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PRIMEIRAS PREOCUPAÇÕES ACERCA DA MULTIMODALIDADE

3 REFLEXÕES SOBRE AS PERSPECTIVAS DA ANÁLISE

3.1 PRIMEIRAS PREOCUPAÇÕES ACERCA DA MULTIMODALIDADE

Na história dos estudos linguísticos, desde as primeiras delimitações de Saussure (2003 [1916])12 para então termos a Linguística considerada como ciência, sempre houve uma preocupação centrada nas questões estruturais da língua, mas, conforme já havíamos mencionado no capítulo anterior, os avanços a partir das correntes funcionalistas trouxeram várias possibilidades de investigações antes desconsideradas como parte do universo linguístico. Temos hoje a possibilidade de investigar diversas semioses consideradas como essenciais nas práticas de linguagem, uma vez que o processamento da língua dá-se envolto de todas essas questões.

A respeito dessas possibilidades de investigações que vários pesquisadores têm apontado, inclusive, como um dos novos desafios para linguística, também devemos considerar os embates surgidos entre os que defendem e os que

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No seu trabalho de delimitações de objeto da Linguística, Saussure considerou a necessidade de uma ciência geral que seria responsável pelo estudo de todos os signos, que seria a Semiologia. A linguística, pois, seria uma ramificação da Semiologia, responsável apenas pelo estudo de uma parte desses signos.

desconsideram tais estudos como parte do ‘fazer linguística’. Ora, se devem ser consideradas ou não como parte da linguística, o fato é que esses pontos de pesquisa se desenvolvem a partir de fenômenos registrados na língua, no desenvolver das nossas práticas de interlocução para nos fazer compreender, demonstrar que estamos de acordo ou contrários a determinadas proposições. Portanto, nosso ponto de defesa aclara que nossas práticas de linguagem, antes de tudo, emergem de situações reais em que as pessoas se comunicam de formas diversas, com propósitos e intenções diversas. Pesquisar sobre estes fatos é o que nos interessa!

A Multimodalidade, que considera, entre outras coisas, a relação intrínseca da língua com outras semioses de ordem não verbal, é uma das perspectivas teóricas que mais tem se difundido em relação aos estudos da língua. Essa perspectiva fixa seus marcos iniciais, conforme Dionísio (2014), a partir das obras Reading Image: The Grammar to Visual Design, de Gunter Kress e Theo van Leeuwen, publicada em 1996, e Social Semiotics, de Robert Hodge e Gunter Kress, publicada em 1998. Estes autores desenvolvem suas teorias, sobretudo, a partir das ideias originadas de Halliday através da Linguística Sistêmico-Funcional.

Jewitt, Bezemer & O'Halloran (2016) afirmam que o termo Multimodalidade aparece na segunda metade da década de 1990, e registram como percussores os trabalhos de Charles Goodwin, nos Estados Unidos, sob a perspectiva da Etnometodologia e da Análise da Conversação, e Kress e van Leeuwen, no Reino Unido, sob a perspectiva da Semiótica Social13. Outra contribuição para a área teria sido a de O’Halloran que tomou por base trabalhos de O’Toole (1994) e Kress e van Leeuwen (1996), para descrever o caráter multimodal de textos de matemática, embora este ainda usasse o termo multisemiótico ao invés de Multimodalidade.

De toda forma, os registros de Dionísio (2014) e Jewitt, Bezemer & O'Halloran (2016) mostram que as contribuições de Kress e van Leeuwen no campo da multimodalidade são as mais proeminentes; uma vez que eles não só construíram as bases para essa nova perspectiva de estudos linguísticos como também continuam a produzir discussões relevantes para a área.

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Em relação ao trabalho de Goodwin, os pesquisadores destacam seu artigo seminal submetido ao Journal of Pragmatics, em 1998, e ao trabalho de Kress e van Leeuwen, Multimodal Discourse: The Modes and Media of Contemporary Communication (2001), que estaria em andamento há vários anos.

No Brasil, as pesquisas em Multimodalidade, ou fazendo a sua associação com outra base teórica, na área de Letras/Linguística, têm nomes que merecem destaque, entre eles o da professora Marianne Cavalcante, da UFPB, que desenvolve um trabalho com grupo de estudos NELIN (Núcleo de Estudos Linguísticos Interacionais) cujas pesquisas se desenvolvem acerca o processo de aquisição de linguagem em bebês, destacando o aspecto multimodal na interação mãe-bebê. Também na UFPB, temos a professora Danielle Almeida, que tem pesquisado em Multimodalidade tendo como principal perspectiva a Gramática do Design Visual, de Kress & van Leeuwen, que estuda aspectos multimodais de imagens fixas, como a fotografia.

Outros dois nomes com contribuições nessa área são os das pesquisadoras Angela Dionísio, da UFPE, e Edwiges Maria Morato, da UNICAMP. Dionísio desenvolve contribuições ligadas ao ensino, com publicações voltadas a análise de imagens e textos escritos, usando a perspectiva da multimodalidade, principalmente, através de seu grupo de estudos, o NIG (Núcleo de Investigações sobre Gêneros Textuais). Já Morato desenvolve um trabalho com o grupo de sua coordenação, o COGITES (Cognição, Interação e Significação), que faz pesquisas nas relações entre linguagem e cognição por meio da análise de práticas linguístico-interacionais, em especial as que envolvem indivíduos com afasias, abordando também questões ligadas às gestualidades.

Ao fazermos um levantamento no site do banco de Teses e Dissertações da CAPES, com filtro entre os anos de 2013 a 2016 e tendo como palavra-chave Multimodalidade, encontramos o registro equivalente a noventa e cinco dissertações e quarenta e duas teses na área de Letras/Linguística. Desse total, a sua maioria, em relação às demais regiões geográficas do país, foi desenvolvida em universidades do Nordeste, com o equivalente a quarenta trabalhos em nível de mestrado e vinte e um em nível de doutorado.