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O presente trabalho tem como meta apresentar de forma simples e objetiva uma abordagem sobre questões jurídicas inerentes à entidade privada sem fins lucrativos que, devidamente habilitada e qualificada para atuar de forma preventiva diante dos acidentes no turismo de aventura, e que bem como os voluntários envolvidos e tam- bém os associados, se propõem a fazê-lo.

Não se tem a pretensão de finalizar o assunto e vale lembrar que a participação de um advogado na constituição da entidade é uma necessidade legal. Feita sua constitui- ção, sua participação é uma possibilidade extremamente benéfica à boa gestão da entidade e ao conhecimento e respeito das leis que regulam os diversos fatores que relacionam as entidades civis, o cidadão e a sociedade.

O contido neste manual não exime a necessidade de que se busque um contato mais estreito com o advogado mais próximo ou que já preste algum serviço, adiantando o assunto para ele, antes mesmo do efetivo início do trabalho. Isso pode facilitar o trabalho de todos e propiciar maior legalidade à proposta. Aqui será apresentado so- mente linhas gerais.

Desse modo, serão abordados assuntos como a forma de integração e participação dos voluntários, suas responsabilidades, os aspectos jurídicos dos primeiros socorros, entre outros temas, para que dentre outras coisas estes possam ser implementados e exercidos conforme as legislações pertinentes e aplicáveis à matéria.

O regular registro dos atos constitutivos de uma associação no órgão de registro público competente, sendo no caso o Registro Civil das Pessoas Jurídicas da cidade ou comarca sede da associação, representa a aquisição de sua personalidade jurídi- ca, ou seja, implica na transformação da entidade em pessoa jurídica apta a contrair direitos e deveres perante a sociedade. A personalidade é a possibilidade de ser sujei- to de direitos.2

Feito isso, deverá ainda ser efetuado mais um registro, este na Secretaria da Receita Federal, quando a associação receberá o seu CNPJ/MF (Cadastro Nacional das Pes- soas Jurídicas do Ministério da Fazenda), valendo dizer que somente após este regis- tro será possível qualquer movimentação bancária. Logo após, é feito o registro na prefeitura da cidade onde a associação tiver sede, para que seja expedido o Alvará de Localização. Por fim, a associação deverá ser registrada junto ao INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social.

Vale dizer que para fins legais e até mesmo para arquivamento, é interessante fazer o estatuto e a ata da assembléia geral em três dias, ficando uma com o cartório e duas com a entidade, por segurança. O representante legal da entidade deverá assinar o requerimento de registro.

Entre os projetos de criação da organização civil de direito privado sem fins lucrativos, deve-se atentar para determinadas exigências legais para alcançar os fins desejados, como, por exemplo, o de obter a qualificação de organização social, entre outros. Para a elaboração do estatuto se faz necessária a observância compulsória dos requi- sitos constantes no Código Civil, sob pena de nulidade, determinando desse modo as condições e a forma pelas quais a entidade se organizará e regerá sua atividade.

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MIRANDA, Pontes de. Atualizado por Vilson Rodrigues Alves. Tratado de Direito Privado. 1ª ed., Campinas: Bookseller, 1999, p. 210.

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Todavia, as prescrições legais não se refletem somente nos atos constitutivos, mas também no trato de toda a atividade, gestão e continuidade da entidade. As obriga- ções a que estão submetidas uma associação não se encontram expressas somente no Código Civil, mas também em inúmeras leis e outras espécies normativas. Trata- se, portanto, de um complexo legislativo que deve ser estritamente obedecido por aqueles que apostam no desafio constante de quantificar e expandir suas ações de promoção de uma solidariedade eficiente. A cada atividade compete uma abordagem jurídica distinta, aplicável a cada caso, de forma particular, e isso sempre deve ser lembrado pela entidade e pelos participantes, buscando conhecimento pleno e con- trole que possibilitem a boa constituição de qualquer atividade associativa.

Isto posto, verifica-se como importante a existência de uma série de atores envolvi- dos, cada um na sua área de especialização, podendo citar uma assessoria jurídica prestada por profissionais devidamente capacitados, enquadrando as atividades e todo o seu desenvolvimento dentro dos preceitos legais. Eles podem contribuir, discutir, cobrar e estudar as necessidades mais básicas da organização, sempre objetivando vislumbrar a melhor forma de condução de sua administração.

E em cada atividade a entidade civil deve buscar a boa especialização. Nas atividades de busca e salvamento, especialização do seu quadro de pessoal, equipamentos, comunicação. Na parte administrativa, jurídica, contábil, entre outras, pode-se ter administradores, contadores, gestores, publicitários, advogados, cada qual pode co- laborar para que a administração seja feita da maneira mais profissional possível, levando-se em conta o poder de articulação da entidade. Quando não há possibilidade de contratação destes profissionais, os interessados podem se socorrer de outras manifestações voluntárias.

Ressalte-se que toda pessoa jurídica que deve ser servida pelos serviços de contabi- lidade e muitas vezes até as pessoas físicas são atendidas por esses serviços, como se vê na época das declarações de imposto de renda. Então procure um contador, pois obrigatoriamente para criação e manutenção de uma associação, bem como em qualquer atividade econômica, esse profissional é importante e imprescindível. Alguns conceitos pouco distantes do dia-a-dia dos voluntários podem ser dissemina- dos para que ocorra um entendimento do reflexo legal da atividade que o cidadão desenvolve, buscando fins sociais, em detrimento de uma atividade remunerada e que tem todo um sistema legal que o regulamenta em diversas frentes. O associativismo e o trabalho voluntário não devem ser decisões econômicas e sim sociais, de caráter participativo, e saber utilizar as boas ferramentas de variadas gestões, de captação de recursos, de qualificação técnica e operacional pode ser um diferencial facilmente percebido pela sociedade.

Primeiramente, entende-se que uma associação seria a iniciativa formal ou informal na qual um grupo de pessoas se organiza para superar dificuldades e gerar benefícios comuns, com fins não econômicos. Como já foi visto, a personalidade jurídica da associação é que garante a existência de uma pessoa jurídica, sujeito de direitos e de obrigações.

Por estar às vezes envolvida em programas e financiamentos públicos, a associação deve prestar contas de forma a dar publicidade às operações contábeis e financeiras realizadas. E tudo isso deve respeitar uma forma determinada, respeitando princípios de transparência, informação, legalidade e vários outros.

Esta entidade deverá ainda dispor, além dos voluntários que trabalharão com as ativi- dades de busca e salvamento, de pessoas dispostas a assumir no mínimo a função de diretores e conselheiros fiscais. O associado, diretor, conselheiro podem perfeita- mente ser voluntários da entidade. Exercerá neste caso o papel de voluntário e cum-

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prirá as funções que o cargo determinar. Caso não haja capacidade técnica dos mem- bros do Conselho Fiscal para a prestação de contas consoante aos princípios funda- mentais de contabilidade e as demais normas brasileiras, o contador pode mais uma vez ser útil, pois participa como elo entre as pessoas e o conhecimento técnico específico.

Esta nova pessoa que vai nascer com a vontade dos interessados, mas também com o devido registro, merecerá cuidados. É uma pessoa jurídica que, como já se viu, requererá cautela e conhecimento na hora de fazer as atas, comunicados e outros documentos formais, sabendo o que fazer e a importância de fazê-lo. A assembléia de uma associação é seu órgão soberano, sendo que certas decisões previstas em lei ou no estatuto devem passar pelo crivo desta, sob pena de nulidade. As atas das assembléias gerais são os documentos que legitimam todas as decisões realizadas nestas assembléias, além de garantir publicidade às deliberações tomadas. Tal docu- mento deve espelhar as manifestações, acontecimentos e decisões ocorridas duran- te estas assembléias.

Vale ainda entender a distinção entre uma assembléia ordinária e uma extraordinária. A assembléia ordinária ocorre anualmente para apreciar questões que envolvam o balanço patrimonial da Associação e os relatórios anuais da diretoria e do Conselho Fiscal, além de possibilitar aos associados traçar as metas para o próximo ano. Já a extraordinária é realizada toda vez que houver necessidade de discutir algum ponto pertinente e imediato.

O Conselho Fiscal é responsável pelo acompanhamento e fiscalização de todo de- sempenho financeiro e contábil da associação.

Há possibilidade de em determinados casos ser pertinente a presença de profissio- nais de áreas diversas em assembléias nos casos que envolvam complexidade ou comprometimento jurídico ou algum conhecimento técnico específico, o que ocorre também em outras situações, não só nas associações. No estatuto social da entida- de vale lembrar, a assinatura do advogado que o elaborou é determinação legal e o modelo que será exposto adiante somente oferece um norte, merecendo que o profis- sional do direito o faça, para que fique mais próximo à sua efetiva realidade.

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