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2- A SEGURIDADE SOCIAL

4.6 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O princípio da dignidade da pessoa humana é um princípio constitucional, que faz parte dos direitos fundamentais, trazido pela Constituição Federal de 1988, no art. 1°, III.

Entretanto, conceituar a dignidade da pessoa humana no âmbito jurídico não tem sido muito fácil, visto que a sociedade encontra-se em constante transformação. Existem várias definições para o princípio da dignidade da pessoa humana.

Nas palavras de Alexandre de Moraes,

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente a pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, que constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. Os direitos à vida privada, à intimidade, à honra, à imagem, dentre outros, aparecem como consequência imediata da consagração da dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do Brasil. (...) A ideia de dignidade da pessoa humana encontra no novo texto constitucional total aplicabilidade (...) e apresenta-se uma dupla concepção. Primeiramente, prevê um direito individual protetivo, seja em relação ao próprio Estado, seja em relação aos demais indivíduos. Em segundo lugar, estabelece-se verdadeiro dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. Esse dever-ser configura-se pela existência do indivíduo

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RIBEIRO. Juliana de Oliveira Xavier. Direito Previdenciário Esquematizado. 2. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2011, p. 500.

respeitar a dignidade de seu semelhante tal qual a Constituição Federal exige que lhe respeitem a própria. (...) Restalte-se, por fim, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução n. 217A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10-12- 1948 e assinada pelo Brasil na mesma data, reconhece a dignidade como inerente a todos os membros da família humana e como fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.49

Para Flávia Piovesan

A dignidade da pessoa humana (...) está erigida como princípio matriz da Constituição, imprimindo-lhe unidade de sentido, condicionando a interpretação das suas normas e revelando-se, ao lado dos Direitos e Garantias Fundamentais, como cânone constitucional que incorpora "as exigências de justiça e dos valores éticos, conferindo suporte axiológico a todo o sistema jurídico brasileiro50

Do ponto de vista de Emmanuel Kant

O homem é um fim em si mesmo e possui um valor absoluto. Esse valor inerente à pessoa humana apresenta-se com a dignidade. Vê-se que o homem é considerado agente de valor e por isso não pode ser considerado um mero instrumento. O homem, e, duma maneira geral, todo o ser racional, existe como fim em si mesmo, não só como meio para o uso arbitrário desta ou daquela vontade.51

Ante as definições acima, pode-se afirmar que o princípio da dignidade da pessoa humana traz consigo um leque de direitos, que é a raiz de todos os princípios, que ampara os direitos individuais e coletivos, uma vez que nele estão inclusos o direito à intimidade, à honra, à imagem, entre outros.

A ideia é deixar claro que o homem é o elemento estencial da Constituição, que por ele e para ele as leis são criadas, assim, o reconhecimento da valorização do ser humano deve ser primordial ao Estado.

Feitas tais considerações, resta evidenciado que o legislador não pode, através de políticas, restringir direitos já garantidos constitucionalmente, uma

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MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 23.ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 131. 50

Apud MELO, Nehemias Domingos de. O princípio da dignidade humana e a interpretação dos Direitos Humanos. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 5, nº 221. Disponível em: http://www.boletimjuridico.com.br/ doutrina/texto.asp?id=1779. Acesso em: 20/02/15.

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Apud QUEIROZ, Victor Santos. A dignidade da pessoa humana no pensamento de Kant. Da fundamentação da metafísica dos costumes à doutrina do direito. Uma reflexão crítica para os dias atuais. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 757, 31 jul. 2005. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/7069>. Acesso em: 20/02/15.

vez que tal atitude estaria violando o princípio de proteção da confiança e segurança dos cidadãos e, consequentemente, a Constituição Federal.

Calha destacar que o direito a dignidade da pessoa humana alcança a cada indivíduo, todos os membros de uma família de uma sociedade, portanto, principalmente no que se refere à dignidade da pessoa humana, a assistência social surgiu para dar uma vida digna a todos deficientes e idosos que não conseguem prover seu sustento, nem tê-lo provido por seus familiares.

Assim, a concessão do benefício assistencial de prestação continuada, previsto na Constituição Federal, deve ser aplicado, a fim de se tornar eficaz o objeto da lei, ao passo que um entendimento diferente estaria ferindo a Constituição e o próprio princípio da dignidade da pessoa humana.

Nasce aqui um dos maiores conflitos que fere o princípio da dignidade da pessoa humana: a interpretação do limite da renda per capita familiar, que pode tornar ineficaz a lei criada até então, para atender os menos favorecidos.

Nota-se que existe uma contradição na própria lei, visto que após analisados os requisitos para a concessão do benefício, as pessoas carecedoras do mesmo não conseguem provar sua necessidade básicas, de acordo com os critérios rigorosos para sua concessão.

É cediço que o limite da renda per capita estipulado em ¼ do salário mínimo tem sido o maior problema para a obtenção do benefício de prestação continuada, uma vez que isso faz com que o Estado não consiga seu objetivo principal, dar dignidade à pessoa humana, conforme assegura a Constituição Federal.

Não se pode ficar de braços cruzados e aceitar que a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), Lei 8.742/93, cujo objetivo era regulamentar a assistência social, tenha em seu bojo, requisitos que firam princípios fundamentais da Constituição Federal, como é caso da renda per capita, que confronta o princípio da dignidade da pessoa humana, ao passo que impedem que os necessitados tenham acesso ao benefício, por esbarrarem na análise rigorosa de seus requisitos.

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