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CAPÍTULO 1 POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO E SAÚDE NO BRASIL NO

4.4 Concepções Teórico/Conceituais Sobre PCNs, Transversalidade, Interdisciplinaridade

4.4.1 A Prática Docente e os PCNs

Mesmo depois de dezessete anos da criação dos PCN, segundo os docentes investigados este é um tema pouco debatido no contexto escolar, sendo que, ao serem questionados, mostraram distanciamento e até desconhecimento do tema. É preocupante por se tratar de uma

política pública da educação brasileira e que formulou uma base comum para todo o território nacional, e que até hoje é pouco debatida e explorada na escola, o que compromete diretamente a temática educação sexual no contexto escolar.

Não conheço muito não, mas eu já dei uma olhada nos PCNs e tem sobre essa temática. Mas as escolas não têm a preocupação de trabalhar a partir dos PCNs, eu observo isso, nós aqui por exemplo não se fala em PCN. (E3)

Com relação aos PCNs eu não sei muita coisa, eu vou te ser bem sincera. (E5) Aqui eu nunca vi, mas na outra escola que eu trabalho a gente inclui em todas as disciplinas, a gente consegue inserir os PCN‘s com a criançada de primeiro ano até o nono. (E7)

Outros têm conhecimento sobre os temas transversais, mas mesmo conhecendo apresentam distanciamento dos mesmos na sua utilização em sala de aula.

Na temática da educação sexual os PCNs busca, acredito, orientar e informar aos profissionais de educação, como trabalhar o tema em sala de aula, respeitando as diversidades, ao papeis sociais de meninos e meninas sem estereótipos ou preconceitos. (E13)

Olha eu já li bastante sobre os PCNs! Bastante mesmo, já li muito. Hoje não tenho mais contato, mais já li muito. (E17)

Assim como na discussão de outras temáticas, os PCN voltados para a educação sexual ainda estão longe de cumprir seus objetivos na escola. Isto ocorre também porque foram elaborados sem a participação dos professores. Trata-se de uma política que foi imposta pelo governo federal, por isso não se consegue executá-la na prática.

Sabe-se que políticas são criadas sem a participação popular têm mais dificuldades de serem implantadas na prática. Para a educação sexual, resta o bom senso de professores, projetos de cooperação de secretarias de saúde, para poder ter algum tipo de discussão no contexto educacional. Logo os PCN, que deveriam servir para nortear os currículos e práticas pedagógicas, os quais trazem temas importantes para dentro do contexto escolar como educação sexual, meio ambiente, ética e outros, acabam ficando só no papel, pouco utilizados no contexto escolar.

A não obrigatoriedade da inserção dos temas transversais faz com que as escolas selecionem temas transversais que sejam mais viáveis para a execução de projetos, sendo que no

Amapá as escolas têm sua autonomia e trabalham de modo individualizado. Porém, poucas escolas têm registros de trabalhos voltados para educação sexual, no período da coleta de dados apenas a escola estudada foi citada pelos técnicos da Secretaria de Educação e pelos gestores do Programa Saúde Escolar. Percebemos na fala abaixo como são selecionados os tema dos PCN a serem trabalhados.

Os PCN‘s são algumas diretrizes, algumas normas que a gente deve ter pra trabalhar alguns temas, e a escola ela é livre pra escolher e aqui na escola a gente trabalha mais com a questão do negro, da lei, até ganhamos um prêmio. (E8)

Na fala seguinte percebemos que os PCN já são trabalhados nas escolas do Amapá desde o início da década, porém durante o planejamento escolar, normalmente o tema educação sexual fica para segundo plano, sempre é dado prioridade para outros temas transversais.

Olha eu trabalho desde 98, e os PCNs eles passaram a ser trabalhados desde 2000 e começaram a fazer parte do nosso trabalho, do nosso planejamento, do conteúdo programático. No caso dessa temática da orientação sexual, eu acho que é sempre trabalhado pouco é mais com relação a drogas e diversidade cultural por exemplo. Eu sempre trabalhei mais com educação do ensino fundamental e eu confesso que eu achava difícil utilizar os PCNs voltados pra essa temática, por isso nunca utilizei muito não. (E10)

Então, na nossa avaliação, a implementação dos PCN pouco contribuiu para a inserção do tema de estudo no contexto escolar, pois apenas algumas escolas com ações pontuais, vêm explorando de forma mais aprofundada esta temática. Alguns professores alegam a dificuldade de trabalhar o tema por questões ligadas à formação, quando os PCN foram pouco explorados.

Eu acho que poderia ter uma disciplina específica pra esses temas transversais, e de que forma podem ser trabalhados. Porque não é todo mundo que tem acesso aos PCN‘s, ou que pode fazer um curso né. Seria muito interessante ter um disciplina pra trabalhar esses temas, por que não fogem nem um pouco do conteúdo das disciplinas. (E9)

Percebemos com a pesquisa que os professores envolvidos com projetos sobre a educação sexual e que fizeram algum tipo de capacitação têm mais facilidade para trabalhar transversalmente o tema, já aqueles que nunca participaram de evento nenhum de capacitação normalmente não abordam a temática. Como mostram as falas e E9 e E12:

Olha eu sou capacitado pra ser multiplicador em educação sexual, eu sempre abordo todos os anos dentro dos meus conteúdos. Tem gente que diz que não dá pra utilizar os PCNs dos temas transversais em qualquer disciplina, mas eu consigo. Mas é uma coisa que a gente vê de forma isolada. (E12)

Eu já fiz uma formação, um curso sobre os PCN‘s. Estudamos todos os PCN‘s, todas as temáticas, então eu já trabalhei bastante em cima disso e procuro adotar hoje em dia na minha carreira. (E9)

Em outras falas percebemos um distanciamento generalizado de todos os temas dos PCN, em especial da orientação sexual, dando entender o desconhecimento quanto as temáticas, pois seria necessário compreender seus objetivos e conhecer seu conteúdo técnico para abordá-lo.

Eles (PCN) dizem que é um tema transversal, assim como droga, meio ambiente, preconceito. E eu posso abordar esses temas como qualquer outro professor também pode. (E15)

Eles (PCN) dizem que a gente tem que tá ―junto‖ com esses temas, e ir introduzindo nas disciplinas né. (E16)

Os temas transversais por si só já são complexos, alguns deles polêmicos e para aprofundá-los seria necessário um conhecimento maior. No que se refere aos temas sexuais essa complexidade ganha uma dimensão maior, pois mexe também com o ―eu‖ sexual esses professores, além disso o receio as repercussões que a abordagem pode ter acaba complicando muito seu uso em sala de aula.

Eu sei que eles (PCN) falam da educação sexual, mas é um tema assim complicado, difícil de ser abordado. (E18)

Mediante os depoimentos, pode-se concluir que os PCN foram criados há dezessete anos com o objetivo de dar autonomia às escolas, integrar as disciplinas e trazer para sala de aula

temas complexos como pluralidade cultural, etnia, ética e orientação sexual para serem trabalhados transversalmente. Porém, mesmo com todo esse tempo, esses temas, principalmente sobre as questões sexuais, não são explorados nos contextos escolares de uma forma sustentável, pelo fato de serem aplicados esporadicamente em ações pontuais de acordo com o interesse momentâneo da escola ou do grupo de professores.

Para a democratização na escola é necessário um projeto pedagógico construído com a participação de todos os envolvidos no processo educativo, de posse das informações necessárias para tentarmos fazer as melhores escolhas, de valor inclusive, talvez assim a escola terá realmente sua autonomia.