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4 EFEITOS CIVIS DECORRENTES DA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL

4.2 DA PRESTAÇÃO DOS ALIMENTOS

Os alimentos são verbas para a satisfação das necessidades vitais do ser humano, objetivando proporcionar a sua subsistência de quem necessite, prestados na medida proporcional para satisfazer as necessidades de vestuário, habitação, assistência médica, instrução e educação, do reclamante e dos recursos do alimentante, esse é o conceito que pode ser extraído, dos artigos 1.694, §§1º e 2º, 1.695 e 1.920, todos do Código Civil. São devidos entre cônjuges e companheiros, mutuamente, bem como dos ascendentes aos descentes.

Acerca dos alimentos assevera Gomes (2002, p. 430-431):

“Não basta, todavia, a existência do vínculo de família para que a obrigação se torne exigível; é preciso que o eventual titular do direito à prestação de alimentos os necessite de verdade. Necessário, numa palavra, que esteja em estado de miserabilidade. Por tal deve-se entender a falta de recursos, sejam bens ou outros meios materiais de subsistência, mas, também, a impossibilidade de prover, pelo seu trabalho, à própria mantença.”

No caso específico das inseminações artificias heterólogas, na hipótese da autorização marital ser tácita, é necessário que a mulher, inicialmente, proponha ação de reconhecimento de paternidade, instruindo-a com a provas admitidas em direito, com a finalidade de comprovar o estado de filiação, e posteriormente requerer as verbas alimentícias, nos termos do artigo 2º, da Lei 5.478/68. Porém, caso a filiação seja presunção absoluta, com a autorização marital para a realização da inseminação artificial heteróloga, não há o que se questionar acerca da prestação de alimentos, com aplicação direta dos artigos 1.694 e 1.696 do Código Civil, bem como do mesmo dispositivo legal anteriormente mencionado, consistindo a causa jurídica a legítima obrigatoriedade legal.

Deve ser ressaltado que a prestação alimentícia nesse caso obedece à cláusula de imprevisão Rebus sic stantibus, podendo estes serem revistos no caso das necessidades alimentares, sociais, educacionais do alimentando. Tais verbas alimentícias podem ser, desde logo, fixadas, por meio de medida liminar antecipatória do mérito, no bojo da ação de alimentos, no caso de apresentação de contrato ou termo de autorização marital celebrado entre os cônjuges, quando da

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realização do procedimento de inseminação artificial heteróloga, valendo este como prova pré-constituída da filiação, nos termos do artigo 4º da Lei 5.478/68.

Caso a autorização marital para a realização da inseminação artificial heteróloga não tenha sido devidamente registrada em um documento escrito, ou seja, na ausência de prova pré-constituída, porém, tal relação jurídica tenha sido testemunhada por pessoas que possam declara-la em juízo, sendo necessária a dilação probatória, pode a mulher requerer os alimentos provisionais, como medida cautelar incidental, no bojo da ação de reconhecimento de paternidade cumulada com pedido de alimentos, nos termos do artigo 852 do Código de Processo Civil; podendo a parte ré, caso não seja reconhecida a paternidade, ilidir a concessão liminar de alimentos por meio da ação de exoneração de alimentos; na hipótese de reconhecimento da filiação, os alimentos provisionais convertem-se em definitivos, podendo ser reajustados de acordo com as necessidades do alimentando (rebus sic stantibus).

É factível ainda demonstrar, na concessão dos alimentos provisionais, os requisitos da concessão de qualquer medida cautelar, quais sejam, fumus boni juris e o periculum in mora.

Ademais, é perfeitamente possível a mulher, durante o período gestacional, oriundo de uma inseminação artificial heteróloga, tendo sido esta técnica de reprodução humana assistida autorizada expressa ou tacitamente pelo seu marido ou companheiro, propor uma ação de alimentos gravídicos, que são aqueles valores suficientes para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes à alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes, conceito este que é extraído do artigo 2º da Lei 11.804/2008 (lei que disciplina os alimentos gravídicos).

Dividindo-se a doutrina acerca da legitimidade ativa para propor a referida ação; entre o nascituro, por meio de sua mãe, como sua representante legal, atuando como substituto processual (GONÇALVES, 2013, p. 579); ou a segunda corrente que entende que a mãe é a polo ativo legítimo, encabeçada por FLÁVIO

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MONTEIRO DE BARROS21. Ainda sobre os alimentos gravídicos, é de significativa importância destacar o posicionamento jurisprudencial sobre a mitigação do formalismo excessivo quanto à prova pré-constituída da paternidade, podendo existir uma presunção juris tantum desta, conforme se pode extrair do julgado abaixo citado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - ALIMENTOS GRAVÍDICOS -FIXAÇÃO

PROVISIONAL - INDÍCIO DE PATERNIDADE - PRESENÇA -

ARBITRAMENTO EM OBSERVÂNCIA AO BINÔMIO

NECESSIDADE/POSSIBILIDADE - DECISÃO MANTIDA. 1. A fixação de alimentos gravídicos pressupõe a existência de indícios de paternidade e a necessidade da gestante, em consonância com a possibilidade do suposto pai, sendo que, não se desincumbindo o recorrente de seu ônus probatório, com fulcro no artigo 333 do CPC, o desprovimento do agravo é medida de rigor22.

Sobre a concessão de alimentos, nas inseminações artificiais heterólogas, é plausível destacar recente corrente doutrinária, encabeçada por FLÁVIO TARTUCE (2014); ainda minoritária, contudo imbuída de uma grande fusão de institutos do Direito Constitucional e Civil; que entende ser plausível, á luz do Princípio da dignidade da pessoa humana, do direito à vida (e seus desdobramento, tais como a saúde, alimentação e assistências aos desamparados), e da solidariedade, a proposição de uma ação de investigação da origem genética e ancestral cumulada com pedido de alimentos, a fim de que se possa descobrir a origem biológica do proponente, para que se possam cobrar verbas alimentares do doador do material genético (gametas masculinos ou femininos).

Todavia, a situação acima é um caso de aplicação do direito sui generis necessitando que aquele que proponha a ação se encontre em situação peculiar de doença ou estado de extrema miserabilidade, que o impeça de ter uma vida digna, consistindo esse atual entendimento doutrinário numa absoluta excepcionalidade quando em conflito com o sigilo necessário entre doadores e receptores do material genético utilizado na reprodução humana assistida.

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BARROS, Flávio Monteiro de. Alimentos gravídicos. In: Boletim 03/09, Curso FMB, 2009.

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(TJ-MG - AI: 10134120121113001 MG, Relator: Teresa Cristina da Cunha Peixoto, Data de Julgamento: 23/06/2013, Câmaras Cíveis / 8ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 05/07/2013)

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