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As práticas legais da ação executiva das prestações de fazer, não fazer, entregar coisa e pagar quantia no Direito Brasileiro

No documento A desjudicialização da execução civil (páginas 52-55)

PROCESSUAL CIVIL CONSULTA AOS SISTEMAS RENAJUD E INFOJUD INTERVENÇÃO JUDICIAL CABIMENTO Cabível intervenção judicial,

3.2.2 As práticas legais da ação executiva das prestações de fazer, não fazer, entregar coisa e pagar quantia no Direito Brasileiro

A ação executiva está dividida em duas vertentes, quais sejam, o processo executivo sincrético, conforme já discutido em momentos pretéritos, que se trata da execução de título executivo judicial, sendo que a execução é realizada através do cumprimento de sentença nos termos do art. 475-I do CPCB. Outra vertente é a execução autônoma, quando o título executivo é extrajudicial nos termos do art. 585 do CPCB. Em uma visão holística, o Novo Código de Processo Civil Brasileiro trouxe mudanças no rol dos títulos executivos. Entre os títulos executivos judiciais, a novidade paira sobre o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários forem objeto de condenação em decisão judicial e também quanto à decisão interlocutória estrangeira, porém, neste caso, há necessidade da concessão do exequatur à carta rogatória pelo STJ. No que concerne aos títulos executivos extrajudiciais, também houve alterações quanto ao rol elencado no art. 585 do CPCB. Primeiramente, quanto ao crédito de auxiliar da justiça que de título executivo extrajudicial passou a ser judicial. Outra novidade, houve a inclusão dos créditos provenientes de parcela

54 FREITAS, José Lebre de. O Silêncio do Terceiro Devedor. Ano 2002. Vol. II. Disponível em:

http://www.oa.pt/Conteudos/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=30777&idsc=13744&ida=13763. Acesso 25 de setembro de 2015.

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de rateio de despesas condominiais, se assim estiver sido estabelecido na convenção ou aprovadas em Assembleia Geral comprovadamente documentada, assim como, a certidão expedida por serventia notarial ou de registro referentes a valores provenientes de emolumentos ou outras despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei.

De qualquer forma, o título executivo representa uma obrigação não cumprida, seja uma prestação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia, por título judicial ou extrajudicial. Conforme já mencionado, o título executivo é o documento idôneo para a propositura da ação executiva, sem o qual não será possível proceder a execução por haver a necessidade da indicação de obrigação certa, líquida e exigível inadimplida. No direito português, também encontra-se esta distinção havendo trâmite processual específico para cada modalidade de obrigação, assim, tem-se o artigo 724 e ss do CPCP que trata especificamente da execução para pagamento de quantia certa, indicando os requisitos de caráter formal os quais devem ser atendidos pela petição que inicia o processo de execução e suas particularidades; o artigo 859 e ss. do mesmo diploma dispõe acerca da execução para entrega de coisa certa demonstrando normas conforme a natureza da coisa a ser entregue e suas particularidades; e, o artigo 868 e ss. do CPCP preceitua sobre a execução para prestação de facto e trata da possibilidade de conversão da execução, uma vez que a obrigação de fazer ou não fazer poderá ter cunho indenizatório, convertendo-se em obrigação de pagar quantia. E o n.º6 do artigo 10º do CPCP dispõe acerca do fim da execução que se dará quando houver pagamento de quantia certa, na entrega de coisa ou no cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer.

Contudo, verificando que o tratamento jurídico do processo de execução é similar tanto no direito brasileiro quanto no direito português, delineando as obrigações de fazer, não fazer, entregar coisa e pagar quantia certa, esta pesquisa tem como objetivo explicitar o trâmite processual em ambos os modelos a fim de analisar a desjudicialização da execução civil já praticada no Direito Português e a possibilidade de aplicação do modelo português no Direito Brasileiro com o intuito de proporcionar o efetivo acesso à jutiça. Portanto, para melhor discorrer sobre a execução de tais prestações representadas por títulos executivos judiciais e extrajudiciais, dividir-se-á o pensamento em etapas por prestação nos termos do Direito Processual Brasileiro.

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3.2.2.1 Prestação de fazer ou não fazer representada por título executivo judicial e extrajudicial

A prestação de fazer trata de uma tutela do direito a ser prestada, por exemplo, retirar o nome indevidamente do banco de dados de inadimplentes, reparar um dano, determinar uma conduta do devedor lato sensu, sendo que esta modalidade de prestação permite a tutela ressarcitória, em outras palavras, na forma específica, o não cumprimento será sob pena de multa diária. A prestação de não fazer trata de uma tutela inibitória, pois o que se requer é a não conduta, o deixar de fazer porque a conduta causa o dano, esta modalidade de prestação é muito comum na questão de construção, mas também poderá ter lugar a tutela ressarcitória, pois se houver dano, haverá o reparo, o ressarcimento, a indenização devida. Na seara executiva, a modalidade da prestação de fazer ou não fazer está prevista no art. 461 do

CPCB55 e parágrafos em que preceitua que o juiz poderá aplicar a tutela específica a qual é o

contrário da tutela pelo equivalente, pois são dois institutos diferentes no ordenamento processual.

A tutela específica preocupa-se com a integridade do direito, impedindo a sua degradação em pecúnia. A tutela pelo equivalente implica na monetização dos direitos ou na aceitação de que os direitos são iguais e podem ser convertidos em pecúnia56.

Portanto, a tutela específica não é revertida em pecúnia, mas sim em medidas necessárias para o cumprimento da prestação, resguardando o direito do credor. Assim, o magistrado poderá aplicar as seguintes medidas a "imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de

atividade nociva, se necessário com requisição de força policial57”, conforme o caso concreto,

sabendo que a jurisdição visa aplicar a técnica processual adequada à tutela do direito. A natureza da multa aplicada na execução da obrigação de fazer ou não fazer é coercitiva denominada de astreintes que se aplica tanto no título executivo judicial ou extrajudicial. A lei não traz parâmetros para o cálculo da multa, mas se deve aplicar a razoabilidade para não violar o direito do devedor, causando assim o locupletamento ilícito. Neste sentido, o Tribunal

55 Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

56 MARINONI, Luiz Guilherme et al. Curso de Processo Civil: Execução. 6 ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 149

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do Rio Grande do Sul decidiu que no caso de descumprimento da obrigação, a intimação deverá ser pessoal quanto à cobrança da multa diária:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. OBRIGAÇÃO DE FAZER.

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