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A questão de como as pessoas se tornam expecializadas15 numa determinada

atividade pode ser respondida por meio da prática deliberada – um regime individualizado de treinamento, sugerida por Ericsson (2002). O autor defende que a expecialização (expertise) num nível mais alto pode resultar de muita prática,

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“(…) the degree of durability (ALVES, 2005) in the performance of translators, i.e., an outcome of a particular performance that signals a pattern of processing and monitoring text production assumed to be correlated with efficient cognitive management and reflective practice from a meta-cognitive perspective.” (ALVES e GONÇALVES, no prelo)

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denominada prática deliberada, a qual segue algumas exigências como, por exemplo, trata-se de uma prática com as seguintes características:

• é consciente orientada por um objetivo pré-determinado; • é regular com uma concentração intensa e duração limitada;

• envolve exercícios designados ao desenvolvimento de determinados aspectos de desempenho;

• feita com exercícios repetidos até atingir um nível desejado de desempenho;

• é supervisionada por um especialista que sistematiza prática e fornece um monitoramento e feedback. (VAN GELDER e BISSET, 2004)

Ericsson e seus seguidores concluíram que para atingir um alto nível de expecialização nos domínios estudados, são exigidas milhares de horas de prática deliberada. Os estudos desenvolvidos por tais autores indicam que as pessoas que atingiram os níveis mais alto de desempenho apresentavam dez anos ou mais de esforço direcionado, estruturado e intensivo. As diferenças individuais no nível de desempenho alcançado estão relacionadas à quantidade de prática deliberada exercida. (FELDON, 2006).

Van Gelder e Bissett (2004) atestam que o nível de esforço dedicado é raro e que, geralmente, as pessoas se envolvem em pouco ou quase nenhuma prática deliberada. Conseqüentemente, suas habilidades atingem um platô estável bem abaixo do potencial total. Ericsson (2002) indica que, após um treinamento inicial, a quantidade de experiência em um domínio não é relativo a um nível de expecialização. Um simples envolvimento numa atividade não desenvolve habilidades além de um determinado nível, por exemplo, um jogador que pratica tênis esporadicamente pode ficar anos sem apresentar melhora no seu desempenho.

O modelo de Ericsson sugere que um alto nível de expecialização só é atingido mediante muita prática deliberada. Essa hipótese implica que prática deliberada ajuda as pessoas atingirem um nível de expecialização mais alto do que atingiriam em situações normais. Atividades conscientes com pouco tempo de prática deliberada podem melhorar as habilidades, mas só porque possuem traços da prática deliberada. Van Gelder e Bissett (2004) argumentam em favor de que um alto nível de expecialização num contexto informal é adquirido da mesma forma que em outros domínios.

Geralmente, instruções para solução de problemas em determinados domínios são calcadas em depoimentos de expertos sobre estratégias adotadas na execução das atividades de domínio. Feldon (2006) apresenta uma discussão teórica baseada em estudos que comprovam a ineficácia do uso desses depoimentos e defende o uso de técnicas que eliciam um conhecimento estruturado para gerar instruções mais eficazes, que possam contribuir para a formação de novatos (novices). O autor apresenta uma explicação teórica, calcada em estudos empíricos, acerca de falhas em depoimentos apontando a omissão de informações essenciais, e discute as implicações para orientações de novatos. Nessa discussão, Feldon apresenta um desenho teórico de conhecimento experto.

Feldon (2006) apóia-se em estudiosos como Glaser e Chi (1988 apud FELDON, 2006) e Ericsson para uma definição de experto. De acordo com as pesquisas, uma pessoa atinge o nível de expecialização (expertize) quando: (a) supera seus próprios domínios; (b) distingue padrões significativos e interconectados entre seus domínios; (c) é mais rápido e mais acurado ao desempenhar tarefas relativas ao domínio; (d) detém memória de curto e longo prazo melhor que novatos; (e) percebe problemas de domínio num nível mais aprofundado que novatos; (f) dedica grande parte do tempo de produção para análise qualitativa de problemas; (g) auto-monitora a solução de problemas; (h)

tem um tempo mínimo de prática igual ou superior a dez anos; (h) apresenta uma adaptação maximizada às restrições de tarefas; e (i) apresenta um desempenho otimizado e habilidades refinadas para maximizar a eficiência e efetivação de soluções superando restrições.

Alguns estudos apresentados por Feldon (2006) indicam que o conhecimento prévio adquirido por meio de experiências é fundamental no desempenho experto, pois o desempenho é um produto do conhecimento baseado em experiências, o qual pode ser recuperado fácil e rapidamente e usado de forma consistente. O desempenho de um usuário experto distingue-se de um novato no nível de detalhamento, diferenciação e abstração de princípios. Expertos são capazes de identificar categorias que refletem princípios fundamentais, nos quais se apóiam para solução de problemas. Por outro lado, novatos não passam do nível superficial.

Além do conhecimento experto, o uso de estratégias diferencia o desempenho de expertos e de novatos. Expertos tendem a se engajar num processo racionalizado baseado no conhecimento de domínio, direcionam o conhecimento altamente estruturado de conceitos e princípios relevantes no domínio para gerar estratégias eficazes. Usuários expertos resolvem problemas dedutivamente por meio da manipulação de modelos mentais para identificar soluções baseadas nas exigências e restrições da tarefa. Novatos, por outro lado, partem da solução exigida para determinar a estratégia usada, classificam os problemas com base em detalhes superficiais e não relevantes para os princípios operacionais da tarefa. Novatos racionalizam indutivamente para identificar a solução por meio de testes de “julgamento e erro” de constantes alterações de hipóteses. (FELDON, 2006.)

O nível de abstração conceitual na estrutura de conhecimento de expertos incorpora um compromisso eficiente entre representações de elementos concretos de determinado problema e conceitos mais gerais com princípios adquiridos por meio de experiência. Essa organização facilita a habilidade de reconhecer modelos sofisticados e, também melhora o desempenho para percepção de detalhes importantes em situações relevantes de domínio (FELDON,2006).

A automatização é outro aspecto de distingue expertos e novatos. Automatização é a execução de procedimentos cognitivos adquiridos por meio de mapeamentos repetidos e consistentes de estímulos. Ocorre quando o indivíduo detentor de uma prática extensiva num procedimento desempenha rapidamente uma tarefa com um nível de esforço mental reduzido. Em tarefas complexas, a automatização acarreta redução no número de pontos de decisão intermediários que exigem resolução consciente. Procedimentos que se tornam automatizados ficam enraizados e difíceis de serem alterados. Expertos tendem a aplicar procedimentos automatizados inconscientemente, mesmo quando buscam, conscientemente, determinados objetivos. Ericsson (2002) defende que o desenvolvimento da automatização prejudica o desenvolvimento experto. Esse argumento tem duas premissas, sendo a primeira que uma adaptação bem sucedida em uma condição atípica é a essência do desempenho experto. A segunda premissa é que tais adaptações exigem controle consciente das próprias ações para modificar o desempenho. (ERICSSON, 2002).

Em suma, um usuário experto é aquele que tem um conhecimento conceitual e estratégico suficiente para promover a compreensão de princípios relevantes e distinção das restrições de uma determinada tarefa. Esse usuário recorre a procedimentos automáticos para solucionar problemas (rapidamente) e com pouco esforço, se

comparado a novatos. Consegue, ainda, avaliar e fazer considerações sobre problemas, com um alto grau de complexidade, percebe e detalha problemas com mais acuidade.

Estudos relativos a produção de resumos exigem o uso de um modelo capaz de explicar o processo da produção de um resumo. O modelo proposto por Kintsch e van Dijk (1978) é amplamente adotado por estudiosos do resumo. O modelo é apresentado na seção 2.10.