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Preservação da História de Campinas”, onde pondera sobre o assunto, deixando claro o papel do Conselho Estadual e a importância da criação de um Conselho

Municipal. Pela relevância e clareza na análise do tema, transcrevemos na

íntegra.

Já se tem dito à exaustão que a defesa do patrimônio cultural deve envolver necessariamente sociedade e órgão do governo. Não vou mais insistir sobre isso, mas quero apenas lembrar que esta é a principal razão porque no Brasil e no estrangeiro criam-se os conselhos de defesa do patrimônio cultural: eles são a instância pública de debate e negociação (no bom sentido) onde se decide o que deve ser preservado, porque e como. Sem eles, o encaminhamento dos problemas próprios desta esfera tende a ser casuístico, de oportunidade, autoritário e, do ponto de vista sociológico, de legitimidade questionável. Bens identificados sem o respaldo de conselhos de composição diversificada, dificilmente vem a ser reconhecidos, pelo uso efetivo e pelo interesse social de longo prazo, como patrimônio cultural de uma nação ou segmento socialmente significativo.

Mas a realidade é que em países como o Brasil, onde ainda não há tradição amplamente estabelecida quanto a esses procedimentos e onde os movimentos preservacionistas ainda são incipientes, ainda é difícil tomar decisões sobre estes assuntos levando-se devidamente em consideração todo o grande e complexo conjunto de variáveis que compõe o quadro geral da preservação.

Mais ênfase

É bem verdade que, há mais de um ano, o Senhor governador do Estado alterou a composição do Conselho do Condephaat, dando maior ênfase à Universidade (foram incluídas a Unesp e a Unicamp e representantes de diversas áreas acadêmicas até então ausentes do Conselho) e envolvendo diretamente os diversos órgãos de governo que são responsáveis pelo patrimônio cultural no Estado de São Paulo. Já no período que presidi aquele órgão, diversas medidas foram tomadas visando aproximá-lo um pouco mais da sociedade e, particularmente das administrações municipais. Acredito que o atual Conselho esteja investindo na mesma direção.

Apesar desses esforços; acontecimentos tais como a abertura de processos de tombamento do Largo do Rosário, solicitado por um grupo preservacionista desta cidade, mostram que o órgão de preservação do Governo do Estado ainda tem dificuldades sérias de comunicação com os municípios. E que, talvez por isto mesmo, está sujeito a tomar medidas que exorbitam as suas atribuições e que podem produzir efeitos negativos do ponto de vista do que é de sua responsabilidade específica, O tombamento nem sempre é remédio para todos os males.

Tombar?

Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo e o IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

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É surpreendente que, até hoje, apenas os que solicitaram os tombamentos do Largo do Rosário e os membros do Egrégio Conselho conheçam as razões substantivas que teriam justificado aquela medida. Até aonde eu saiba, nada foi comunicado nesse sentido pelo Condephaat à Prefeitura de Campinas. Faltam esclarecimentos neste sentido. A população da cidade não consegue identificar nas estruturas arquitetônicas ali identificadas, nada de particular interesse histórico ou artístico, digno de tombamento. Pelo menos essa é a impressão que nos chega através da Imprensa. Seria o espaço livre delimitado por essas estruturas, o objeto em estudo? Seria desejável conservar esse espaço em sua configuração atual? Por quê? Ou seria melhor ampliá-lo? Nada se diz. Será que é realmente disso que se trata?

É bem verdade que fomos todos “tranqüilizados” por um dos conselheiros que, em entrevista a jornal desta cidade, declarou que o Condephaat não pretendia efetivar o tombamento do Largo do Rosário. O mesmo, aliás, nos tem sido afirmado por pessoas ligadas à presidência daquele órgão. O que pretendem, dizem-nos seriam provocar discussão sobre as reformas em curso naquela praça, para que elas ocorram democraticamente.

Mas para isso, então, serve a abertura de processo de tombamento? Para que se discuta toda e qualquer obra pública? É essa uma atribuição do Condephaat? É claro que não! E, então, em que ficamos? Que o instituto do tombamento está sendo utilizado abusiva e indevidamente, como um expediente para produzir um efeito indireto? Ou talvez para premiar o delírio febril de pessoas que em princípio devem ter o direito à palavra, mas que estão longe de representarem o conjunto dos habitantes de Campinas.

Vaidade

O eventual tombamento do Largo do Rosário poderá satisfazer a vaidade dos que os solicitaram e talvez propicie ao Condephaat a doce ilusão de que reina sozinho ou, o que é pior, com a “comunidade”. Mas, por outro lado, certamente gerará uma enorme dúvida quanto às intenções do órgão estadual de preservação e quanto ao que seja e para que sirva o tombamento.

A conclusão a que se pode chegar a respeito deste episódio, independentemente do tombamento ou não da praça é que, no conjunto, os grandes perdedores estão sendo a cidade e aqueles preservacionistas mais conseqüentes. Enquanto ocupamos o nosso tempo com questiúnculas tais como se o trecho da Campos Sales que foi

incorporado à praça deve ser calçado com pedrinhas ou

paralelepípedos,temos que engolir mais um adiamento e agora até o próximo ano legislativo, da votação na Câmara de Vereadores do Projeto - de - Lei que criaria o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas. Mais uma vez, por obra e graça dessa febre delirante que agora entra em sua fase persecutória.

Sentem-se, alguns preservacionistas, ameaçados pelas emendas propostas àquele projeto e segundo as quais passariam a fazer parte do Conselho a OAB-Campinas, o Conselho de Defesa do Meio Ambiente e Secretarias Municipais de Negócios Jurídicos, de Planejamento e de Obras e Serviços Públicos. Consideram eles que a aprovação dessas emendas fortaleceriam excessivamente o Executivo, que passaria a comandar aquele órgão. Ora, em primeiro lugar, defender o patrimônio histórico é dever do estado. Em segundo lugar, os administradores desta cidade não são usurpadores, já que foram eleitos

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com ampla margem de votos em eleição direta. Em terceiro lugar, a representação da sociedade civil no nosso Conselho é proporcionalmente maior do que no Condephaat, se quiser tomar o órgão estadual como modelo. Em quarto, a sua composição é aberta já que os conselheiros previstos na Lei teriam a possibilidade de nomear outros em número ilimitado.

Discussão

A importância desse projeto, se é que alguém ainda não se deu conta disso, vem do fato de que, entre outras coisas, ele cria na cidade um fórum legítimo de discussão. Fórum legítimo, amplo, democrático e diversificado. Além disso, ele cria mecanismos de defesa do patrimônio cultural que são realmente adaptáveis às necessidades do crescimento e das transformações urbanas de Campinas. A delimitação e regulamentação de áreas envoltórias passariam a ser feitas no momento do tombamento, levando-se em conta as características de cada bem preservado e a situação real do seu contexto atual. E isso só pode ser feito nas cidades, por aqueles que têm a responsabilidade de administrá- las globalmente. Do alto do olimpo paulistano, esses problemas só poderiam ser administrados de modo genérico e abrangente: cria-se, com cada tombamento, uma área de proteção uniforme para todo e qualquer bem existente em qualquer ponto do estado de São Paulo. O Condephaat não tem infra-estrutura técnica e administrativa para agir de outro modo e, eu acredito, nem deveria ser outro o seu papel: identificar, preservar e valorizar o patrimônio cultural a nível estadual e estabelecer as bases de uma política de preservação que possa adaptar-se às peculiaridades de cada município.

Atrás de tamanho estardalhaço por causa das pedras do Largo do Rosário, escondem-se a meu ver as dificuldades que o Condephaat tem encontrado para administrar convenientemente os bens tombados e suas áreas envoltórias. Quantas dessas áreas já foram regulamentadas em todo Estado? Pouquíssimas, com certeza.

Com tanta obstinação e falta de bom senso, o nosso projeto- de-lei acabou virando assunto aversivo, altamente controvertido e as pessoas têm hoje os mais variados temores, expectativas e mesmos fantasias em relação ao que ele possa propiciar ou desencadear como efeito secundário.

Assim, não seria de espantar se dia destes um pequeno grupo de astrônomos vier a encaminhar ao Conselho um pedido de tombamento do Cometa Halley, para que ele continue brilhando sempre no céu de Campinas!!! (A PRESERVAÇÃO ...., 1986).

A nova Lei Municipal de preservação do patrimônio, a Lei Nº 5.885 de

17/12/1987, dispondo como proteção do patrimônio histórico, artístico, estético,

arquitetônico, arqueológico, documental e ambiental do município e não somente

histórico e artístico de Campinas, como a Lei de 1979, altera o nome do Conselho

de Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico de Campinas, para

Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas, traçava as diretrizes

necessárias para viabilizar os tombamentos pelo município e previa a criação de

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um braço técnico com recursos humanos e materiais, a Coordenadoria do