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Os povos indígenas estão fora da escola?

No documento Dissertação de Sanderson Pereira Leal (páginas 87-90)

3 OS POVOS INDÍGENAS NOS LIVROS DIDÁTICOS DO

3.2 Os povos indígenas estão fora da escola?

Após análises realizadas nos dois instrumentos de controle do trabalho pedagógico do professor em sala de aula, o RCEM e o livro didático, foi possível constatarmos uma distância muito grande entre o efetivo cumprimento à Lei 11.645/08 e as propostas desses instrumentos de controle do ensino e da aprendizagem em trabalhar conteúdos que verdadeiramente dialoguem de forma democrática com as diferenças indígenas no Ensino Médio de MS. Diante desse contexto, surge a questão: os povos indígenas, suas culturas e histórias, estão ausentes do Ensino Médio de MS?

Diante disso, é muito importante considerarmos que vários fatores históricos, políticos, culturais e também sociais contribuem para a construção de um modelo de educação excludente, que fortalece pensamentos discriminatórios sobre as minorias sociais na sociedade. Discursos hegemônicos, que se contrapõem às lutas históricas dos povos indígenas por direitos, se movem entre os muitos mecanismos de controle social como na educação formal, marginalizando, além desta, outras culturas e histórias que não estejam submetidas à visão cientificista ideal.

Estereótipos, simplificações e invisibilidades, são alguns dos tratamentos direcionados à temática indígena no currículo do Ensino Médio de MS, que impedem o desenvolvimento de um conhecimento que valorize formas outras de pensamento. Para Arroyo (2013, p.17) em:

[...] estruturas fechadas, nem todo conhecimento tem lugar, nem todos os sujeitos e suas experiências e leituras de mundo têm vez em territórios tão cercados. Há grades que têm função de proteger o que guardam e há grades que têm por função não permitir a entrada em recintos fechados. As grades curriculares têm cumprido essa dupla função: proteger os conhecimentos definidos como comuns, únicos, legítimos e não permitir a entrada de outros conhecimentos considerados ilegítimos, do senso comum.

Essas estruturas que impedem o acesso a novos conhecimentos e sujeitos dentro da escola, são consolidadas e determinadas historicamente pela sociedade e cultura dominante, pois segundo Silva e Souza (2008, p.170):

A diversidade entre os indivíduos é uma condição da natureza humana e está presente na abordagem pedagógica. Isso não significa que lidar com ela seja simples, pois, ainda hoje, está-se aprendendo a conviver com as diferenças. Nem toda diversidade, no entanto, significa desigualdade, e este é o caso da diversidade étnico-racial e cultural. Cada um dos grupos que contribuiu para a formação da sociedade brasileira tem histórias, saberes, culturas e, muitas vezes línguas diversas. Será que essa diversidade foi historicamente valorizada, tanto pela sociedade quanto pela escola? Será que se soube respeitar e aproveitar essa multiplicidade de contribuições culturais? A resposta a essa pergunta foi, durante muito tempo, negativa.

Assim, o Currículo do Ensino Médio de MS — seja nos conteúdos do Referencial Curricular, ou por meio dos livros didáticos — se mantém fechado às muitas possibilidades e às novas descobertas em relação aos povos indígenas, suas histórias e especificidades étnicas, que, direta ou indiretamente, tenderá a manutenção de certas atitudes e pensamentos preconceituosos na sociedade como demonstra Grupioni (1995, p.492):

[..] um conjunto de informações incorretas, incompletas ou descontextualizadas sobre os índios acaba gerando ou reforçando o preconceito e a discriminação. Cabe agora, nos perguntarmos como é possível reverter esta situação. Como é possível que a escola, que desempenha um papel fundamental na formação do nosso referencial explicativo da realidade colabore na construção de uma sociedade pluriétnica, capaz de respeitar e conviver com diferentes normas e valores?

Diante da invisibilidade dos povos indígenas na escola pública, faz-se necessário o desenvolvimento de novas possibilidades e estratégias para trabalhar e dialogar com as diferenças indígenas dentro das salas de aula, e o (a) professor (a) tem uma importante função

nestas disputas por uma educação pública que atenda aos interesses das minorias sociais, pois de acordo com Arroyo (2013, p. 14):

Quando o próprio campo do conhecimento está perpassado dessas tensões, ter saudades da paz no currículo escolar, na docência e nas salas de aula é ingenuidade. Defrontarmo-nos com essas tensões será uma postura mais consequente. Como profissionais do conhecimento não conseguimos ficar de fora, estamos no redemoinho dessas tensões. Este é um dos motivos que nos obrigam a refletir sobre o currículo como território em disputa.

As impossibilidades de mecanismos de controle educacionais em estabelecer uma postura de respeito à Lei nº. 11.645/08 aumentam a responsabilidade dos (as) profissionais da educação pública no questionamento desses mecanismos, assim como, na busca incessante por novos meios que possam trazer as diferenças para serem estudadas e debatidas no contexto da educação escolar. Uma sociedade que busca construir uma democracia plena, só terá êxito com o respeito e a valorização de todas as culturas pertencentes a sua esfera política e institucional.

Trazer as culturas e as histórias dos povos indígenas para a sala de aula implica enfrentar os desafios de uma educação pública deficitária, em termos ideológicos e práticos. No entanto, as possibilidades de mudança são visíveis e reais nas lutas cotidianas das minorias sociais por autonomia e respeito à suas identidades étnico-culturais em todo país.

Por meio das análises e pesquisas realizadas no RCEM e livros didáticos do Ensino Médio de MS, corroboramos a pressuposição — expressa por meio da questão que deu título a este item — de uma invisibilidade dos povos indígenas no Currículo do Ensino Médio Regular em MS, dificultando o trabalho dos (as) profissionais da educação que pretendem educar as novas gerações de estudantes brasileiros nos preceitos democráticos de respeito e valorização às minorias étnicas indígenas.

No documento Dissertação de Sanderson Pereira Leal (páginas 87-90)

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