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PRECARIZAÇÃO SOCIAL.

CAPÍTULO 3 O PRECÁRIO MERCADO DE TRABALHO NA BAHIA E A REPRODUÇÃO ESPACIAL DE SALVADOR: OS CAMINHOS

PARA SE FORJAR O SEM EMPREGO NA CONDIÇÃO DE SEM TETO.

3.1 – A produção e reprodução precária da cidade de Salvador:

Qualquer tentativa de reconstruir, mesmo que de forma breve e resumida, o processo histórico de formação do mercado de trabalho na Bahia e principalmente em Salvador, deve levar em conta o papel sócio histórico de destaque assumido pela região Nordeste em todo processo de formação histórica do Brasil, no contexto de um desenvolvimento desigual das diversas regiões do país, reproduzindo um processo de divisão do trabalho que proporcionará ao eixo sul-sudeste um crescente processo de modernização e industrialização, legando ao nordeste uma situação de atraso e dependência, o que levará alguns autores a denominar o norte e nordeste do Brasil de periferia da periferia do sistema capitalista.

Assim, a Bahia e mais precisamente Salvador, que ocuparam durante todo o período colonial e também na fase do Império uma posição sócio-política-econômica central para a formação histórica do Brasil, com o deslocamento do eixo político e econômico para o centro sul do país, sofrem um processo de submissão com relação às classes dominantes do sul-sudeste. É preciso destacar que este deslocamento do eixo econômico-político do nordeste para o sul-sudeste é acompanhado também por um processo de desconstrução ideológica da importância histórica da região nordeste dentro do próprio processo de formação política e econômica do Brasil, bem como da tentativa de modernização do país.

Um aspecto importante sobre a evolução do mercado de trabalho na Bahia é que, mais precisamente, a sua capital possui um caráter singular em se tratando do chamado trabalho informal. Diversas atividades que são indicadas como pertencentes, atualmente, ao chamado setor informal sempre existiram em Salvador, desde a sua fundação, e se reproduziram por todo período colonial, República Velha e República Nova34. Quando a cidade se urbaniza, de fato, e o processo de

34 Em trabalho anterior a este afirmei: “Na verdade, não é historicamente adequado chamar as formas

pretéritas de organização do trabalho, predominantes desde o século XIX, na cidade de Salvador, de trabalho informal. A noção ou conceito de informalidade não existia, já que não havia um aparato estatal encarregado de regulamentar as atividades realizadas pelos trabalhadores do século XX, nos

industrialização, ocorrido localmente, parecia ser capaz de varrer essas formas de trabalho para o passado. Mas essas atividades se mostraram funcionais ao tipo de desenvolvimento sócio econômico engendrado no Brasil, e que tem na cidade de Salvador um dos exemplos máximos. Assim, ao mesmo tempo atuando de forma funcional ao modelo de desenvolvimento capitalista, mas também existindo como uma espécie de resistência e permanência de um modo de vida de uma Salvador que luta por não ser superada por esse avassalador processo de modernização e capitalização das relações humanas, diversas atividades e formas de ganhar a vida permanecem e contribuem decisivamente para a produção e reprodução da cidade.

Mantendo a coerência com relação ao conceito amplo de trabalho proposto no início desta tese, pode-se afirmar que a forma como os baianos soteropolitanos ganham sua vida se reflete também de forma decisiva no processo de ocupação espacial da cidade, tanto ao longo do processo histórico mais geral de formação da mesma, quanto cotidianamente quando reparamos as formas e cores da cidade todos os dias que os trabalhadores deixam suas casas para trabalhar, seja lotando as ruas de automóveis, abarrotando os ônibus, ou no montar e desmontar de barracas e mercadorias, das mais diversas, pelos passeios e ruas da cidade, catando latinhas nas ruas ou cantarolando bordões nos ônibus na tentativa de vender balinhas e pastilhas que ajudam a “refrescar a boca e passar o tempo no engarrafamento”. Algumas dessas imagens se repetem há séculos, desde a fundação da Cidade da Bahia. Esse trabalho, que ocupa as ruas, é o mesmo que edificou a cidade e deu a ela a forma que ela tem, seja no antigo centro, parte mais tradicional, ou nas “novas periferias”, o suor e o sangue do soteropolitano35 se mistura ao barro, pedras, taipas, palhas, madeira, plástico, bloco, cimento, concreto e vergalhões que ergueram e erguem essa cidade, desde a colonização até os dias

moldes de uma classificação entre formal e informal. A formalização ou institucionalização do mercado de trabalho no Brasil e na Bahia só se dá no século XX, nas décadas de 40 e 50. O que se pode observar é que havia um conjunto de atividades não capitalistas ou pré-capitalistas, que reuniam uma gama de vendedores ambulantes, carregadores e prestadores de serviço dos mais diversos tipos, trabalhadores que deixaram uma marca na história e na composição cultural e econômica da cidade de Salvador, sendo possível observar, até hoje, sobrevivências claras destas atividades nas ruas da cidade. O que hoje se chama de trabalhador ambulante ou camelô, nesta cidade, é uma herança histórica de atividades antigas e tradicionais de uma Salvador ainda não propriamente capitalista (DURÃES, 2002).” (BARRETO, 2005, p.150)

35 Os escravizados, indígenas, africanos, mestiços e vagabundos de toda ordem, do passado, ou os

ambulantes, autônomos, comerciantes, operários e jovens traficantes ou marginais de toda ordem, do presente.

atuais, nos novos condomínios da paralela, levantados por trabalhadores que não podem neles morar, nas casas de tijolos expostos que vemos nas avenidas de vale da cidade, ou nos barracos de plástico que dão nome a uma das ocupações de Sem Teto36 no subúrbio ferroviário de Salvador. Analisemos então, uma perspectiva desse processo em que o trabalho humano forja essa cidade.

3.1.2 – A invasão europeia: o início de tudo?

Como já repetido diversas vezes o processo de invasão de terras se constitui como um dos fundamentos para a produção e reprodução do espaço social no Brasil, tanto no campo quanto nas cidades. A produção acadêmica tem mostrado acertadamente que o período das grandes invasões coletivas populares, como alternativa de garantia de uma moradia, ainda que precária, para diversos trabalhadores soteropolitanos, se inicia, de forma mais hegemônica, na década de 1940.

Não tenho qualquer intenção de questionar estas pesquisas, mas apenas a título de provocação gostaria de retornar alguns séculos para relembrar uma outra invasão, responsável pela fundação da cidade de Salvador. Se entendemos que o ato de invadir se constituiu como uma das práticas essenciais para a produção e reprodução dos espaços sociais no Brasil, é preciso deixar claro que o ato de fundação da cidade de Salvador e de todos os centros urbanos do Brasil colônia se deram mediante invasões.

De forma nenhuma estou pretendendo comparar ou equiparar as invasões37 de terras urbanas feitas por trabalhadores, na tentativa de garantir sua sobrevivência ao fazer valer, na marra, o direito à moradia, a partir da década de 1940, com as invasões europeias, que nada mais eram do que a expansão do capitalismo

36 Estamos nos referindo à Cidade de Plástico – CDP, ocupação do Movimento Sem Teto da Bahia,

no bairro de Periperi, no subúrbio ferroviário de Salvador.

37 É preciso já neste momento fazer uma breve explicação sobre esta questão: Os movimentos de

luta pela moradia historicamente passaram a rejeitar o termo invasão e preferem o uso do termo ocupação, já que, segundo esses movimentos, só se invade o que não é seu e se ocupa o que é seu. No entanto, o termo invasão, durante muito tempo foi usado na cidade e salvador, como sinônimo de favela, se referindo às chamadas ocupações precárias de todo tipo. Por enquanto, permaneceremos com o termo invasão e ao longo do texto, acompanhando o a própria evolução histórica do termo, problematizaremos também suas transformações.

mercantil Ibérico. Relações de poder bem distintas, situações bem diferentes, portanto, que devem ser colocadas em seu devido lugar. Na verdade, o tipo de sociedade que se engendra com as invasões portuguesas em Salvador (e em todo Brasil) é que definirá e condicionará a necessidade das invasões populares nos séculos que se seguem.

Assim, a chegada e instalação dos portugueses marca o processo de criação da cidade de Salvador, mas não é o início da ocupação espacial e social deste território. Esta terra, toda ela, que compreende o atual território da cidade de Salvador e mesmo de sua Região Metropolitana e todo o litoral da Bahia já estava habitada pelo povo Tupinambá. Se a construção dessa cidade se deu, por um lado, através de um contato amistoso dos europeus com os Tupinambás, proporcionando uma imensa miscigenação entre estes povos, por outro lado esse contato também se efetivou através da escravização, violências de toda sorte como estupros, assassinatos, guerras, expulsão e uma das maiores tentativas de extermínio que a história humana já presenciou, não só sobre o povo Tupinambá, mas sobre todas as nações “indígenas” que habitavam e habitam este território. Vale a longa citação:

O índio do litoral baiano recebeu o europeu sem hostilidade. Até o ajudou, indicando-lhe fontes de água potável, raízes e frutas comestíveis. Colaborou na construção de tapumes de barro e casa de taipa da primitiva cidade do Salvador. Foi o grande canoeiro e remeiro para todos engenhos do recôncavo. Era capaz de remar do Iguape ao porto da cidade do Salvador, transportando caixas de açúcar, esforço físico que levou milhares deles à morte. Pode-se acrescentar que diversos fundadores das famílias do recôncavo tiveram mulheres índias e descendentes mestiços. Com o passar dos tempos, e na medida dos conflitos e guerras contra os índios, a parceria inicial foi substituída pela hostilidade do europeu contra o índio e do índio contra o europeu.

O colono europeu queria o índio para o trabalho escravo, que ele desconhecia. Utilizou-o como escravo e cativo. Castigou-o com penalidades físicas. Quando os conflitos se estabeleceram e se ampliaram, a política da Coroa, exercida pelos governadores Duarte da Costa e Mem de Sá, foi a do extermínio, varredura acionada do litoral ao sertão e que alcançou os Kariri nos séculos XVII e XVIII. (TAVARES, 2001, p.25)

Assim, analisando obra clássica de Kátia Mattoso38 (1978) pode-se verificar que essa invasão do território Tupinambá por parte dos Europeus e que leva à fundação da cidade de Salvador pode ser dividida em três etapas. Invasão que não se dará sem a resistência, até as últimas consequências, por parte dos povos nativos. A primeira fase vai de 1500 a 1534 e está marcada pela “ausência de

qualquer atitude que levasse ao estabelecimento real do domínio português no Brasil” (MATTOSO, 1978, p. 88). Conforme analisa Florestan Fernandes (2009)39 este primeiro contato submetia os europeus (franceses e portugueses), que pela primeira vez aportavam no território Tupinambá, ao modo de vida dos povos nativos. Personagem mítico desse período é o português Diogo Álvares Correa, o Caramuru, que, a partir da boa relação que ele construíra com os tupinambás, gera os primeiros mestiços de índios e portugueses e inicia a primeira ocupação do território por um estrangeiro a partir do mar onde atualmente se encontra a praia da Barra, em Salvador, estendendo-se a uma parte mais alta que compreende atualmente os bairros da Graça e Vitória. Neste lugar, Diogo Álvares vivera por mais de 20 anos como mais um Tupinambá.

A segunda etapa, que se inicia em 1534, com a criação do sistema de ocupações na forma das Capitanias Hereditárias, altera sensivelmente esta relação com os verdadeiros “donos da terra”. O objetivo dos europeus agora é outro conforme demonstra Florestan Fernandes (2009, p. 34 - 35):

Passamos então ao período de tensões encobertas para área do convívio social com os índios. Os alvos dos brancos só poderiam ser alcançados e satisfeitos pela expropriação territorial, pela escravidão e pela destribalização [...] O anseio de “submeter” o indígena passou a ser o elemento central da ideologia dominante no mundo colonial lusitano.[...] “submeter” os indígenas equivalia a reduzi-los ao mais completo e abjeto estado de sujeição. Tomar-lhes as terras, fossem “aliados” ou “inimigos”; convertê-los à escravidão, para dispor ad libtum de sua pessoas, de suas coisas e de suas mulheres; trata-los literalmente como seres sub-humanos e negociá-los - eis o que se entendia como uma solução razoável e construtiva das tensões com os diferentes povos aborígines.

Assim, iniciando esta nova etapa da invasão, o donatário Francisco Pereira Coutinho, recebe o território que hoje corresponde à Baía de Todos os Santos40, incluindo todo o território em que habitavam os Tupinambás e Diogo Álvares. Logo foi construída uma fortaleza na região de Santo Antônio da Barra e na parte mais alta da cidade construiu uma vila com casas para cem moradores. Assim estava construída, como primeira tentativa de povoamento estrangeiro do território Tupinambá, a Vila do Pereira, depois denominada Vila Velha, a primeira vila, antes da cidade do Salvador (MATTOSO, 1978; TAVARES, 2001). Segundo aponta

39 A edição original da obre é de 1975.

40 Os limites prováveis se estendiam da margem direita do Rio São Francisco, no norte, até a ponta

Tavares, ainda no ano de 1545, resistindo ao processo de domínio português, os Tupinambás destroem esta primeira vila expulsando Francisco Pereira Coutinho, que foge para o sul. Ao tentar retornar o português é capturado e morto pelos indígenas.

Apesar do fracasso da empreitada de Francisco Pereira Coutinho, esta segunda etapa marca a definitiva usurpação deste território por parte dos portugueses. Todo território é declarado terra da coroa portuguesa que passa a permitir a ocupação das terras, através do sistema das Capitanias, mediante a concessão de sesmarias.

A partir de 1549, inicia-se a terceira e definitiva fase dessa invasão com a construção de Salvador, cidade fortaleza que serviria ao combate de outros navios europeus que rondavam a costa da terra que os portugueses se diziam donos, mas principalmente, ponto estratégico para a guerra que se iniciaria com o verdadeiro dono da terra.

A chegada de Tomé de Souza demarca o início de implementação das ordens da coroa a respeito da construção da fortaleza. Segundo relata Tavares (2001), Lisboa tinha conhecimento de que existiam cerca de seis mil guerreiros Tupinambás habitando a região, ocupando seis léguas para a costa norte, cinco léguas em direção ao “sertão” e mais três povoados. A implantação do Governo Geral Português por Tomé de Souza deveria iniciar suas ações castigando duramente os que destruíram a Vila do Pereira, incentivando a hostilidade entre as diversas tribos, com o objetivo de enfraquecê-las e, consequentemente, dominá-las, usando para isso também o recurso da catequese. Para esse fim o “governador e os seus imediatos cuidariam de construir ‘hua cidade fortaleza’ logo que desembarcassem” (TAVARES, 2001, p.103).

Assim, com tais objetivos é fundada a cidade de Salvador. Este processo marca a completa usurpação deste território pela coroa portuguesa. O documento da coroa determinava que a cidade fortaleza fosse construída mais pra dentro da baía, excluindo a possibilidade de se construir a cidade nas mediações das terras ocupadas pelos Tupinambás com os quais convivia Diogo Álvares, bem como a região da Vila Velha do Pereira. A região escolhida foi, portanto, a área correspondente atualmente à região da Conceição da Praia (cuja área de terra era

muito menor que a atual) e, na parte de cima, a área que corresponde atualmente à Praça Municipal e Praça Castro Alves, sendo logo depois inserida a região do Terreiro de Jesus. Conforme apresenta Mattoso (1978, p. 94):

O ponto escolhido foi uma “área de terreno irregular de perto de um quilômetro de comprimento por mais ou menos 350 metros em uma linha direta no ponto mais largo.” Esta área ficava mais pra dentro da baía, para o norte e fora escolhida por apresentar uma morfologia que estabelecia defesas naturais: “a subida pela montanha íngreme era difícil e penosa, mas a coroa da colina era quase plana e suas vertentes da banda da terra davam par ao vale do rio das Tripas, que a cercava e a defendia, ora mais caudaloso, ora menos profundo, ora fazendo charcos e lamaçais... Diante da ribanceira havia um ‘porto acomodado’ em que o mar era mais limpo com a vantagem de ‘uma grande fonte à borda d’água que servia para a aguada dos navios.”41

Com a ajuda dos indígenas que viviam com Diogo Álvares, num espaço bem curto de tempo a cidade foi erguida, entre abril e junho de 1549, com construções ainda precárias, feitas de taipa, madeira, palha. Como era uma fortaleza, toda a cidade fora murada. A cidade alta possuía duas grandes portas levadiças, com as de um castelo. Uma, ao sul, na região que liga atualmente a praça Castro Alves ao mosteiro de São Bento e a outra, ao norte, traça o limite da cidade fortaleza na fronteira entre as atuais praça Municipal e o Terreiro de Jesus. Logo esta porta do norte é estendida até os limites do pé da atual ladeira do Pelourinho com o crescimento da cidade para o resto da colina ao norte. Ainda em 1552 as duas primeiras zonas de ocupação estrangeira do território são erigidos pela coroa portuguesa à condição de freguesias: a Freguesia da Sé, a cidade fortaleza, e a Freguesia de N.S. da Vitória, a vila velha, apenas protegida pela floresta (MATTOSO, 1978).

Num espaço não muito longo, depois de travadas guerras sangrentas com os Tupinambás, os muros da cidade cederiam ao seu crescimento e ocupação de toda área no entorno. Essas guerras que consolidam a usurpação do território se iniciam com o massacre dos Tupinambás que viviam no entorno da cidade fortaleza42 já no governo de Duarte da Costa.

41 O texto citado por Kátia Mattoso é: CARNEIRO, Edison. A cidade de Salvador. Rio de Janeiro. Org.

Simões. 1954.

42 Por todo caminho que levava a cidade fortaleza até a Vila Velha (atuais Avenida Sete de Setembro

e Carlos Gomes), os tupinambás estavam espalhados; também na região além do rio das tripas, em todo território que hoje ocupa a nossa Salvador.

Os Tupinambás reagiram e em maio de 1555 fizeram um levante, “ ocasião em que existiu o perigo de desaparecimento de todos e tudo que fosse europeu nas léguas em torno da cidade do Salvador” (TAVARES, 2001, p. 109). Quando conseguiram reagir, os portugueses, liderados por Duarte da Costa trataram de imprimir uma guerra com a intenção de dizimar tudo que se referisse ao povo Tupinambá, do litoral até o sertão. E tendo Salvador como cidade fortaleza desta grande guerra, engendrou-se contra os Tupinambás, um dos maiores genocídios testemunhados na história dos povos indígenas na América.

Além da guerra direta e sangrenta contra os portugueses, os Tupinambás fizeram uso, largamente, de outra formas de resistência, como as fugas para o interior, adentrando a mata e também mais pra oeste, em direção ao sertão, ou simplesmente, a “integração”, através dos aldeamentos43, via catequese, por exemplo, com os costumes portugueses (FERNANDES,2009). Assim como a guerra, a alternativa da integração (embora não se possa falar de uma escolha neste caso por parte dos indígenas) contribuiu para ceifar diversas práticas culturais desses povos, embora, de certa forma, tenha poupado vidas, que deixaram descendentes. Assim, a despeito desse genocídio, parte significativa desses povos sobreviveu, não só na cultura grandiosa que também lhes é negada, mas em corpos vivos que voltam a falar nos tempos de agora. No passado, logo se juntaram a eles a incontável massa de escravizados africanos que, com o passar da história, iriam formar o exército da pobreza que compõe a paisagem de nossos centros urbanos e das zonas rurais brasileiras.

O governo de Mem de Sá dá continuidade ao massacre dos povos indígenas e acrescenta-lhe esse novo ingrediente. É nesse período que são trazidos os primeiros africanos escravizados, vindos do golfo da Guiné. Mas é somente a partir do século XVII que a escravização africana se tornará a principal forma de reprodução social e econômica da cidade de Salvador. Virão para a Bahia, majoritariamente escravizados de Angola, da Costa da Mina e do Benin. Importante salientar que o tráfico e comercialização de africanos no território brasileiro foi um dos negócios mais rentáveis para Europa durante todo período colonial do Brasil e mesmo depois dele. A economia baiana assentada na monocultura da cana fez

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