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5.3 As regras de implementação do PAIC

5.3.3 Prêmio Escola Nota Dez: incentivo simbólico

Por meio de lei estadual, em junho de 2009, foi instituído o Prêmio Escola Nota Dez. As regras de seu funcionamento foram desenhadas para criar uma série de incentivos e de constrangimentos às redes municipais e especialmente às escolas - diretores e professores.

Por meio dessa ação, são premiadas a cada ano até cento e cinquenta escolas com os melhores resultados de alfabetização expressos pelo Índice de Desempenho Escolar-Alfabetização - IDE-Alfa42, e que atendam às condições de:

i) ter pelo menos vinte alunos matriculados no segundo ano do ensino fundamental no momento da avaliação, um incentivo para promover a nucleação de escolas e evitar que escolas rurais tenham poucos alunos e salas multisseriadas;

ii) ter, no mínimo, 90% dos alunos matriculados no segundo ano avaliados pelo SPAECE-ALFA43, para constranger que os alunos com baixo desempenho sejam

excluídos da avaliação;

iii) média de IDE-Alfa entre 8,5 e 10,0; e

42 O IDE-Alfa de cada escola ou município é calculado pela seguinte fórmula: (Proficiência média - limite

inferior/Limite superior - limite inferior) x 10 x percentual de participação. A participação é mensurada subtraindo-se o número de alunos presentes do número de alunos matriculados de acordo com o resultado do censo oficial do ano em curso. É acrescido no resultado o número de matrículas de alunos ocorridas até 31 de agosto e subtraído o número de alunos que foram transferidos da escola até a referida data.

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iv) situar-se em município que tem, pelo menos, 70% dos alunos matriculados no segundo ano no nível “desejável” do SPAECE-ALFA44, para evitar que a rede

municipal invista em apenas algumas escolas e não se preocupe com outras escolas eventualmente com baixo desempenho.

O valor é em dinheiro e corresponde à multiplicação do número de alunos do segundo ano do ensino fundamental regular avaliados pelo SPAECE-ALFA pelo valor de R$2.000,00; é dizer, quanto mais alunos avaliados, maior é o valor do prêmio para as escolas que se destacam. O valor do prêmio é entregue em duas parcelas: a primeira correspondente a 75% do valor total devido à escola; e a segunda correspondente ao restante do valor.

As escolas premiadas devem desenvolver, pelo período de um ano, ações de cooperação técnico-pedagógica com uma das cento e cinquenta escolas que tenham obtido os menores resultados de alfabetização expressos pelo IDE-Alfa que, por sua vez, recebem auxílio financeiro do estado para implementação de plano de melhoria dos resultados de alfabetização de seus alunos. Somente poderão ser beneficiadas com esse auxílio as escolas que tenham, no momento da avaliação, pelo menos, vinte alunos matriculados no segundo ano do ensino fundamental regular e que tiveram, no ano anterior, um mínimo de 50% de alunos avaliados. O auxílio financeiro é pago em dinheiro e corresponde à multiplicação do número de alunos do segundo ano do ensino fundamental regular avaliados pelo valor de R$1.000,00.

De forma semelhante ao prêmio, o auxílio financeiro é entregue em duas parcelas, sendo a primeira correspondente a 50% do valor total a ser transferido para a escola, e a segunda parcela, correspondente ao restante. A transferência da segunda parcela do prêmio e do auxílio é condicionada à manutenção dos bons resultados das escolas premiadas e ao alcance das metas de melhoria dos resultados das escolas com baixo desempenho. É dizer, a escola que foi apoiada só ganha os 50% restantes do auxílio se tiver seu desempenho melhorado, e a escola que apoiou só recebe os 25% restantes se a escola apoiada melhorar seu desempenho, o que é uma forma de incentivar que as duas escolas não se despreocupem dos esforços nas ações de alfabetização no ano seguinte ao da avaliação considerada.

Por meio do Prêmio, o PAIC introduziu um mecanismo de bonificação por resultados para as unidades escolares, em que as melhores na competição são

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premiadas. Além disso, essa regra foi desenhada para incentivar o benchmarking entre as redes e as escolas e o crescimento menos desigual das médias dos municípios e a cooperação.

Os recursos recebidos pelas escolas devem ser utilizados exclusivamente em ações que visem à melhoria das condições das escolas e dos resultados de aprendizagem de seus alunos, tais como o incentivo ao desempenho dos profissionais da escola, apoio logístico em capacitações e treinamentos, bonificação, formação continuada, a melhoria de suas instalações físicas e de equipamentos, e o enriquecimento de seus acervos didático-pedagógicos. Para obter os recursos, as escolas devem elaborar um plano a ser apresentado do que será feito com o dinheiro e, posteriormente, devem apresentar a prestação de contas do uso das verbas.

Observou-se que, mais do que pelos recursos financeiros, o prêmio é relevante pelo incentivo simbólico. A entrega do Prêmio Escola Nota Dez acontece em um grande evento anual, sempre com a presença do governador e, geralmente, também com a presença do Ministro da Educação. Há uma cobertura midiática intensa e aclamação das “escolas nota dez” por meio de massiva comunicação dos resultados: campanhas televisivas, na imprensa escrita, outdoors na entrada dos municípios ou na frente das escolas premiadas.

O Prêmio, segundo relatos, incentiva, sobretudo, os diretores, os líderes da escola, que o recebem das mãos do ministro ou do governador. Eles se sentem reconhecidos e valorizados pela comunidade escolar em razão de seu trabalho. Uma fala emblemática de um gestor do programa sobre a forma de impacto do prêmio é a de que “para eles, o valor em si não é tão importante quanto a imagem, as cores, o mapa, o município aparecer no nível ‘desejado´”.

A divulgação dos resultados, desde a primeira edição, marcando os municípios com diferentes cores para diferentes níveis de proficiência no mapa do Ceará deixou claro que municípios estavam melhorando e que municípios não estavam e, na medida em que o programa foi se tornando conhecido no Ceará e no país, os municípios teriam passado a se preocupar mais com a imagem em decorrência dos resultados na alfabetização. Isso encontra registro teórico em O´Toole Jr (2010), para quem a tática da exposição ajuda na obtenção de colaboração, pois ir a público tende a constranger que os compromissos sejam assumidos.

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5.3.4 Além das regras formais: constrangimento à ação e criação de