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6. OS RESULTADOS

6.1. Primeiro cenário

Durante a aplicação piloto do APEGI, no primeiro semestre de 2018, seguindo o roteiro proposto pelo instrumento, foram realizadas entrevistas com duas professoras que trabalhavam em duas instituições diferentes: uma trabalhava em creche conveniada; e a outra, em uma escola municipal de educação infantil, de administração direta. Ambas as instituições se localizam na Zona Leste do município de São Paulo.

O Centro Educacional J. L. é uma instituição filantrópica, que atende crianças de 0 a 5 anos e 11 meses, em período integral. É uma escola conveniada com a Secretaria Municipal da Educação (SME), da qual recebe recursos financeiros para custear as despesas. Seu prédio é próprio e as professoras são contratadas em jornada de trabalho de 8 horas diárias.

A EMEI U. é uma escola municipal de educação infantil, instituição em que o município, por meio de sua Secretaria Municipal da Educação, assume todas as responsabilidades por seu funcionamento, desde a contratação de pessoal e gestão da unidade, até o fornecimento de insumos, merenda e manutenção. Atende crianças de 4 a 5 anos e 11 meses. A jornada das professoras de EMEI é de 25 horas de aula semanais e elas têm outras 15 horas dedicadas a atividades pedagógicas fora de sala. Portanto, as condições de trabalho das professoras das duas instituições são diferentes, uma vez que uma trabalha 8 horas diárias com as mesmas crianças,

enquanto a outra passa 5 horas diárias com seu grupo, tendo, ainda, 15h semanais para reuniões com a coordenação, estudo e planejamento.

6.1.1. Entrevista com Ana6

No dia 14 de abril de 2018, foi realizada observação das crianças e entrevista com os professores no Centro Educacional J. L., creche conveniada, como parte da aplicação do Acompanhamento Psicanalítico em Escolas, Grupos e Instituições (APEGI).

A professora Ana foi bastante solícita e receptiva. Deixou-nos ficar na sala de aula com as crianças observando uma atividade de brincar, enquanto saía para atender outros pesquisadores. As crianças estavam organizadas em mesas de quatro. Ana despejou o que chamou de “pecinhas” sobre as mesas, para que as crianças brincassem de construção. Eram vários tipos de peças de encaixe, de diversos jogos diferentes.

Antes de retirar-se, Ana chamou a atenção das crianças para que permanecessem sentadas em seus lugares; mas, com o desenrolar da brincadeira, elas foram levantando e circulando pela sala. Quando a professora voltou, a sala estava em grande desordem. Seu olhar foi de desespero. Conversei com a pesquisadora que me acompanhava e, juntas, guardamos os brinquedos espalhados. A professora viu nosso movimento e pareceu muito aliviada.

Ana seguiu com as crianças em fila para o almoço, e em seguida, elas foram dormir na sala de aula, que foi preparada com a distribuição de colchões no chão. Após acordarem, a professora recebeu ajuda de outra docente para arrumar a sala, recolhendo os colchões. As crianças se sentaram às mesas, de quatro em quatro, e Ana contou a história “Os três porquinhos”. De pé, ela circulava pela classe, pedindo para as crianças dizerem o texto que já sabiam de cor (a fala do lobo – “Vou soprar e soprar e sua casa derrubar!”), ao que as crianças responderam em coro.

6 Os nomes de todas as professoras e crianças são fictícios, para resguardar suas identidades.

Depois da história, a professora deu uma ‘aula’ sobre figuras geométricas, usando alguns modelos planos em EVA e a exibição de um vídeo, na TV. As crianças estavam animadas e aceitaram as propostas, participando. Em alguns momentos elas solicitavam sair para buscar água ou ir ao banheiro e a professora assentia. Ana conversou conosco sob o batente da porta de entrada da sala de aula, demonstrou conhecer bem sua turma e nos contou a respeito de quatro de seus alunos, enquanto as crianças brincavam livremente dentro da sala.

Ana reconhece a presença de sujeito em seus quatro alunos. Nomeia suas preferências, do que gostam ou não. Sabe de suas dificuldades, de suas maneiras de ser. Sabe do que seus alunos brincam e com quem mais gostam de fazê-lo, mas quando perguntada sobre o que faz com essas informações, ela disse que as utiliza para separar as crianças que conversam muito e se ‘atrapalham’ em relação à concentração.

6.1.2. Entrevista com Carla

No dia 14 de maio de 2018, foi realizada observação das crianças e entrevista com os pais e os professores na EMEI U., escola de administração direta, como parte da aplicação do protocolo de “Acompanhamento Psicanalítico em Escolas, Grupos e Instituições” (APEGI).

Carla, a professora que entrevistamos, mostrou-se disponível e envolvida com nosso pedido de falar sobre seus alunos. Observamos as crianças na sala, enquanto brincavam com peças de montar e com brinquedos que trouxeram de casa, já que era o dia do brinquedo7. A professora permaneceu sentada todo o tempo à sua mesa, preenchendo papelada. Quando nos aproximamos para conversar, ela nos dedicou atenção e respondeu nossas questões sobre quatro de seus alunos, solícita e detalhadamente.

Carla reconhece a presença de sujeito em seus quatro alunos, sabe de suas preferências de amizade, do que brincam, do que gostam ou não de fazer. Sabe de suas dificuldades, de suas maneiras de ser. Quando perguntamos o que faz com

essas informações, disse que as utiliza para escrever relatórios individuais e para evitar exclusividade de amizades, como a criança não querer ficar na escola quando o amigo não está, caso de uma das meninas que acabara de entrar na instituição sem ter passado por outra escola antes.