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CAPÍTULO IV – DOS PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL RELATIVOS À

5. Princípio da acusação

O princípio da acusação, no seu âmago, está ligado a não intervenção oficiosa da jurisdição no processo, antes do pedido285, que deve ser solicitada através da acusação. O juiz não pode alargar os seus poderes de julgar a pessoas e factos distintos daqueles que são objeto da acusação286. “Sem acusação não há, pois, julgamento e a acusação serve não só para introduzir o feito a juízo, mas, também para delimitar o objeto desse mesmo julgamento”287.

281 Ibidem, pp. 51-52, consequências como: «a inadmissibilidade de qualquer espécie de culpabilidade por

associação ou coletiva, e que todo o acusado tenha o direito de exigir prova da sua culpabilidade no seu caso particular; subsidiariedade e excecionalidade da prisão preventiva; a comunicação ao acusado em tempo útil, de todas as provas contra ele reunidas a fim de que possa prepara eficazmente a sua defesa e o dever do Ministério Público de apresentar em tribunal todas as provas de que disponha, sejam favoráveis ou desfavoráveis à acusação; a limitação à recolha de provas em locais de carácter privados; a estrita legalidade das atribuições da polícia e do Ministério Público, o afastamento de presunções de culpa, o direito ao silencio e de não auto inculpação, etc.».

282 RODRIGUES, Anabela Miranda, “A Celeridade do Processo penal – Uma Visão de Direito Comparado”, in

Atas de revisão do Código de processo Penal, Assembleia da República – Divisão de Edições, 1999, Vol. II – Tomo II, p. 172.

283 CANOTILHO, J.J. Gomes / MOREIRA, Vital, ob. cit., p. 36.

284 SILVA, Germano Marques da, ob. cit., p. 56.

285 DIAS, Jorge de Figueiredo, ob. cit., pp. 143-144, subescreve que «o tribunal a quem cabe julgamento não pode

por sua iniciativa começar uma investigação tendente ao esclarecimento de uma infração e à determinação dos seus agentes; isto tem de ser numa fase (processual, ou pré-processual, tanto importa) cuja a iniciativa e direção caiba a uma entidade diferente».

286 SILVA, Germano Marques da, ob. cit., Vol. I, p. 86. 287 SANTOS, Manuel Simas, et al., ob. cit., p. 43.

62 O princípio da acusação, “limita o objeto da decisão jurisdicional e essa limitação é considerada uma garantia da imparcialidade e defesa do arguido”288. “E será dentro dela e só dela que o poder jurisdicional vai atuar, não podendo assim, condenar por factos distintos daqueles que lhe foram levados através do petitório (regra da vinculação temática do juiz)”289.

“A atividade cognitória e decisória do tribunal está estritamente limitada pelo objeto da acusação”290, impondo-se-lhe, que “respeite os factos acusados que fundamentam a aplicação ao arguido de uma pena ou de uma medida de segurança e sua respetiva qualificação jurídica”291.

A acusação fixa o objeto292 do processo para as fases jurisdicionais. Ela é constituída

pelos factos aí alegados. A identificação e a fixação do objeto do processo, com a acusação: “constitui uma garantia do cidadão no sentido de que por um lado, deve saber de que acusação ter-se-á de defender, de que não será julgado para além do objeto inicial, de que pode preparar uma defesa pertinente e eficaz, sem surpresas e deslealdades, e, por outro deve «não frustrar uma averiguação e um julgamento justos e adequados da infração acusada»”293-294.

A alteração dos factos durante a fase de inquérito é irrelevante, porque nesta fase se cuida tão-só de indagar a notícia do crime e definir os seus contornos, recolhendo elementos de prova. Da fase de instrução em diante já é diferente295. A alteração dos factos é relevante porque significaria alterar o objeto do processo em sentido amplo, em caso de pronúncia296. Na fase de julgamento, toda e qualquer alteração importa, pois qualquer que seja a natureza da alteração

288 SILVA, Germano Marques da, ob. cit., Vol. I, p. 86. 289 SANTOS, Manuel Simas, et al., ob. cit., p. 43. 290 DIAS, Jorge de Figueiredo, ob. cit., p. 144.

291 VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, ob. cit., p. 275.

292 Idem, ob. cit., p. 507, refere que «o objeto do processo em sentido técnico fixa-se na fase do conhecimento da

notícia do crime e denomina-se objeto da notícia do crime, na fase de inquérito objeto de inquérito, na fase da acusação objeto da acusação, na fase de julgamento objeto de condenação, na fase de recurso objeto de recurso».

293 Ibidem, p. 512.

294 NEVES, António Castanheira, ob. cit., p. 198.

295 Ibidem, pp. 199-202-204, a não permissão da alteração dos factos constantes da acusação, da instrução e do

julgamento são um corolário de três princípios fundamentais que norteiam o caminho da identificação e da determinação do objeto do processo em sentido amplo. «O princípio da identidade do objeto processo implica que aquele permaneça idêntico, o mesmo da acusação à sentença definitiva». Não permitindo como já acima frisamos alterações ao objeto do processo ao longo do seu caminho, caso assim sege, o tribunal não poderá atender aos novos factos, salvo acordo do MP, do assistente e do arguido, e desde que estes não determinem a incompetência do tribunal. «O princípio da unidade ou indivisibilidade do objeto do processo impõe ao MP que, ao acusar e ao fixar o objeto do processo a submeter a julgamento, deve dar a conhecer a totalidade e não uma parcela do objeto do processo, devendo-se fixar de forma unitária e indivisível. Este princípio é uma garantia para o arguido e para à vítima, assim como para à comunidade. O princípio da consumpção do objeto do processo, é corolário do princípio ne bis in idem, o que significa que o arguido não deve ser submetido à mais do que uma ação penal pelo mesmo pedaço da vida».

63 pode ter relevância na punição e na medida da pena, sendo os efeitos da alteração diferentes em função da alteração ser substancial, ou não substancial297.

Nas situações em que o MP se abstém de acusar por crime público ou semipúblico, o assistente pode requerer a abertura da instrução, e o seu requerimento é material e funcionalmente equiparado a uma acusação, quer quanto às exigências que tem de respeitar (art.º 328.º do CPP angolano e 287.º, n.º 2 do CPP português), quer quanto ao regime de constituição de arguido (art.º 251.º CPP angolano e 57.º, n.º 1 do CPP português) quer ainda quanto a vinculação temática do Tribunal de Instrução Criminal (art.º 303.º, n.º 1 e 309.º, n.º 1 do CPP português)298.

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