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4. MAPEANDO OS SITES EDUCATIVOS

4.4 PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES

As análises realizadas nos três sites educativos permitiram perceber algumas características presentes nos sites destinados ao público infantil. Todos os três têm o cuidado com a produção e qualidade das atividades, não têm nenhum tipo de publicidade e são brasileiros de acesso livre e gratuitos.

Os critérios defendidos por Carvalho (2006), permitiu-nos um resultado descritivo dos sites e suas estruturas. Entre os nove critérios de qualidade de um site educativo proposto pela autora, cinco tiveram resultados mais satisfatórios, a saber: identidade, usabilidade, rapidez de acesso e informação. É importante destacar que o item rapidez de acesso é relacionado aos aspectos das hiperligações dentro do site, não tendo nenhuma ligação com questões relacionadas à velocidade da internet. Os critérios edição colaborativa, espaço de partilha e comunicação nas três

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Lembrando que, em 10 de março de 2008, foi promulgada a Lei no. 11.645, que altera a Lei n. 10.639, de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir, no currículo oficial da rede de ensino, a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” (BRASIL, 2008).

páginas analisadas não foram contemplados47, não existe espaço para enviar sugestões de melhoria da página, não dispõem de ferramentas para contato online, apenas o contato por e-mail. Itens que, para Carvalho (2006), são muito importantes quando se refere a um site educativo para verificar sua validade e confiabilidade.

Seguindo os estudos que nos apoiamos para este trabalho, verificando como o literário se evidencia nos sites analisados, consideramos que se apresenta de forma parcial, pois encontramos algumas dificuldades. Com exceção do site de Angela Lago, os outros não utilizam de forma satisfatória os recursos específicos das TDICs para apresentar de forma inovadora e interativa o texto de LI online, devido à linguagem verbal encontrada nos textos, são “linguagens meramente portadoras” (HUNT 2010, p. 158), ou seja, a linguagem escrita vinculada às propostas fragmentadas da leitura com fins utilitários ou pedagógicos.

É nessa perspectiva que Azevedo (1999, p. 7) chama a atenção para o cuidado quanto a escolha do texto literário, pois a escola “muito mais que ensinar” tem que possibilitar o contato do/a leitor/a com a literatura. Não estamos excluindo a importância do trabalho com diferentes gêneros textuais, apenas destacamos a importância da escolha de textos que estejam de acordo com o contexto e objetivos do educador (LAJOLO, 2009).

No que se refere à estrutura das narrativas, percebe-se que se diferenciam das impressas apenas pelo uso do suporte do meio digital. A leitura do (hiper)texto é diferente da leitura do livro impresso e requer habilidades diferentes, e quando o/a leitor/a criança tem acesso a textos

online sem as características que esse meio oferece, pode acabar

distanciando e desestimulando a leitura. No entanto, se comparados com o mercado do livro de LI impresso e a qualidade dos mesmos, percebe-se que esta literatura evoluiu consideravelmente.

Cabe aqui, então, fazermos uma breve contextualização sobre esse assunto, mesmo não sendo o nosso foco de estudo, por isso, gostaríamos de utilizar como exemplo os trabalhos de José Roberto Torero e Marcus Pimenta, autores contemporâneos, que juntos recontam clássicos com versões inusitadas e inovadoras, como a obra Os oito pares de sapatos de Cinderela (2012).

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É necessário lembrar que conseguimos o contato com a produção do site de Angela Lago por meio da rede social Facebook, no entanto, esse contato não está disponível no seu site.

Debus e Domingues (2015, p. 71) destacam que “ao se deparar com uma obra [...] desses autores [...], qualquer pessoa, seja ela pouco habituada à literatura infantil, ou uma especialista, tem a convicção de que os/as leitores/as infantis de hoje são realmente mais exigentes”.

Nessa versão do clássico Cinderela, o/a leitor/a escolhe o que acontece com a personagem durante a leitura, sempre com duas versões da história como, por exemplo, “Se você quer que Cinderela tenha ajuda de animais, vá para a página 14” [...] “Se você quer que ela tenha ajuda de máquinas vá para a página 16” (TORERO; PIMENTA, 2012, p. 13). Se escolher o primeiro final vai encontrar os animais ajudando, no entanto, em uma narrativa diferenciada da tradicional. Porém, o grande diferencial é quando ele/a escolhe o segundo final que foge do normal, nesta parte da história, graças a ajuda de “supermodernos” eletrodomésticos, Cinderela termina a limpeza num instante e vai costurar sua roupa para o baile.

Enfim, na narrativa o/a leitor/a escolhe diversas possibilidades de continuidade de finais inesperados. O que queremos destacar é que a interatividade que o texto impresso proporciona pela sua linguagem inovadora, mesmo se tratando de uma clássica história, os escritores conseguem surpreender os/as leitores/as trazendo uma linguagem expressiva, renovada e poética, como defendida por Azevedo (1999). É esse tipo de linguagem verbal que queremos encontrar nos textos literários online brasileiros e de acesso gratuíto.

Entendemos que a literatura impressa não é concorrente da digital, existem leitores/as para os dois e elas podem se complementar. Entretanto, para a LI online ser significativa, com valor literário, ela precisa ser avaliada sobre a sua literariedade, pois, de acordo com Correro e Real (2014), é urgente que essa literatura tenha os mesmos parâmetros de avaliação, regras de edição, produção, entre outros, que os livros impressos têm. Compreendemos que este assunto é polêmico, pois envolve vários aspectos e sujeitos, no entanto, é necessário que as produções literárias de recepção infantil na web tenham esse cuidado, dado que sabemos o quanto as tecnologias digitais são capazes de potencializar a leitura da criança, e isso resulta em futuros leitores/as de literatura tanto impressa como virtual.