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Pressupostos que caracterizam a Responsabilidade Civil e o abandono

CAPÍTULO 3 A RESPONSABILIDADE CIVIL E O DANO MORAL

3.1 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS, PRESSUPOSTOS E DESDOBRAMENTOS

3.1.3 Pressupostos que caracterizam a Responsabilidade Civil e o abandono

Entende-se por ato ilícito aquele que contraria o ordenamento jurídico e que lesiona o direito de outrem, dele nasce o dever de reparar o dano no ordenamento, sendo ele previsto no artigo 186 do Código Civil Brasileiro, aduz que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Ao analisarmos este dispositivo, é possível a identificação dos elementos que integram a Responsabilidade Civil, que são: a conduta do agente, o nexo causal e o dano. Esse instituto sofre grandes mudanças, e tem evoluído com o tempo, principalmente no que toca a reparação do dano, que hoje é feita em pecúnia, e antigamente não necessariamente.

Desse modo, faz-se mister uma apreciação dos pressupostos deste instituto, como meio de não deixar sem reparação nenhum ofendido, seja a ofensa patrimonial ou extrapatrimonial.

Para melhor elucidação, a seguir, uma breve análise dos pressupostos:

3.1.3.1 Conduta

A conduta humana é o elemento primário de todo ato ilícito, e por conseguinte, da responsabilidade, Entende-se por conduta, o comportamento humano exteriorizado por ação ou omissão, de modo a produzir consequências jurídicas. A ação que decorre do ato ilícito baseia-se na culpa, sendo o ato comissivo aquele que não era devido, enquanto que o omissivo ocorre por inobservância de um dever.

Desse modo, preceitua Maria Helena Diniz67:

A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou licito, voluntario e objetivamente imputável do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado.

A conduta humana caracteriza-se essencialmente pela voluntariedade, ato de vontade que na responsabilidade civil não deve ser concordante com o ordenamento jurídico. Salienta- se que a voluntariedade é tão somente a consciência da ação, o discernimento, não a consciência de causar dano, pois essa consciência de causar dano é característica do dolo.

67

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. VII.

3.1.3.3 Dano

O dano é elemento essencial, pois seria impossível na responsabilidade civil, pleitear a indenização ou o ressarcimento sem a sua ocorrência. Para tanto, entende Rui Stoco68:“O dano é, pois, elemento essencial e indispensável à responsabilização do agente, seja essa obrigação originada de ato ilícito ou de inadimplemento contratual, independente, ainda, de se tratar de responsabilidade objetiva ou subjetiva.” e tem essa compreensão corroborada por Maria Helena Diniz, que assim aponta:“o dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento, sofre uma pessoa, contra a sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral”.

3.1.3.4 Nexo de causalidade

O nexo de causalidade é o liame que liga a conduta do agente ao resultado danoso, é avaliando o nexo da causa que se torna possível concluir quem foi o causador. Todavia, para que haja a compensação financeira, é imprescindível a verificação da ocorrência do dano a partir da prática do agressor, não sendo suficiente apenas a existência do dano por parte da vítima.

Para a aplicação da responsabilidade civil, é necessário que o dano tenha sido causado pela atitude ilícita do agente, somada à relação de causa e efeito existente entre ambos, ou seja, considera-se, como nexo causal a relação de causa e efeito entre a conduta praticada e o resultado.

Para melhor explicar o assunto, surgiram algumas teorias, dentre as quais a teoria da causalidade adequada; teoria dos danos diretos e imediatos e a teoria da equivalência dos antecedentes, sendo essas as três principais teorias.

Também conhecida como teoria da equivalência das condições, ou ainda conditio sine qua non, a teoria da equivalência dos antecedentes considera que toda e qualquer circunstância que tenha concorrido para a produção do dano é considerada como causa. Esta teoria é adotada pelo Código Penal Brasileiro, o qual estabelece em seu art. 13 que:

Art. 13. O resultado de que depende a existência do crime, somente é imputável, a quem lhe deu causa. Considera-se a causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Essa teoria tem sido bastante criticada, pois caso fosse adotada na esfera civil,

68

STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7 ed.. São Paulo Editora Revista dos Tribunais, 2007.

teríamos uma agressão infinita, pois segundo Sérgio Cavalieri69, em um caso de atropelamento, por exemplo, não responderia apenas quem dirigia o veículo com imprudência, mas responderia também o vendedor, o fabricante e quem de alguma forma tivesse fornecido a matéria-prima etc.

Na teoria de interrupção do nexo causal, conhecida como teoria da causalidade direta ou imediata, a causa pode ser classificada somente como antecedente de fato, unido por um vínculo de necessariedade ao resultado danoso, sendo o dano uma consequência sua imediata e direta.

Parte da doutrina70, como Carlos Roberto Gonçalves, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, acredita que essa teoria é a adotada pelo Código Civil de 2002, em seu art. 403 diz: “Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo no disposto na lei processual”.

Assim afirma Carlos Gonçalves:

[...] Das várias teorias sobre o nexo causal, o nosso Código adotou, indiscutivelmente, a do dano direto e imediato, como está expresso no art. 403; e das varias escolas que explicam o dano direto e imediato, a mais autorizada é a que se reporta à consequência necessária71.

A teoria menos extremada é a teoria da causalidade adequada, que exprime uma lógica plausível, ou seja, haverá nexo causal quando várias condições contribuírem concorrentemente para a ocorrência de um mesmo resultado, a causa determinará a produção do efeito mais danoso.

Aguiar Dias, Caio Mário e Sérgio Cavalieri Filho, consideram a teoria da causalidade no âmbito civil ser a mais adequada, entendendo este último que apesar da literalidade do artigo, que induz ao entendimento de que no ordenamento jurídico brasileiro a teoria adequada é a do dano direto e imediato, a teoria da causalidade adequada prevalece na prática, haja vista a possibilidade no ordenamento jurídico brasileiro da responsabilização por danos indiretos72.

69

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2010.

70

Pablo de Paula Saul Santos. Responsabilidade civil: origem e pressupostos. Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11875 Acesso em: 16 de abril de 2016

71

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. v. IV.

72

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2010.

Destarte, diante das divergências doutrinárias, Rui Stoco aduz:

[...] Enfim, independente da teoria que se adote, como a questão só se apresenta ao juiz, caberá a este, na análise do caso concreto, sopesar as provas, interpretá-las como conjunto e estabelecer se houve violação do direito alheio, cujo resultado seja danoso, e se existe um nexo causal entre esse comportamento do agente e o dano verificado73.

Dessa forma, entende-se ser o nexo causal um elemento de referência entre a conduta e o resultado, possibilitando através dele, concluir quem foi o causador do dano.

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