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Primeira grande sequência diegética

II. ARQUITECTURA ROMANESCA 1 Ordenação sequencial e lógica

3) Primeira grande sequência diegética

3.1. criação da situação-problema a) amores entre Katy e patrão Campos b) casamento encobridor

c) acolhimento do menino

3.2. encobrimento dos amores-segredo

a) moleque e Maria Helena: afecto mútuo (menina<> muleque) b) moleque, trabalhador na mina

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Ocorre a primeira grande sequência diegética. Dá-se a criação da situação- problema e o descobrimento da situação. João Xilim, neto da velha Alima e filho de Kati, oculto na pequena ilha do rio, regressado depois de passar seis anos como embarcado, relembra o seu passado de menino no Marandal. Tal como os outros meninos, carrega numa padiola o carvão mais miúdo da boca da mina para o armazém. Aos doze anos, torna-se moleque da menina Maria Helena, na casa de patrão Durante este período, é vítima da desconfiança de D. Laura e das travessuras de Maria Helena.

No Verão, devido a uma epidemia de disenteria entre os mineiros, é chamado a trabalhar na mina. Sente saudades de Maria Helena. Interroga a mãe sobre a origem da sua cor de pele, que ela atribui ao seu nascimento numa noite de “lua grande”. João Xilim está consciente de ser mestiço. Ainda nesse Verão, descobre a verdade sobre a sua origem. Antes de regressar a casa de Maria Helena e retomar as suas funções anteriores, vai passear para o rio e depara-se com patrão Campos abraçado à mãe, numa clareira por trás dos arbustos. Kati é casada com Uhulamo mas é amante de Patrão Campos, seu pai, sendo um casamento encobridor.

Uhulamo acolhe o menino como seu. Ressentido, foge do Marandal, elaborando um projecto de vingança. Sabe ser filho de um branco e isso implica a fuga para a ocultação da vergonha.

3.3. Fuga/necessidade de esquecer/aquisição de saber-conhecimento a) embarque em viagens costeiras

b) conhecimento da história de Jaime, mais dramática do que a sua c) regresso consciente: decisão: não emigrar-lutar contra a emigração

Ainda na pequena ilha do rio, Xilim recorda a fuga para a cidade e o embarque como moço de limpeza num cargueiro com destino a um porto do sul. Ao desembarcar aí, viu

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como “os seus irmãos negros e mulatos” tinham uma vida difícil como os negros do Marandal. Viu outros que imitavam os brancos no vestuário, na linguagem e nos costumes. Mas viu também brancos que moravam com negras, nos arredores da cidade, brancos de posses e brancos que “eram compreensivos e não se pareciam com patrão Campos” (P., p. 26).

Fez muitas viagens ao longo da costa. Encontrou o negro Jaime, o fogueiro, ao qual faz confidências sobre a sua origem e sobre a sua mágoa. Depois de ouvir a história de Jaime, percebe que este teve uma vida pior que a sua, e que, pelo menos, sempre tem uma mãe que gosta dele. Aprende a lição de Jaime: não deixar a terra. Numa das paragens de quatro dias na cidade, João visita pela primeira vez a Casa do Caju. Desembarca em todos os portos, embebeda-se e deita-se com prostitutas negras e mulatas. Continuou o percurso da cabotagem, até aos dezoito anos, altura em que começa a sentir saudades da mãe, da avó Alima e de Maria Helena e decidiu regressar ao Marandal.

3.4. Militância de saber equivocado-voluntarista a) tentativa de dissuasão dos mineiros de emigrarem b) advertência-luta com o engajador

c) incêndio na camioneta

A função da militância do saber equivocado determina a sequência que se segue. Xilim regressa ao Marandal, seis anos depois da sua partida, e recebe notícia da morte da sua avó Alima. Chegado há quatro dias, Xilim dirige-se para a ilhota no meio do rio, onde recorda o passado. À noite, é procurado pelos mineiros negros, que gostam de o ouvir contar histórias das suas aventuras. João percebe que os mineiros não o entendem, que ele é agora diferente dos negros do Marandal.

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Quando toma conhecimento, de que muitos deles pretendem atravessar a fronteira para irem para o “Kaniamato”, aliciados pelo engajador, explica-lhes a exploração a que são submetidos. Mas estes continuam a ambicionar emigrar e Xilim decide encontrar-se com o engajador, de modo a ameaçá-lo. Durante a discussão, o engajador aponta-lhe uma pistola, João espanca-o e aperta-lhe o pescoço. O engajador desmaia e João deita fogo à camioneta.

3.5. Saber fazer cooperante/insensato

a) convite de Maria Helena a João Xilim/aceitação do convite b) colaboração eficiente

c) encontro amoroso sexual socialmente (e biologicamente) inviável: ruptura

Devido à necessidade de aumentar o rendimento diário da exploração da mina, e consequentemente ao regime de extracção permanente, ocorre um acidente, no qual ficam soterrados vinte e três mineiros. Patrão Campos recorda os encontros com a negra Kati, o casamento encobridor dela com Uhulamo e a criação do filho dela. Ele sobe à serra, mas desequilibra-se, cai e morre. Maria Helena regressa ao Marandal, assume a exploração da mina e pede o auxílio de Xilim, que se torna, assim, capataz. Ao fim da tarde, João descreve-lhe o dia de trabalho. Desta proximidade, renasce uma intimidade que se consuma numa relação incestuosa. Maria Helena decide que um deles tem de partir e Xilim abandona para sempre o Marandal.

3.6. Provação emancipadora

a) emprego => casamento => desemprego

b) emigração para o Kaniamato / prostituição de Luísa com Esteves c) regresso de Xilim: não reacção agressiva à situação de infidelidade d) provocação de Luísa => reacção => prisão

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A próxima sequência inicia-se no subúrbio da cidade, onde o protagonista vive com a mulata Luísa, depois do casamento. É capataz no cais, mas fica desempregado. Visita regularmente o cais e frequenta a Casa do Caju, na qual encontra os amigos Marcelino Rafael e Justino. João aceita as recriminações da mulher e a sua falta de autoridade porque não traz dinheiro para casa, mas mesmo assim manifesta o desejo de ter filhos. Está desempregado há três meses, procura emprego e deambula pela cidade. Luísa e a mãe sustentam a casa. Ela já não o beija quando ele chega e ele já não pode comprar-lhe lembranças. Um dia, Luísa, instigada pela mãe e aproveitando a ausência do marido, trai-o com Sr. Esteves, a troco de compensações financeiras.

Apesar de contrariado, Xilim despede-se de Luísa e parte para o “Kaniamato”. Compreende que não pode continuar sem emprego, e o trabalho nas minas afigura-se a única solução. Do “Kaniamato”, escreve duas cartas ao amigo Rafael, uma dirigida ao próprio, outra dirigida à mulher. Na primeira expõe as dificuldades e a exploração por que passam os mineiros, tal como ele tinha dito aos mineiros do Marandal, e a sua iniciação na escrita e na leitura. Manifesta ainda vontade de voltar. Na segunda, que deve ser entregue a Luísa por Rafael, Xilim expõe o seu amor pela mulher e a incompreensão pela falta de resposta a duas cartas anteriores.

No regressa toma conhecimento da traição de Luísa e da sua vida como prostituta. Não reage à notícia da infidelidade da mulher. Quinze dias mais tarde, no baile do clube do Invencível, Luísa dança com um soldado e João dirige-se à barraca da leitura da sina. A cigana prevê desgraças e mortes, e também a felicidade que virá posteriormente. A Luísa, que também visita a cigana, prevê uma morte prematura. À saída da barraca da leitura da sina, Luísa acompanhada por um soldado que a aguardava, provoca João Xilim, chamando-o corno, e este reage esfaqueando-a.

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No dia do seu julgamento, os seus amigos Rafael, Marcelino e o velho Justino comparecem. Apesar da defesa de Dr. Ramires, João é condenado a cinco anos de cadeia na Fortaleza. Antes de partir despede-se dos seus amigos, que vão ao cais vê-lo embarcar. Justino demonstra arrependimento.