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O Conselho Federal de Medicina (CFM) realizou, no ano de 1995, uma ampla pesquisa nacional denominada Perfil dos Médicos do Brasil, que retratou as principais características desses profissionais e de seu mercado de trabalho. Nela se destacam:

 mercado com cerca de 350 mil postos de trabalho (setores público e privado) para um contingente na época de 183.052 médicos. Considerando que mais de 74,7% destes exerciam atividades em consultórios, significa que o seu mercado se constituía em quase 500 mil postos de trabalho, equivalendo a 2,7 empregos/atividades por médico;

 atividade profissional predominantemente desenvolvida em instituições hospitalares, tanto nos setores público como privado;

 no consultório particular, 79,1% dos médicos trabalhavam com convênios e/ou cooperativas, sendo significativo que 16,6% dos médicos exerciam suas atividades em estabelecimentos de saúde;

 intensa urbanização do trabalho médico, onde 65,9% dos médicos atuavam nas capitais brasileiras, em especial nas mais desenvolvidas social e economicamente. Esta concentração contribuia para uma relação de 3,28 médicos por mil habitantes nas capitais e 0,53 médicos por mil habitantes no interior;

 cerca de metade do contingente médico (48,9%) trabalhava em regime de plantão. As modalidades assalariadas com carteira assinada e público estatutário foram apontadas neste estudo como as principais formas de inserção no mercado formal de trabalho, correspondendo a 57,8% dos homens e 77,2% das mulheres médicas. Percebe-se uma maior aderência das mulheres às posições assalariadas, enquanto a maioria dos homens atua como autônomo ou empregador. (CFM, 1996)

No ano de 2002, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), em estudo sobre o mercado de trabalho médico naquele estado, observou que a maior parcela dos médicos aliava trabalho assalariado e prática autônoma, tanto em consultórios médicos como em organizações hospitalares, numa jornada que chegava a acumular três ou mais atividades.

As formas de remuneração se distribuíam da seguinte forma: 11,7% consultório particular típico (pagamento realizado diretamente pelo paciente), 24,4% por assalariamento no setor privado, 41,9% por prestação de serviço (remuneração por procedimento realizado), 43,4% por meio de consultório particular atípico (pagamento pelo serviço realizado por operadoras de serviços de saúde) e 47,6% por assalariamento no setor público.

No setor público predominava a contratação de médicos de forma assalariada e no setor privado por prestação de serviços por meio de cooperativas ou empresas médicas. Esta forma de contratação foi considerada como uma tendência no mercado, principalmente nos hospitais privados com fins lucrativos (CREMESP, 2002).

No ano de 2004, o CFM publicou nova pesquisa denominada: O Médico e o Seu Trabalho - Aspectos metodológicos e Resultados do Brasil, onde se observou um aumento significativo do número de médicos inscritos no CFM, em relação ao estudo realizado no ano de 1995. No ano de 2003 estavam registrados no CFM 234.554 médicos, representando um aumento de quase 30 % no número destes profissionais em relação ao ano de 1995. Este número representa uma relação de um médico para cada 725 habitantes, sendo o preconizado pela OMS o quantitativo de um médico para cada 1.000 habitantes.

Segundo este estudo, a medicina ainda é uma profissão exercida majoritariamente por profissionais do sexo masculino (69,8%). Entretanto, quando se analisa os profissionais com até 27 anos de idade, as mulheres já representam cerca de 40% do total, o que demonstra o substancial aumento do contingente feminino entre os médicos.

A medicina no Brasil é exercida principalmente por profissionais jovens, onde 63,4% dos profissionais têm menos de 45 anos.

Praticamente inexistem médicos desempregados, pois no ano de 2003, 98,3% dos médicos encontrava-se em atividade.

Em relação ao local do desenvolvimento de suas atividades, observou-se uma redução no número de médicos que trabalham em consultório, pois no ano de 1995, 74,7% declararam exercer esta atividade, e no ano de 2003 este número se reduziu para 67%. (CARNEIRO; GOUVEIA, 2004) Este resultado comprova o deslocamento da prática médica deste local para as grandes organizações de saúde.

Apesar de ainda haver uma intensa concentração de médicos nas capitais, parece estar havendo uma tendência à interiorização da medicina, pois o número de médicos estabelecidos nas capitais no ano de 1995 era de 65,9%, e no ano de 2003 este número se reduziu para 62,1% do total de médicos do país.

A Fundação Getúlio Vargas (FGV), em pesquisa realizada no ano de 2008, confirma esta tendência. Naquele ano, o número de médicos residentes nas regiões metropolitanas do país ainda representava cerca de 50% do total. Apesar disto, algumas cidades ainda se destacam pela grande concentração de médicos: Vitória-ES, com 133 hab. /médico, Porto Alegre, com 134 hab. /médico, Florianópolis-SC, com 156 hab. /médico, Belo horizonte, com 201 hab. /médico. Salvador-BA apresenta uma taxa de 337 hab./médico. (FGV, 2010)

O processo de municipalização da assistência à saúde, instituída após a promulgação da Constituição de 1988, com a criação do SUS, fez com que o grande empregador da mão de obra médica no setor público deixasse de ser o governo federal, cabendo, então, este papel para os municípios.

O poder público municipal, muitas vezes, não tem condições financeiras ou técnicas para assumir a gestão à saúde de seus munícipes, o que tem impactado, diretamente, na forma de inserção do médico no mercado de saúde pública, pois são contratados como prestadores de serviço, sem direito a qualquer direito trabalhista, como férias remuneradas, décimo terceiro salário, fundo de garantia e previdência social.

Além das formas precárias de contratação do profissional médico, a falta de estrutura de trabalho e as dificuldades de sobrevivência nas cidades pequenas são apontadas por entidades

médicas como os principais entraves para manutenção de profissionais da medicina nas pequenas cidades do interior do país.

O grande número de profissionais médicos que ingressam no mercado de trabalho a cada ano, em consequência da proliferação de escolas de medicina, e a grande concentração dos mesmos nos grandes centros urbanos, tem contribuído para o agravamento deste quadro.

O mercado de trabalho médico no Brasil pode ser dividido de uma maneira simplista em dois setores, o público e o privado. No setor público, na maioria das vezes, predomina o trabalho assalariado, e no setor privado a remuneração ocorre geralmente atrelada à produção de serviços (fee-for service) aliada a uma parte fixa ou não.

A remuneração da prática médica foi influenciada diretamente por este cenário, e como esta pode ser um importante fator influenciador no grau de comprometimento destes profissionais com a carreira e a organização, é importante uma revisão sobre este assunto, ainda que breve. Este é o tema tratado em seguida.

3 REMUNERAÇÃO DO TRABALHO E O VÍNCULO ESTATUTÁRIO