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Primeiro contato e o processo criativo Encontro com Baku

No documento Baku: Uma experiência sinestésica (páginas 39-42)

CAPÍTULO 4 O MEMORIAL CRIATIVO

4.1 Primeiro contato e o processo criativo Encontro com Baku

Foram quase duas horas entre a cidade de Manaus e a cidade de Iranduba, outro município do estado do Amazonas. A estrada AM-070, na rodovia Manuel Urbano, está localizada a aldeia Sahú-Apé, que recebe esse nome a uma referência ao avô/antepassado dos Sateré -Mawé, como me contou Sahú filho de Baku.

Depois de recorrermos todo o trajeto, éramos em 20 pessoas, estávamos entre filhos e netos de Baku que vivem nos bairros de Manaus-AM. Nesse dia aproveitaram a mobilização feita pela FEI (Fundação Estadual do Índio) que nos disponibilizou um transporte, para estarem com a avó, assim justificamos nossa ida à aldeia.

Atravessamos a ponte que liga os dois municípios e durante toda a viagem fui ouvindo as histórias de exaltação e saudosismo que os entes da líder Sateré manifestavam. Já nos primeiros relatos, a palavra sonho soou tantas vezes como realidade nas escolhas do plano físico, estes notadamente se confundem na fala deles, já não era possível saber de qual “realidade” - aqui ponho entre aspas - estávamos escutando.

Contavam-me como Baku era forte e uma grande mãe para a comunidade como a admiravam como liderança política, Tuxaua e mais ainda como Paini/ Pajé - por desafiar a cultura Sateré que até certo ponto é majoritariamente liderada por homens.

Ao tuxaua, como a qualquer chefe de família extensa, compete também administrar os interesses de sua própria família, responsabilidade que assume de modo incisivo, principalmente quando se trata de solucionar brigas e determinar as atividades agrícolas e comerciais. O tuxaua também administra os interesses das demais famílias externas e elementares que aí residem, nesse caso o faz de forma mais flexível. (NASCIMENTO, Solange, 2015, p. 83).

Baku se tornará um ícone, sua trajetória está entrelaçada aos sonhos, pois estes são a forma com que Baku toma suas decisões, é através dos ensinamentos nos sonhos que os “guardiões” orientam ao conhecimento, tanto na medicina quanto na política. A conheci pela boca de seus amigos, filhos e netos, já me apaixonava pela garra e força desta senhora, logo a encontraria frente a frente. Paramos para tomar

39 café na estrada e compramos nas feiras abertas nossa contribuição para o almoço coletivo, afinal, a aldeia não sabia que chegaríamos.

Chegávamos por volta dás 10 horas da manhã, última parada, há uma grande coluna de árvores, de um lado cercada pelo muro de concreto com um pé de urucum, do outro, por uma cerca de madeira e arame farpado. Ao lado de um portão de madeira há uma placa da Fundação Nacional do Índio (Funai) com os dizeres: Governo Federal – Ministério da Justiça – Fundação Nacional do Índio - Área Protegida; outra placa de destaque identificava: - Comunidade Sarruapé - Programa de Desenvolvimento Sustentável do Gasoduto Coari - Manaus. E uma terceira placa da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS) publicitando o atendimento à comunidade pelo Programa de Desenvolvimento na Trilha do Gasoduto Coari-Manaus 98.

Figura 14 Entrada da Aldeia Sahú-Apé

Fonte: Alex Silveira (2018)

As crianças foram as primeiras a ir de encontro com Baku, Canoa, a neta menor estava ansiosa por chegar. Fomos recebidos com surpresa por todos os moradores,

40 alguns recém haviam chegado da caça, sem sorte, “os jacarés haviam se escondido”, relata um dos moradores. Aos risos, todos cumprimentavam-se ao fundo soava uma espécie de buzina; nos estavam anunciando.

Ao encontrarmos com Baku, ela me abraça revelando “um beija-flor me falou em meu sonho, que chegaria aqui uns visitantes, eu sabia que vocês viriam” voltando seu olhar a direção dos demais: “uns búfalos branco, branquinhos e grande, isso quer dizer gente importante” segue “É! O beija-flor me falou assim (assoviou a fala do pássaro)”, me pegou pela mão “vamos tirar suas dúvidas, o que você quer saber?”.

Dona Baku agora me dava toda a atenção. Em português me relatou sua história de vida, como chegara à Manaus, suas dificuldades e como as enfrentou, além de afirmar que só conseguiu, porque sua mãe foi uma mulher absolutamente forte e que junto à irmã mais velha sofreram discriminação quando trabalhavam para os brancos, disse nunca temer, pois desde pequena sua mãe a ensinara a ouvir as vozes e entender seus sonhos, foquei minha investigação neste item, porque já tinha tido informação de que ela poderia me ensinar sobre. Ao questioná-la sobre os sonhos:

Os sonhos são o aqui, não são esse que a gente dorme, são também, mas eles falam no sonho, quando a gente sonha, a gente aprende, hoje eu sonhei com búfalos brancos, veja o Tury chegou, chegou com você com o Ximango, e é tudo gente importante que estão aqui agora. Eu sempre tive esses sonhos, foi assim que eu aprendi, minha mãe era a única que acreditava em mim. (Tuxaua Baku, fevereiro de 2018).

Após seus relatos, me apresentou a seu filho Sahú, que segundo ela está sendo preparado para seguir como Painí, porque nasceu com o “dom”. Sahú foi convidado por ela para apresentar-se e me orientar respondendo minhas dúvidas, ainda segundo Baku, aquele momento era importante, falar da comunidade é importante, é assim que eles conquistam espaço.

A pedido de Baku, Sahú me leva até a Kuná, é ali, na prática, que adentrei ao mundo dos Sateré-Mawé, da aldeia Sahú-Apé. Meus primeiros contatos com a atmosfera de cura, de conhecimento ancestral e da cosmovisão deste grupo.

41 Figura 15 Baku

Fonte: Alex Silveira (2018)

O conhecimento empírico, transmitido pela oralidade, resvala na vida da comunidade ao redor da Aldeia. Baku atende a toda a Vila Ariaú, todos que queiram compartilhar da experiência com os conhecimentos e técnicas que desenvolveu durante sua vida.

No documento Baku: Uma experiência sinestésica (páginas 39-42)

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