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Capítulo 3 – Farmácia Hospitalar: Relatório de Estágio.

4. Farmacotecnia

4.1 Preparação de Medicamentos Citotóxicos e Biológicos

A quimioterapia desempenha um papel cada vez mais importante no tratamento de doenças neoplásicas, verificando-se uma necessidade crescente de preparação de medicamentos citotóxicos a nível hospitalar. Para a sua preparação, os SF do CHCB dispõem de uma unidade centralizada, com salas limpas, onde é proporcionada a máxima segurança ao pessoal que manipula este tipo de medicamentos. A centralização permite diminuir os riscos de contaminação para os profissionais de saúde; uma melhoria da prestação de serviços, uma vez que a preparação é realizada por profissionais qualificados; uma redução do tempo gasto pelo pessoal de enfermagem em preparações galénicas; e uma maior racionalização dos recursos materiais.

Esta unidade centralizada de preparação de citotóxicos é constituída por um sistema modular de salas limpas, existindo um controlo e registo diário da temperatura e pressão tanto da pré- sala como da sala de preparação de citotóxicos, sendo que nesta última a pressão deve ser negativa.

Tabela 15 - Temperatura e pressão do sistema modular de preparação de citotóxicos

Temperatura

< 25°C Pressão da Pré-Sala

> 1 mmH2O

Pressão da Sala de Preparação < 0 mmH2O

A primeira sala funciona como uma antecâmara, onde o operador efetua a lavagem das mãos e se equipa com o material de proteção necessário como a bata impermeável, luvas, touca, máscara bico de pato e proteção dos sapatos (99). Na segunda sala existe uma câmara de fluxo de ar laminar vertical (CFALV) - classe II tipo B, que é uma câmara de segurança biológica adequada para a preparação de citotóxicos, que garante a proteção do operador, do medicamento e do meio ambiente (109). Para tal esta câmara dispõe de filtros HEPA que possibilitam a obtenção de uma zona limpa na bancada de trabalho, e a expulsão de ar livre de partículas perigosas para o exterior. A CFALV é ligada pelo menos 30 minutos antes de se iniciar a manipulação, para que o fluxo de ar estabilize e sejam retiradas todas as partículas em suspensão, e é desligada 15 a 20 minutos depois de concluído o trabalho (99).

O operador desinfeta a câmara com compressas esterilizadas humedecidas com álcool a 70%, antes e após qualquer preparação de citotóxicos, sendo que todo o material que entra na câmara é também pulverizado com álcool a 70%. São utilizadas técnicas assépticas que mantenham a esterilidade das preparações farmacêuticas e que evitem derrames e/ou a formação de aerossóis. Para aumentar os níveis de segurança são ainda usados spikes e sistemas de conexão luer-lock. A CFALV contém também uma janela de vidro frontal posicionada de forma a proteger convenientemente operador; caso esta janela esteja demasiado aberta surge de imediato um alarme sonoro, que avisa o operador para a necessidade de a colocar numa posição mais baixa.

Os citotóxicos excedentes e todo o material usado na sua manipulação deve ser descartado para contentores rígidos (biobox), enquanto que as luvas e restante equipamento devem ser colocados em sacos de lixo apropriados (de cor vermelha e com rótulo específico) para posterior incineração. Existem também normas escritas sobre as medidas a tomar em caso de acidente ou derrame do produto citotóxico, e kits de recolha de derrames a usar em caso de necessidade.

Para além de ter a seu cargo a preparação de citotóxicos, o farmacêutico tem ainda a função de validar a prescrição médica, verificando se a terapêutica é adequada à patologia e se as doses são as corretas. Para isso deverão constar na prescrição, para além da identificação do doente, informações tais como o peso, altura e diagnóstico atribuído ao doente. Na sua maioria a prescrição é feita informaticamente, tendo sempre por base protocolos previamente estabelecidos e aprovados, com efetividade demonstrada em guidelines internacionais. Após validação é gerado, para cada doente, um Formulário de Citotóxicos que contém a sua identificação, idade, peso, altura, superfície corporal, protocolo prescrito e diagnóstico. Neste formulário está indicada toda a pré-medicação e/ou terapia citotóxica, assim como o ciclo e dia correspondente de tratamento. Existe também informação sobre a via de administração e débito de perfusão. Simultaneamente é impresso um rótulo para cada preparação que se destina a identificá-la e a evitar trocas de fármacos entre doentes. Este rótulo contém informação relevante para o operador uma vez que indica as doses e volumes

correspondentes de fármaco e de solvente a utilizar na preparação. A informação relativa aos fármacos e soluções de reconstituição e/ou diluição, a sua validade e lote, são também registadas informaticamente.

Para além de agentes citotóxicos são também preparados em CFALV medicamentos biológicos ou outros que façam parte dos protocolos seguidos pelo hospital. Após preparação e verificação de todas as conformidades exigidas (por exemplo a integridade das embalagens, ausência de partículas em suspensão, inexistência de precipitação, entre outros), os citotóxicos e medicamentos biológicos são enviados juntamente com a pré-medicação, em malas herméticas estanques, devidamente identificadas, de modo a evitar fugas em caso de derrame. Conjuntamente com as preparações farmacológicas segue um impresso assinado pelo farmacêutico, pelo auxiliar que leva a medicação e pelo enfermeiro que a recebe. Neste impresso consta o nome do doente, hora de confirmação da prescrição, hora de receção e serviço clínico em questão. A partir deste documento calcula-se diariamente a demora média de entrega das preparações de quimioterapia que não deve ser superior a 2 horas.

Quanto ao controlo de qualidade microbiológica, são enviadas mensalmente aos serviços de patologia clínica, amostras de soluções preparadas na CFALV, sendo importante referir que nunca são enviados citotóxicos para análise. Também trimestralmente é efetuado um controlo microbiológico das superfícies e do ar laminar da câmara.

Ao longo deste período de estágio tive a oportunidade de contactar com a maioria das atividades anteriormente descritas, participei nos controlos de stock de citotóxicos, na preparação da pré-medicação e preparei ainda uma solução injetável de cetuximab, de levofolinato dissódico e uma bomba perfusora de 5-fluouracilo, sempre sob supervisão. Assisti ainda a um vídeo informativo da B.Braun sobre as “Boas Práticas na Preparação e

Administração de Citostáticos”.