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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.3 DISCUSSÕES

4.3.2 Pressuposto II: O papel da Expertise

Uma característica que, comumente, difere indivíduos peritos de novatos é o acúmulo de conhecimento em determinado campo (ERICSSON; CHARNESS, 1994). Essa experiência ou expertise acumulada faz com que peritos consigam desempenhar sua atividade de forma diferenciada, perceber conexões que indivíduos novatos não conseguem e, consequentemente, atingir desempenho superior (CHARNESS; BOSNIAN, 1990).

Peritos podem ser identificados como tendo um variado repertório de padrões, sendo capazes de compreender sinais que são invisíveis para os novatos tendo, assim, um modelo mental sofisticado de interpretação e apresentando resiliência em adaptar-se à situações complexas e dinâmicas (CHI; GLASER; FARR, 1988).

Os principais aspectos da expertise podem ser considerados como (1) o reconhecimento de padrões e (2) o modelo de simulação mental utilizados pelo perito. Nesse sentido, os peritos são mais propensos a prestar atenção aos detalhes relevantes, enquanto novatos tendem a prestar atenção em tudo e, assim, tornarem-se sobrecarregados com informações ou com pistas importantes incompletas ou ainda se concentrarem em detalhes sem relevância (KLEIN, 2004). Devido a grande exposição do perito em seu domain of

expertise, apresentam um repertório mais amplo e rico de situações semelhantes armazenadas

em sua memória de longo prazo, contra as quais fazem inferências sobre o que percebem do contexto e geram simulações mentais de um potencial curso de ação antes de implementá-lo (GIGERENZER; HOFFRAGE; GOLDSTEIN, 2008).

Uma característica relevante constatada pelos Gestores de Fundos de Investimento durante análises de contexto do mercado financeiro é quando há a ausência de um evento crítico esperado (anomalia), algo que viola as expectativas (padrões), como por exemplo, distorções de preço em ações de empresas frente aos seus indicadores de desempenho. Ativos que, de acordo com seus indicadores, deveriam ter seu preço “correto” refletido no mercado e não estão. Ou ainda, ativos mal precificados ou destoantes dos preços internacionais de matérias-primas e seus reflexos na formação de custo dos ativos (contexto todo). Situações que surpreendem o gestor perito e podem ficar desapercebidas ao gestor novato (ENDSLEY, 1995).

Em contextos reais de decisão na Gestão de Fundos de Investimento, a habilidade de Gestores peritos em gerar fatos contrários às informações disponibilizadas (oportunidades, avaliação da situação e improvisações), por exemplo, desenvolver e executar estratégias opostas aos indicadores de forma consistente diferencia claramente peritos de novatos. Durante a pesquisa, gestores peritos argumentam que essa habilidade ocorre pois aprenderam a não depender demais dos indicadores. Enquanto gestores novatos entrevistados, por outro lado, pareciam ter dificuldade em imaginar um contexto financeiro diferente daquele que eles estão acostumados a ver através de indicadores (KLEIN et al., 2015).

Os aspectos e as características da expertise na Gestão de Fundos de Investimento, que foram desenvolvidos durante a etapa de campo do estudo, estão sumarizados e discutidos no Quadro 5.

Quadro 5 – A diferença de expertise entre o Perito e o Novato na Gestão de Fundo de Investimento

Fonte: O autor (2017).

Estudos mostram que o tempo necessário para se adquirir expertise, para ser considerado um Perito em sua atividade, pode variar de forma significativa de acordo com vários aspectos, tais como, diferenças individuais em habilidades físicas, capacidade mental, tempo de prática, etc. (ERICSSON; CHARNESS, 1994). Contudo, pesquisas em um amplo conjunto de atividades sugerem que top performers costumam exercer sua atividade em um mínimo de quatro horas por dia, de seis a sete dias por semana por, aproximadamente, uma

década. De qualquer forma, essa construção é muito característica do contexto e da atividade a ser analisada e, por muitas vezes, difícil de ser generalizada (HORN; MASUNAGA, 2006; REDZANOWSKI; GLUCK, 2013).

Para a Gestão de Fundos de Investimento não foi encontrada, por essa pesquisa, literatura que determine a quantidade de tempo necessário para caracterizar um perito na atividade de gestão. Contudo, tendo em vista os dados coletados, pode-se dizer que existem diferenças substanciais que especificam a linha de corte entre um Gestor novato e um perito.

A expertise de um Gestor perito reside, de forma resumida, na habilidade de vislumbrar cenários plausíveis, construir e implementar estratégias de investimento para seu portfolio, gerando valor para seu Fundo de Investimento ao longo do tempo. Para tanto, além de conhecimento técnico formal, é necessário analisar de forma independente os indicadores existentes, ser capaz de decidir sob pressão de tempo, situações de incerteza, ansiedade de investidores e, mesmo assim, alcançar desempenho superior (KLEIN, 2015a).

Devido aos dados coletados nas entrevistas, fica evidente o papel importante da

expertise na Gestão de Fundos de Investimento. Como proposição dessa pesquisa, para

novatos tornarem-se peritos na Gestão de Fundos de Investimento sugere-se três possíveis caminhos: (1) a prática contínua de competências essenciais, (2) investimento em treinamento formal e (3) a exposição contínua em situações desafiadoras da atividades.

Sendo que a (1) prática continua de competências significa horas de exercício da atividade de gestão, entender detalhadamente como o mercado de ações funciona, seus influenciadores, ter capacidade de construir cenários com as informações disponíveis. A prática das competências envolve repetição e esforço, a medida que se aperfeiçoa, deve-se traçar objetivos mais desafiadores, para continuar o desenvolvimento. Por exemplo, após entender o funcionamento do mercado brasileiro, pode-se buscar informações sobre o mercado asiático, alemão, etc. Além disso, bom aconselhamento (feedback) também é importante, principalmente nas dificuldades e falhas, pois entendendo-se os erros pode-se corrigi-los e se aperfeiçoar. Desenvolver expertise através do (2) treinamento formal pode ser uma combinação entre “book learning” para o aprendizado de informações técnicas que irão ajudá-lo sobre informações peculiares para o desempenho da atividade de Gestão e a atividade experimental através de simuladores que reproduzem possíveis situações que ocorrem no mercado financeiro. A utilização de simuladores para o mercado acionário pode ser um ambiente onde seja possível avaliar sua propensão ou aversão ao risco de perda, sem a necessidade de ter prejuízos reais em seu portfolio. Por último, (3) a exposição continua em situações desafiadoras, experimentar cenários de crise, é uma atividade crítica para o Gestor

desenvolver repertório de padrões, e buscar refletir sobre as lições apreendidas nessas situações, bem como construir resiliência ao longo do caminho.

Nesse sentido, com base na prática contínua dessas estratégias de desenvolvimento, pode-se sugerir, tendo como referência análises dos dados do estudo, que uma exposição diária de 5 anos em atividades de gestão de fundo de investimento, pode ser suficiente para um gestor novato alcançar o status de perito.

Com isso, portanto, podemos afirmar que um Gestor perito necessita desenvolver uma excelente habilidade de planejamento, julgamento e tomada de decisão. Para tomar decisões na atividade de Gestão de Fundo de Investimento é necessário compreender o contexto de forma correta e definir um curso de ação apropriado. As decisões estão sujeitas a vieses cognitivos. A expertise mitiga esses vieses e a experiência, através da prática e do treinamento formal desenvolve expertise e intuição necessárias para tomar decisões eficazes.

4.3.3 Pressuposto III: A Auto-regulação e a Auto-eficácia na Gestão de Fundos de Investimento

Um aspecto importante estudado a respeito da diferença de desempenho entre novatos e peritos é a utilização de heurísticas. Heurísticas, em seu conceito básico, podem ser consideradas como estratégias simplificadoras ou regras práticas que indivíduos utilizam ao tomar decisões de forma cognitiva (LOPES, 1991).

Alguns estudos postulam que Heurísticas são a base para a intuição e percebem ambos sob uma ótica positiva, na qual indivíduos podem se beneficiar ao aplicá-las em contextos reais, pois podem ser tão bem sucedidas quanto decisões feitas com base em escolhas obtidas através de laboriosas análises (SHANTEAU, 2015; GIGERENZER, 2007). Contudo, há certo ceticismo sobre a eficiência da utilização de Heurísticas, em parte devido a crença que o uso da intuição, devido a existência de erros cognitivos e vieses extremos, é prejudicial e as decisões devem ser feitas considerando, exclusivamente, evidência e análise visto que Heurísticas, necessariamente, podem levar a vieses prejudiciais aos indivíduos (GIGERENZER; HOFFRAGE; GOLDSTEIN, 2008).

Na Gestão de Fundo de Investimento, com base nas entrevistas realizadas e nos dados coletados nessa pesquisa, percebe-se a existência de intuição na construção de estratégias de investimento e, podemos inferir que os diferenciais de desempenho estão relacionados com a definição dessas estratégias as quais, consequentemente, se valem da intuição. Nesse sentido, a intuição é percebida nessa pesquisa como uma expressão da experiência, a medida que os

Gestores constroem padrões que os habilita a rapidamente avaliar situações e fazer decisões rápidas sem a necessidade de comparar opções. Esses padrões, por sua vez, não são meras ferramentas genéricas, são repertórios acumulados diretamente de experiências vivenciadas anteriormente. A intuição, dessa forma, vem a tona de forma positiva quanto os Gestores são suficientemente experiente para confiar nesses padrões aprendidos (KLEIN, 2004).

Um aspecto relevante que pode ser inferido nessa pesquisa é a eventual relação de desempenho do Gestor com o construto da auto-regulação, que caracteriza como indivíduos estabelecem, revisam seus objetivos e esforçam-se para alcançá-los, bem como o papel da crença da auto-eficácia nesse processo (BANDURA, 1991).

A Auto-Regulação pode ser definida como o processo pelo qual os indivíduos estabelecem seus próprios objetivos e, posteriormente, direcionam seus pensamentos e comportamentos para alcançar tais objetivos (ZEIDNER; BOEKAERTS; PINTRICH, 2000). Os atributos críticos relacionados a esse processo são: a auto-referência, sistemas motivacionais, quadro de metas e características cognitivas (BANDURA, 1997). A Auto- Eficácia, que faz parte do construto da Auto-Regulação, refere-se a crença do indivíduo em sua habilidade em ser eficiente em determinadas tarefas. Nesse sentido, a Auto-Eficácia postula que os seres humanos possuem capacidades auto reflexivas e auto reativas que possibilitam algum controle sobre seus pensamentos, sentimentos, motivações e ações (BANDURA, 1991, 1997).

Estudos cognitivistas sugerem que a Auto-Eficácia opera de forma consoante com o sistema de objetivos para aperfeiçoar a motivação e o desempenho através do aumento do esforço ou persistência (BANDURA, 1997). Por exemplo, um ciclo de alto desempenho no qual a Auto-Eficácia leva a adoção de metas mais ousadas, ambos, a Auto-Eficácia e os objetivos, positivamente contribuem para a motivação e o desempenho (BANDURA; LOCKE, 2003). Por outro lado, a Auto-Eficácia também pode impactar negativamente o desempenho, pois se os objetivos permanecem constantes, altos níveis de Auto-Eficácia podem criar otimismo exagerado e excesso de autoconfiança os quais levam para a redução dos níveis de recursos alocados para determinada tarefa e portanto ao decréscimo do nível de performance (LOCKE; LATHAM, 1990; VANCOUVER,2000).

Os construtos da Auto-Regulação e da Auto-Eficácia na Gestão de Fundo de Investimento, apesar de não terem sido estudados nessa pesquisa, provavelmente podem ser relacionados ao desempenho do Gestor (VANCOUVER; KENDALL, 2006).

Figura 9 – Desempenho, experiência e auto-eficácia

Fonte: O autor (2017).

Podemos inferir, conforme a Figura 9, que a medida que o Gestor novato vai adquirindo repertório, (da Etapa I para a II) seu desempenho tende a ser cada vez mais elevado até atingir o status de perito, onde, com o passar do tempo, esse desempenho poderá não apresentar o mesmo diferencial de ganho, se estabilizar ou até mesmo perder performance conquistada nas fases iniciais.

Repertório, nessa pesquisa, pode ser considerado como um conjunto de conhecimentos formais ou vivências experimentadas ao longo do tempo capazes de proporcionar ao indivíduo atributos necessários para avaliar o contexto de forma mais eficiente (FORGAS, 1995).

Nesse sentido, o construto de Auto-Eficácia pode ser uma explicação para esse fenómeno pois (a) o estímulo de autoconfiança, (b) o comprometimento com a tarefa e (c) a força emocional podem, de alguma forma, serem desestimulados pelo Gestor dado a incerteza e a propensão ao risco existente na Etapa II. Além disso, aspectos sociais, tais como, a pressão

de perda de credibilidade se erros forem cometidos, potencias perdas financeiras entregue aos clientes, entre outros (YEO; NEAL, 2006) podem prejudicar o desempenho na Etapa II.

4.3.4 Considerações Finais

Ao final dessa seção do estudo, sugere-se que, na gestão de fundos de investimento, as heurísticas podem afetar as decisões dos Gestores e a intuição torna-se um elemento crítico no desempenho. Os construtos de Auto-Regulação e Auto-Eficácia podem explicar diferenças entre o desempenho ao longo do tempo.

5 CONCLUSÃO

O objetivo geral dessa pesquisa foi caracterizar a tomada de decisão dos gestores de fundos de investimento de renda variável, sob a perspectiva naturalística da decisão. Nesse sentido, buscou-se, como objetivos específicos, construir um referencial teórico capaz de identificar na literatura elementos característicos da decisão naturalística e o do contexto em que ela ocorre, caracterizar a gestão de Fundo de Investimento, identificando os elementos da tomada de decisão naturalística, analisar os aspectos de reconhecimento e simulações mentais dessa decisão e, por último, explorar pressupostos teóricos de tomada de decisão naturalística à partir dos dados empíricos buscando compreender o desempenho dos Gestores de Fundos de Investimento.

A primeira fase do estudo, desenvolvido através de seis pesquisas exploratórias, aliada e triangulada com a análise de documentos e a análise de conteúdo, demonstrou que na gestão de fundos de investimento, existem diferenciais de decisão, que apesar dos processos serem estruturados, racionais e o ferramental quantitativo estar disponível a todos, há uma parte importante da decisão que reside na expertise do gestor. Sendo essa expertise atribuída ao uso da experiência e intuição em reconhecer padrões críticos, anomalias ou tipicidades que indicam a dinâmica de uma situação de decisão e definem o curso da ação.

Na segunda etapa da pesquisa, buscou-se o aprofundamento da tomada de decisão dos gestores sobre suas atividades essenciais que caracterizam essa gestão, que são a alocação de ativos e a gestão do portfolio. Para tanto, utilizou-se o protocolo CDM (critical decision

method) para as sete entrevistas episódicas realizadas com os gestores as quais permitiram

identificar as principais simulações mentais feitas por eles, sendo os extratos dessas entrevistas de CDM mapeados para o modelo RPD (recognition-primed decison) como referência à revisão de literatura desenvolvida sobre a perspectiva naturalística da decisão.

Na fase três, desenvolvida através da análise e discussão dos resultados obtidos no campo, à luz do referencial teórico e dos objetivos da pesquisa, pode-se inferir as seguintes proposições:

I. Os resultados sugerem que a gestão de fundo de investimento não obedece a ordem das escolhas, sendo assim, a expertise possui um papel determinante, principalmente, na construção de estratégias de investimento (Alocação e Gestão) de recursos.

A decisão na Gestão de Fundos de Investimento em contextos reais pode não obedecer a ordem das escolhas e do julgamento, pois a decisão é dependente do processo de construção do problema desenvolvido pelo Gestor. O Gestor, portanto, reduz o custo cognitivo da decisão, não investindo no aprofundamento das probabilidades. Com isso, se for aceita a alternativa visualizada na fase de reconhecimento do problema, com base na expertise e na intuição, torna-se desnecessário a geração de cenários alternativos para aquela situação. Ou ainda, é possível afirmar que não existe escolha a ser feita nesse contexto de decisão, há apenas a definição de um curso de ação, na qual o papel da expertise e da intuição são essenciais.

II. Os dados demonstram que existem diferenças relevantes entre gestores novatos e peritos que impactam no desempenho, sendo o perito definido pelos repertórios de padrões adquiridos e seu modelo de simulações mentais praticadas.

Em contextos reais de decisão na Gestão de Fundos de Investimento, a habilidade de Gestores peritos em gerar fatos contrários às informações disponibilizadas (oportunidades, avaliação da situação e improvisações), por exemplo, desenvolver e executar estratégias opostas aos indicadores de forma consistente diferencia claramente peritos de novatos. Durante a pesquisa, gestores peritos argumentam que essa habilidade ocorre pois aprenderam a não depender demais dos indicadores. Enquanto gestores novatos entrevistados, por outro lado, pareciam ter dificuldade em imaginar um contexto financeiro diferente daquele que eles estão acostumados a ver através de indicadores

III. Os construtos de auto-regulação e auto-eficiência podem explicar diferenças entre o

desempenho ao longo do tempo, sendo a intuição um elemento crítico na determinação do desempenho.

Na Gestão de Fundo de Investimento, percebe-se a existência de intuição na construção de estratégias de investimento e, podemos inferir que os diferenciais de desempenho estão relacionados a definição dessas estratégias as quais, consequentemente, se valem da intuição. Nesse sentido, a intuição é percebida nessa pesquisa como uma expressão da experiência, a medida que os Gestores constroem padrões que os habilita a rapidamente avaliar situações e fazer decisões rápidas sem a necessidade de comparar opções. Esses padrões, por sua vez, não são meras ferramentas genéricas, são repertórios acumulados diretamente de experiências vivenciadas anteriormente. A intuição, dessa forma, vem a tona

de forma positiva quando os Gestores são suficientemente experiente para confiar nesses padrões aprendidos. Os resultados da pesquisa sugerem que os construtos da auto-regulação e da auto-eficácia na Gestão de Fundo de Investimento, apesar de não terem sido pesquisados nesse estudo, provavelmente podem ser relacionados ao desempenho do Gestor.

IV. Os resultados sugerem a existência de uma linha contínua entre o caráter racional e

intuitivo da decisão do Gestor de Fundo de Investimento e o seu desempenho pode ser determinado pela posição de sua decisão nesse continuum.

Na gestão de fundo de investimento, de forma especulativa, podemos considerar a tomada de decisão em uma linha contínua (continuum), onde em um extremo temos decisões puramente estruturadas com o uso de algoritmos rígidos para a substituição do julgamento humano e em outro extremo um ambiente intratável, sem a possibilidade de procedimentos formais, com uma tomada de decisão totalmente intuitiva. Dessa forma, podemos imaginar, na gestão de fundo de investimento, que não existe uma dicotomia entre os extremos de decisão mas uma abordagem complementar com base na expertise do gestor, o qual define o ponto em que a decisão será posicionada nesse continuum impactando, com isso, seu desempenho.

Em relação as contribuições da pesquisa, do ponto de vista acadêmico, além das proposições que são importantes indicadores pois sinalizam direções para estudos de natureza mais descritiva, uma contribuição importante desse trabalho é a caracterização da tomada de decisão do gestor de fundo de investimento, sob a perspectiva naturalística da decisão. Sob essa ótica, foi utilizado o modelo RPD para mapear as simulações mentais utilizadas pelos gestores bem como o aprofundamento de suas principais atividades, e o uso da expertise em contextos reais de investimentos. Adicionalmente, do ponto de vista prático o estudo oferece uma descrição dos contextos da gestão de fundos de investimento e uma caracterização de como os gestores tomam decisões. Da mesma forma, o estudo desenvolve um inventário de simulações mentais, indicações, objetivos e estratégias utilizados pelos gestores. Essa pesquisa fornece visibilidade aos processos cognitivos pertinentes a expertise e a relação disso com o desempenho dos gestores, até então pouco investigada.

Quanto as limitações da pesquisa e indicações para estudos futuros, pode-se dizer que existem algumas proposições para avançar a pesquisa na gestão de fundo de investimento. Primeiro, esse estudo baseou-se em uma abordagem qualitativa-exploratória, o uso da análise

de conteúdo nas entrevistas abre margem para múltiplas interpretações e categorizações. Os resultados foram construídos com base na visão, experiência e contexto dos indivíduos entrevistados, os quais são sujeitos a vieses. Estudos futuros com abordagens quantitativas correlacionais, através da definição de variáveis críticas que busquem determinar a relação causal da tomada de decisão dos Gestores com seu desempenho, podem aumentar a validade externa dessa pesquisa. Segundo, a natureza do comportamento da tarefa envolvido nesse estudo, no qual a gestão de fundo de investimento é menos dependente do esforço organizacional e mais da estratégia cognitiva do gestor. Possivelmente, essa característica seja diferente em outros contextos de trabalho, portanto, estudo futuros podem empiricamente testar os efeitos observados em outros contextos, particularmente em times, comitês ou grupos de trabalho, para examinar a extensão em que esses efeitos podem ser generalizados. Por

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