• Nenhum resultado encontrado

PARTE 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. OS DESAFIOS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM DE

1.2 PREOCUPAÇÕES COM O ENSINO E APRENDIZADO DE FÍSICA

Parte-se do pressuposto de que a maneira como se dá à formação do professor de diferentes áreas implica em como será sua atuação profissional. Com vistas ao Ensino de Física Moderna, Colombo Jr. (2014) destaca que um dos principais motivos da não inserção de FM nas escolas pode estar vinculado ao fato de os professores não se sentirem preparados para lidar com os conceitos tão amplos inerentes ao assunto. Ou ainda por terem tido pouco contato com esse campo durante sua formação inicial ou continuada.

De modo semelhante, Souza e Lawall (2011) afirmam que professores Licenciados em Física alegam que o que estudaram durante seus cursos de formação inicial não foi suficiente para abordar diferentes tópicos de FM no EM. Nilsson (2008) conclui que a falta desses conteúdos leva à insegurança, desconforto e frustração por parte dos docentes. E com isso, acabam não abordando esses temas em suas aulas. Além disso, os professores são formados sob diferentes concepções de ensino. Em seguida, apresentamos brevemente os tipos de concepções de ensino segundo Pinho Alves e Pinheiro (2010):

1) A concepção de ensino tradicional está relacionada à prática pedagógica de educação formal. Os autores entendem que não é apenas a aula expositiva, mas sim um ensino dogmático, ou seja, tudo o que é ensinado tem um sentido de verdade final, nada pode ou deve ser questionado. O saber estabelecido como verdadeiro deve ser assimilado para dar continuidade ao progresso social prescrito pela sociedade, de modo que é conservador, procurando conduzir os aprendizes na preservação dos valores e princípios sociais já consolidados. Esse tipo de ensino valoriza o saber pelo saber, não importando justificar seu uso. Basta o aprendiz ter noção de que aquilo que é ensinado é importante. Conexões desse conhecimento com sua vida cotidiana não se fazem necessárias. O professor assume a função de detentor do saber e sua atuação pedagógica é de mero transmissor do conhecimento, ao passo que o aluno é mero receptor deste. São enfatizadas as disciplinas

intelectuais, para que se obtenha a atenção, a concentração, o silêncio e o esforço necessários ao bom aprendizado. A escola é o local onde se relaciona e o ambiente deve ser rígido para o aluno não se dispersar. É admitido que todos os alunos estão no mesmo patamar de aprendizagem e, portanto, existe igualdade de tratamento, em que todos deverão seguir o mesmo ritmo de trabalho, estudar os mesmos livros e adquirir os mesmos conhecimentos.

2) No tecnicismo, o ensino se reorganiza no sentido de tornar-se objetivo e operacional. Aos professores, é designada a tarefa de operacionalização dos objetivos, como instrumento para medir comportamentos observáveis, válidos porque mensuráveis e passiveis de controle. Dissemina-se o uso da Tecnologia da Educação, a instrução programada, proliferam-se os testes de múltipla escolha e diversos recursos audiovisuais.

Nesse contexto, o professor transforma-se em organizador e planejador do processo de ensino-aprendizagem, planejando as tarefas, os testes, etc. Os alunos são deslocados de sua posição de receptores para uma posição mais ativa, seja na leitura do material instrucional planejado pelo professor, seja na realização de atividades de laboratório ou resolução de exercícios. O importante é que cada aluno siga seu ritmo próprio de aprendizagem, progredindo ao longo do curso com velocidade compatível com suas habilidades e disponibilidades de tempo. Entretanto, é crítico que ele demonstre domínio quase que completo do que foi estudado.

3) Na visão crítica de educação, o caráter do processo educativo é essencialmente reflexivo, implica o constante ato de reconhecer a realidade. Fundamenta-se na criatividade, estimula a reflexão e ação dos alunos sobre a realidade.

A relação professor/aluno é democrática e dialógica. Ao professor, cabe o exercício da autoridade competente. A teoria dialógica da ação afirma a autoridade e a liberdade. Não há liberdade sem autoridade. O ensino parte das percepções e experiências do aluno, considerando-o como sujeito situado num determinado contexto social. Nesse sentido, a educação deve buscar ampliar a capacidade do estudante, considerando-o como sujeito situado num determinado contexto social. Além disso, objetiva, também, desenvolver a capacidade do aluno de fazer perguntas relevantes em qualquer situação e desenvolver habilidades intelectuais, como a observação, análise, avaliação, compreensão e generalização. Para tanto, estimula a curiosidade e a atitude investigadora do aluno.

O conteúdo parte da situação presente, concreta. Valoriza-se o ensino competente e crítico de conteúdos como meio para instrumentalizar os alunos para uma prática social transformadora.

4) A concepção construtivista é mais contemporânea, sendo que o construtivismo educacional, de acordo com Ogborn (1997), considera o envolvimento ativo do aluno em situações de ensino e aprendizagem, a importância do respeito pelo indivíduo e por suas ideias, a compreensão de que a Ciência consiste de ideias criadas por seres humanos; o entendimento de que o planejamento do ensino deveria priorizar a construção de significado pelos alunos, capitalizando e usando o que eles sabem, e tratando das dificuldades que surgem decorrentes da maneira como eles imaginam que as coisas sejam.

No entanto, existem vertentes do construtivismo educacional constituído por duas correntes básicas: o construtivismo psicológico e o sociológico. O primeiro deles é historicamente originado nos trabalhos de Piaget, para quem a aprendizagem é um processo de construção pessoal e intelectual, resultante da ação do aprendiz no mundo. Nessa corrente, tem-se também o construtivismo social, iniciado por Vygotsky, para quem a linguagem tem especial importância nas construções cognitivas dos indivíduos. O construtivismo sociológico, por outro lado, tem seu início marcado no pensamento de Durkheim, caracterizando-se por desconsiderar os mecanismos psicológicos individuais e pela tese de que o conhecimento cientifico é social e contextualmente construído.

Preocupa-nos o ensino e o aprendizado de Física Moderna na formação dos licenciandos em Física, pois percebemos que há a necessidade de uma formação mais reflexiva para que esses futuros docentes possam pensar na sua prática e ter iniciativas de inserção da FM no EM dada a importância do entendimento de princípios básicos do comportamento da matéria e de sua estrutura atômica e molecular, de como esses conceitos se desenvolveram historicamente, da construção de modelos atômicos que auxiliam no entendimento da mecânica quântica. Dessa forma, é importante observar o processo de formação dos docentes em Física, a fim de buscar minimizar ou solucionar esses problemas. Como tem sido a formação desses professores nos cursos de licenciatura? Será que tem atendido essa perspectiva? Tendo entendimento da complexidade da natureza quântica e da necessidade de melhorar a formação de docentes de Física, questionamos também que fatores poderiam contribuir para o aprendizado de Física Moderna.