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1. BREVE HISTÓRIA DO MUNDO ÁRABE

1.3 A PRIMEIRA GUERRA DO GOLFO

A guerra do Golfo ajudou a construir algumas divergências entre Estados Unidos e Iraque quando se trata de política externa, pois foi a maior intervenção na região por potências estrangeiras desde as grandes guerras mundiais.38 No entanto, para um melhor entendimento, foi preciso descrever rapidamente a guerra que antecedeu esta: a Guerra Irã- Iraque.

As causas da guerra, segundo Lewis, podem ser entendidas pelos seguintes motivos:

A guerra Irã-Iraque teve muitos aspectos diferentes. Podia ser, e foi, apresentada em termos pessoais, como um confronto entre líderes carismáticos, Khomeini e Saddam Hussein; em termos étnicos, entre persas e árabes; em termos ideológicos, entre o revivalismo islâmico e o modernismo secular [...], em termos sectários, entre sunitas e xiitas; em termos econômicos, em luta pelo controle de petróleo da região; e mesmo entre os termos em antigos termos de poder político, como uma briga por territórios e luta pela hegemonia regional.39

Em um primeiro momento, os Estados Unidos, assim como a URSS, apoiaram o Iraque, pois era compreensível de acordo com os seus interesses. Países como o Kuwait e a Arábia Saudita também apoiaram Saddam Hussein com apoio financeiro. O Irã estava isolado, pois considerava as duas superpotências como inimigas.

Com a ajuda desses países, Saddam Hussein esperava que a guerra fosse rápida, no entanto, ela durou oito anos (1980-1988), enfraquecendo o país. O conflito também enfraqueceu os países muçulmanos, principalmente do Oriente Médio, pois os colocou como inimigos entre si, dividindo a região.

38ZAHREDDINE, Danny; LASMAR, Jorge Mascarenhas; TEIXEIRA, Rodrigo Corrêa... Op. Cit., p. 83. 39LEWIS, Bernard... Op. Cit, p. 324.

O que parecia ser uma excelente oportunidade para o governante do Iraque, tornou-se um prejuízo. Para suprir parte do desgaste, o Iraque decidiu realizar uma invasão no Kuwait.

Saddam Hussein acusava o vizinho de causar a queda do preço do petróleo, através do aumento da oferta do produto, além de reivindicar questões anteriores relacionadas ao território; de roubar petróleo de Rumaila, um dos poços do Iraque; que a população do Kuwait solicitava a intervenção e, ao combater o Kuwait, estaria se defendendo de um agente do mundo imperialista.40

O Iraque necessitava de uma saída mais extensa para o mar, pois seria ideal para o déficit que a guerra anterior causou, e, como justificativa, afirmou que, historicamente, o território do Kuwait fazia parte do Iraque. E, assim como no conflito que antecedeu, Hussein acreditou que teria o apoio dos Estados Unidos e de outras potências, mas a política internacional havia mudado.

Com o fim da URSS, o mundo já não presenciava o contexto da Guerra Fria, e os Estados Unidos, considerado a maior potência mundial, já não defendia os mesmos interesses. O domínio do Iraque sobre essa região prejudicaria os interesses petrolíferos dos Estados Unidos e de outros países árabes, forçando o governo estadunidense a seguir uma posição contrária à tomada na guerra Irã-Iraque.

Com a queda da URSS, Saddam Hussein

não foi mais impedido de se meter em aventuras perigosas, como poderia ter acontecido no passado, pela cautela de uma superpotência protetora, e aproveitou plenamente a nova liberdade. Mas havia um preço. Como seqüelas logo demonstraram, ele não podia mais convocar a superpotência que o patrocinava para protegê-lo de outra superpotência invocada por sua vítima na região.41

A própria Rússia decidiu não se envolver no conflito, deixando mais clara a superação definitiva da dinâmica da Guerra Fria, consolidando o poder estadunidense na região e também na Guerra do Golfo.

40ZAHREDDINE, Danny; LASMAR, Jorge Mascarenhas; TEIXEIRA, Rodrigo Corrêa... Op. Cit., p. 83-84. 41LEWIS, Bernard... Op. Cit, p. 324.

A sociedade internacional solicitou a saída das tropas iraquianas do Kuwait, pedido este que não foi atendido. Como resposta, as Nações Unidas aprovaram que as exportações iraquianas de petróleo fossem embargadas, mas as tropas ainda permaneceram no país. A continuidade levou, então, a aprovação de uma intervenção liderada pelos Estados Unidos no país pelo Conselho de Segurança da ONU.

Com a recusa de Saddam Hussein em se retirar do país em dois dias, prazo estabelecido pelos Estados Unidos, deu-se início, em 15 de janeiro de 1991 a um ataque aéreo realizado pela Grã-Bretanha e os Estados Unidos, seguido de uma invasão terrestre. Em aproximadamente 100 dias, as tropas iraquianas haviam deixado o Kuwait.

Essa intervenção foi vista como necessária nas palavras de Demant, quando este afirma: Mais uma vez, o mundo árabe precisou de uma intervenção internacional para se salvar.42 É uma afirmação perigosa, pois legitima a necessidade das intervenções, colocando elas como necessárias no mundo árabe.

Para Zahreddine, Lasmar e Teixeira,

se a intervenção militar resolveu a ocupação do Kuwait, ela deixou várias questões sem resolver, a começar pela permanência do ditador Saddam Hussein. Quando alguns meses após o fim da guerra, rebeldes curdos se revoltaram contra a ditadura em todo Iraque, o mundo ocidental não interferiu em um primeiro momento.43

Tanto a Grã-Bretanha quanto os Estados Unidos estavam defendendo os seus interesses. Eles queriam o monopólio do petróleo e da região, e a permanência de Hussein no poder não trazia grandes perigos para sua hegemonia. O bem estar da população e o fim de um regime cruel e sanguinário não eram as suas preocupações.

Esses pontos são importantes para questionar até que ponto as intervenções foram realmente necessárias no mundo árabe. Os maiores prejudicados delas não são os países e nem os governantes, mas a própria população árabe. É importante problematizar essas questões e não se prender às notícias com tendências conservadores e sem problemática sobre o assunto.

42DEMANT, Peter... Op. Cit. p. 120

1.4.

AS INTERVENÇÕES APÓS O ATENDADO DE 11 DE