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Primeiro governo Fernando Henrique Cardoso: 01/01/1995 01/01/1999

6 AS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS DO ESTADO BRASILEIRO PARA AS

6.3 Primeiro governo Fernando Henrique Cardoso: 01/01/1995 01/01/1999

No governo de Fernando Henrique Cardoso (conhecido desde então por FHC) consolida-se a abertura econômica iniciada por Fernando Collor, com a entrada do País na era da globalização. Aprofunda-se um processo de privatizações e desregulamentações, buscando a redução do papel do Estado como produtor de bens e serviços, mas é criado o Programa Nacional de Apoio à Cultura, Pronac, através do Decreto Lei 1.494, de maio de 1995. Desde o início do governo, foram lançadas e aprovadas regras que restringiram os gastos das administrações públicas. Foi a época da explosão da Internet e da afirmação do discurso “neoliberal” (MARTINS, 2004, p.97), alinhando o discurso do País ao modelo da globalização. Através de uma das inúmeras emendas à Constituição, em 1997 a reeleição foi institucionalizada. O primeiro beneficiário foi o próprio presidente, reeleito em 1998, tornando-se o primeiro presidente da história do Brasil a ocupar a chefia do Executivo por dois mandatos consecutivos.

Como afirmado no tópico anterior, paralela à consolidação do renascido Ministério da Cultura e da criação de sua Secretaria do Livro e da Leitura (SLL), ações concorrentes e variados programas e projetos, ora isolados, ora sobrepostos,

visavam tornar as bibliotecas públicas minimamente realidade onde ainda inexistiam ou existiam precariamente.

No primeiro governo FHC, os Programas “Uma biblioteca em cada município”, de 1996, e “Livro Aberto54”, retomam uma meta que projetos do INL e também o SNBP já haviam idealizado, ou seja, prover cada município brasileiro com uma biblioteca pública.

Neste ponto, cabe um parágrafo à parte, para inserir um problema de inconsistência de dados. Segundo o site do PSDB55 que divulga as ações do governo FHC, no campo da cultura, “Uma biblioteca em cada município” é um programa e “Livro Aberto” é outro programa, ambos do MINC, com objetivos distintos: o primeiro criando bibliotecas, o segundo promovendo ações voltadas para a revitalização das bibliotecas através de fomento a projetos culturais na área do livro e da leitura. No ano 2000, no Livro Verde, o Programa “Uma biblioteca em cada município” é citado como Programa do MINC, com dados de 1996 a 1999 e no Relatório de Gestão da FBN56, do mesmo ano, são apresentados os resultados das ações do “Livro Aberto”. Já no Relatório Anual de Avaliação – Plano Plurianual Exercício 2002, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão57 o Programa é nomeado “Livro Aberto”, sendo uma de suas principais ações o projeto “Uma biblioteca em cada município”. Nas avaliações de políticas culturais feitas pelo IPEA e em apresentações do SNBP, ainda figura o Programa Livro Aberto até 2007, no governo Lula. É provável que “Uma biblioteca em cada município” e “Livro Aberto” tenham sido paralelos durante um período e depois o primeiro tenha sido absorvido pelo segundo. Caso contrário teremos que admitir que “Uma biblioteca em cada município” seja um slogan ou um nome fantasia de um sub-projeto do Livro Aberto, que foi usado inadvertidamente em vários momentos. Sem ter resolvido esta questão específica desses programas, contudo, será visto em que eles consistiam.

54

“Livro aberto, amigo certo” foi um slogan de campanhas do INL na década de 1970.

55

Disponível em: <www.psdb.org.br/noticias/View/Realizacoes.asp>, acesso em 22/01/2008.

56

Disponível em http://www.bn.br/arquivos/pdf/relatoriodegestao/Ano_2000/RelatGestao_2000parteI.pdf, acesso em 22/01/2008.

57

Disponível em <www.abrasil.gov.br/avalppa/RelAvalPPA2002/content/av_prog/094/prog094.htm> , acesso em 15/11/2007.

O Objetivo do Programa “Uma biblioteca em cada município” era implantar bibliotecas públicas em municípios que não as possuíam, através de convênios com as prefeituras municipais. O município recebe da Secretaria Nacional do Livro e Leitura, do Ministério da Cultura, um acervo pré-selecionado de 2.600 livros, estantes e um curso de treinamento para seus servidores. O município, em contrapartida, deve dispor de espaço mínimo para a biblioteca, em local próximo às escolas e de fácil acesso para a comunidade, montar uma Associação de Amigos da Biblioteca e criar lei para a biblioteca, para que ela se torne uma rubrica no Orçamento Municipal, tendo recursos para sua manutenção e desenvolvimento.

O Programa Livro Aberto, por sua vez, tem por meta aumentar e melhorar bibliotecas públicas e escolares, fomentando a parceria com municípios, na formação de novas bibliotecas e qualificando e treinando profissionais na área, renovando acervos e promovendo campanhas de leitura. Vinculado à FBN, suas principais ações são:

ƒ fomentar projetos culturais na área do livro e da leitura

ƒ fomentar a produção de obras literárias, científicas e acadêmicas ƒ capacitar agentes multiplicadores do hábito da leitura

ƒ implantar bibliotecas em cada município brasileiro ƒ capacitar recursos humanos para bibliotecas públicas ƒ prestar assessoria técnica a bibliotecas públicas

ƒ conceder bolsas para tradução de títulos de autores brasileiros em outros idiomas

ƒ fazer funcionar bibliotecas públicas da União ƒ conceder bolsas na área do livro e da leitura

ƒ promover eventos culturais na área do livro e da leitura ƒ conceder bolsas para autores brasileiros

ƒ conceder prêmios à arte literária

ƒ promover estudos e pesquisas nas áreas de memória bibliográfica, editorial e literária

Como visto, alguns objetivos e ações desses dois programas confundem-se entre si e também com as funções do SNBP e do Proler, que também existiam nesse período.

Nesse momento já se pode verificar uma disputa entre a FBN, com o Proler e o SNBP de um lado, e o MINC, com a Secretaria do Livro e da Leitura (SLL) e seus programas, de outro. Nessa disputa dentro de um governo, onde deveria haver parceria, para o bem público, ganhou o Secretário do Livro e da Leitura, Ottaviano de Fiore, que continuaria na área governamental das políticas para bibliotecas públicas tanto no segundo governo FHC quanto no governo Lula. O Presidente da FBN, o escritor Affonso Romano de Sant’Anna, que saiu do governo, fez uma surpreendente autocrítica sobre os seis anos58 de sua gestão:

Não existe no Brasil um projeto de política do livro e da leitura, a médio e longo prazo, embora durante seis anos eu tenha lutado por isso. Foi tudo sempre descontínuo (...). Quando dirigi a FBN, lancei o projeto Biblioteca ano 200059, que consistia em unir três partes de um triângulo: o livro, a leitura e a biblioteca. Criamos um programa de incentivo à leitura, o Proler, que se instalou em centenas de cidades; criamos o Sistema Nacional de Bibliotecas, que reuniu mais de três mil delas e fazia reuniões municipais, estaduais e nacionais. Mas essas ações acabaram esvaziadas, em prol de uma política que acumulava poder em Brasília (Sant’Anna, apud CARRERO, 2003).

Com políticas federais para bibliotecas públicas e suas ações divididas entre duas instituições e dois grupos, encerra-se o primeiro governo FHC e se inicia o segundo sem que o grande salto desejado naquelas políticas tenha ainda se concretizado, para prejuízo do País.

6.4. Segundo governo Fernando Henrique Cardoso: 01/01/1999 –