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1.9 Internações e re-internações psiquiátricas

1.9.3 Preditores das readmissões psiquiátricas

As readmissões psiquiátricas são consequência de uma complexa combinação de fatores que vão além da severidade da doença psiquiátrica e incluem a disponibilidade de serviços psiquiátricos, qualidade e continuidade do tratamento, suporte social e familiar, fatores socioeconômicos, funcionalidade da rede de saúde mental e a caracterização das internações psiquiátricas anteriores (SILVA; BASSANI; PALAZZO, 2009).

O fenômeno da desinstitucionalização também influencia o processo das readmissões psiquiátricas pela mudança nas indicações de internações e as modificações da rede de saúde mental. As dificuldades no acesso à rede de tratamento podem determinar dificuldades na manutenção da estabilidade clínica fomentando uma necessidade maior de internação psiquiátrica (LAMB; BACHRACH, 2001). No Brasil, ainda não está clara a eficiência e eficácia dos CAPS bem como sua capacidade de capilaridade, sobretudo em cidades de maior porte. Desse modo, se houver dificuldade na acessibilidade ao tratamento psiquiátrico nestes serviços, o número de readmissões poderá crescer (BEZERRA; DIMENSTEIN, 2011).

Maiores taxas de readmissões psiquiátricas estão associadas com transtornos psicóticos (esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo), transtornos de humor (depressão e transtorno afetivo bipolar) e transtornos relacionados ao consumo de substâncias psicoativas (HAYWOOD et al., 1995; RABINOWITZ et al., 1995; MCCARTY et al., 2000; VASUDEVA; NARENDRA KUMAR; SEKHAR, 2009). Os pacientes que apresentam um padrão severo e persistente de sintomas mantendo sintomatologia residual mesmo com o tratamento têm um padrão de readmissão mais proeminente (LYONS et al., 1997). Os prejuízos gradativos ocasionados por doenças crônicas com maior severidade sintomática contribuem para a pouca adaptação social dos pacientes gerando uma proporção maior de readmissões (LEDOUX; MINNER, 2006).

Alguns fatores sócio-demográficos e econômicos estão diretamente ligados a um risco maior de readmissão psiquiátrica. Situações sociais desfavoráveis estabelecem riscos no processo saúde-doença e em psiquiatria esta associação é bem significativa pelas dificuldades inerentes da doença mental e pelas limitações impostas por algumas enfermidades ao doente (ROICK et al., 2004).

As readmissões psiquiátricas podem se relacionar com as características das internações anteriores. A existência de um grande número de admissões psiquiátricas prévias contribui diretamente para um risco aumentado de readmissões (GEROLAMO, 2004). Fatores intrínsecos das internações psiquiátricas anteriores influenciam futuras admissões, portanto a modalidade e o local de internação (HEGGESTAD, 2001), o tempo de permanência (HERZ; ENDICOTT; SPITZER, 1977; APPLEBY et al., 1993) e a qualidade do tratamento ofertado (LANG; ROHRER; RIOUX, 2009) poderão determinar riscos para futuras internações psiquiátricas.

2 JUSTIFICATIVA DO PRESENTE ESTUDO

A rede de saúde mental da DRS XIII e mais especificamente da cidade de Ribeirão Preto passou por muitas alterações estruturais e de recursos humanos. As mudanças ocorridas no funcionamento dessa rede foram refletidas na dinâmica das internações e reinternações psiquiátricas.

No início da década de 1990, a região disponibilizava mais de 600 leitos para internações psiquiátricas de casos agudos. Seguindo as diretrizes do Ministério da Saúde (MS), ocorreu redução no número disponível de leitos psiquiátricos. Apesar disso, a taxa de ocupação oscilava entre 60 e 70 % e a rede de saúde mental da região não tinha problemas relacionados à falta de vagas para internação. Em meados de 2003, a DRS XIII passou a apresentar dificuldades de funcionamento, pois a taxa de ocupação aumentou com períodos em que não havia disponibilidade de leitos para internação. Esse movimento deixou a rede conturbada, pois o fluxo das internações era interrompido pela falta de vagas hospitalares.

Conforme demonstrado em estudo anterior (BARROS, 2008; BARROS et al., 2010) as dificuldades da rede extra-hospitalar de saúde mental na DRS XIII determinaram aumentos no número das internações e reinternações psiquiátricas. Apesar desta rede de saúde mental não ser recente, poucos estudos foram realizados no intuito de caracterizá-la ou evidenciar as variáveis que contribuem com as internações e reinternações psiquiátricas.

Como a dinâmica das admissões psiquiátricas reflete diretamente nos 26 municípios pertencentes à DRS XIII, a avaliação dos seus componentes possibilitará mudanças na organização da rede de saúde mental dos municípios envolvidos, bem

como um melhor entendimento dos fatores relacionados às readmissões hospitalares os quais não são bem conhecidos em termos locais e nacionais.

Desse modo, decidiu-se realizar um estudo observacional e retrospectivo com componentes descritivos e analíticos para analisar os fatores associados às internações e reinternações psiquiátricas ocorridas na DRS XIII num período de 10 anos.

3 OBJETIVOS

O presente estudo teve como objetivo descrever as características demográficas e clínicas de todos os pacientes psiquiátricos que tiveram sua primeira admissão hospitalar na cidade de Ribeirão Preto, SP, entre janeiro de 2000 a dezembro de 2007.

Especificamente, pretendeu-se:

a) Verificar a ocorrência de mudanças no perfil demográfico e/ou clínico dos pacientes em primeira admissão psiquiátrica, durante o período em estudo;

b) Caracterizar a ocorrência de reinternações psiquiátricas, de acordo com algumas variáveis sócio-demográficas e clínicas e características da internação índice e compará-las com as internações únicas;

c) Verificar a ocorrência de fatores preditores para readmissão psiquiátrica.

4 HIPÓTESES

a) As admissões psiquiátricas em uma macrorregião no decorrer dos anos estarão relacionadas com variáveis clínicas, demográficas e com as modalidades de tratamento hospitalar ofertados na rede de saúde mental;

b) Características sócio-demográficas desfavoráveis (inatividade profissional e ausência de vínculos) serão fatores riscos para reinternações psiquiátricas;

c) Diagnósticos psiquiátricos com padrão de recorrência de sintomas e que levam a prejuízos funcionais aos pacientes serão determinantes para reinternações psiquiátricas;

d) Variáveis clínicas (diagnóstico, tempo de permanência hospitalar, serviço de internação, número de internações e tempo entre as internações psiquiátricas) e sócio-demográficas (indicadores econômicos da região, procedência, faixa etária, ocupação, estado civil e sexo) poderão ser preditores para precocidade de reinternações psiquiátricas.

5 MATERIAL E MÉTODOS