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A presença de políticos nas redes sociais online e o papel dos assessores

Parte I – Revisão da literatura

Capítulo 4 Os políticos e a ascensão das redes sociais online

4.3. A presença de políticos nas redes sociais online e o papel dos assessores

No início de 2009, Cavaco Silva, enquanto Presidente da República, inaugurou a presença institucional da presidência nas redes sociais mais diversas, entre as quais estão o twitter, primeiramente, e, mais à frente, o facebook. Foi uma forma de abrir o cargo de Presidente da República à sociedade, chegar aos cidadãos, renovar a imagem de um cargo que é tido na generalidade como conservador e fechado. No facebook, por exemplo, Cavaco Silva tem também a sua própria página, onde publica comentários, faz críticas e recomendações ou esclarece assuntos, ao contrário do perfil da Presidência da República, onde são publicadas essencialmente notas de agenda e notícias. Nos últimos tempos, o Presidente da República tem poupado nas declarações na televisão e optado por publicar a sua opinião no facebook sobre assuntos relevantes para o país, facto que tem gerado alguma polémica, mas que acaba por dar mais protagonismo às palavras do chefe de Estado, com a repercussão que tem nos media tradicionais. O país está habituado a ver, ouvir ou ler as declarações do Presidente nos meios de comunicação tradicionais. A quebra desta tradição implica, como de resto em tudo o que está instalado, uma discussão que questiona a atitude do Presidente da República e chega a questionar o real interesse que ele tem relativamente aos problemas do país. Hoje parece ser uma maneira revolucionária e pouco ortodoxa de comunicação entre o mais alto representante do Estado português e os seus cidadãos. O futuro poderá mostrar que é uma decisão acertada a aposta do Presidente da República nas redes sociais. Na Alemanha, por exemplo, a chanceler Angela Merkel, que tem a sua própria página no facebook, opta pela estratégia de fazer declarações curtas e remeter mais informações para a página oficial do partido. Ainda relativamente aos políticos de topo em cargo, há os exemplos do presidente francês Nicolas Sarkozy, que utiliza um tipo de linguagem mais direta e acessível, enquanto o primeiro- ministro britânico prefere um discurso mais formal, escrevendo mesmo na terceira pessoa. Várias estratégias, cada uma com as suas vantagens e desvantagens. Cavaco Silva, por exemplo, tem a vantagem de representar dois perfis no facebook, um do cargo que representa, que deve ser mais formal, e outro mais pessoal (que já ultrapassou os 100 mil seguidores), que utiliza mesmo para expressar opiniões. O problema várias vezes apontado relativamente ao

32 Presidente da República prende-se com o facto de as suas declarações no facebook, em algumas alturas, não coincidirem com as que expressa na televisão, por exemplo.

Facilmente é percebido que, muitas vezes, são assessores que tratam das redes sociais destes políticos, contudo, a mensagem deve sempre coincidir em todos os aspetos com o que o político defende, daí a necessidade de uniformização da mensagem, tal como nas marcas, independentemente da plataforma que é utilizada. A este respeito, Maria Guérin (2010) adverte para o facto de esta profissionalização do uso das redes sociais pelos assessores dos políticos poder prejudicar os últimos, já que passa a ser usada uma comunicação de pressão sobre os apoiantes que pode diminuir a afetuosidade que estes nutrem pelos políticos. Angela Merkel tem a vantagem de fazer declarações curtas e objetivas, sendo que o site do partido que representa serve para ter mais informações acerca das novidades da líder alemã. Sarkozy, com quase meio milhão de seguidores, tem um estilo idêntico a Cavaco Silva no facebook, embora com uma maior descontração comparativamente com o Presidente português. David Cameron parece ser, da lista, o que mais perde. O primeiro-ministro britânico dá um ar impessoal aos seguidores do facebook, parecendo o seu perfil um jornal online sobre a atividade de David Cameron. Todos estes políticos enumerados optam por apenas publicar e não responder. Este facto pode ser prejudicial e não indicado para as redes sociais onde se quer que haja interação e que os políticos tirem proveito dessa aproximação com os cidadãos. Contudo, o elevado número de seguidores que acaba por comentar, enviar mensagens e colocar questões pressiona os políticos a não responder, já que muitas vezes poderiam ser respondidas algumas perguntas e outras ficarem sem resposta – opta-se então por simplesmente não responder.

Existem algumas estratégias que permitem uma maior interação entre políticos e eleitores e que contornam o problema do elevado número de perguntas que ficam sem resposta. Em Portugal, António José Seguro, deputado e recentemente eleito líder do Partido Socialista, é já há algum tempo reconhecido no facebook por interagir com os seus seguidores. Seguro optou já por diversas vezes por especificar um dia por semana, anunciado antecipadamente, em que durante meia hora responde a todas as questões colocadas através da rede social. Assim, consegue dar resposta a vários seguidores que o interpelam e estabelece uma relação direta, sem intermediários, com os que o seguem.

Hoje, e ao contrário do passado, os políticos ganharam a capacidade de falar diretamente para um público como um amigo, como “um de nós”, de aparecer diante dele

33 como um ser humano com o qual é até possível criar empatia e simpatizar (Thompson, 2008). Para além disso têm a possibilidade de falar em grande escala com o eleitorado sem mediadores, sem qualquer mecanismo que filtre a informação que querem fazer passar. É necessário os políticos terem consciência de que atualmente é imprescindível uma campanha constante. Num tempo de política mediática, a comunicação de massas é fulcral não só para entrar no círculo do poder, mas também para se manter lá (Gomes, 2005).