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4. Mapeando a produção webjornalística audiovisual

4.3. Primeiros resultados

A partir da análise comparativa dos seis produtos webjornalísticos audiovisuais, é possível concluir que, embora as novas tecnologias já possibilitem inovações, ainda são tímidas as iniciativas de aproveitar a convergência para a produção de textos audiovisuais jornalísticos mais contextualizados e com estéticas mais criativas e originais. A maior parte dos sites jornalísticos que utilizam a linguagem audiovisual analisados reproduz as características de linguagem e a estrutura narrativa dos telejornais. A maioria deles usa a figura do âncora, por exemplo, e o número de reportagens que priorizam a reflexão crítica sobre os fatos ainda é pouco expressivo; embora a ALLTV, o Observatório da Imprensa e a webTV UFRJ têm tentado incorporar a informalidade, o improviso e atribuído às notícias aspectos inovadores, que tornam os relatos dos fatos sociais transformados em acontecimentos midiáticos mais reflexivos e contextualizados.

Apesar de apresentarem vídeos já na homepage, a WTN, a ALLTV e a webTV UFRJ empregam muito timidamente o recurso da hipertextualidade, característica inerente apenas ao UOL News, que combina com regularidade áudio, imagem e texto escrito. O UOL News destaca-se, ainda, por explorar a interatividade e as principais tendências da web, como os blogs e os tags, tão valorizados pelos internautas atualmente. Estas também são preocupações da ALLTV. Apesar de enfrentar problemas técnicos, principalmente com relação à qualidade das imagens, este site busca interagir com os seus usuários, através de chats e enquetes. A interatividade também é o diferencial do Observatório da Imprensa, a partir de oito diferentes recursos, e do Globo Vídeos, através, especialmente, das estrelas atribuídas por cada internauta aos programas.

Estas constatações evidenciam que a maior parte dos produtores de webjornalismo audiovisual já compreende a relevância da interatividade para o futuro do jornalismo, em especial do produzido na e para a web, embora os usuários ainda não tenham a oportunidade de participar e interagir de modo mais efetivo na elaboração e na seleção das notícias. O Globo Vídeos, por exemplo, está em consonância com algumas das principais tendências da internet apontadas por Erick Felinto, doutor em Literatura Comparada e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. Segundo Felinto (2007), hoje é imprescindível estar atento às novas formas de publicação e circulação da informação na rede mundial de computadores, entre as quais ele destaca:

O social bookmarking é uma lista em que os indivíduos destacam o que mais gostam na internet e compartilham com os demais usuários da rede. A folksomania consiste na classificação que os usuários atribuem aos diversos sites, ou seja, os próprios usuários indicam o que é bom ou não na rede. O tagging é como etiquetas virtuais que os usuários colocam nos endereços eletrônicos que indicam aos amigos. (FELINTO, 2007)

Esse mapeamento permitiu, em primeiro lugar, a identificação de alguns conceitos importantes no estudo do jornalismo online, como as fases de desenvolvimento do webjornalismo audiovisual, propostas por Nogueira (2005, p.28). A primeira é marcada pela transposição, uma espécie de cópia, de todo o conteúdo dos veículos tradicionais para o ambiente digital. A segunda fase é constituída de conteúdos produzidos especificamente para a internet, inclusive com aproveitamento de recursos multimídia, da hipertextualidade, da interatividade e da personalização das notícias. Porém, as produções da segunda etapa do webjornalismo são veiculadas também nos meios de comunicação tradicionais. Já os sites de webjornalismo audiovisual da terceira fase produzem conteúdos exclusivos para o meio digital e são denominados webtvs. Neste nível, a convergência passa a ser utilizada com maior freqüência, aprimorando, aprofundando e contextualizando as notícias, possibilitando uma interação mais efetiva com os usuários, e proporcionando maior imediatismo. Cabe, entretanto, evidenciar que as fases do webjornalismo não são rígidas, nem excludentes. Em um mesmo período cronológico, é possível observar no mesmo site a existência de publicações jornalísticas de diferentes estágios ou gerações.

Desse modo, foi possível observar as fases do webjornalismo audiovisual em que cada um dos produtos analisados está inserido. O Globo Vídeos e o Observatório da Imprensa ainda apresentam majoritariamente características da primeira fase do processo. Já o UOL News corrobora a afirmação de que as três fases não são excludentes. O site está inserido, ao mesmo tempo, na primeira e na terceira etapas, devido ao fato de veicular conteúdos da Band e da MTV, e produzir conteúdos exclusivamente para a web. Conforme já nos referimos, todos os sites que produzem conteúdos audiovisuais exclusivamente para a internet são chamados de webtvs. Por essa razão, o UOL News, a WTN, a ALLTV e a webTV UFRJ podem assim ser considerados.

Em segundo lugar, o mapeamento realizado resultou na constatação de que o webjornalismo audiovisual ainda experimenta os primeiros passos em direção a uma gramática própria, que tende a ser consolidada, através da ampliação de conteúdos

jornalísticos audiovisuais produzidos especialmente para a web, e da experimentação de novas formas de narrativa, com um aproveitamento mais expressivo da multimidialidade e da interatividade, permitindo ao usuário participar do processo de construção do relato noticioso de modo mais direto e menos linear (BECKER e LIMA, 2007, p.18).

O desenvolvimento tecnológico e as experiências sociais já reivindicam tratamentos diferenciados da informação noticiosa, dedicada a um domínio de métodos que permitam aos usuários identificar e selecionar informações necessárias e complementares, valorizando o jornalismo audiovisual como forma de conhecimento. Mas, ainda não sabemos se a expansão do jornalismo audiovisual brasileiro com o desenvolvimento da internet e com a emergência da TV digital poderá resultar num exercício profissional do jornalismo de maior qualidade, oferecendo novos olhares e percepções da realidade cotidiana.

Os resultados alcançados, porém, já oferecem um panorama da produção audiovisual no ciberespaço e revelam que a incorporação de novos critérios de noticiabilidade pode agregar imenso valor simbólico às narrativas e enriquecer as representações das identidades locais e nacionais construídas através da linguagem audiovisual, tanto nos telejornais, quanto na internet.

Esta também é a proposta do TJUFRJ – o telejornal online da Escola de Comunicação da UFRJ. O laboratório e o site TJUFRJ é um espaço de reflexão crítica e de produção de conteúdos jornalísticos audiovisuais, que busca contribuir para a integração entre teoria e prática na formação dos alunos do curso de jornalismo, e para a experiência de apropriação da linguagem audiovisual na partilha e na produção de conhecimentos acadêmicos, valorizando a função social da universidade, como será apresentado no próximo capítulo.

5. A experiência do TJUFRJ – o telejornal online da Escola de

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