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Pressupostos metodológicos

No documento As ânforas do teatro romano de Lisboa (páginas 30-33)

3. AS ÂNFORAS DO TEATRO ROMANO DE LISBOA

3.1. Pressupostos metodológicos

A realização de um trabalho desta natureza implica a adopção de um conjunto de pressupostos metodológicos que deverão ser utilizados de forma coerente no desenvolvimento do estudo. Neste sentido, para uma compreensão global da abordagem que se efectuou à amostra disponível, importa, antes de mais, esclarecer aqui quais os critérios e metodologias adoptados.

Genericamente, realiza-se uma análise qualitativa e quantitativa do conjunto anfórico: privilegia-se a leitura possível das diacronias e sincronias evidenciadas pelos contextos de época romana, a que se acrescenta, numa perspectiva mais ampla de interpretação histórica, os dados da quantificação, devidamente relativizados.

Na estruturação do trabalho procurou-se abranger um conjunto de questões que se consideraram mais importantes e que a moderna investigação tem vindo a consolidar enquanto tendências de investigação preferenciais.

Os diferentes tipos anfóricos foram organizados por conteúdo em quatro grupos distintos - vinho, azeite, preparados piscícolas e outros produtos - e, dentro de cada grupo, ordenados cronologicamente, do mais antigo para o mais recente. Do mesmo modo, os grupos de fabrico foram igualmente estruturados segundo critérios cronológicos.

Os materiais provenientes das intervenções arqueológicas de 2001, 2005 e 2006 encontram-se depositados num espaço de reservas que pertence ao Museu do Teatro Romano de Lisboa, localizado nas suas imediações. Numa primeira fase, procedeu-se a uma triagem qualitativa, seleccionando-se, de entre o vasto número de fragmentos anfóricos e de outras categorias cerâmicas, todos aqueles que se consideram tipificáveis: bordos, asas, fundos e, eventualmente, outro tipo de fragmentos cujas características permitissem uma atribuição tipológica ou que possuíssem elementos epigráficos. Posteriormente, efectuou-se a colagem e o “registo” individual dos materiais, através da marcação, inventariação, e descrição morfológica.

A informação referente a este registo foi condensada numa base de dados em Excel, criada para o efeito, onde se tiveram em conta os seguintes aspectos morfológicos, petrológicos, metrológicos e estratigráficos: número de inventário; ano e

local da intervenção (“casa do guarda” ou “pátio”); proveniência estratigráfica - vala e camada; contexto cronológico da camada; tipo de fragmento (bordo, asa, arranque de asa, fundo, ombro); tipologia; grupo de fabrico (pasta) e zona de proveniência (produção); cor do cerne da pasta e da superfície externa; diâmetro externo do bordo; diâmetro do pé; espessura máxima do bordo, asa e/ou parede do fragmento, a que correspondem as abreviaturas B, A e P, respectivamente; extensão máxima conservada; índice altura/espessura máxima, especificamente para as ânforas de tipo Greco-Itálico e primeiras variantes das Dressel 1 Itálicas.

Com o objectivo de distinguir os diferentes grupos de fabrico registados nas ânforas do teatro romano de Lisboa procedeu-se à análise macroscópica das pastas sobre a totalidade da amostra, com recurso a uma lupa de 15 aumentos, tendo sido adoptados os seguintes critérios de descrição: tipo de pasta e de cozedura; natureza, frequência e forma dos elementos não plásticos; cor do cerne da pasta e da superfície externa - de acordo com a designação e código de Munsell Soil Color Charts (1998) - e tratamento das superfícies.

Os fragmentos classificáveis e suficientemente conservados foram desenhados à escala 1/1, tendo sido tintados com recurso ao programa de desenho vectorial CorelDRAW X3. Posteriormente, foram organizados em pranchas à escala 1/3, seguindo um critério de apresentação de acordo com a classificação tipológica e com referência ao número de inventário, fazendo-se acompanhar de uma escala gráfica.

A classificação das ânforas foi efectuada com base em critérios morfológicos, não deixando de ter em conta os aspectos relacionados com as características de fabrico. Optou-se por utilizar os quadros tipológicos recorrentemente utilizados no meio científico que se acharam mais adequados à amostra, sem deixar, contudo, de fazer referência a outras classificações.

Relativamente à análise dos contextos, a informação das ânforas foi cruzada com os dados disponíveis sobre outros materiais cerâmicos, nomeadamente as cerâmicas de engobe vermelho pompeiano6, as paredes finas, as lucernas e a terra sigillata7,

6 Conjunto estudado pelo próprio no âmbito do seminário “A sociedade romana do Ocidente peninsular”

do Mestrado em Pré-história e Arqueologia, entretanto publicado na Revista Portuguesa de Arqueologia (Fernandes e Filipe, 2007).

procurando-se, desse modo, uma correcta apreciação das diferentes fases cronológicas representadas na estratigrafia do teatro romano. Paralelamente, apresentam-se estes dados sob a forma de uma tabela com a indicação da sequência estratigráfica e faseamento cronológico, proporcionando uma leitura mais linear e imediata das sincronias e diacronias documentadas.

Embora não perdendo de vista a relatividade de que se revestem os resultados obtidos através da quantificação de cerâmicas, optou-se por efectuar uma apreciação quantitativa do conjunto, considerando-se que esses dados permitem um quadro mais alargado da interpretação histórica.

Nesta perspectiva, privilegiou-se a análise por número mínimo de indivíduos (NMI) de acordo com o protocolo de quantificação de cerâmicas de Mont Beuvray (Arcelin e Tuffreau-Libre, 1998), devidamente adaptado às especificidades da amostra disponível. Sob pena de adulterar o significado da amostra, não foram contabilizados os fragmentos de asa e fundo, tendo-se calculado o NMI apenas com base nos fragmentos de bordo. Esta opção deveu-se sobretudo à efectiva dificuldade em diferenciar algumas formas tipológicas, de idêntica morfologia e características petrográficas, somente a partir de fragmentos de asa ou fundo. Tal verifica-se, principalmente, entre as formas Dressel 1 Itálica e Greco-Itálica, bem como em algumas produções da região do Guadalquivir como os tipos Haltern 70, Classe 67, Dressel 12 e Classe 24.

Contudo, foi contabilizado um fragmento de fundo do tipo Richborough 527 e uma asa de tipo Dressel 2-4 de produção itálica. De facto, tendo em conta as suas características morfológicas e petrológicas, a classificação destes exemplares não oferece quaisquer dúvidas. Acresce o facto de não existir neste conjunto qualquer bordo atribuível àquelas tipologias que apresente as típicas pastas de um e outro tipo - existe um fragmento de bordo de Dressel 2-4 mas de produção bética -, considerando-se mais sensato a inclusão destes dois fragmentos no NMI do que a sua não representação.

7 Estes materiais encontram-se actualmente em estudo por Lídia Fernandes e Eurico Sepúlveda,

(anunciando-se para breve a publicação dos resultados), a quem não posso deixar de agradecer a cedência dos dados cronológicos, tão importantes para uma correcta apreciação da cronologia dos contextos.

No documento As ânforas do teatro romano de Lisboa (páginas 30-33)

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