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Capítulo 4. A REVELAÇÃO ATRAVÉS DOS DADOS

I. Diretor de Escola enquanto sujeito que participa da formação

3. Prática cotidiana

O cotidiano do educador, daquele que lida com a escola, com os afazeres que constituem a profissão, no caso aqui do Diretor de Escola, passa pelas vivências, pelos momentos de reflexão, fazendo com que isto se transforme numa busca por um fazer que não se compõe de estereótipos, mas de modelos de educadores outros que colaboram nesta composição de um Diretor de Escola pleno de contemporaneidade; que se compõe de oportunidades de se constituir enquanto Sujeito-Educador-Diretor de Escola Pública municipal brasileira.

A prática das Diretoras conforme se constata nas entrevistas foi construída através dos anos de vivência – pois estão na lida já há algum tempo - e de convívio com o fazer educação, não numa mera coleção de atividades que deram certo, o que até pode ter acontecido em alguns momentos de suas carreiras, mas numa ação que tem como base a característica de um profissional que procura repensar sua prática, vivê-la na construção com outros Diretores, numa composição de olhares, que não só os seus, como constituinte de uma trajetória profissional, pessoal (pois elas não se separam – o profissional e o ser educador estão imbricados, juntos), que solicita por formação.

Dir.2: “Esse ano não existe. Esse ano, nós, enquanto Diretores, ... é ... aos berros e gritos, a gente tenta reservar esse nosso espaço de assessoramento, mas somos nós que trocamos experiências. (pausa). Estou aprendendo com o outro? Estou aprendendo, mas isso não é o assessoramento que a Rede nos proporciona. Nós estamos nos proporcionando, porque é uma briga nossa, enquanto Diretor, olha, a gente vai se encontrar todas as quartas-feiras.”

É na luta por espaços que garantam momentos de reflexão, apesar da Diretora acima achar que não é o assessoramento que a Rede lhes proporciona, que se fortalece a característica da aprendizagem, ou melhor, da busca por aprender coisas novas e até mesmo rever as já aprendidas para poder (re)interpretá-las, num sentido de momentos de estudo. Nessa perspectiva, um conteúdo que se faz presente ao se pensar a prática cotidiana, diz respeito à pesquisa, do ato de educar.

Pesquisa

Rever a prática significa encarar uma possibilidade de se constituir enquanto pesquisador da sua prática.

Pesquisar no sentido de se indagar a respeito daquilo que vem fazendo, do modo como vem fazendo ...

Dir.2: “Então se o meu pai ainda não sabe qual é esse papel dele de participar, cabe a esse grupo, aqui, à Mônica, Diretora, à Mônica, cidadã, que também não sabe direito como participar e, nem sabe direito como é que é ser democrática. Eu vivo dizendo isso para os meus Professores: por favor, me ajudem a aprender como é que é ser democrática, porque eu ainda não sei. Embora as pessoas falem muito em democracia, essas pessoas, também, não estão me ensinando. [Você acha isso?] As pessoas não estão me ensinando a ser democrática. Eu não sou uma pessoa que eu possa dizer que eu sou democrática. Eu não sou democrática, gostaria de aprender. Eu estou me esforçando muito. Eu até acho que, às vezes, eu faço coisas achando que estou sendo democrática e não estou sendo.”

O saber não está pronto, acabado, mas precisa ser procurado, pesquisado, esquadrinhado, dissecado para que seja incorporado aos fazeres dos sujeitos. Procurado junto aos outros sujeitos que já sabem, constituindo-se em modelos, como tratado anteriormente. Procura que se constitui enquanto pesquisa para aprimorar o fazer deste Diretor.

Pesquisar, então, carrega consigo o ato de informar-se a respeito de alguma coisa. É o que traz a Diretora 4, ao afirmar que

Dir.4: “Então com as colegas, nós nos reuníamos até em final de semana, época de férias da gente. A gente ia na casa das colegas, fazíamos reuniões, discutir como é que tinha que fazer o Plano Pedagógico, as reuniões de início de ano com os professores...”

O Sujeito-Educador-Diretor, nessa visão de constituição da prática cotidiana através da pesquisa, amplia a sua capacidade de entender os meandros da educação, não numa atitude passiva de receber de alguém, mas num procurar por respostas que estão naqueles que vivem consigo o seu dia-a-dia; num procurar que busca entender as escolhas que faz, para a partir disso redimensionar o seu trabalho.

A pesquisa daquilo que se faz, tendo o próprio sujeito que aprende pesquisando sobre o seu fazer, numa busca por respostas , adiciona um ingrediente ao jeito de fazer educação continuada que não é muito usual. É importante que a SME procure ampliar sua forma de ofertar essa formação em serviço, adicionando à política de implementação da formação outros olhares, diferentes, mas constitutivos de um jeito que implica mais seus Diretores de Escola na questão da sua educação continuada.

Entende-se que é impossível fazer pesquisa da própria prática, tentando refletir sobre o seu fazer cotidiano, se não se dialoga com experiências vivenciadas e refletidas à luz da teoria que lhes deram suporte. Assim sendo, é imperioso ao Diretor que se quer se constituir enquanto pesquisador de sua prática a oportunidade de estudar.

Neste sentido, o Documento 8 já apontado no conteúdo Diretor-Educador, da categoria anterior, Constituição do Sujeito, faz referência ao fato de que uma desculpa é o excesso de trabalho burocrático, demandas da Escola, que tomam tempo do Diretor de Escola. Tempo este que poderia ser usado em estudo.

É impossível conceber que um profissional que se quer pesquisador- educador, sem tempo para estudar.

Estudar aqui, adquire um significado que se buscou em GADOTTI, lá no final da década de 70, quando este pesquisador fez algumas reflexões a respeito do ofício de ser pedagogo na educação brasileira, mas que continua atual, pois de muito se persegue o ato do educador se educar como ali registrado.

“Educar-se para o educador, sobretudo num certo momento, pode significar, por isso, lutar contra a educação, a educação dominante, a educação do colonizador; lutar contra a inculcação e a legitimação de poder que representam os aparelhos escolares e paraescolares.” (GADOTTI, 1978: 14)

Essa luta pela busca de armas contra uma ideologia que privilegia outros momentos no fazer do Diretor de Escola, exceto o de refletir sobre a importância da sua prática para a construção de uma Escola Pública de qualidade, implica em

se assumir como Educador que se expõe e ao se expor mostra seu jeito de pensar e fazer educação, enfim, seu lado profissional e pessoal, se mostra no todo.

A SME deveria, como já se falou anteriormente, subsidiar as Escolas no sentido de garantir que o Diretor e os demais profissionais tenham tempo e oportunidade para estudo, revendo horários de trabalho, equipando as Escolas com infra-estrutura adequada, pois não basta só prever esses momentos na jornada semanal dos educadores. É necessário dar condições para que tal se concretize.

As categorias analisadas neste bloco e, por conseguinte, os conteúdos que as constituem buscaram responder à constituição do sujeito que trabalha na SME enquanto Diretor de Escola, encontrando um termo que sintetiza esse profissional na acepção de SUJEITO-EDUCADOR-DIRETOR.

Aprofundando a análise, na intenção de ampliar o campo de visão do problema colocado para esta pesquisa, passa-se ao segundo bloco de categorias que tratarão do Programa de Formação Continuada aos Diretores de Escola da SME.

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