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Elementos temáticos condensados através da leitura das fontes

3. Prática jornalística (autoimagem, posição social, busca da notícia e do “furo”, fontes de informação, etc.)

1.3. Prática jornalística

Nossa documentação nos dá muitas pistas sobre o modo como os colaboradores que escreviam nessas revistas encaravam seu trabalho, qual missão se arrogavam, de quais estratégias e instrumentos se utilizavam para alcançar seus objetivos, como se relacionavam com os políticos e de que forma encaravam sua condição profissional e social, principalmente se comparada com o que denominavam de classe política. O crescimento demográfico ocorrido no Brasil nas últimas décadas do século XIX e a concentração populacional, de capitais e de serviços na cidade do Rio de Janeiro ajudaram na expansão da imprensa, o que por sua vez ampliou o campo de oportunidades para os chamados “homens de letras” 115, que

convergiam para a capital em busca de postos de trabalho, de um ambiente favorável para a troca de ideias e de maior visibilidade para suas produções. Muitos deles colaboraram nas revistas semanais, conciliando suas ambições literárias com o trabalho de cronista, jornalista e repórter, denominação que eles mesmos utilizavam sem fazer diferenciação entre elas.

Mas o que significava ser um repórter? Em diversos momentos os escritores dessas revistas deixavam entrever como se estabeleciam as bases do que já se esboçava então como uma profissão 116. O repórter “é um animal sociável [...] Inimigo encarniçado da solidão, ele vive unicamente nas cidades, e principalmente nas grandes cidades” 117; portanto, para ser

115 VENTURA, Roberto. Estilo Tropical: História Cultural e Polêmicas Literárias no Brasil, 1870-1914. São

Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 137.

116 Segundo John B. Thompson, “A formação da profissão jornalística data do final do século XIX. Os

proprietários de jornais e os editores passaram a contar cada vez mais com escritores contratados e repórteres que eram pagos para conseguir notícias e escrever histórias. À medida que o corpo de repórteres e escritores se expandia, começou a emergir um ethos profissional que definia os princípios da boa prática jornalística. Esse ethos enfatiza acima de tudo a obrigação de descobrir e apresentar os fatos. Mas ele também reconhece a necessidade de narrar os fatos na forma de uma história que deveria ser viva, colorida e divertida. Os fatos e o entretenimento foram as ideias gêmeas da emergente profissão jornalística”. In: O Escândalo Político: poder e visibilidade na era da mídia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. 82.

repórter é preciso buscar a convivência com seus semelhantes, vivenciar o corpo a corpo das ruas, mergulhar no seu burburinho. Ele precisa das pessoas e dos aglomerados urbanos, locais para onde convergiam e por onde se disseminavam as informações. O repórter

penetra na sociedade não é para se divertir: seus olhos afuroantes procuram o motivo para o artigo; passeia entre as pessoas presentes com o ouvido alerta apanhando no ar todas as indiscrições: seu olhar percuciente atravessa as paredes e apreende coisas invisíveis aos olhares do comum dos mortais: pelo faro vai descobrir um papel que todos julgavam seguro a sete chaves e que põe a calva à mostra ao rico advogado administrativo, ao banqueiro falido, ao funcionário desonesto, ao político traidor 118.

Fica claro, portanto, que ser repórter era uma atividade profissional, ele não estava ali para se “divertir”, mesmo que aparentasse fazê-lo. Ele precisava se misturar aos convivas, ser um tanto furtivo, se camuflar em meio aos presentes para surpreender um segredo, flagrar uma situação inusitada. Suas qualidades únicas, seu estado de constante alerta e sua atenção lhe conferiam “poderes”, para ele não existiam obstáculos, nada fugia a sua argúcia, ninguém estava protegido de seu olhar. Se esse quadro traçado poderia levar o leitor a questionar os princípios morais que regiam tal conduta, tomando-a como dissimulada e vil por espionar a vida alheia, o autor logo esclarece que o fim era nobre, ele visava denunciar, tornar público, expor os abusos, as falhas e as irregularidades cometidas pelos detentores do poder econômico e político, que escondiam seus mal feitos por de trás de uma fachada de honestidade que caberia ao repórter desmascarar.

Mas, se a profissão lhe dava a prerrogativa de penetrar no mundo dos poderosos e desvelar suas vidas, ela também tinha seu preço, o repórter era acossado constantemente: “Duas moléstias o atacam e por vezes o matam: o furo e a barriga” 119, e por de trás do

glamour que a profissão evocava existia uma sensação de pauperização, de “ser um João Ninguém como muitos outros que escrevem nas folhas” 120. A busca incessante pela notícia

dada em primeira mão, pela novidade avassaladora, pela revelação capaz de chocar e cativar o público, exauria o repórter, que se via submetido a uma pressão constante para produzir histórias excepcionais, suscetíveis de despertar a atenção do leitor e de incrementar as vendas do jornal. Isso sem contar a ameaça da penúria, a vida remediada a que estava submetido, já que a atividade seria mal remunerada e não cobriria sequer as necessidades básicas.

No caso das revistas com as quais trabalhamos o viés humorístico das publicações também alcançava a própria autoimagem dos profissionais, capazes de rir de si mesmos, das

118 Idem. 119 Idem.

suas atribulações e da vaidosa seriedade que contaminava os colegas da imprensa, tão orgulhosos de seu talento na escrita e do seu envolvimento com a transmissão acurada dos “fatos”. Careta publicou ao longo de algumas edições do ano de 1921 uma espécie de manual parodiando o métier. Julgamos esses textos bastante representativos porque eles compõem uma espécie de espelho que reflete, às avessas, as características, a formação, as qualidades, as possibilidades de trabalho e o fazer do jornalista na visão de alguém que aparentava conhecer essa realidade. A matéria intitulava-se A Iniciação jornalística (curso especial para

candidatos a mentores da opinião), já deixando entrever a existência de uma consciência por

parte desses profissionais do impacto e da influência que seus textos poderiam ter junto ao público leitor. A vocação para o ofício viria da infância, manifestando-se na criança curiosa e falante, atenta ao mundo ao redor. Nessa fase primeira o maior defeito do “jornalista precoce” seria o de “cingir-se estreitamente aos fatos”, falha que se corrigiria na adolescência, momento em que o aspirante já apreende a vida através de “sua ampla imaginação. Pouco importa que a inteligência não corresponda em nada absolutamente à realidade objetiva das coisas porque tudo no mundo é ilusão”. Assim, apesar do tom irônico, o trecho levanta a questão sobre a fantasia de que seria possível captar o mundo tal qual ele é, reconhece a possibilidade de que o sujeito e sua imaginação ajudam a configurar a realidade e que esta, em última instância, não existiria como essência a ser capturada.

O segundo ponto definidor para a escolha da carreira seria a “reprovação sistemática e reiterada dos preparatorianos em todos os exames principalmente no de português. [...] abandona para sempre a aspiração de um anel de doutor, só tem um recurso, o de ser jornalista” 121. A graça do texto está em apontar a inépcia do neófito justamente no que é o

principal instrumento de trabalho do jornalista, a língua, mas o mais relevante aqui é como o jornalismo se apresenta como uma opção de trabalho para a camada média letrada que não conseguiu seguir (ou não desejava) as carreiras de maior reconhecimento social e acadêmico (direito, medicina, engenharia), constituindo-se uma melhor alternativa em comparação ao trabalho braçal ou à lida no comércio, pois era uma ocupação intelectual que tinha seu prestígio, com a vantagem de não exigir formação superior.

Na edição posterior o semanário dá continuidade ao “passo a passo”, nesta etapa cabe ao aspirante encontrar “um posto de confiança em qualquer gazeta ou diário de reconhecida independência como o de [...] repórter nas repartições do único governo existente e que o jornal afirma ser o melhor”. A troça é dirigida contra a tão prolatada independência editorial

121 A Iniciação jornalística (curso especial para candidatos a mentores da opinião). Careta. Rio de Janeiro, Ano

dos jornais da época, ponto tão caro na construção da autoimagem da imprensa e dos seus profissionais (inclusive as próprias revistas), mas que quase sempre camuflava a adesão a determinado projeto político e, não raro, aos poderosos da situação, de modo que o jornalista, de boa vontade ou não, precisava adaptar sua pena aos princípios políticos do seu empregador. Segue na apostila que nesse instante o colaborador já “é da classe mas se sente um desclassificado porque quando procura os limites de seus interesses coletivos ou quando tateia o apoio dos outros membros componentes da classe, vê-se lamentavelmente só”. Existiria, assim, o sentimento de pertencimento a um conjunto profissional, dotado de singularidade, mas faltaria o componente da solidariedade capaz de alavancar a ação coletiva na busca por direitos comuns 122. Diante desse quadro de desamparo “O perfeito jornalista [...] toma resolutamente o partido dos fortes e se faz um deles. Então ele abandona a ilusão de sua classe e se cria o individualismo integral dos fortes”. A crítica é severa, a desorganização do grupo desembocava na busca individual pelo sucesso, valendo a pena procurar até mesmo o amparo dos poderosos, dado em troca da subserviência das ideias e da capacidade de convencimento do jornalista 123.

O métier jornalístico continua a ser esmiuçado no sábado seguinte, revelando a sujeição hierárquica do profissional ao seu superior imediato “encarregado de manter financeiramente a “independência” [...] dos empregados. Sem o gerente, o grande iniciado corre o risco de se apaixonar por uma verdade ou por uma causa justa e ir até o abismo de uma prisão por dívidas” 124. A organização empresarial dos veículos de comunicação, cada

vez mais especializada, supunha a submissão do trabalho do colaborador a um editor que deveria aprová-lo ou recusá-lo, impedindo que se publicasse algo em desacordo com a proposta do veículo, o que em muitos casos significava tolher e mesmo censurar a opinião do colaborador, compelido a contrariar as suas convicções pela necessidade de sobreviver. Os exemplares da revista se sucedem e a tal Iniciação jornalística continua a frequentar as suas páginas, ressaltando a capacidade dos profissionais de revestirem o mais banal dos acontecimentos com um verniz de importância, fascínio e sensação, de modo a cativar o leitor e promover a venda do periódico: “Dois políticos se encontram num botequim para matar a sede com água que passarinho não bebe; o jornalista deve afirmar que alguma coisa paira no

122 A primeira associação de imprensa do Brasil foi fundada em abril de 1908, no Rio de Janeiro, visando

amparar os jornalistas, mediar suas relações com os empregadores e zelar pela liberdade de imprensa, dentre outros objetivos. In: SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999, p. 309.

123 D. A Iniciação jornalística (Continuação). Careta. Rio de Janeiro, Ano XIV, N. 699, 12 de Novembro de

1921, s./p.

espaço e que convém que todos os cidadãos leiam o seu jornal porque desvendará segredos imanentes no mistério das coisas” 125. O tom sensacionalista, o mistério, a insinuação de que

algo grave estava para ocorrer eram estratégias utilizadas pelos colaboradores para manter o interesse do leitor. Supomos que o noticiário político também era escrito valendo-se do expediente do exagero, a dramaticidade pintava um acontecimento qualquer como indício de uma crise iminente e avassaladora.

Muito ainda poderia ser dito a partir desse rico texto, contudo, nosso objetivo é evidenciar que se a profissão jornalística não era academicamente institucionalizada, podendo ser exercida por qualquer individuo com certa formação letrada, ela já era reconhecida como atividade específica, diferenciada, sendo possível tecer reflexões em torno das condições em que se desenvolvia a ocupação. O que o material assinala é como a prática de trabalho, o dia- a-dia da redação, em muitos casos diferiam dos princípios publicamente prolatados pelos periódicos e pelos próprios jornalistas: independência de pensamento, acuidade da informação, boa formação dos colaboradores, etc.. E se a política tinha seus bastidores com o jornalismo não era diferente, ele também se fazia (ou principalmente se fazia), nas coxias, onde os constrangimentos financeiros e políticos ditavam pautas, sufocavam ideias e estabeleciam parâmetros de competição individual 126. Com isso não estamos afirmando que o cinismo era a nota dominante do meio, e sim que a autoimagem de formadores de opinião, de homens comprometidos em levar a “verdade” para o público leitor estava em constante tensão com a necessidade de sobrevivência pela manutenção do emprego, com a premência dos prazos para a escrita e a entrega das matérias, com a obrigação de cativar o público e manter a vendagem das folhas, além da dificuldade em noticiar eventos livremente durante os períodos de estado de sítio que marcaram a época, as exigências de chefes que pressionavam a favor de certos pontos de vista, etc.

A lida de quem se dedicava às seções políticas não era fácil, a escassez de publicidade que permeava os atos e as decisões oficiais, e a movimentação dos grupos políticos (as instituições não possuíam assessorias de imprensa e nem se costumava soltar notas explicando as decisões partidárias e oficiais), obrigava o cronista a circular por vários ambientes, sempre alerta, no sentido de aproveitar qualquer oportunidade para capturar algum material suscetível de virar notícia. Em alguns momentos a falta de informação era o assunto da crônica:

125 Idem. Careta. Rio de Janeiro, Ano XIV, N. 702, 3 de Dezembro de 1921, s./p. A última parte do manual foi

publicada na edição do dia 17 de Dezembro de 1921.

126 Robert Darton, ao analisar as relações entre imprensa e cultura, ressalta como a atividade jornalística está

fortemente referenciada às condições e exigências internas do métier, “O contexto do trabalho modela o conteúdo da notícia”. In: O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 96.

Por mais que se fareje uma intriga, um pequeno boato, uma simples previsão, não se encontra nada e em Política não há nada mais insípido do que a harmonia geral. [...] Os deuses descansam, ou então, estão a fazer as coisas muito às escondidas e muito disfarçadamente, de modo que escape à argúcia reconhecida da reportagem e... dos amigos oficiosos, que são em muito maior número, nesta espécie, do que em qualquer outra.

Ora, numa pasmaceira destas, nem dá vontade à gente de fazer crônicas, não acham? 127.

O cronista conta com a empatia do leitor para a falta de assunto e explica o motivo dessa ausência, ele investigou, farejou com toda a “argúcia reconhecida”, mas nem suas fontes de informação mais precárias, como os boatos e os amigos oficiosos, foram capazes de produzir alguma novidade, seja porque ela não existe seja porque pode estar muito bem disfarçada, protegida das suas investidas profissionais.

O jornalista encarregado da coluna política precisava estar munido de algumas qualificações importantes para desempenhar seu trabalho. Um das mais relevantes era gozar de bom trânsito entre os políticos e da simpatia de pelo menos alguns parlamentares que, juntamente com os funcionários das Casas, poderiam servir como fonte, o “informante insuspeito a quem ouvimos reservadamente sobre o assunto e cujo nome calamos por natural gentileza” 128. Estabelecia-se, assim, uma relação de confiança, onde o anonimato precisava

ser repeitado, mantendo-se certa dependência entre os envolvidos. O jornalista conseguia material para a escrita e o informante repassava aquilo que lhe interessava ver publicado.

Essa proximidade dos profissionais da imprensa com o poder e com a elite social e política da capital não passava despercebida para a sociedade de então. Apesar de todas as dificuldades e percalços enfrentados pelos jornalistas sua atividade tinha apelo e fascínio, pois o título de repórter, jornalistas, redator ou fotografo de um veículo da imprensa abria portas nos círculos sociais restritos, permitia observar de perto os mais abastados, travar conhecimento com pessoas influentes. As próprias revistas se encarregavam de glamourizar a vida, os comportamentos, a indumentária, as festas das camadas mais favorecidas, de modo a valorizarem a si mesmas como publicações que tinham acesso a esse mundo exclusivo, tornando-se elas mesmas parte desse espetáculo de sofisticação e abundância.

Esse cenário de encanto traçado pelas publicações atraía os leitores, criando um fascínio em torno da figura do jornalista e da sua prática profissional. Parece que os semanários tiveram sucesso nesse esforço de autopromoção, tanto que alguns cidadãos não se

127 CHAUFFEUR. Cova de Cacos (Um Pouco de Política). Fon-Fon. Rio de Janeiro, Ano II, N. (?), (?) Setembro

de 1908, s./p.

contentaram em viver essa vida cheia de charme apenas através da mediação das revistas, preferindo experimentar de forma concreta o que era veiculado.

Frequentemente, estamos sendo vítimas de audaciosos abusos praticados por indivíduos que, intitulando-se representantes de “FON-FON”, como tal se apresentam, ora no caráter de redatores, ora no de repórteres fotográficos, nos lugares onde se realiza um banquete, um casamento, um baile ou qualquer outra reunião social, no intuito evidentemente criminoso de gozar das regalias dispensadas a um homem de imprensa [...]. A repetição desses abusos tem determinado fatos sumamente desagradáveis para nós [...] Prevenimos, assim, aos nossos leitores que qualquer representante desta revista possui uma carteira que o acredita como tal e cuja apresentação pode e deve ser exigida pelos que se julguem no direito de fazê-lo 129.

No aviso a revista reclamava da frequência da fraude e dos constrangimentos que a publicação sofria em razão da ação dos falsos colaboradores. Ao longo da nossa pesquisa nos deparamos com esse mesmo alerta em outras edições do semanário. Resta saber se Fon-Fon, periódico que se afirmava perante os leitores como íntimo da fina sociedade, foi a única vítima do golpe. Tal episódio nos dá indícios para refletir sobre a imagem socialmente construída dos profissionais de imprensa. Apesar de todas as suas reclamações sobre a instabilidade econômica e as dificuldades no exercício do métier, os jornalistas e outros colaboradores mais visíveis das publicações gozavam de um recurso muito importante: prestígio. Esse prestígio lhes abria portas no mundo político, na vida social da elite (a despeito de suas possíveis origens humildes ou seu baixo poder econômico), propiciando-lhes, como apontou o excerto acima, “regalias”. Já os segmentos desfavorecidos da população estavam autorizados a acompanhar e a apreciar de longe o espetáculo (de preferências comprando as revistas), jamais participar. Contudo, entre a ânsia dessa elite social de ver e ser vista nas páginas da imprensa, exibindo-se em toda sua glória, e a intenção das revistas de explicitarem sua intimidade com os altos círculos do poder, se abria uma pequena fresta, rapidamente percebida e aproveitada pela esperteza dos excluídos. A vaidade era o ponto cego por onde entravam os “penetras” da época.

1.4. Boatos

A precisão em pontuar a fonte da informação jornalística, a prática de ouvir e publicar a versão de todos os envolvidos em determinado episódio, e o princípio de não levar a público

129Explorando em nome de “FON-FON”. Fon-Fon. Rio de Janeiro, Ano XIX, N. 41, 10 de Outubro de 1925, p.

uma notícia construída unicamente através de boatos não eram encarados, no período estudado, como marcos incontornáveis para o funcionamento de uma publicação. A adoção real ou aparente dessa “cartilha” certamente não garante a tão proclamada imparcialidade e objetividade que a mídia hodierna se arroga, mas ela indica uma intencionalidade, a de se constituírem diante de si próprios e perante o público como veículos de informação “isentos”, que trabalham para principalmente “apresentar os fatos como eles são”. Quando se trata da opinião do jornal ou de determinado autor que ali escreve isso deve ficar evidente, para não prejudicar o chamado “compromisso com a verdade”.

Percebemos que em Fon-Fon, Careta e O Malho essas questões estão presentes, mas elas não tolhiam nem determinavam a forma ou o tipo de material ali publicado. Os boatos, as fofocas 130, a especulação eram presença constante nas páginas dessas revistas, nutrindo informações que se desmentiam na edição da semana seguinte, levantando diversas hipóteses para a compreensão de certa situação política, introduzindo elementos de mistério com diversas alusões veladas a personagens importantes, o que revelava uma forte ligação desses