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PRIMEIROS PASSOS

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 113-119)

Esta pesquisa teve, como fase inicial, um estudo exploratório. Entretanto, antes de abordá-lo, é importante apresentar os objetivos desta investigação tomados como guia para a elaboração do mesmo.

3.2.1 Problema, objeto de estudo e objetivos de investigação

Nesta investigação procura-se responder a algumas questões que constroem nosso problema de pesquisa:

O que o professor aprende na socialização com os estagiários? Que mudanças essa socialização lhe proporciona? Como as condições de seu trabalho influenciam essa aprendizagem? Que tipo de desenvolvimento profissional está sendo possibilitado para o professor durante o estágio?

É objetivo principal desta pesquisa compreender o desenvolvimento profissional de professores da Educação Básica supervisores de estágio durante a socialização com os estagiários de Ciências Biológicas.Para isso, têm-se alguns objetivos específicos, quais sejam:

 Identificar os aspectos de desenvolvimento profissional que são ou foram desdobrados pelos professores durante a supervisão de estagiários.

 Analisar as possibilidades de influência da trajetória pessoal e profissional dos professores, principalmente relacionadas à sua atuação como professor supervisor de estágio, nos aspectos de desenvolvimento profissional identificados como consequência da socialização com os estagiários.

Analisar a relação entre as condições de supervisão de estágio dos professores supervisores (no que diz respeito à sua profissão, à estrutura física e pedagógica da escola, à relação com o estagiário e à sua autonomia docente) com as possibilidades de desenvolvimento profissional vivenciado pelos mesmos durante a supervisão de estágio.

Explicitar a relação entre Universidade e Escola durante o estágio supervisionado a partir do ponto de vista dos professores colaboradores da pesquisa para compreender as implicações dessa relação no desenvolvimento profissional dos professores supervisores de estágio.

Para a elaboração desses objetivos e suas possíveis relações é considerada a visão de Day (2005) sobre o desenvolvimento profissional, para o qual este é

compreendido na articulação entre a trajetória dos professores, por nós entendida, baseando-nos em Bourdieu (1983a), como constituída por instâncias socializadoras que constroem e são construídas pelas disposições dos agentes, que influenciam nos seus valores e práticas de aprendizagem e as condições externas ao professor, como a cultura de aprendizagem da escola, as ações do governo, entre outros.

Assim, nosso objeto de estudo é o processo de desenvolvimento profissional do professor da Educação Básica na socialização com os estagiários de Ciências Biológicas por ele supervisionados.

Para esta pesquisa levou-se em consideração que:

A educação, tendo por finalidade a humanização do homem, integra sempre um sentido de emancipação às suas ações. Por conseguinte, o método científico que a estudará deverá ter como pressuposto a possibilidade de oferecer aos sujeitos do grupo pesquisado condições formadoras e incentivadoras dessa emancipação, o que poderá facilitar a transformação democrática das condições de vida e existência dos sujeitos (GHEDIN & FRANCO, 2011, p. 42).

3.2.2 Estudo exploratório

Foi realizado um estudo exploratório com o objetivo principal de melhor delinear a proposta de pesquisa. Assim, objetivou-se compreender se na relação estabelecida entre professores em formação inicial (estagiários) e o professor experiente (supervisor de estágio) são construídos aspectos que contribuem para o desenvolvimento profissional deste.

Para isso, realizaram-se entrevistas semiestruturadas com dois professores da Educação Básica supervisores do referido estágio supervisionado.

Embora os objetivos da investigação e do estudo exploratório tenham convergência, este estudo exploratório tratou-se da primeira aproximação ao campo empírico, representando, principalmente, um “teste de adequação” do que se pretendia com a pesquisa à realidade a ser pesquisada. Assim, foi possível amadurecer os objetivos iniciais da investigação, suas pressuposições e abordagem metodológica, o que contribuiu para a construção do instrumento metodológico, o roteiro de entrevista. Ou seja, o estudo exploratório foi de grande relevância na configuração desta investigação.

Através da Prática de Docência da Pós-Graduação, desenvolvida na disciplina Prática de Docência em Ensino de Ciências e Biologia I e II de uma Universidade Federal, propiciou-se uma aproximação ao estágio supervisionado nesta universidade, para entender como este é realizado pelos estagiários, a articulação entre a universidade e as escolas e o papel dos professores supervisores e da professora orientadora no estágio.

Como parte das atividades da Prática de Docência acompanharam-se as atividades de um grupo de estagiários em suas atividades na escola uma vez por semana, no mínimo, durante toda a manhã. Com a sistematização em relatos escritos diários, foram realizadas aproximações, por meio de observações, à escola, à sala dos professores, às aulas nas quais os estagiários tomavam a frente, à relação dos mesmos com os professores supervisores, à relação da professora orientadora com os professores supervisores e da professora orientadora com os estagiários.

Com esta estratégia foi possível, à luz do referencial teórico, melhor delinear objetivos e pressuposições da investigação e, consequentemente, da entrevista do estudo exploratório. Entretanto, deve-se considerar que, por se tratar de uma pesquisa qualitativa com abordagem interpretativa, objetivos e pressuposições foram se construindo ao longo do processo investigativo.

A entrevista foi realizada com dois professores de uma escola estadual que recebeu estagiários da Biologia da universidade no segundo semestre de 2014. O diálogo com esses professores começou quando a pesquisadora foi apresentada pela professora da disciplina de graduação Prática de Docência em Ensino de Ciências e Biologia.

Nas duas próximas seções serão descritos os procedimentos de construção dos dados no campo empírico: a Observação e a Entrevista, ambas realizadas a partir do estudo exploratório anteriormente descrito.

3.2.3 Observação

Na carta de apresentação da pesquisa ao Colégio 1 (Apêndice), onde foi realizada a Prática de Docência do mestrado, esclareceu-se que seriam realizadas observações dos professores supervisores nas suas atividades de estágio e no seu cotidiano escolar. Portanto, tanto professores supervisores quanto a direção da

escola estavam cientes do objetivo de observação da pesquisa. Os estagiários acompanhados na prática de docência também tinham ciência que para as atividades do estágio teriam suas aulas observadas, sendo, inclusive uma das atribuições da pesquisadora no âmbito da Prática de Docência, com anotações e avaliações sobre suas aulas, enviadas tanto para a professora da universidade, orientadora do estágio, quanto para os estagiários. Entretanto, o foco principal das observações para esta investigação foi o professor supervisor e sua relação com o estagiário.

Para Jurgenson (2003), na abordagem qualitativa da pesquisa não há separação entre observação participante e não participante, visto que ao pesquisador não se faz possível o total distanciamento da situação de observação.

Por sua vez, o grau de participação do observador é variável e contínuo (BODGAN

& BIKLEN, 1994; JURGENSON, 2003).

Nesta investigação, apesar de ser explícita a observação do grupo, não sendo, portanto, a pesquisadora uma observadora oculta, não se considera que a observação possa ser chamada de participante, visto que não teve uma longa duração, ocorrendo de forma mais casual (GARCIA, 2014). Ao mesmo tempo, segundo Jurgenson (2003), o papel representado dentro do grupo pesquisado foi de um participante completo, sendo que “este papel de investigação implica que o pesquisador seja já um membro do grupo a estudar ou no processo da investigação se torne um membro com direitos plenos” (JURGENSON, 2003, p. 105) [tradução nossa].

Portanto, apesar de não caracterizar uma observação participante completa, com todas as suas características, a observação foi realizada num grupo no qual a pesquisadora assumia uma função determinada e esperada, que iam além dos objetivos de sua pesquisa, visto que no âmbito da Prática de Docência se esperava que acompanhasse as atividades dos estagiários junto aos professores supervisores.

A observação não mostra a realidade tal como ela é, sendo um olhar (da pesquisadora) sobre a realidade, uma interpretação (GARCIA, 2014). Uma de suas principais funções para a pesquisa é permitir o conhecimento das dinâmicas que podem ter relação com o objeto de estudo.

Este foi o objetivo das observações realizadas, portanto, sua função era exploratória, com fins de situar-nos no campo empírico, sem uma estruturação com

categorias prévias. Ao mesmo tempo, teve intenção complementar por servir de referência ao instrumento de construção de dados principal, que é a entrevista (GARCIA, 2014).

O registro das observações foi realizado no caderno de campo, no qual estão presentes observações mais descritivas, reflexões e comentários da pesquisadora, representando as primeiras análises do campo. Estas análises, como dito na seção anterior, foram de grande importância para auxiliar na construção das pressuposições e objetivos de pesquisa e também na construção da entrevista, que será apresentada na próxima seção.

3.2.4 A construção da entrevista

É importante refletir a respeito da entrevista como instrumento metodológico, numa abordagem interpretativa. Com a entrevista não se tem acesso às práticas e saberes docentes, e sim, aos sentidos e significados atribuídos pelos professores aos mesmos (GALINDO, 2012), o que vai ao encontro dos objetivos desta investigação.

Assim, o objetivo de uma entrevista na abordagem qualitativa não é acessar a verdade pelos sujeitos colaboradores, mas suas interpretações, seus sentidos e significados. Entretanto, não significa que se deva duvidar da veracidade daquilo que o colaborador nos oferece na entrevista, uma vez que não é objetivo da pesquisa qualitativa acessar uma verdade externa aos sujeitos.

Nesse sentido,

(...) um bom instrumento precisa provocar a expressão do sujeito de modo a permitir que ele forneça ao pesquisador indicadores que possibilitam o processo construtivo e interpretativo necessários à construção do conhecimento (GALINDO, 2012, p.46).

Optou-se, assim, pela entrevista como instrumento metodológico principal por propiciar uma aproximação ao mundo de significados dos sujeitos, indo além de um questionário que possibilita, de forma restrita, o acesso às informações (GARCIA, 2014).

Entretanto, deve-se atentar ao fato de que a entrevista é uma relação social e, como todas as relações sociais, configura-se numa relação de poder, assimétrica, e neste caso, em grande parte definida pelo pesquisador (BOURDIEU, 2001d). Essa é

uma essência da entrevista que deve ser levada em consideração principalmente no momento de análise dos dados por meio dela construídos. Ou seja, muito do que o entrevistado nos diz pode ser porque ele supõe que sejam as expectativas da entrevistadora, ou que, de certa forma, foi impelido por nós, pesquisadores, a dizer.

É o pesquisador que inicia o jogo e estabelece a regra do jogo, é ele quem, geralmente, atribui à entrevista, de maneira unilateral e sem negociação prévia, os objetivos e hábitos, às vezes mal determinados, ao menos para o pesquisado. Esta dissimetria é redobrada por uma dissimetria social todas as vezes que o pesquisador ocupa uma posição superior ao pesquisado na hierarquia das diferentes espécies de capital, especialmente do capital cultural (BOURDIEU, 2001, p. 695).

O importante é perceber que a relação entrevistador-entrevistado tem um significado para o entrevistado naquele momento que pode produzir outros significados ou silêncios durante a entrevista. Para Bourdieu, deve-se tentar

“instaurar uma relação de escuta ativa e metódica” (BOURDIEU, 2001d, p. 695), permitindo a objetivação do colaborador da pesquisa e ao mesmo tempo se objetivando enquanto pesquisador.

Com esses pressupostos construíram-se o roteiro e os objetivos da entrevista (Apêndice 2). De forma geral, os objetivos da entrevista com os professores foram:

 conhecer sua trajetória profissional para entender os sentidos que atribuíam à carreira docente e à formação de professores;

 entender a sua concepção sobre o estágio supervisionado para poder fazer relação com seu entendimento a respeito da formação de professores e de seu papel no estágio;

 evidenciar as condições concretas de supervisão de estágio e da relação estabelecida com os estagiários para poder identificar as ações e possibilidades de desenvolvimento profissional do estágio supervisionado da maneira como foi desenvolvida pelos sujeitos daquele determinado momento histórico.

 identificar quais aspectos de desenvolvimento profissional tem sido estimulados pelo estágio.

Da mesma forma, ao longo da construção do roteiro de entrevista, se formularam algumas pressuposições a respeito da investigação, a saber:

 o desenvolvimento profissional dos professores supervisores ocorre na relação estabelecida com os estagiários no processo de supervisão;

 as condições de supervisão e de trabalho do professor e a relação estabelecida entre universidade e escola favorecem determinadas concepções e práticas formativas, tanto para o estagiário quanto para o professor supervisor.

Construiu-se o roteiro de entrevista semiestruturada e foram realizadas como estudo exploratório duas entrevistas com professores da Educação Básica supervisores de estagiários do curso de Ciências Biológicas da universidade. O roteiro passou por algumas modificações e sua última versão está no Apêndice 2.

Foram entregues uma carta de apresentação para a escola (Apêndice 1) e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foi apresentado ao diretor da escola e entregue aos professores (Apêndice 3).

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 113-119)