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2.2 FUNÇÃO MANUAL

2.2.1 Tipos de preensão manual

A maioria das ações durante as atividades de vida diária estão diretamente relacionadas com preensão de objetos (BOURDIN et al., 1999). A preensão manual é realizada quando um objeto é segurado e pressionado sob a mão com o objetivo de manipular, transportar ou sentir. Durante a preensão, o objeto pode estar fixo ou móvel; pode ser pressionado parcial ou totalmente sob a mão; pode ser segurado por meio de pinça entre os dedos ou pressionado (NAPIER, 1983; DEMPSEY & AYOUB, 1996; BARR & BEAR- LEHMAN, 2001; MAGEE, 2005; SILVA, 2007).

A preensão manual pode ser dividida em duas etapas: 1) movimento livre: refere-se ao contato com o objeto e é controlada pela informação visual; e 2) interação dedo-objeto: fase posterior ao contato com o objeto, quando sujeito aplica a força funcional efetiva e é controlada pela integração da informação visual e sensorial relacionada ao objeto em contato (BOURDIN et al., 1999). Sob o ponto de vista cinesiológico, o movimento de preensão pode ser subdividido em: 1) abertura da mão, a qual requer ação simultânea dos músculos intrínsecos da mão e dos músculos extensores longos; 2) fechamento dos dedos e do polegar para segurar o objeto e adaptar-se à sua forma, o que envolve os músculos flexores intrínsecos e extrínsecos e os músculos opositores; 3) aplicação da força, que varia dependendo do peso, das características da superfície, da fragilidade e do uso do objeto, envolvendo novamente os músculos flexores intrínsecos e extrínsecos e os músculos opositores e 4) liberação, na qual a mão se abre para liberar o objeto e que envolve os mesmos músculos utilizados para a abertura da mão (MAGEE, 2005).

Os padrões de preensão variam em função da multiplicidade de movimentos existentes, a fim de adaptar-se à localização, tamanho e formato do objeto que será pego e à atividade pretendida (NAPIER, 1983; SHUMWAY-COOK & WOOLLACOT, 2003). Mesmo

considerando todos os possíveis movimentos da mão, Napier constatou que existem dois padrões de preensão principais, usados de maneira muito diferente nas capacidades de manipulação e que são determinados pela posição do polegar em relação aos dedos: preensão de força e de precisão (NAPIER, 1983; SHUMWAY-COOK & WOOLLACOT, 2003; HAMILL & KNUTZEN, 2008).

A preensão de força é gerada quando o polegar permanece no p lano da mão numa posição de adução, punho em desvio ulnar, discretamente estendido e dedos flexionados a fim de envolver e transmitir a força para o objeto ou em direção à palma da mão (HAMILL & KNUTZEN, 2008). De acordo com Magee (2005) o polegar pode ou não estar envolvido. Para conferir maior estabilidade ao movimento existe uma atuação conjunta da face radial e ulnar da mão, o suporte do objeto e controle estático do movimento, por sua vez, é proporcionado pela ação dos dedos ulnares. Mesmo na preensão de força pode ser necessário um grau de precisão, por exemplo, no direcionamento do objeto. Neste tipo de preensão, os músculos extrínsecos da mão são mais importantes. Para maior produção de força, a mão é fechada com o polegar envolvendo os demais dedos flexionados. Com essa preensão, a precisão é mínima ou inexistente (NAPIER, 1983; HAMILL & KNUTZEN, 2008). A preensão de força está muito envolvida em certas habilidades esportivas como arremesso de dardo e tacada de golfe ou atividades cotidianas de pegar objetos como pode ser observado na Figura 4 (NAPIER, 1983; SHUMWAY-COOK & WOOLLACOT, 2003; HAMILL & KNUTZEN, 2008). Os tipos de preensão de força estão apresentados no Quadro 3.

Tipo de preensão de força Descrição Ilustração Preensão em gancho

Todos ou apenas o segundo e o terceiro dedo são utilizados como um gancho controlado pelos flexo res e extensores do antebraço. Pode envolver apenas as articulações interfalângicas ou as articulações interfalângicas e metacarpofalângicas (o polegar não é envolvido). Ex.: segurar alça de u ma mala .

Preensão cilíndrica

É u m tipo de preensão palmar (power grip) na qual o polegar é utilizado e toda a mão envolve o objeto Ex.: segurar uma garrafa .

Preensão esférica

É u m tipo de preensão palmar, na qual a oposição é maior e a mão envolve um objeto esférico. Ex.: segurar uma bola de softball.

Quadro 3 - Descrição dos tipos preensão de força (power grip).

Fonte: Adaptado de NAPIER, 1983; SHUMWAY-COOK & WOOLLACOT, 2003; MA GEE, 2005. Fonte das

figuras: LIGHT, CHAPPELL & KYBERD, 2002, p. 777.

Figura 4 – Atividades manuais que envolvem diferentes tipos de preensão de força. Fonte: MOBERG, 1958, p.457.

A preensão de precisão, por sua vez, é gerada quando o polegar é mantido numa posição mais perpendicular à mão, sendo mobilizado em oposição aos demais dedos (HAMILL & KNUTZEN, 2008). É uma atividade na qual apenas um ou dois dedos podem estar envolvidos, limitada principalmente às articulações metacarpofalângicas (com pouca flexão das articulações interfalangeanas proximal e distal) e envolve principalme nte a face radial da mão, a palma pode ou não estar envolvida. Neste tipo de preensão, os músculos intrínsecos são principalmente utilizados para a “regulagem fina” dos movimentos (NAPIER, 1983; MAGEE, 2005; HAMILL & KNUTZEN, 2008). A preensão de precisão permite que o objeto movimente-se em relação à mão/dentro dela, é empregada quando a delicadeza de manuseio, a precisão e a exatidão de instrumentação constituem fatores essenciais do movimento como nas atividades ilustradas na Figura 5. Os três tipos de preensão de precisão são apresentados no Quadro 4 (NAPIER, 1983; SHUMWAY-COOK & WOOLLACOT, 2003; HAMILL & KNUTZEN, 2008).

Tipo de preensão de precisão Descrição Ilustração

Preensão de três pontas ou de três dedos (tripod pinch)

A pinça é do tipo polpa digital co m polpa digital e a oposição entre o polegar e os dedos é necessária. Pode ser denominada preensão de precisão com força. Ex.: segurar u m lápis.

Pinça lateral, preensão lateral ou oposição

subtérmino-lateral (key pinch)

O polegar e a face lateral o dedo indicador entram em contato. A oposição não é necessária. Ex.: segurar uma chave ou um cartão.

Pinça de ponta de dedos, preensão de ponta de dedo

com ponta de dedo ou oposição terminal

(tip pinch)

A ponta do polegar é levada em oposição à ponta do outro dedo. Esta pinça é utilizada em atividades que exigem coordenação motora fina em vez de força.

Quadro 4 - Descrição dos tipos de preensão de precisão.

Fonte: Adaptado de NAPIER, 1983; SHUMWAY-COOK & WOOLLACOT, 2003; MA GEE, 2005. Fonte das

Figura 5 - Atividades manuais que envolvem diferentes tipos de preensão de precisão. Fonte: MOBERG, 1958, p. 455.