• Nenhum resultado encontrado

A. [Sem título; primeiras anotações para Preto e Branco 1908 – 1909]

[79]

[Sem título]

i. [esboço]

um movimento de nuvens {[?]}19 ii. [esboço]

Deslocamento de preto e branco.20 Muitos deslocam-se (de modo ritmado).

Depois, vindos da esquerda, páram em posição de marcha. Voltam-se lenta- mente, os braços pendentes afastam-se do corpo. Ao fundo caminham mu- lheres (de branco) da esquerda para a direita. A mesma cena paradas. (Um som muito breve de corneta). Silêncio, apenas movimento de nuvens.

[80]

O preto cresce. Adormecimento. Voz. [iii. 2 esboços sem qualquer texto]

IV. [esboço com indicações de cores: limão – amarelado – branco – cinábrio + verde – esverdeado – pret.[o]

Em cima de um cavalo branco (malhado)21 cavalga um cavaleiro preto. Mais

tarde,22 vento nas árvores. Desaparecimento das nuvens. (Barulho de cascos).

Chegam pessoas que se sentam de perfil. [Esboço] O céu torna-se branco azulado.

[81]

Preto [esboço]23

Faz-se escuro. As pess.[oas] põem-se de pé. De repente transportam fachos brancos e afastam-se com estranhos movimentos.

19 No manuscrito a palavra riscada

poderá ser “nuvens”]

20 [No manuscrito a palavra “branco”

foi riscada e posteriormente reescrita.]

21 [A ideia é a de um cavalo russo.] 22 [“Mais tarde” foi riscado e depois

novamente introduzido.]

23 [Este final do 4º quadro está escrito

na p. 81 a seguir a uma receita de culinária.] (Boissel, 1998: 100.)

preto e branco

1908 – 1909

A. Composição para palco III – Preto e Branco

[1]

Composição para palco III (“Preto e branco”).

i. <”Branco”.> Música. Sobe o pano. No fundo do palco uma figura sentada, de formas arredondadas,* branca, grande, (a partir dos ombros a parte su- perior desaparece na teia do palco). Ela tem sobre os joelhos uma espécie de lenço branco que cai em grandes pregas sobre o chão. Lá bem ao fundo, montanhas azuis (de um azul muito profundo com manchas avermelha- das e amareladas sobre a direita). Em baixo o céu verde-sujo eleva-se à es- querda em azul, à direita em rosa. Nuvens oblongas, brancas e comprimi- das passam enviuzadas sobre o céu, da esquerda para a direita. O chão é branco-róseo. À esquerda, à boca de cena, sobre uma pedra cinzenta, um homem vestido de preto mantém ambos os braços no colo.

[2]

Muito tempo depois, ele levanta o braço esquerdo para o alto, mantém-no es- ticado por cima da cabeça, enquanto o braço direito cai em direcção ao chão. Cortina. A música continua.

ii. {Movimento de} “Preto” {e branco}. {Azul-esverdeado} Céu verde-azulado com 2 nuvens (em cima à direita, maiores, algodoadas, quase brancas; em baixo à esquerda, pequenas, muito claras, branco-amareladas).

Grande montanha preta, ao fundo, <um pouco> {parecida com} u<m> monstro deitado sobre todo o palco. Muito em breve, homens vestidos de preto (jovens, velhos com rostos esverdeados, róseos, etc.) deslocam-se de- vagar no palco, da esquerda para a direita, em direcção à boca de cena, apoiando-se em paus (pretos). Quando tiverem passado entre 10 a 12, pe- quena pausa; a seguir prossegue o movimento. Depois de entre 6 a 8 já es- tarem em cena, vem a correr da esquerda um jovem todo vestido de branco com um rosto de um amarelo muito quente e cabelos

* O número depende da dimensão do

palco: não deve haver muitas pessoas em cena.

[3]

muito loiros. Aproximando-se bastante dos outros, ele estica de repente o braço esquerdo, com a palma da mão para cima e para a frente, o braço direi- to estendido um pouco para trás. Tudo se imobiliza. <Atrás dos homens> des- locam-se, da esquerda para a direita, mulheres vestidas de branco com rostos escuros ou claros, os braços caídos ao longo do corpo e de costas direitas. Depois de 10 a 12 terem passado, pausa, mais 6 a 8,* da direita entra uma mu- lher vestida de preto a andar depressa que, tal como acima se menciona, in- terrompe o movimento. Por um momento tudo se imobiliza. A seguir todas as pessoas se movimentam muito devagar em direcção ao espectador. Pausa. Elas levantam os braços com os cotovelos ligeiramente flectidos e as mãos abertas e estendidas (as costas das mãos para cima) até à altura das ancas, as cabeças inclinadas.

[4]

Ouve-se por um momento um subtil e acentuado som de corneta. Os braços elevam-se completamente, as cabeças pendem para trás. Silêncio. Apenas as nuvens se deslocam devagar para cima e desaparecem. Os braços tornam a cair, as pessoas sucumbem e sentam-se em lugares diversos. Só o homem branco e a mulher preta ficam de pé, imóveis (aliás, eles nunca tomam parte nesses movimentos e permanecem muito direitos, de perfil, com as mãos <bem> cruzadas sobre o peito). A montanha pret.[a] eleva-se primeiro deva- gar e depois cada vez mais depressa. Assim que ela tenha praticamente co- berto todo o fundo, começa a ouvir-se por trás do palco uma voz gutural mui- to aguda que anuncia qualquer coisa indistinta, nervosa e incómoda.

[5]

Escuridão progressiva, na qual também a voz se dilui [?].

iii. <”Preto e Branco”>. Música (com duração mais longa). Cortina. Atrás 2 montanhas gigantes que deixam apenas entrever uma estreita faixa verde clara de céu (a montanha da esquerda é de um azul muito sombrio a ten- der para o preto, com manchas pretas espalhadas irregularmente, a da di- reita tem <umas quantas> listras vermelhas aqui e acolá). À boca de cena, uma colina preta (não muito alta) que evoca um pouco um{caixão} ataúde. Sobre ela <deitada> de prefil uma figura de mulher {branca}, grande, in-

distinta, 5 x maior do que o tamanho natural, coberta com um tecido bran- co <( a cabeça também)> e até aos pés que, ao chegar ao chão, continua por aí fora. Após um momento, surgem da esquerda muitas pessoas vestidas de cores várias, com os rostos na mesma tonalidade do fato. Coladas umas às outras, elas caminham como

[6]

uma comprida fita colorida em direcção ao fundo <do palco> e depois até à boca de cena (como numa procissão), comunicando entre si através de mo- vimentos dos braços.

Por fim, elas formam uma longa fila no fundo à esquerda <e cantam>: “Medo profundo, intuições alegres

“Gélidos cumes e trilhos vacilantes.

“Véu preto como a morte. Ventos em sanha. “Silêncio branco. Despedaça e enlaça! “Laços em pedaços!

“À vista lugares remotos!

Despedaça e enlaça! “Pedaços enlaçados

“ O preto dominado!

“Despedaça e enlaça!”

(Aquando de “Pedaços enlaçados”, as pessoas deslocam-se devagar para a di- reita – postura erecta, ligeiramente a des

[7]

cair para a frente, os pescoços direitos, os braços pendentes). A pouco e pou- co faz-se escuro. No palco vazio, durante um certo tempo, luz difusa, cinzen- ta. Depois, a pouco e pouco, escuridão total.

iv. Música forte. Cortina. Céu amarelo-alaranjado com nuvens brancas, ar- redondadas e alongadas. Três grandes árvores altas com formas arredon- dadas e enviuzadas, com ramos pretos (dos quais 2 têm manchas coloridas – arredondadas – como se fossem frutos). À esquerda, no horizonte, faixas pretas estreitas. Em cima de um cavalo branco (cavalo russo-rodado), da direita para a esquerda, cavalga devagar um cavaleiro vestido de preto (grande barulho dos cascos). Um vento agita as árvores, as nuvens elevam- -se e tornam-se cada vez mais densas. {Atrás} Da direita surgem figuras

[8]

cobertas com véus (o primeiro verde-claro quente, o segundo verde-claro frio, o terceiro verde-claro quente, etc.). Assim que elas tiverem alcançado 2/3 da cena {ajoelham-se} sentam-se de perfil com os joelhos flectidos, de viés, umas atrás das outras. Depois de um curto momento, ouve-se atrás do palco um forte cavalgar. O céu vai-se tornando completamente branco, algumas faixas pretas formam-se bem no cimo. Escurece <bastante>. As figuras levantam-se de repente e de repente têm nas mãos fachos a arder. Afastam-se precipita- damente, sempre a olhar para todos os lados. As ásvores voltam a balançar. Um pássaro {azul} verde eleva-se nos ares e desaparece no alto, tornando-se cada vez mais azul e por fim completamente azul.