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IV. ANÁLISE DOS RESULTADOS

IV.II Princípio da participação

A participação é a diretriz maior do processo democrático.

Garantida pela LDB, em seu artigo 14:

I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político-pedagógico da escola;

E, reafirmada na lei distrital 4751/2012:

I – participação da comunidade escolar na definição e na implementação de decisões pedagógicas, administrativas e financeiras, por meio de órgãos colegiados e na eleição de diretor e vice-diretor da unidade escolar;

É consenso de todos os segmentos da escola entrevistados, que o direito à participação nas decisões da escola deve ser garantido, além de destacarem sua importância para o crescimento da instituição e da qualidade do ensino, entretanto, acreditam que questões pessoais ainda interferem no bem comum, conforme destaca, “C”:

“Concordo. Participar é se envolver e conhecer a realidade escolar. Estamos distantes desta participação efetiva, principalmente por ser difícil lidar com diversas opiniões e deixar de fazer a própria vontade.”

O quadro analisado, que apresenta a dificuldade em fazer valer o processo democrático nessa instituição, é legitimado pelo fato de não haver interesse do grupo em construir o instrumento mor de fortalecimento e garantia das decisões coletivas na escola: o Projeto Político e Pedagógico. Conforme, afirmam os entrevistados:

“Não fora construído o projeto político pedagógico.” (C)

“...em minha escola o Conselho Escolar é bem apagado. Não há elaboração do PPP de forma efetiva e incisiva.” (H)

O interesse da ação política é o poder (SOUZA, apud SOUZA, 2009). E uma das maneiras de garantir a descentralização desse poder e o PPP. Uma escola que não se empenha em construir a sua identidade em traçar e registrar seus rumos, jamais avançará democraticamente. É preciso, certificar-se de que o PPP é um documento e a lei prevê sua construção e cumprimento (LDB 9394/96).

Tal postura retrógrada, que se estabelece e não modifica no dia-a-dia da instituição, tem desacreditado os profissionais, que se anulam nas reuniões, não se posicionam nas decisões, adoecem com frequência e, quando têm oportunidade, deixam a escola. Como fazem questão de desabafar:

“O conselho participou com a elaboração da lista de prioridades, mas os recursos demoram a chegar e estas são redefinidas. A direção apenas mostra notas e orçamentos.” (C)

“Às vezes participa, mas não possui voz tão ativa na escola e a direção acaba vencendo conforme sua vontade.” (H)

“O conselho na escola só se reunia quando solicitado pela direção”. (H)

“Um conselho não atuante, chamado apenas para favorecimento de minorias.” (C)

“A gestão não tem sido participativa”.(C)

“...quem não aguentou tanta incompetência pediu pra sair.” (H)

“Muitos resolvem deixar a instituição.” (C)

Após essa análise, constata-se que a direção e o conselho escolar não podem perder de vista que a construção da democracia perpassa pela tomada de consciência de que as dimensões pedagógica, administrativa e financeira estão interligadas e fazem parte do todo que é a escola. Contudo, sem a participação efetiva dos diversos segmentos que constituem a comunidade escolar a gestão democrática se esvazia e está fadada ao fracasso. E, o brilho e a beleza da educação a cada dia diminuirá entre seus autores.

V. CONCLUSÃO

A justificativa dada para o início desse trabalho era a de entender o porquê de tantos problemas pedagógicos e administrativos enfrentados pela escola pesquisada – uma escola nova, que já passou por 4 equipes gestoras, situada na periferia de Ceilândia.

Foi posto em questão a dificuldade da escola em fazer valer os ideais democráticos e os desafios do conselho escolar em exercer suas atribuições neste contexto.

Foi realizado um estudo aprofundado da legislação que rege os ideais e princípios democráticos, bem como das possíveis relações de poder existentes nos muros da escola, da função e desafios do conselho escolar, além da importância do Projeto Político Pedagógico para a efetivação da gestão democrática.

Em seguida, um estudo de campo efetivou-se na escola, a fim de legitimar as hipóteses levantadas, com os objetivos específicos de verificar se o conselho escolar vem desempenhando seu papel de fiscalizador da gestão escolar; investigar se o conselho desenvolve seu papel nos aspectos pedagógicos, administrativos e financeiro da gestão escolar; investigar como os membros do conselho escolar percebem os efeitos da lei de gestão democrática na escola e agem diante das relações de poder existentes.

Traçando uma análise entre o referencial teórico, as observações feitas na escola e as entrevistas realizadas, infelizmente, constata - se que o conselho escolar não tem conseguido cumprir suas atribuições e, os gestores estão despreparados para atender às demandas de uma gestão verdadeiramente democrática.

O que se confirma é que a escola reproduz as relações de poder historicamente construídas, baseadas no autoritarismo e no poder centralizado.

Entretanto, as demandas sociais vigentes, não mais atendem a um modelo ditatorial e a insistência em reproduzir o autoritarismo historicamente construído, tem refletido no mau desempenho dos alunos, uma vez que tanto o corpo docente e discente, da escola, se mostra desmotivado.

Se faz necessário, portanto, a intervenção do Estado nessa situação, promovendo a formação continuada de seus gestores, instruindo-os sobre o fazer democrático e escolar. Para que os mesmos levem a comunidade a cobrar os seus direitos e exercer os seus deveres de forma cidadã e eficaz, para o bem comum da instituição.

Uma escola não se faz sozinha. Uma escola não se faz sem planejamento e participação coletiva. É preciso acordar. É preciso fiscalizar. É preciso fazer valer a lei e a vontade coletiva. O sucesso ou o fracasso dos alunos dependerá de qual caminho for escolhido: lutar juntos ou ilhar-se.

VI. REFERÊNCIAS

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São Paulo: Cortez, 2003.

BRASIL. Constituição Federal. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.

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BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Programa de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Brasília, 2004. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?option=content&task=view&id=337&Itemid=31 9.

BRASÍLIA. Lei Distrital 4751, de 07/02/2012.

Como fazer a metodologia do TCC. FONTE: http://comofas.com/como-fazer-a-metodologia-do-tcc/, acesso 13:40, 15/03

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GRACINDO, R.V. Gestão democrática da educação: os conselhos escolares e a educação com qualidade social. MEC. 2005

GONÇALVES, A. M. Espaço de participação coletiva: a implementação do projeto político-pedagógico na escola pública a partir das representações sociais de docentes. UNICAMP - Campinas – 2012

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MEZZAROBA, Orides; MONTEIRO, Cláudia Servilha. Manual de Metodologia da Pesquisa no Direito. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 159-160

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