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5. TORNAR-SE PAIS – O EESMO COMO PROMOTOR DE UMA

5.2. Preparação do Regresso a Casa

O intervalo de tempo de internamento é, como já foi abordado, um período muito curto, pelo que a preparação da sua alta clínica tem início desde o seu internamento, no sentido em que todas as intervenções implementadas têm como objetivo tornar os pais autónomos e confiantes no desempenho do seu papel.

De modo a promover uma maior segurança no desempenho do papel parental, os casais foram sempre informados sobre os recursos existentes na comunidade, de modo a dar resposta às necessidades que estes pudessem percecionar no domicílio. Dentro destes recursos, foi dada especial relevância às Unidades de Saúde Familiar (USF), uma vez que estas integram, na sua maioria, projetos de acompanhamento ao casal e ao RN, não apenas centradas nas consultas de vigilância (tais como a avaliação do desenvolvimento infantil e a avaliação da recuperação da puérpera), mas também de promoção do bem- estar do casal. Assim, e uma vez que a realização do diagnóstico precoce do RN é realizada, por norma, nessas mesmas USF, os casais foram aconselhados a notificar a USF do seu local de residência sobre o nascimento do RN e data provável da alta. Devendo este diagnóstico ser realizado entre o terceiro e o sexto dia após o nascimento, o casal foi incentivado a agendar com o enfermeiro de família a marcação do teste de diagnóstico aquando da alta clínica do hospital. As informações sobre a consulta de revisão de puerpério foram também reforçadas, visto que esta deve ocorrer até à sexta semana pós- parto de modo a avaliar não apenas a recuperação física da mulher, mas

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também o seu estado emocional. Questões relacionadas com alterações do humor e do comportamento na puérpera foram, assim, abordadas, não só através de conversa com a mulher/casal, mas também da observação da mesma (NICE, 2014).

O nascimento de um filho pode representar um momento de crise, podendo levar ao desenvolvimento de alterações emocionais nos pais (Robertson et al., 2004). A necessidade de resolver tarefas desenvolvimentais que implicam uma adaptação biológica, intimamente ligada com as alterações hormonais devido à diminuição do nível de estrogénios e progesterona com aumento dos níveis de prolactina, psicológica, devido à integração do papel de mãe, e conjugal e/ou familiar, podem levar a um desequilíbrio e/ou desenvolvimento de novas competências (Canavarro, 2001). Rubin (1984, cit. in Carreira et al., 2011), refere ainda três fases fundamentais para a transição para a maternidade, devendo estas ocorrer até cerca de seis meses após o parto. Estas traduzir-se- iam na replicação, ou seja, na procura de elementos socialmente valorizados relativamente ao papel parental, muitas vezes através da procura de experiências pessoais no seu contexto de vida; na fantasia, ou seja, numa projeção da relação com o filho e, por último, na diferenciação, em que a mãe é capaz de se avaliar relativamente ao seu papel parental face ao modelo idealizado durante a fase de fantasia. Considerando todas estas exigências e fatores de risco, Lowdermilk e Perry (2008) relembram que as perturbações na saúde mental das puérperas têm implicações não apenas na sua qualidade de vida, mas também na do RN e de toda a sua família. Podendo algumas dessas situações interferir com a vinculação ao RN e com a sua própria segurança, a prestação de cuidados visou sempre esta componente emocional das mulheres, procurando diagnosticar a ocorrência de alterações emocionais como os Blues pós-parto (Lowdermilk et al., 2008).

O Blues pós-parto é considerado a alteração emocional mais comum, não sendo considerada uma perturbação psicopatológica, mas sim um desequilíbrio emocional (Medina-Sérdan, 2013). Figueiredo (2000), aponta como fatores de risco para o desenvolvimento deste desequilíbrio a idade; a paridade (com maior risco associado nas primíparas); a ocorrência de complicações

121 obstétricas; história psiquiátrica prévia; antecedentes familiares psiquiátricos; comportamentos sócio emocionais inadequados; a prematuridade e o baixo peso à nascença. Apesar de a sua etiologia ainda não ser totalmente conhecida, as já referidas alterações hormonais, associadas a fatores socioculturais e económicos, parecem ser fatores que apontam para uma maior predisposição a estes eventos (Medina-Sérdan, 2013). De modo a detetar precocemente situações de risco, foram avaliados os fatores de risco presentes em cada puérpera, de modo a identificar sinais ou sintomas que apontassem para este diagnóstico. Os casais foram ainda informados de que o Blues pós-parto se traduz em episódios benignos e de curta duração, podendo ocorrer por volta do terceiro ou quarto dia pós-parto e atingindo o seu pico no quinto dia de puerpério, prolongando-se no máximo até ao décimo dia. Apesar de considerarmos que um casal deve estar informado sobre sinais e sintomas de alarme que possam indicar perturbações emocionais na puérpera, verificou-se alguma dificuldade em distinguir o que é normal e quais são os comportamentos e atitudes esperados, especialmente quando falamos do humor dos pais (Fonseca-Machado et al., 2014). Assim, alguns dos sinais indicados para uma identificação precoce do Blues pós-parto foram uma maior labilidade emocional, podendo ocorrer episódios de choro, disforia e períodos de maior irritabilidade; insónias ou pesadelos; perda de apetite e pensamentos pessimistas sobre as suas capacidades enquanto mãe e prestadora de cuidados ao RN. A diminuição da libido, sensação de falta de energia, dificuldades de concentração e aumento ou diminuição de apetite foram também referenciados (Medina-Sérdan, 2013). As mulheres submetidas a cesarianas foram ainda informadas sobre a possibilidade de este síndrome poder ocorrer ligeiramente mais tarde. Como medidas preventivas, foram incentivadas atividades promotoras do bem-estar da mulher, e o suporte da família e amigos. Os casais foram ainda informados de que, caso identificassem esta situação após a alta e os sintomas aumentassem ou não desaparecessem até três semanas, deveriam contactar um profissional de saúde.

A realização do plano da parentalidade, incentivada desde o início da gravidez, foi novamente abordada durante o internamento no puerpério.

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Apesar do papel do pai ser cada vez mais ativo ao longo da gravidez, trabalho de parto e cuidados no pós-parto, estudos apontam ainda para um maior número de mudanças nas vidas das mães do que na dos pais, associados a maiores níveis de responsabilidade na prestação de cuidados aos filhos (Felgueiras et al., 2013). A visão social da maternidade, associada às próprias representações que as mulheres tendem a apresentar sobre o seu papel de principais cuidadoras parecem desencadear, por outro lado, uma limitação e afastamento dos companheiros durante a prestação desses mesmos cuidados (Johnston et al., 2006). As puérperas e os seus acompanhantes, companheiros ou pessoas significativas, foram ainda questionados sobre o planeamento da divisão de tarefas no domicílio após a alta, bem como dos recursos materiais, económicos e sociais de que dispunham para os ajudar nesta nova fase. Nos casos em que o plano de parentalidade já se encontrava elaborado, foram discutidos os aspetos definidos pelo casal e apresentadas algumas sugestões adequadas ao estilo de vida e recursos de cada família. Algumas das estratégias sugeridas e mais bem aceites pelos casais incluíam o congelamento de refeições a utilizar durante a semana e a inclusão de familiares em tarefas domésticas e na prestação de alguns cuidados aos filhos mais velhos, tais como ir buscar e levar a criança à escola e promover a realização de atividades lúdicas durante alguns períodos de tempo que a puérpera necessitava para gerir o seu autocuidado.

Para facilitar a memorização e compreensão das informações transmitidas, foi sempre fornecido aos casais um documento orientador da alta, elaborado pelo Serviço de Obstetrícia e aprovado pelo CHPV-VC, onde temas como a amamentação, autocuidado da puérpera, planeamento familiar e cuidados ao RN se encontram contemplados (Vianna et al., 2009).

Após a alta, todos os RN foram transportados do serviço na cadeira de transporte, sendo as suas características, modo de utilização e adequação ao RN avaliadas. Durante este último contacto, os ensinos sobre a prevenção de acidentes foram novamente abordados, de modo a verificar a existência de dúvidas, que entretanto tivessem surgido, sobre o transporte do RN no carro ou

123 em transportes públicos, sendo os pais incentivados a verificarem novamente o funcionamento dos airbags do carro.

Como pudemos refletir ao longo deste relatório, o EESMO assume um papel privilegiado no que toca ao acompanhamento e contacto com as famílias, iniciando-se este no planeamento da gravidez e prolongando-se ao longo de todo o puerpério. Esta proximidade perante a família, especialmente o casal, permite-lhe a prestação de cuidados individualizados e adequados às necessidades identificadas, promovendo assim uma experiência positiva da parentalidade. O EESMO torna-se, assim, num profissional dotado de todas os conhecimentos e competências necessárias para ajudar os pais na aquisição de uma nova identidade parental, tornando-os mais capazes e confiantes no desempenho do seu papel.

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6. ANÁLISE CRITICO-REFLEXIVA SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE

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