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Prerrogativas da Defensoria Pública

2. A DEFENSORIA PÚBLICA

2.7. Prerrogativas da Defensoria Pública

Para melhor cumprir suas funções, os Defensores Públicos possuem

certas prerrogativas constituídas pela Lei Complementar nº. 80/94, em seus

respectivos artigos 44 (Defensoria Pública da União), 89 (Defensoria Pública do

Distrito Federal e dos Territórios) e 128 (Defensoria Pública dos Estados), além do

art. 4º, §7º. Para melhor compreensão do assunto, convém trazer à tona o

ensinamento de Frederico Rodrigues:

A prerrogativa, na lição de De Plácido e Silva, é ‘a vantagem, o privilégio, a imunidade, a primazia deferida a certas pessoas, em razão do cargo ocupado ou do ofício, que desempenham.’ Juridicamente, ‘entende-se o direito exclusivo, que se defere ou se atribui a certas funções ou dignidades.’104

Antes de privilégios pessoais, as prerrogativas expressam ‘direitos exclusivos’ constituídos com a finalidade de que a função pública realizada pelos agentes possa ser cumprida da melhor maneira. Elas não existem para servir ao ocupante do cargo, mas, sim, para que ele esteja munido de um aparato ideal para desempenhar as funções que lhe foram cometidas.105

Inúmeras são as prerrogativas existentes nos artigos

supramencionados da Lei nº. 80/94. Assim, nos limitamos a elencar as seguintes:

contagem em dobro de todos os prazos; e intimação pessoal mediante entrega dos

autos.

I) Contagem em dobro de todos os prazos

      

103

GALLIEZ, Paulo, Op. Cit., 2010, pp. 43. 

104

De Plácido e Silva. Vocabulário Jurídico. Vol. III. Rio – São Paulo: Forense, 1975, p. 1208. Apud LIMA, Frederico Rodrigues Viana de. Op. cit., pp. 297.

105

A prerrogativa da contagem em dobro de todos os prazos, tem por

objetivo propiciar uma isonomia substancial, material e real entre as partes

envolvidas na lide:

A prerrogativa de contagem dos prazos em dobro é elemento de vital importância para a prestação idônea e profícua do serviço de assistência jurídica integral e gratuita. Ao lado da garantia de intimação pessoal por remessa dos autos, o prazo duplicado se constitui no arcabouço fundamental para a atuação jurídico-processual da Defensoria Pública. A previsão contida na Lei Complementar 80/94, a contemplar a Defensoria Pública da União, a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios e as Defensoria Públicas dos Estados, abrange todos os graus de jurisdição e todos os processos. Aonde houver atuação da Defensoria Pública, os prazos processuais contam-se em dobro.106

Paulo Galliez ressalta que:

A intenção do legislador foi, sem dúvida alguma, dar segurança ao cumprimento dos prazos processuais, considerando o volume expressivo de processos envolvendo as atividades dos Defensores Públicos, sobretudo quando ocorrem substituições em razão do afastamento de colega do órgão de atuação.

(...) essas prerrogativas dificultam a perda de prazos e a apresentação de peças deficientes e lacunosas. A atuação eficiente do Defensor Público constitui obrigação de sua parte e esta é a ratio júris da existência dessas prerrogativas. Ao exercer o seu múnus, fundamentado pelas prerrogativas legais, o Defensor Público preserva a continuidade regular dos serviços prestados pela Instituição, mantendo consequentemente a sua indivisibilidade, tão essencial à sua existência.107

Segundo a Lei Complementar 80/94, a Defensoria Pública conta

com os prazos em dobro, em todas as instâncias judiciais. Porém, os prazos que

foram mencionados na referida Lei dizem respeito somente aos prazos processuais:

A prerrogativa estabelecida em favor da Defensoria Pública se restringe aos

prazos processuais, ou seja, àqueles que podem ensejar o efeito jurídico

conhecido como preclusão. Não engloba, por conseguinte, os prazos

prescricionais ou decadenciais.

Com efeito, a prerrogativa foi concebida para que a Defensoria Pública pudesse exercer as suas funções com maior desenvoltura, não só pelo fato de que não pode escolher ou limitar as suas funções, mas principalmente porque tem como objetivo assistir a um número elevadíssimo de pessoas. Se o prazo em dobro não existisse, os assistidos dificilmente poderiam ser protegidos satisfatoriamente pela Defensoria Pública. A duplicação dos prazos, portanto, se constitui, antes de tudo, em um benefício conferido para permitir a defesa eficaz daqueles que são amparados pela Defensoria Pública.

Não se justifica a extensão da prerrogativa aos prazos prescricionais ou decadenciais, que são instituídos para todos e que têm como principal fundamento a preservação da segurança jurídica. (grifo do autor)108

      

106

Ibidem, pp. 334.

107

GALLIEZ, Paulo, Op. Cit., 2010, pp. 44. 

108

II) Intimação pessoal mediante entrega dos autos

Como regra, a intimação dos atos processuais é direcionada aos

advogados das partes e é realizada por intermédio da imprensa oficial. A intimação

pode também ser direcionada a própria parte (intimação pessoal), sendo realizada

pelos seguintes meios: correio; oficial de justiça; vista dos autos; edital. O Código de

Processo Penal elenca ainda a possibilidade de intimação por qualquer meio idôneo

(art. 370, §2º).

109

A intimação pessoal do Defensor Público mediante a entrega dos

autos se configura como uma exceção, mas também como uma regra:

No que toca à Defensoria Pública, a intimação pessoal por entrega dos autos com vista é, ao mesmo tempo, exceção e regra. Se enfocada a disciplina processual geral e comum das intimações, em que a imprensa oficial se afigura como meio idôneo, a cientificação pessoal da Defensoria Pública se projeta como exceção. Concomitantemente, ela se manifesta como regra, pois a intimação da Defensoria Pública sempre deve ocorrer sob esta espécie.110

A prerrogativa da intimação pessoal mediante entrega dos autos é

uma medida das mais importantes para facilitar o ofício dos Defensores Públicos:

Delineia-se como uma das mais importantes prerrogativas conferidas à Defensoria Pública. Em razão da importância do múnus por ela exercido, bem como em virtude da natureza pública e indeclinável de sua atuação, conferiu-se-lhe mecanismo que permite o exercício pleno de tão importante incumbência, de modo que não sejam acarretados prejuízos àqueles que são por ela assistidos.111

Ambas as prerrogativas levam em conta a peculiaridade da atuação

da Defensoria Pública, o status constitucional que lhe foi atribuído por meio das

artigos 5º, LXXIV, e 134, da CF/88, bem como o fato de que a Defensoria Pública

ainda sofre com a falta de estrutura e com uma elevadíssima demanda, em virtude

dos graves problemas sociais existentes no país, sendo importantíssimas para

garantir a qualidade do serviço prestado e para evitar prejuízos aos assistidos.

       109 Ibidem, pp. 316. 110 Ibidem, pp. 316. 111 Ibidem, pp. 317. 

3. Um Breve Retrato sobre a Realidade da Defensoria Pública no