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A ARQUITETURA COMO ESTILO: NEOCOLONIAL E ECLÉTICO

1.1 PRAÇA XV DE NOVEMBRO: COMPREENDENDO O ENTORNO

Ilha de Santa Catarina, Nossa Senhora do Desterro, Florianópolis – nomes dados a uma mesma cidade que traz dentro de si e, em suas margens, múltiplas cidades – é palco de vestígios e representações de diferentes tempos, que ora se mesclam e se fundem, dificultando sua percepção, ora se contrapõem e deixam emergir características peculiares que as tornam singulares. Contradições, hibridizações e mesclas fazem com que ela seja percebida como um caleidoscópio estético, visual e discursivo, habitado e preenchido por percepções e manifestações antagônicas e heterogêneas, mas que, mesmo sendo diferentes, não se repelem, completam-se, culminando em uma híbrida e cambiante moldura citadina.

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Inserida nesta paisagem está a Praça XV de Novembro, também conhecida como Praça da Figueira35, que foi ‘abraçada’ por edificações de diferentes estilos arquitetônicos. A Praça XV de Novembro36 possui um típico traçado triangular e pode ser entendida, juntamente com a capela erguida por Dias Velho, como marco zero, local que delimitou ou serviu de base para que a expansão urbana inicial se consolidasse. Atualmente, em Florianópolis, principalmente no entorno da Praça XV de Novembro, os estilos arquitetônicos são diversificados, mas nem sempre foi assim. Outrora, a paisagem citadina possuía características comuns, estampadas em seus edifícios com estilos arquitetônicos semelhantes, sem serem idênticos. Cada fragmento, cada detalhe inscrito nas fachadas das construções traduzem parte da trajetória urbana, política e social dessa capital.

A Praça XV de Novembro está localizada no centro fundador de Florianópolis. A definição de ‘centro histórico’ é bastante ampla e possuí desdobramentos que variam de acordo com as diferentes conceituações, como, por exemplo, aquela cunhada em 1987 pela Carta de Petrópolis37. Neste documento, o termo centro histórico, ou sítio histórico urbano, foi definido como o espaço que concentra o fazer cultural. Este ‘fazer cultural’ inclui os habitantes e a paisagem edificada e natural. Este documento salienta que os sítios históricos devem ser compreendidos em “seu sentido operacional, e não por oposição a espaços não históricos da cidade, já que toda cidade é um organismo histórico” 38

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A Praça XV também é popularmente conhecida como a Praça da Figueira devido, talvez, a maior atração da praça: uma extensa e centenária figueira que está localizada no terreno central. Ao que consta, foi plantada em 1831. Em torno desta árvore surgem inúmeras histórias e crendices, uma delas seria que a das voltas em torno dela para garantir a volta à cidade, conquistar amores, desfazer casamentos fracassados, afastar inimigos, entre outras coisas.

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A Praça XV e suas modificações estruturais (arquitetônico-urbanísticas) e de sentido tornam-se um interessante objeto para estudos posteriores. Contudo, limitei-me a esse breve parêntese, visto que ela não é o escopo dessa pesquisa. 37

A Carta de Petrópolis foi redigida durante o Primeiro Seminário Brasileiro de Preservação e Revitalização dos Centros Históricos ocorrido na Cidade de Petrópolis- RJ em 1987.

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CARTA DE PETRÓPOLIS. Publicada no caderno de Documentos n.03- “Cartas Patrimoniais”. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN, Brasília, 1995, p.01. Disponível em <http://www.icomos.org.br>. Acesso em 15/11/2012.

Fig. 01: Configuração urbana inicial da região central de Florianópolis no inicio do século XIX. A forma se mantém nos dias atuais.

Fonte: Adaptado de Peluso Junior (1981, p. 52).

Fig. 02: Mapa da Praça XV de Novembro e seu entorno.

Fonte: Adaptado de< http://maps.google.com.br>. Acesso em 10/12/2012.

Já o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), define o centro histórico como o seu núcleo de fundação, ou seja, a

região na qual historicamente se presume que a cidade nasceu39 (fig.01). Nesta região foi erguida a primeira capela, os primeiros edifícios públicos, como a Casa da Câmera e Cadeia, além do Palácio do Governo. E, no decorrer dos anos, foram surgindo outras edificações: hotéis, casas, bancos etc. O centro histórico corresponde atualmente às quadras que circundam a Praça XV de Novembro, toda extensão da Rua Conselheiro Mafra até o limite formado pela Rua Pedro Ivo, sendo considerado pelo IPUF como uma Área de Preservação Permanentes (APP)40.

Adams (2002) define o centro fundador de Florianópolis como a região que compreende o entorno imediato da Praça XV de Novembro. O entorno abarcaria a área situada ao sul da Avenida Rio Branco, limitada pela Avenida Hercílio Luz- antiga linha do mar, ruas Padre Roma, Tenente Silveira, Igreja Nossa Senhora do Rosário e a Praça Pereira Oliveira e imediações. Para Vaz (1990), o centro histórico seria mais abrangente por, além abarcar as cercanias da Praça XV de Novembro, incorporar também as Ruas Esteves Júnior e Hercílio Luz, que conectam esta região à Baia Norte. Ruas que, no início do século XX, levavam a região das chácaras:

As chácaras foram surgindo nos arrabaldes, nos quarteirões mais afastados do centro – quarteirões que hoje ficam nas proximidades do centro atual. [...] Nas ruas Esteves Junior, Bocaiúva e Heitor Luz, havia verdadeiros latifúndios [...]41.

As edificações que fazem parte dos Conjuntos tombados, bem como as Áreas de Preservação Permanentes (APP), estão localizadas ao longo da área central de Florianópolis e não somente no centro histórico

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IPUF (2005) apud DIAS, Adriana Fabre. A reutilização do patrimônio

edificado como mecanismo de proteção: uma proposta para os conjuntos

tombados de Florianópolis. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, 2005, p.30.

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O centro de Florianópolis é dividido em dez regiões/ conjuntos tombados identificados da seguinte forma: Conjunto 1: Centro Histórico, Conjunto 2: Hospital de Caridade, Região 3: Bairro do Mato Grosso, Conjunto 4: Bairro da Tronqueira, Conjunto 5: Rua General Bittencourt, Conjunto 6: Rua Herman Blumenau,. Conjunto 7: Nossa Senhora do Rosário, Conjunto 8: Praia de Fora, Conjunto 9:Rua do Passeio, Conjunto 10: Rita Maria (MAKOWIECKY, 2009, p.04-05).

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delimitado pelo SEPHAN/IPUF. Partindo das definições de centro histórico e levando em consideração que sua configuração se iniciou pela Praça XV de Novembro, será considerada para este trabalho, o entorno da Praça XV como o espaço ocupado pela praça em si e aquele circundado pelas Ruas Conselheiro Mafra, Arcipestre Paiva, Tenente Silveira e Procurador Abelardo Gomes (fig.02).

Estes breves parágrafos sobre o local que é metaforicamente ‘abraçado’ pelas construções a serem discutidas neste capítulo, assentam-se na ideia da praça como representação fragmentada da polifonia da cidade. Ou seja, um local em que “vozes autônomas se cruzam, relacionam-se, sobrepõem-se umas às outras, isolam-se ou contrastam-se” 42. Ancorada na concepção de polifonia apresentada por Canevacci (2004) o espaço da Praça XV de Novembro e seu entorno contemplou diversas vozes e, portanto, justificaria sua polifonia, no sentido de incorporar em sua constituição físico- arquitetônica/urbanística as mais diversas formas de manifestações humanas. E, para este trabalho, as mais importantes dessas manifestações advêm da arquitetura e dos olhares lançados sobre os espaços construídos.

A Praça XV de Novembro e seu entorno serão entendidas como emblema, ou fio condutor desta pesquisa, pois foi deste local que as primeiras ressonâncias urbanas surgiram e se propagaram para o restante do centro urbano. É também, neste entorno, que se encontra grande parte das edificações que serão analisadas neste trabalho, dentre elas, três edifícios emblemáticos: A Cruz Igreja Matriz, O Palácio Cruz e Souza e o Edifício dos Correios, discutidos a seguir.

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