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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.5 PRÁTICAS INSTRUMENTAIS E AS QUEIXAS MUSCULOESQUELÉTICAS

Segundo Zaza (1998) a prevalência dos sintomas osteomusculares em músicos é semelhante a de outras categorias profissionais como operadores de checkouts e empacotadores. Para Winspur (2003) muitos músicos em algum momento de suas vidas irão sofrer dores nos braços. O estudo de Fragelli e Günther (2009) mostrou que 58,7% dos avaliados relataram presença de dor. Porém, em uma revisão bibliográfica realizada por Frank e Mülhen (2007) as prevalências de queixas musculoesqueléticas chegam a aproximadamente 89%.

Walsh et al. (2004) relatam que diferentes níveis de dor refletiram também níveis distintos e equivalentes de perda da capacidade para o trabalho. De acordo com Glatz, Poffo e Przsiezny (2006) no início, os sintomas acontecem ao final da jornada de trabalho ou durante os picos de trabalho. Com o tempo, as dores começam a persistir tanto na jornada de trabalho quanto nas atividades de vida normal.

Os motivos decorrentes das queixas são diferenciados. Estudos mostram que de um total de 154 violistas com instrumentos menores (≤ 40 cm) 86% apresentaram reclamações musculoesqueléticas e, 92% dos 157 violistas com instrumentos de tamanho maior, apresentaram estas reclamações (BLUM e AHLERS, 1994). As dores no ombro esquerdo diferenciaram-se relacionando o uso do tamanho das violas, sendo 25% daqueles que usam violas grandes e 18% daqueles que usam violas menores. As queixas encontradas foram relacionadas no ombro esquerdo de 18% dos músicos que tocam violas com ≤ 40 cm e 25% daqueles com > 40 cm; na extremidade superior do braço esquerdo de 10% com violas ≤ 40 cm e 12% com violas > 40 cm; no cotovelo de 11% daqueles músicos com violas ≤ 40 cm e em 13% dos músicos com violas > 40 cm; no antebraço de 12% dos músicos com instrumentos ≤ 40 cm e 15% dos com > 40 cm; no punho esquerdo em 10% com violas ≤ 40 cm e em 14% com > 40 cm; e nos dedos de 11% daqueles com violas ≤ 40 cm e 13% daqueles com instrumentos > 40 cm.

O tipo de instrumento tocado também se mostra como responsável pelas queixas. As particularidades dos instrumentos musicais associadas aos acometimentos musculoesqueléticos já foram mencionadas por autores como Norris (1993) e Brandfonbrener (2003). Na literatura, os autores indicam que os principais instrumentos

relacionados às queixas musculoesqueléticas são os instrumentos de cordas e metais (FISHBEIN; MIDDLESTADT, 1989; TRELHA et al., 2004; BARTON et al., 2008; TEIXEIRA; MERINO; LOPES, 2009). De acordo com Andrade e Fonseca (2000) a viola e o contrabaixo são os instrumentos que apresentam uma maior proporção de indivíduos impedidos de realizar a atividade instrumental.

No estudo de Teixeira, Merino e Lopes (2009) foram encontrados maiores acometimentos nos antebraços, punhos, mãos dos músicos que tocam os instrumentos de metal e madeira. Em contrapartida, nos músicos que realizam suas atividades com as cordas, como o violino e viola, as maiores queixas foram na região dos ombros, dos braços, do pescoço e das costas.

Há um questionamento na literatura acerca dos fatores que levariam alguns instrumentistas a desenvolverem a síndrome do uso excessivo considerando que todos empregam o mesmo repertório de movimentos na performance (MOURA; FONTES; FUKUJIMA, 2000). Desta forma, os aspectos que podem estar envolvidos nesta questão são intrínsecos aos sujeitos como a constituição corporal, estado físico, trofismo e grau de flexibilidade muscular e/ou patologia muscular prévia; e extrínsecos aqueles relacionados à técnica; as posturas; o tipo e a sustentação do instrumento; a força usada para tocá-lo; e/ou despreparo muscular (FINKEL, 1996). Segundo Gonik (1991) estes fatores adicionados ao tempo de treinamento diário; o tamanho e peso do instrumento; e a relação antropométrica para cada tipo de instrumento poderia também influenciar o surgimento de síndromes por uso excessivo.

A influência do peso do instrumento foi estudada sob os aspectos de dor, da marcha e do equilibro (FRANK; MÜLHEN, 2007; TEIXEIRA, et al., 2009b; TEIXEIRA et al., 2009c). O estudo de Frank e Mülhen (2007) indicou problemas de lombalgia em contrabaixista pelo fato de os mesmos terem que carregar seus instrumentos musicais. Já Teixeira et al. (2009b) e Teixeira et al. (2009c) estudaram um violista com e sem o transporte de seu instrumento. As variáveis referentes à força vertical máxima e ao impulso durante a marcha se mostraram diferentes nas situações sem e com o transporte do instrumento. Isso mostra que ao transportar uma carga, que nesse caso foi de 6,9 kg (estojo mais instrumento), o aparelho locomotor sofre alterações, apresentando maiores valores quando o corpo necessita transportar o instrumento de trabalho. Os autores salientam que essas alterações, no decorrer do tempo, poderão causar importantes disfunções

musculoesqueléticas, influenciando na saúde e qualidade de vida do trabalhador se medidas preventivas não forem tomadas (TEIXEIRA, et al., 2009d). Com relação ao equilíbrio corporal, a análise realizada evidenciou algumas diferenças na força vertical durante o equilíbrio nas situações sem e com o transporte do instrumento o que, segundo os autores, também pode implicar em futuras disfunções musculoesqueléticas caso não existam medidas compensatórias (TEIXEIRA, et al., 2009c).

O contato com um novo instrumento para as práticas instrumentais também vem sendo citado como um risco potencial por autores como Pederiva e Galvão (2005). Para Frank e Mühlen (2007) a aquisição de um instrumento novo traz para os músicos novos ângulos de atuação mecânica, novas tensões musculares e novos ajustes e talvez até preocupações inconscientes de performance, que irão contribuir para a geração de sintomas e problemas musculoesqueléticos.

Com relação à aquisição dos instrumentos musicais, Blum e Ahlers (1994) afirmam que músicos frequentemente encontram dificuldade para selecionar novos instrumentos que satisfaçam todas suas necessidades. Dentre os fatores que os músicos consideram na escolha do instrumento estão a qualidade sonora, a autenticidade, o preço e a estética o que demonstra conflito ao escolher um instrumento que possui todas as qualidades sonoras desejadas sem exceder as limitações físicas.

Em se tratando em limitações físicas, as causas podem estar relacionadas à antropometria diferenciada entre homens e mulheres que tocam instrumentos com mesmas dimensões, à menor força muscular, menor amplitude da mão e maior ocorrência de hipermobilidade articular entre mulheres (FISHBEIN; MIDDLESTADT, 1989; PAK; CHESKY, 2001). Markison (1990) e Winspur (2003) indicam que muitos músicos não são apenas fisicamente adequados para o instrumento escolhido, como por exemplo, o harpista com braços curtos e o violinista com um pescoço longo, ou ainda com mãos pequenas. O estudo de Sakai et al. (2006) mostrou que pianistas com mãos menores apresentam ângulos de abdução dos polegares significativamente maiores em comparação aos pianistas com mãos maiores. Assim, estas diferenças podem ser as causas de problemas como a Tenossinovite Estenosante de Quervain.

De maneira geral, observa-se que as estruturas frequentemente mais acometidas em músicos instrumentistas são os músculos, apesar de haver referências quanto ao comprometimento de outras estruturas

(MOURA; FONTES; FUKUJIMA, 2000). Assim, Bird (1992) indica que o desequilíbrio musculoesquelético possui influência nos problemas ocupacionais podendo ainda influenciar as questões de saúde e