma de grafites, que se traduz apenas em

paredes riscadas e outros “rabiscos”. As crianças fazem uma especial chamada de atenção para

este tipo de ilustração, que se traduz nuns rabiscos nas paredes e são consideradas poluição

visual e factor denegridor do Bairro.

Foto nº 22

“Estes nomesinhos não deviam estar por cima dos grafites” (Sombra, 9 anos, 2010)

Na sua opinião, não se trata de arte, mas sim de vandalização. Outra situação a que

apontam o dedo é ao facto de algumas pessoas escreverem por cima das grafites, estragando-as.

Foto nº 23

“Porque isto aqui está a pôr coisas feias na escola. Assim, a escola não fica tão gira, por exemplo, se ela tivesse grafites por todo o lado estava muito gira” (Sombra, 9 anos, 2009)

Como temos vindo a constatar, o grupo de crianças que participou neste estudo, revela

um apurado sentido crítico sobre o que não apreciam, a par com o que lhes merecem elogios.

No caso específico das grafites, as opiniões dividem-se entre a arte que consideram bem feita e