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2.3 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretônicas do PB

2.3.5 As pretônicas no falar teresinense

O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronúncia das vogais médias na posição pretônica no dialeto de Teresina-PI. O corpus utilizado pela autora contou com entrevistas de 36 informantes, selecionados estratificadamente, conforme o gênero (masculino e feminino), a faixa etária (entre 20 e 35 anos; entre 36 e 50 anos e acima de 50 anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental; com Ensino Médio e com Ensino Superior). A partir dessas entrevistas, foram coletadas 5.308 realizações de pretônicas.

Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretônicas é mais comum na região Nordeste do Brasil, Silva (2009) percebeu que, no município de Teresina-PI, as vogais, nessa posição de sílaba, podem ser realizadas de três formas: como vogais abertas [ɛ, ɔ]; como vogais médias [e, o] e como vogais altas [i, u]. Nesta dissertação, porém, optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais médias na posição pretônica, que é o processo de nosso maior interesse.

Desse modo, as variáveis linguísticas selecionadas pela autora para estudar o comportamento das vogais médias foram:

 Contiguidade;  Homorganicidade;  Tonicidade;  Paradigma;  Distância da tônica;  Derivada de tônica;

 Contexto fonológico precedente;  Contexto fonológico seguinte.

Os fatores sociais escolhidos foram os três já mencionados, a saber: gênero; faixa etária e escolaridade.

As rodadas dos dados no programa estatístico Varbrul 2S mostraram que houve 3.219 ocorrências para a vogal /e/ pretônica, em que 2.079 realizaram-se como [ɛ]. Para /o/ houve 2.089 ocorrências, em que 1.076 realizaram-se como [ɔ].

Para a realização da vogal [ɛ] pretônica, o programa selecionou sete variáveis na seguinte ordem:

 Vogal contígua;

 Contexto fonológico precedente;  Paradigma;

 Contexto fonológico seguinte;  Faixa etária;

 Escolaridade;  Homorganicidade.

Para a realização da vogal [ɔ] na posição pretônica, o Varbrul 2S também selecionou sete variáveis:

 Vogal contígua;

 Contexto fonológico precedente;  Contexto fonológico seguinte;  Paradigma;

 Escolaridade;  Faixa etária;  Gênero.

Sobre a variável vogal contígua, os resultados de Silva (2009, p. 126-133) mostraram que, quando seguida por uma vogal tônica baixa (ex.: “conversar”, “jornal”) ou por vogais tônicas médias baixas (ex.: “melhor”, “doméstico”), o abaixamento tanto de /e/ quanto de /o/ foi favorecido. Para a variável contexto fonológico precedente, os dados revelaram que as velares precedentes (ex.: “retratar”) e a posição inicial absoluta (ex.: “elevado”), que Silva (2009) denomina de vazio, favoreceram o abaixamento de /e/. Já as coronais (ex.: “novela”), as palatais (ex.: “xodó”) e a posição inicial absoluta (ex.: “observar”) favoreceram o abaixamento de /o/.

Apesar de a variável paradigma ter sido selecionada pelo programa estatístico, tanto para /e/ quanto para /o/, os resultados mantiveram-se na posição neutra ou próximos a ela, o que demonstra que essa variável não favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na posição pretônica.

Quanto ao contexto fonológico seguinte, apenas as consoantes velares seguintes (ex.: “local”) mostraram-se relevantes para o abaixamento de /o/. Para a realização de [ɛ], além das velares (ex.: “pegar”), as consoantes palatais seguintes (ex.: “melhor”) também favoreceram o processo. Assim como ocorreu para o paradigma, os resultados para a variável homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e, como essa foi a última variável selecionada pelo programa para a vogal /e/, de acordo com Silva (2009), ela não exerceu nenhum papel sobre a variação dessa vogal.

Sobre as variáveis extralinguísticas, para a variável faixa etária, que foi selecionada para ambas as vogais, os resultados apontaram uma diferença entre o uso das vogais abertas pelos mais jovens e os demais informantes, uma vez que a faixa etária entre 20 e 35 anos ficou abaixo do ponto neutro. Entretanto, em geral, essa variável não teve resultados muito além do ponto neutro. Então, apesar dessa diferença, a discrepância foi pequena entre todos os fatores analisados.

Quanto à variável escolaridade, embora todos os resultados tenham ficado próximos do ponto neutro, os falantes com Ensino Médio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e [ɔ] na posição pretônica em comparação com os falantes que possuem Ensino Fundamental e Ensino Superior. Silva (2009) acredita que esse resultado tem relação com a variável faixa etária e, por essa razão, a autora cruzou os resultados das duas variáveis. Por meio desse cruzamento, a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as vogais médias abertas com menos frequência quando possuíam Ensino Superior, “[...] ao passo que o mesmo declínio não ocorre com os falantes mais jovens, cujos índices mostram

uma estabilização, ficando abaixo do ponto de referência e ao redor dele” (SILVA, 2009, p. 138).

Com base nesses resultados, a autora concluiu que

[...] por envolver o fator faixa etária, o cruzamento dessa com a escolarização também nos dá subsídios para dizer que não há indícios de mudança em curso, pois os índices mais altos couberam aos mais velhos e os mais baixos aos mais jovens. Isso é um sinal de preservação do sistema (SILVA, 2009, p. 139).

A variável gênero foi selecionada apenas para a vogal /o/ e revelou que as mulheres, embora com uma diferença bem pequena, realizaram mais a vogal aberta posterior do que os homens. Silva (2009) verificou ainda que as variáveis extralinguísticas não exerceram um papel relevante para o abaixamento das vogais médias pretônicas e que os resultados obtidos em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos.

Estudos como esses, já realizados em diversas regiões do país, são extremamente relevantes para a compreensão e o conhecimento do que, de fato, é falado no Brasil. Apesar de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seção ter o abaixamento das vogais médias pretônicas como principal objeto de estudo, todas são pesquisas de suma importância e que nos ajudaram a empreender a análise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG. Essas pesquisas mostraram que, em geral, a vogal da sílaba tônica é a principal motivadora do processo em estudo, sobretudo, com relação à harmonia vocálica.