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A pressão arterial elevada é considerada fator de risco biológico e um dos principais fatores de risco cardiovascular independente (GRUNDY et al, 1999). Em crianças e adolescentes, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) estará configurada quando os valores de pressão arterial sistólica (PAS) e/ou pressão arterial diastólica (PAD) forem maiores ou iguais ao percentil 95 para idade, sexo e percentil de estatura, aferida em três ocasiões distintas. Ao passo que, a pré-hipertensão nesta população é definida por níveis de PAS e/ou PAD maiores ou iguais ao percentil 90, porém menores que o percentil 95 (National High Blood Pressure Education Program - NHBPEP, 2004).

A hipertensão essencial ou primária é aquela cuja origem não pode ser atribuída à outra doença precedente, sendo esta a mais comumente verificada na população adolescente. A fisiopatologia da hipertensão essencial não é bem compreendida, envolve predisposição genética e recebe influências ambientais e do estilo de vida (VOGT, 2001).

Dentre os fatores ambientais e do estilo de vida os principais fatores que afetam a pressão arterial (PA) são: a alimentação, a ingestão de álcool, a inatividade física, o tabagismo e os fatores psicossociais (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2010). Lichtenstein et al. (2006) ressaltaram a influência dos hábitos alimentares sobre a pressão arterial e sugerem a redução do consumo de sódio e de gordura saturada, e também, a diminuição da ingestão calórica (perda de peso), o consumo moderado de álcool, o aumento na ingestão de potássio e adoção de uma alimentação saudável (consumo de frutas, verduras, peixe, grãos, fibras, castanha do pará), além da prática regular de atividade física.

A prevalência de pressão arterial elevada tem sido investigada em adolescentes brasileiros e varia de 3,3% (BECK et al., 2011) à 18,6% (ROMANZINI et al., 2008), todavia, é preciso considerar que esta variabilidade nos achados pode ser devido às diferenças metodológicas, número de medidas realizadas e os diferentes critérios de referência para a interpretação dos resultados. Pesquisas realizadas nos EUA (MCNIECE et

al., 2007) e Canadá (PARADIS et al., 2004) revelaram variabilidade menor, com prevalências de pressão arterial elevada de 18,9% e 17%, respectivamente. Esses resultados demonstraram alta frequência de pressão arterial elevada na adolescência.

Pesquisas com crianças e adolescentes realizadas no Brasil e em outros países, têm investigado a associação entre a pressão arterial, variáveis antropométricas e relacionadas ao estilo de vida (COSTA; SICHIERI, 1998; PARADIS et al., 2004; GUEDES et al., 2006; KELISHADI et al., 2006; RIBEIRO et al., 2006; SUGIYAMA et al., 2007; KUSCHNIR; MENDONÇA, 2007; SILVA; LOPES, 2008; GOMES; ALVES, 2009; MOSER et al., 2010; DÍAZ et al., 2010).

Estudo transversal com adolescentes avaliou se o sobrepeso, a adiposidade e a distribuição de gordura estavam relacionados à pressão arterial de adolescentes no Rio de Janeiro (RJ) e verificou que as variáveis antropométricas correlacionaram-se mais com a pressão arterial sistólica do que com a diastólica, em ambos os sexos (COSTA; SICHIERI, 1998). Outro estudo também conduzido no Rio de Janeiro (RJ) demonstrou que o sobrepeso e a obesidade, a história familiar de hipertensão, principalmente quando ambos os pais são hipertensos, foram os principais fatores de risco para o desenvolvimento da hipertensão arterial entre adolescentes (KUSCHNIR; MENDONÇA, 2007). No Sul do Brasil, Moser (2010) verificou associação entre a pressão arterial elevada, o IMC e dobra cutânea tricipital de escolares, independente da maturação sexual e do nível econômico, concluindo que a adiposidade corporal total parece ser melhor determinante do risco de elevação da pressão arterial do que a adiposidade abdominal.

No Canadá foi verificada associação de valores maiores de IMC com níveis mais elevados de PAS e a PAD em crianças e adolescentes de ambos os sexos (PARADIS et al., 2004). Reforçando esses achados, estudo com adolescentes americanos verificou que, além do IMC, o sedentarismo também apresentou associação com o aumento da PAS (SUGIYAMA et al., 2007).

Baixos níveis de atividade física, sobrepeso/obesidade ou nos quartis superiores para outras variáveis de adiposidade, também, estiveram associados a níveis mais elevados de pressão arterial em estudantes de Belo Horizonte (MG) (RIBEIRO et al., 2006). No nordeste do Brasil, Silva e Lopes (2008) verificaram que o excesso de peso associou-se ao deslocamento passivo à escola e que a pressão arterial elevada esteve associada ao excesso de peso.

A prática insuficiente de atividade física e o uso de tabaco também foram relacionados à pressão arterial elevada em adolescentes de Londrina (PR), (GUEDES et al., 2006), do mesmo modo, estudo realizado em população rural da Argentina verificou que crianças e adolescentes fisicamente inativos foram mais propensos a apresentar hipertensão arterial (DÍAZ et al., 2010).

Ekelund et al. (2006), no The European Youth Heart Study verificaram que a atividade física foi independente e inversamente associado à PAS, à PAD, à glicemia de jejum, à insulina e aos triglicerídeos. Além disso, a assistência à televisão (TV) e a atividade física podem estar diferentemente associadas com a adiposidade e aos riscos metabólicos. A associação entre assistência à TV e os riscos metabólicos agrupados é mediada pela adiposidade, enquanto a atividade física está associada, independente da TV e da adiposidade, aos indicadores individuais e agrupados de risco metabólico. Assim, medidas preventivas contra o risco de alterações metabólicas em crianças podem necessitar diferentes alvos, ou seja, diretrizes específicas para a redução de comportamentos sedentários (assistir TV) e aumanto da atividade física.

Kelishadi et al. (2006) em estudo transversal multicêntrico realizado no Irã, investigaram a relação da pressão arterial com variáveis antropométricas e do estilo de vida e verificaram associação direta da PAS com o IMC, a circunferência de cintura (CC), o hábito de adicionar o sal à mesa e o consumo de doces. Os autores encontraram associação inversa entre a PAS, o nível de atividade física e o consumo de produtos lácteos. Com relação à pressão arterial diastólica (PAD) foi constatada associação com o peso corporal, a CC, o baixo peso nascer, a história familiar de hipertensão, ao consumo de doces e associação inversa com a razão cintura- quadril (RCQ), amamentação, consumo de pão integral e de vegetais.

Niinikoski et al. (2009), em estudo prospectivo realizado na Finlândia, concluíram que a restrição de gordura saturada da infância até os 15 anos de idade diminuiu a pressão arterial de maneira significativa na população. Além disso, enfatizaram a importância de orientação para um estilo de vida saudável e a prevenção primária da hipertensão, especialmente em crianças com história familiar de hipertensão ou doença vascular aterosclerótica.

Evidências acerca da associação entre o estado de peso e a pressão arterial estão bem documentadas na literatura. Acrescido a estes achados, Israeli et al. (2007) sugeriram por meio de estudo longitudinal que o risco de desenvolver hipertensão na idade adulta pode ser predito pelas categorias de pressão arterial e de IMC na adolescência.

Estudos realizados nos Estados Unidos (BAO et al., 1995; CHEN et al., 2011) investigaram o tracking (seguimento) da pressão arterial elevada da infância para adulto jovem, bem como sua progressão para hipertensão essencial. Entre adolescentes e adultos jovens a pressão arterial elevada está associada com a presença precoce de lesões ateroscleróticas. Deste modo, compreender a estabilidade dos percentis ou dos valores de pressão arterial com o passar do tempo e sua progressão para hipertensão clínica pode contribuir para a identificação prematura e também na prevenção da hipertensão. O Bogalusa Heart Study é o mais longo e detalhado trabalho com população biracial e tem demonstrado que a pressão arterial elevada na infância é boa preditora de pressão arterial elevada e de hipertensão essencial em adultos jovens.

Chen e Wang (2008) realizaram meta-análise com dados de diversas populações e corroboraram os achados de Bao et al. (1995), encontrando fortes evidências acerca do tracking da pressão arterial da infância para o adulto jovem. Falkstedt et al. (2008) em estudo longitudinal realizado na Suécia demonstraram que as medidas da pressão arterial no final da adolescência foram associadas com a incidência precoce de doença coronariana e acidente vascular cerebral.

O fato das doenças cardiovasculares terem sido responsáveis, no ano de 2008, pela maior proporção dos óbitos por doenças não transmissíveis (39%) e a pressão arterial elevada, em termos de mortes atribuíveis, ter sido o principal fator de risco, respondendo por 13% dos óbitos mundiais (WHO, 2011) apóia a necessidade de pesquisas que proporcionem ampliação no corpo de conhecimento relacionado aos fatores relacionados à pressão arterial na adolescência.

Estas evidências reforçam a urgência de intervenções na infância e na adolescência, especialmente, pelas altas prevalências de pré-hipertensão e hipertensão arterial entre os adultos no Brasil e no mundo (INCA, 2004; WHO, 2011). Além disso, parece que os jovens desconhecem os riscos cumulativos da pressão arterial elevada, esta informação obtida em estudo conduzido por Bird et al. (2005) com adolescentes estudantes do sul da Inglaterra sugeriu que escolas e serviços de saúde poderiam desempenhar importante papel na melhoria do conhecimento acerca da pressão arterial nesta população.

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