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CAPÍTULO 2 – A DIMENSÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS

3.2 Análise dos questionários

3.2.3 Concepções sobre a dimensão ambiental na Educação de Jovens e Adultos

3.2.3.4 Práticas de Educação Ambiental desenvolvidas na Educação

Sobre a realização de práticas que envolvessem a temática ambiental na Educação de Jovens e Adultos, 68,4% dos docentes colocaram que já desenvolveram, sendo que 31,6% não o fizeram, como mostra o gráfico abaixo.

Gráfico 2 – Prática desenvolvida com a temática ambiental na Educação de Jovens e Adultos

Dos seis professores que disseram nunca terem realizado práticas com a temática ambiental na EJA (31,6%), cinco justificaram. Os argumentos utilizados podem ser observados nas respostas abaixo:

Por uma questão de tempo. (P1)

Deixo a cargo do professor de Ciências. (P2)

A cada semestre são turmas diferentes e na EJA é necessário correr contra o tempo para dar os conteúdos mais específico. (P4)

Tempo reduzido para apresentação do conteúdo disciplinar. Falta de uma política educacional de Sec. Educação para este tema. (P6)

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Percebe-se que a preocupação com o tempo e com os conteúdos específicos estão presentes na maior parte dos discursos dos professores que não realizam prática com a temática ambiental na EJA. Esta constatação remete à concepção de Educação de Jovens e Adultos como aceleração e aligeiramento dos conteúdos e das práticas, sendo que estes conteúdos geralmente são construídos sob a lógica das grades currículares das turmas do ensino regular e que precisaram ser sintetizadas para os jovens e adultos. Partindo dessa concepção reducionista e conteudista, dificilmente esses professores conseguirão perceber a relevância da EA como um processo amplo que envolve diferentes formas de conhecimentos.

Arroyo (2007b) já alertava que a organização dos tempos da EJA precisam ser interrogados. É preciso contextualizar e dar sentido aos conteúdos trabalhados, assim como flexibilizar os tempos na Educação de Jovens e Adultos, mesmo porque o tempo do jovem e do adulto popular não é compatível com o tempo inserido nas formas rígidas de aprender o conhecimento.

A resposta de P2 revela mais uma vez a visão conservadora e naturalista da EA, pois associa o trabalho com a Educação Ambiental aos conhecimentos de uma disciplina específica, no caso, Ciências. Por trás dessa opção de não trabalhar a Educação Ambiental e deixá-la a cargo de um outro professor, pode estar também uma justificativa que esconde as próprias limitações no trato com a questão.

Para saber como os professores concebem suas práticas em EA, foi pedido que eles descrevessem uma atividade que tivessem desenvolvido na EJA e que fosse considerada como Educação Ambiental. Cerca de 73,6% dos professores disseram que já realizou alguma prática e 26,4% afirmaram que não, como pode ser identificado no gráfico a seguir.

117 na Educação de Jovens e Adultos

As atividades descritas pelos professores foram bastante variadas, a saber: debates; leitura, produção e interpretação de textos; exibição de vídeos; oficinas; excursões; atividades artísticas (maquetes, dramatizações, história em quadrinhos, paródias); seminários; Mostra Cultural; estudos de caso; apresentação de trabalhos.

Alguns professores apenas citaram as atividades realizadas, sendo que outros fizeram a descrição das mesmas, como pode ser visto nos trechos abaixo.

Organização de maquete sobre o processo de formação dos engenhos como era o ambiente antes e depois da produção de cana-de-açúcar com a degradação do solo, destruição da fauna e flora da mata Atlântica. (P11)

Viagem de estudo ao sertão de Sergipe, observando a mudança da paisagem natural e a ação do homem no meio ambiente. Conhecer Xingó é perceber o quanto o homem é capaz de construir e destruir. (P13)

Nas descrições dos professores percebe-se que eles conseguem relacionar a temática ambiental com os conteúdos de suas disciplinas. Foi possível identificar também que a maior parte das atividades desenvolvidas pelos docentes enfoca os aspectos naturais e enfatiza as relações homem-natureza dentro de uma perspectiva preservacionista. Araújo (2004b) coloca que essa prática educativa traz intrinsecamente a finalidade de deixar para as gerações futuras um ambiente preservado, buscando sensibilizar os indivíduos para uma relação de preservação dos recursos naturais, reduzindo os problemas ambientais à conduta do ser humano no meio ambiente.

A descrição da atividade de P16 chama a atenção por alguns aspectos importantes. Primeiro por trazer uma proposta que visualiza a Educação Ambiental para além das práticas preservacionistas. Em segundo, por possibilitar o movimento de problematização e questionamento da realidade concreta de forma que a reflexão seja inserida no cotidiano daqueles que estão vivenciando a intervenção do processo educativo.

Após discutir em sala de aula questões relacionadas ao meio ambiente, focando do local para o global. É solicitado aos alunos que efetue levantamento no bairro onde reside dos principais problemas ambientais. Em sala de aula apresentado pelos alunos, inclusive com possíveis soluções na visão do aluno. O aluno também deve discutir como ele está inserido neste problema. Como ele pode contribuir para amenizar o problema. (P16)

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Essa proposta descrita por P16 abre possibilidades para “a formação de um sujeito capaz de “ler” seu ambiente e interpretar as relações, os conflitos e os problemas aí presentes” (CARVALHO, 2008a). Esse é um importante caminho para a concretização de uma Educação Ambiental mais crítica e voltada para a construção da cidadania.

Uma questão relevante que ainda pode ser inserida na descrição das atividades de Educação Ambiental na EJA refere-se à relação que os professores fazem entre discutir questões ambientais nas aulas e realizar atividades de EA. Comparando os dados das categorias dos tópicos 3.2.3.2 e 3.2.3.4 desta análise, verifica-se que há uma variação nos números. Ao responder se abordam a questão ambiental em sala de aula, 94,7% dos educadores disseram que sim. Quando foi solicitado a descrição de uma prática de EA nas turmas da EJA, essa porcentagem caiu para 73,3%. Supõe-se que uma parte desses docentes entenda a Educação Ambiental como um processo mais complexo e que não se limita ao trato das questões ambientais de forma pontual e transitória.

Com base nos dados dos questionários, foi possível identificar que nas concepções dos professores prevaleceu: uma compreensão da EJA dentro do paradigma compensatório; as perspectivas naturalistas e antropocêntricas de meio ambiente; a ênfase na Educação Ambiental de caráter conservador/comportamentalista, centrada no indivíduo e com a finalidade conteudista e informativa de transmissão de conhecimento; as atividades pontuais de EA e a falta de formação da maioria dos professores para esta perspectiva.

As análises dos questionários foram significativas no sentido de desvelar alguns aspectos fundamentais sobre as concepções dos professores que atuam no EJAEM do Centro de Referência de EJA Prof. Severino Uchôa. Os dados ajudaram a traçar um panorama, ainda que não aprofundado, de como os docentes pensam e/ou inserem a dimensão ambiental na EJA, possibilitando não só um maior conhecimento da realidade estudada, como também as condições para a seleção dos professores que foram entrevistados posteriormente.

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