• Nenhum resultado encontrado

Práticas integrativas e complementares de saúde

conhecidas como alternativas ou holísticas (SOUZA; LUZ, 2009) constituem-se num grupo diversificado de cuidados médicos, práticas e produtos do sistema de saúde, que não são atualmente considerados como parte de medicina convencional, isto é, medicina praticada por médicos, fisioterapeutas, psicólogos e enfermeiros (GARROW; EGEDE, 2006). Há muitas discussões e posições acerca da concepção dessas práticas, de serem alternativas ou complementares. Observe que as Práticas Alternativas colocam-se como outra possibilidade de cuidados ou tratamentos, não no sentido de substituir o tratamento médico convencional pelas Práticas Complementares, mas no sentido de manter o tratamento da biomedicina e acrescentar outras práticas que complementem o tratamento. Ambas as abordagens têm gerado conflitos. Esperamos que este texto o ajude a compreender melhor o que está envolvido nestas discussões.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) no final da década de 70, século XX, criou o Programa de Medicina Tradicional, incentivando os países membros a formularem políticas públicas para o uso racional e integrado da Medicina Tradicional e da Medicina Complementar/Alternativa (MT/ MCA) estimulando, assim, a realização de pesquisas que possibilitem o uso seguro e eficaz dessas práticas (BRASIL, 2006b).

A criação desse programa pela OMS foi decorrente do reconhecimento de que a maioria das pessoas no mundo não tem acesso ao atendimento primário da saúde, por falta de recursos ou pela distância dos serviços de saúde. Para essas pessoas, as plantas medicinais são os principais medicamentos (VEIGA JUNIOR, 2008).

Podemos verificar que, no Brasil, essas práticas começaram a ter maior reconhecimento e uso mais ampliado a partir da década de 1980. Em 2006, o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) por meio de Portaria do Ministério da Saúde nº 971/2006/MS (BRASIL, 2006b). Essa portaria autoriza as terapias alternativas no Sistema Único de Saúde (SUS) padronizando os procedimentos para a prestação desses serviços na rede pública. A principal justificativa é fato destas práticas já virem sendo utilizadas em muitos municípios e estados sem uma regulamentação específica. Justamente por conta da ausência de diretrizes específicas o acesso pelo usuário a estas terapias dava-se de forma desigual de modo que os usuários da rede pública ficavam privados da utilização de tais práticas.

Saiba mais

Para sua melhor compreensão sugerimos a leitura do documento oficial do Ministério da Saúde, disponibilizado no link: <http:// portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/PNPIC.pdf>.

Sugerimos ainda que você leia a Portaria nº 971 de 03/05/06 que Aprova a Política Nacional de Práticas integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/ PNPIC.pdf>.

Repare que a inclusão de tais práticas objetiva estimular os mecanismos naturais de prevenção de doenças e recuperação da saúde que, além do uso de tecnologias eficazes e seguras, têm como referência a escuta acolhedora; o desenvolvimento do vínculo terapêutico; a integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade; a visão ampliada do processo saúde-doença; e a promoção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado (BRASIL, 2006b).

Podemos observar que as PICS vêm sendo cada vez mais procuradas pelas pessoas que desejam a cura, cuidados menos agressivos ou a prevenção de doenças, ganhando cada vez mais espaço nos ambientes públicos, privados, ambulatoriais ou hospitalares.

Muitos profissionais da saúde passaram a buscar formação nessas práticas, como forma de ampliar os cuidados à saúde, especialmente de pessoas em condição crônica que requerem o uso contínuo de medicamentos e tratamentos, muitas vezes, tão agressivos quanto a própria doença.

A busca de elementos naturais, tais como plantas e águas minerais, bem como de práticas milenares como a acupuntura e massagens, passaram a ser uma realidade na atenção à saúde. Souza e Luz (2009) entendem que o surgimento e desenvolvimento das PICS foram motivados por um conjunto de situações, portanto, não podemos atribuir uma única causa. Segundo os autores, a orientalização do Ocidente, o holismo e a crise da saúde e da medicina foram elementos que trouxeram esses tratamentos para a área da saúde, até então, somente focalizada no conhecimento científico.

Lembre que há diferentes modos de ver o mundo, que está orientado pelas crenças e valores, o que chamamos de paradigma. E que a atenção em saúde historicamente e hegemonicamente está orientada pela visão fragmentada e objetivista do ser humano.

O Sistema Único de Saúde aponta para outra direção, buscando integrar uma visão holística do ser humano.

Veja que a orientalização do Ocidente é parte do movimento de aceitação de outras visões de mundo que valorizam a integração entre homem, natureza e sociedade, especialmente aquelas vindas de concepções e práticas mais comuns no Oriente. O holismo segue esse mesmo movimento, como uma ferramenta no enfrentamento ao individualismo, buscando olhar para a sociedade e para cada indivíduo como uma totalidade.

A crise na saúde e na medicina surge como reflexo do movimento capitalista, que agravou as desigualdades sociais nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, resultando no aumento ou no surgimento de problemas como desnutrição, violência, doenças infecto-contagiosas e crônico- degenerativas, cuja atenção convencional não deu conta. Diante da falta de atenção individualizada e da inexistência de uma relação mais próxima com o profissional da saúde, verificou-se a necessidade do resgate de valores perdidos, como as práticas que valorizam o sujeito e sua relação com o terapeuta (SOUZA; LUZ, 2009).

Podemos notar que a inclusão das PICS no cotidiano da saúde tem gerado polêmica sobre seus usos e sobre quem tem autoridade, direito e/ou capacidade de realizá-las. Vamos discutir essa situação ao longo dessa unidade.

3.3 Regulamentações para a prática