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A presentação e discussão dos resultados

Capoeira na Universidade

Apresentamos, a seguir, os resultados obtidos na pesquisa por meio do instrumento proposto, inicialmente, no Projeto de Intenção de Pesquisa do Trabalho Científico. O instrumento elegido foi o da entrevista semi-estruturada, a ser veiculada num questionário composto de 12 (doze) questionamentos divididos em 3 (três) categorias, anterior- mente citadas no item da instrumentação.

O procedimento está fundamentado na análise de conteúdo, por ser uma técnica com amplas possibilidades. Segundo Berelson (apud Balau, 1981: 4): “A Análise de con- teúdo é uma técnica de pesquisa para descrição objetiva, sis- temática e quantitativa do conteúdo manifesto das comuni- cações”. Proporciona ao avaliador valorizar particularidades percebidas nas reflexões e entrelinhas, comparações, analo- gias, e os aspectos culturais, morais e religiosos.

Iniciamos nosso estudo analisando o perfil dos entrevistados, com a finalidade de entender sua relação com a Capoeira, experiência na sua prática de ensino, especial- mente universitário.

Mestre Xaréu

Verificamos que são oriundos de profissões diferen- tes, conforme mostra a Figura1. Contudo, estão imbuídos do mesmo propósito, desenvolvendo trabalhos que abrangem prin- cipalmente o ensino da Capoeira.

Na sua maioria, iniciaram a docência pelas oportu- nidades oferecidas no próprio grupo de Capoeira a que per- tenciam, passando posteriormente pelas academias, clubes e até, em alguns casos, fundando a sua própria, motivados pe- los amigos e alunos.

Figura 1- Percentuais das profissões no universo de 14 entrevistados.

Através dessa amostra, podemos afirmar o enorme interesse dos professores de Educação Física pelo ensino da Capoeira. Possivelmente, essa especial motivação seja advinda da sua formação, porque no bojo de seu currículo tiveram, em algum momento, de estudar a Capoeira como disciplina obrigatória ou optativa. Porém encontramos, ainda, outros entrevistados que não tiveram a mesma oportunidade, pois sua formação foi baseada na grade curricular antiga que não contemplava a Capoeira como disciplina, e outros de diferen- tes profissões. 72% 7% 7% 7% 7% Contador Economista M. Capoeira Ed. Física Dentista

Capoeira na Universidade

Figura 2 – Percentual da prática de capoeira, pelos entrevistados, na Universidade

Na Figura 2, o gráfico nos mostra uma relação in- teressante pois 50% dos entrevistado afirmam ter praticado Capoeira na universidade, sendo importante frisar que esta prática vai além das aulas dos cursos de Educação Física.

Os entrevistados ressaltaram várias formas de par- ticipação extra-curricular na universidade, mas que represen- tam de maneira marcante, a presença da Capoeira no meio acadêmico. As experiências são as seguintes:

Entrevistado 3:

Em 77 (eu já treinava há 5 anos), como aluno do curso de Educação Física fazia parte do grupo de exibição da EEFD e mais tarde da equipe de competições. Dois anos mais tarde (79), a capoeira passou a ser disciplina eletiva do curso de licenciatura em Ed. Física da EEFD, e eu a fiz como disciplina acadêmica com 60 h/a semestrais.

Entrevistado 7:

Em virtude de curso e programa de extensão comunitária desenvolvida por mim na Universidade Federal de Sergipe, a partir do qual, professores e mestres de Capoeira eram convidados a dar aulas no projeto de extensão, e nessa circunstância participava dos cursos e aula como aluna.

Entrevistado 12:

No início de forma recreativa em rodas no pátio da facul- dade, depois comecei a dar aulas formando um grupo de capoeira no Instituto Porto Alegre.

Não Sim 50% 50%

Sim Não

Mestre Xaréu

Observamos que as experiências dos entrevista- dos são diferentes na forma, contudo semelhantes quanto às iniciativas espontâneas no meio universitário. O entrevista- do 3 fala da sua prática com os grupos de apresentação e de competição elaborados pelos próprios alunos, enquanto a vivência do entrevistado 7 é bastante diferente, iniciando-se pelos cursos de extensão universitária, já o entrevistado 12 experimenta a Capoeira através do lúdico, em momentos to- talmente informais nos intervalos das aulas.

Percebe-se a criação de grupos, iniciativa esta com a finalidade de identificar a instituição ou mesmo no sentido de ampliar os locais de ensino de grupos já existente.

Esses grupos são interessantes pela possibilidade de ampliar os conhecimentos da Capoeira, proporcionando uma vivência mais abrangente, levando seus integrantes a praticar Capoeira não apenas na sala de aula ou exclusiva- mente na roda, mas, sobretudo, descobrir outras formas de aprendizado, engajando-se em grupos que os remetam a ex- periências diversas, a exemplo de equipes competitivas, projetos artistico-culturais e sociais.

Nesse contexto, destacamos as apresentações de grupos de Capoeira realizadas no meio universitário e, entre outras, escolhemos a que aconteceu em 1955 na Residência dos Universitários Baianos, situada no Corredor da Vitória, uma iniciativa do grupo SENAVOX.

O Mestre Senna, fundador do SENAVOX, parece ter incorporado os ensinamentos de seu Mestre — Mestre Bimba quanto à forma de divulgar seu trabalho e de afirma- ção do próprio grupo.

O perfil dos entrevistados quanto à experiência com a Capoeira é bastante significativo, principalmente no que se

Capoeira na Universidade

refere a idade, tempo de Capoeira e ensino. Esta relação fica mais clara observando-se a Figura 3.

Figura 3– Perfil dos entrevistados quanto a Idade, Tempo de prática de Capoeira (TC), de Ensino de Capoeira (EC)

e de Ensino de Capoeira na Universidade (ECU).

Observa-se, entre os entrevistados, uma larga ex- periência tanto na prática como no ensino da Capoeira, no entanto fica evidente que a docência universitária aparece tardiamente. As referências que encontramos de docência sistematizada e formal na universidade datam do início da década de 1970, todas elas referentes ao ensino da Capoeira na Prática Desportiva, em observância à Lei 69.450 de 1º de novembro de 1971, que estabelece a obrigatoriedade no ensi- no superior.

A Capoeira foi inserida como disciplina curricular nos cursos de Educação Física a partir do final da década de 70 e tomou novos contornos através da Resolução 03 de 16 de junho de 1987, que estabelece, no seu Artigo 3º, parágrafo 2º: “Cada Instituição de Ensino Superior (IES), partindo des- sas quatro áreas, elaborará o elenco de disciplinas da parte de

70 60 50 40 30 20 10 0 Idade TC EC ECU Inf.1 Inf.3 Inf.5 Inf.7 Inf.9 Inf.11 Inf.13

Mestre Xaréu

formação geral do currículo pleno, considerando as peculia- ridades de cada região e os perfis profissionais desejados (Ba- charelado e/ou Licenciatura Plena)”. Reforçado, ainda, pelo parágrafo 3º:

A parte do currículo pleno denominada “Aprofundamento de Conhecimentos” deverá atender aos interesses dos alu- nos, criticar e projetar o mercado de trabalho, considerando as peculiaridades de cada região e os perfis profissionais desejados. Será composta por disciplinas selecionadas pelas IES e desenvolvidas de forma teórico-prática, permitindo a vivência e experiência no campo real de trabalho.

A referida resolução ainda estabelece a obrigato- riedade de os cursos de Educação Física adequarem seus currículos no prazo de dois anos a partir da data da publica- ção, o que favoreceu sobremaneira à inclusão da Capoeira como disciplina, ora em caráter obrigatório, ora como optativa. Vale destacar que a Capoeira como disciplina curricular foi muito além das expectativas regionais, sendo contemplada em várias universidades brasileiras, funda- mentada como disciplina valiosa para a educação e de forte apelo popular, cultural e social.

Aspectos da conquista