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1. UM PRESENTE PARA SÃO PAULO

A Rede Globo pretendia aproveitar os 450 anos da cidade de São Paulo com uma minissérie para homenagear a cidade e pediu para Maria Adelaide Amaral pensar sobre o assunto. A autora acabara de escrever uma peça de teatro sobre Tarsila do Amaral, que havia estreado em São Paulo, e, portanto, havia pesquisado sobre a pintora, seus amigos e seu tempo. Propôs, então, aos responsáveis na emissora, uma minissérie que contasse a história de São Paulo sob o viés da cultura, começando com a Semana de Arte Moderna, em 1922, e terminando com as festividades do IV Centenário de São Paulo, que incluíam a II Bienal, em 1954. Com a idéia pronta, escolheu um parceiro, Alcides Nogueira:

“... „pretendo trabalhar com Alcides Nogueira. Quem mais senão o Tide para se juntar a mim nesse projeto? ‟ Era de família quatrocentona, tinha escrito uma peça sobre a Revolução de 32, Paris-Belfort, outra sobre a Semana de Arte-Moderna,

Tietê, Tietê, e conhecia esse universo como ninguém. Além disso, era meu amigo,

culto, leal, bom caráter. Eu tinha certeza que ele seria um excelente companheiro, como havia sido Walter Negrão. Depois, acreditava que duas cabeças pensam melhor que uma.”1

1 Tuna Dwek. Maria Adelaide Amaral: a emoção libertária. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Cultura – Fundação Padre Anchieta, 2005, p.253.

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A peça teatral

A peça Tarsila fora escrita a pedido da atriz Ester Góes e do diretor de teatro Sérgio Ferrara. O processo de elaboração da peça se iniciou em novembro de 2001 e foi até março de 2002, exigindo uma grande pesquisa, que foi realizada por Luciana Chen, formada em Artes Plásticas e já então autora de trabalhos importantes no Museu de Arte Brasileira da FAAP. Além de Tarsila do Amaral, outras personagens importantes do período, como Anita Malfatti, Oswald de Andrade e Mário de Andrade deveriam ser incluídas.

No percurso de pesquisa, Maria Adelaide pode conhecer, conversar e ter a colaboração da sobrinha-neta da pintora, também chamada Tarsila do Amaral e de seus familiares. Através deles, conheceu o artista Tuneu, aluno e confidente de Tarsila, Anna Maria Martins e Ana Luísa Martins. Anna Maria é viúva de Luís Martins, que foi companheiro de Tarsila por muitos anos, e ambos apareceram como personagens da minissérie.

Entre os contatos e uma longa pesquisa contatou também parentes de outras personagens, além de professores e especialistas. Entre as pessoas que foram contatadas e colaboraram estão arroladas: Antonio Candido, Gilda de Mello e Souza, Jorge Miguel Marinho, Telê Ancona Lopez, Beth Malfatti, Guilherme Amaral, Aracy Amaral, Radá Abramo, Rudá de Andrade, Timó de Andrade e Lélia Coelho Frota.

Além das entrevistas acima citadas, leu toda a obra dos escritores Oswald de Andrade e Mário de Andrade, a revista Antropofagia e uma vasta bibliografia, que levantou em suas pesquisas.2

Pode contar com colaboração de muitas pessoas, tais como Marlyse Meyer, que cedeu a Revista de Antropofagia. Utilizou depoimentos gravados em institutos culturais, como: Mário: um homem desinfeliz, do Instituto Itaú Cultural; Depoimento de Antonio

Candido sobre Oswald de Andrade, gravado no Museu de Imagem e Som/Secretaria da

Cultura de São Paulo, em 1999; Cem Oswald Anos, depoimento gravado no almoço

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Tarsila, sua obra e seu tempo - Aracy Amaral; Tarsila do Amaral- Nádia BatteIla Gotlib; Correspondência

de Mário de Andrade e Tarsila do Amaral - org. Aracy Amaral; Cartas a Anita Malfatti - Mário de Andrade; O salão e a selva - Maria Eugênia Boaventura; Oswald de Andrade - Maria Augusta Fonseca; Anita Ma/fatti no tempo e no espaço - Marta Rossetti; Um bom sujeito - Luís Martins; Pagu - vida e obra - Augusto de

Campos; Mário de Andrade: exílio no Rio de Janeiro - Moacir Werneck .de Castro; Te dou a lua amanhã -

biofantasia de Mário de Andrade - Jorge Miguel Marinho; A lição do amigo - Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade; Mário de Andrade por ele mesmo - Paulo Duarte

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promovido no MIS/SP por ocasião dos 100 anos do nascimento de Oswald.3

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Capa do livro e programa da peça Tarsila, de Maria Adelaide Amaral.

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Eliane Giardini, caracterizada como Tarsila.

3 As informações sobre a peça Tarsila foram retiradas de: Maria Adelaide Amaral. A aventura de escrever Tarsila. In: - Tarsila. São Paulo: Globo, 2004, p.5-8.

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A minissérie e seus produtores

A partir da escrita da peça teatral, Maria Adelaide possuía conhecimento e muito material para elaborar a minissérie Um Só Coração. Além disso, contava com a experiência e conhecimento de Alcides Nogueira, que havia escrito as peças Tietê- Tietê, encenada em 1979, no Estúdio São Pedro4, e a inédita Paris- Belfort, de 1989.5

Apesar de o objetivo central proposto ser a cultura, explorou vários outros temas importantes do período. A minissérie retratou, mesmo em forma ligeira, praticamente todos os acontecimentos importantes entre os anos 20 e 50 do século XX. As transformações na cidade de São Paulo nos aspectos políticos, sociais e econômicos também apareceram: decadência do café, início da industrialização, imigração, migração e revoltas políticas foram utilizadas como argumento para que personagens reais e fictícias tivessem suas histórias desenvolvidas.

Segundo a autora em sua biografia, não houve interferência quanto ao conteúdo da obra, ou escolha de co-autor, mesmo sendo um pedido da emissora a elaboração de uma minissérie sobre São Paulo. 6

Explorando a passagem acima citada, na ressaltada atuação do Departamento Comercial, que sugeria atenção especial para São Paulo pelo seu aniversário de fundação, podemos pensar que havia naquele momento um interesse da emissora no mercado paulista, que motivou o aproveitamento da data. As efemérides são grandes atrativos para a programação televisiva, pois atraem muitos anunciantes interessados em atingir o público consumidor.