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Discutir acerca do Pós-colonial na sociedade moçambicana pós- independência, faz emergirem questões ligadas a emancipação, às lutas internas, guerra civil e tomada do poder em 1975 e situação da África colonial. Hobsbawm (2014, p.93-94) argumenta sobre a questão da formação dos impérios e do poder que os mesmos impunham, diz ser muito provável que uma economia mundial cujo ritmo era determinado por seu núcleo capitalista desenvolvido se transformasse naquilo que eles denominariam de mundo dos avançados e que dominariam os atrasados, o mundo do Império. Ainda acrescenta que nesse período da história moderna (1875-1914) chegou ao

máximo o número de governantes que se autodenominavam imperadores, e que eram considerados pelos diplomatas ocidentais como merecedores desse título.

O processo de colonização portuguesa em Moçambique se deu de maneira violenta, como em geral o foi o processo de colonização por toda a África. A chegada do português em território moçambicano é também citada por José Luís de Oliveira Cabaço em sua Tese: Moçambique: Identidades, Colonialismo e Libertação:

Nos primeiros dias do ano de 1498 da era cristã, os habitantes da costa sul de Moçambique, em algum lugar situado entre as atuais cidades de Inharrime e Inhambane, viram chegar estranhas embarcações, enormes em relação às que até então já tinham visto. Delas desceram outros barcos menores transportando gente de pele pálida e vestida de modo insólito. Não se compreendeu o que eles diziam, mas não pareceram agressivos pelo o que os agentes locais os acolheram sem animosidade. Os forasteiros recolheram água fresca, trocaram alguns objetos e regressaram às grandes embarcações que voltariam a desparecer no mar profundo. Ninguém sabia quem eram os visitantes, muito menos podia imaginar que testemunhavam um momento histórico: os primeiros contatos da África oriental com a Europa na viagem de Vasco da Gama em demanda da rota do Oriente. (CABAÇO, 2007, p.27)

Essa imagem é o retrato dos contatos primeiros entre colonizadores e aqueles que seriam os motivos das empreitadas denominadas grandes viagens marítimas, que tinham de fato como objetivo maior tomar posse dos territórios alheios. Esse contato e figura que surge na dilatação do Império português povoa a mente dos povos colonizados por séculos, que tinham nesses visitantes a figura do diferente e que nessa diferença surgem as primeiras formas de colonização das mentes e dos povos à medida que a religião e a cultura do povo português passa a ser a ordem do momento e se instaura uma outra forma de governação conhecida como colonização e imperialismo, da imposição da cultura e religião portuguesa e que os colonizados precisariam dessa ajuda ―benéfica‖ dos povos ditos superiores em língua, casta e cultura estariam a serviço de melhorias daqueles que

atrasados culturalmente, careciam avançar na modernidade e no mundo agora em rota de viagens e conhecimentos inaugurados também pelo povo português e pelo Império.

Perpétua Gonçalves (2000), sobre a colonização portuguesa usa também o marco acima citado em finais do século XV em 1498, quando Vasco da Gama chega a Moçambique lançando as bases históricas para o uso da Língua Portuguesa a partir do processo de colonização o que levaria anos para que somente a partir do século XX essa língua se tornasse um efetivo meio de comunicação para grande parte da população moçambicana. Gonçalves (2000), informa que durante os séculos XVI e XVII, a presença portuguesa se fez sentir no litoral de Moçambique como também ao logo do vale do Zambeze, em Sofala e Tete com atividade comercial principal motivo dos contatos entre os portugueses e a população local o que houve também resistência aos portugueses nesse processo.

A partir de meados do século XVIII em 1752 é que a administração de Moçambique passa a depender efetivamente de Portugal e não da Índia e nos finais do século XIX em 1886 então os portugueses se mostram interessados e pretendem assegurar sua presença no território com o início das campanhas militares ditas de ―pacificação‖.

Na costa moçambicana, os portugueses procuraram dominar outras posições estratégicas e de interesse comercial, com o objetivo de neutralizar os árabes na rota do comércio do Oriente, os mesmos ofereceram resistência mas acabaram neutralizados e dessa forma os portugueses adquiriram forças e modos de penetrar o interior de Moçambique.

A cedência do território moçambicano à colonização portuguesa não se deu de forma tão tranquila assim. Grandes reinos dominaram a região central e austral da África que, segundo Fritzen (2015, p.15) entre estes, o maior e mais poderoso, no século XVI, foi o reino do Monomotapa, com sofisticadas instituições religiosas e ritos que reforçavam o poder do rei. Sob esse sistema, havia o controle das minas de ouro e os produtos agrícolas dos seus súditos e também monopolizava o comércio internacional com os mercadores Suaíli.

A coroa portuguesa agiu decisivamente contra os suaíli e em 1525 obteve o controle de Sofala, estabelecendo um povoado na ilha de Moçambique.Com sua política de expansão, em 1607, os portugueses fizeram um acordo com o monomotapa Gatsi Rusere, tendo a todas as minas de ouro do seu território e estabeleceu a soberania da coroa portuguesa na região. Daí por diante um acordo militar selou a aliança dos portugueses com o reino Malaui estendendo seu poder e consolidando o processo de tomada do território no século XVII.

Destacamos as reflexões de Fritzen,

Porém no final do século XVII em 1692, o rei monomotapa expulsou os portugueses das terras altas do Zimbábue e do interior da região do Zambezi. Enquanto os chefes Chope e Tonga, ao sul da região de Sofala e os Makua na região da ilha de Moçambique, se recusaram a continuar aceitando a soberania portuguesa. Em 1752 Portugal deu à Moçambique a condição de colônia autônoma, pois até esta data, a administração era feita como parte da Índia portuguesa (Goa). (FRITZEN, 2015, pp.16-17)

A colonização portuguesa que ocorreu de forma violenta com imposição ao povo moçambicano, foi buscando apoio nas fragilidades de alguns dos naturais da terra, que para se livrarem de determinados opositores se uniram à colonização e suas formas de atuar. Fritzen (2015, p.18) fala que com a Conferência de Berlim, a pacificação e o controle efetivo de Moçambique foi uma das exigências das potências coloniais para que o continuasse colônia de Portugal. A primeira e principal ação portuguesa para se manter no território e o dominar foi desestabilizar a soberania dos povos que o ocupava, sendo a reação dos mesmos as mais diversas, enquanto parte da comunidade dos Tongas de Inhambane, colaboraram na administração portuguesa, para assim livrar-se da opressão dos guerreiros Gaza. A grande maioria manteve-se armada e confrontando a ocupação portuguesa.

Fritzen (2015, p.23) relata que após a conquista do Reino de Gaza (1895-97), Portugal começou a ocupar o território moçambicano e implementou várias ações para esse fim. Além de tomar posse do território, implementou o controle da população através da implantação da economia e sua monetarização: impostos, consumo e processos de trabalho como a migração para a África do Sul.

O colonialismo estabeleceu-se numa relação de soberania e imposição da cultura portuguesa e a separação de classes, ou seja, o indígena seria monitorado, assimilado e escravizado em diversos momentos da colonização. Tal prática reforçou o projeto de aniquilamento do outro e uma usura legitimada pelo poder dos impérios que lhes roubavam desde o território, cultura. Impuseram uma verdade única e numa perspectiva e missão civilizatória dos povos do Oriente. Retomamos as considerações de José Luís Cabaço (2007,p.38) que aponta as relações na sociedade colonial em África como algo bem demarcado, não só preto e branco, indígena e colonizador, mas também civilizado e primitivo, tradicional e moderno, cultura, usos, costumes, oralidade e escrita, sociedade com história e sociedade sem história, superstição e religião ,regime jurídico europeu e direito consuetudinário, valores em que uns se apresentam como a negação dos outros e já sabemos quem se mostra superior como modelo civilizatório para os que foram violentados no processo colonizador.

Refletimos sobre a colonização portuguesa em Moçambique como um dano a essa sociedade à medida que a violência que preside ao arranjo do mundo colonial parafraseando Frantz Fanon (2005,p.57) usurpou de forma incansável a partir de práticas de destruição das formas sociais indígenas demolindo sem restrições as referências da economia, aparência, indumentária como forma mesmo de apagamento do outro, uma das práticas da indústria da colonização, ato violento que exerceria sobre os povos colonizados danos irreparáveis nos códigos da vida e da sua cultura.

1.3 OS COLONIALISMOS E SUAS FORMAS DE MANIPULAÇÃO NAS